o mar do poeta

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quinta-feira, fevereiro 26

HOMENAGEM AO AMIGO JOÃO AZEREDO





Dia 2 de Agosto de 2008

Hoje realizou-se a última viagem do João Azeredo.

Como ele queria até ao fundo do mar no Golfo da Tailândia acompanhado dos seus amigos, todos tailandeses e por mim que tive esse previlégio.

Foi um dia em que ele foi conosco. Viajou no nosso carro e depois no nosso coração.

Não foi um dia triste foi um dia de convívio dos seus amigos como por certo ele gostaria.

Phoo, a sua mulher, liderou o grupo como se fosse de braço dado com ele sempre discreta e digna.


Adeus João.

(Copilado do artigo do Dr. Nuno Caldeira da Silva)

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O João era leitor de Português em Bangkok e por incumbência Adido Cultural da Embaixada de Portugal neste reino.

Faleceu, no seu posto, após uma estóica luta contra a doença que tão rapidamente lhe traiu a vontade de continuar a difundir a língua de Camões como o fazia há muito.

Como o
Combustões escreve, mais do que lamentar, condena-se a ausência de Portugal nas suas exéquias.

Teve a sorte de ter muitos Tailandeses que apreciaram as suas qualidades e os seus ensinamentos e eles aí estiveram com ele.

Era um amigo e foi um colega.

Obrigado João pelo teu trabalho em prol do nosso País

Posted by Nuno Caldeira da Silva at 15:59

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“SABE-SE LÁ O QUE AINDA PODERIA FAZER”

O homem partiu cedo demais. Teria há pouco atravessado os cinquenta. Ficou a obra e as memórias de alguém que amava a vida e os Outros. JOÃO RUI AZEREDO escreve na Antologia de Poetas de Macau: “O sal das vozes usurárias as palavras-pautas-palmas/ Rastos de expressão os rostos daquelas bocas de resto/ Góticos os esgares flamejantes quando esfaqueiam o ar/ Os dedos dados de mãos nunca dadas como se compassos vazios de músicas abortadas/ Só o cavalo alado com a crina dos mistérios palna montado por omossões descodificadas em tiras de papel qualquer/ Como se vozes outras do poeta a rasgar o tempo”. Os amigos sofrem quase em silêncio. Sobram as lágrimas, a dor tumultuando o peito, as palavras que se recusam a sair. “Tudo o que se pode agora dizer será sempre vulgar, diz um amigo que pede o anonimato.

Um outro fala porque, mal acordado, recebe a notícia pelo Hoje Macau em Lisboa. Jorge Morbey, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Macau – onde é responsável pela cadeira de “Património e Cultura”- foi apanhado de surpresa e pede detalhes que também a custo lhe são dados: “morreu de cancro”. Incrédulo, deixou que a emoção lhe embargasse as palavras, nervosas, não escondendo profunda admiração pelo profissional e amigo hoje desaparecido. “Está a dar-me uma péssima notícia sobre a perda de uma pessoa que me é próxima. O João Azeredo, para além de ser um grande amigo, era um português, mesmo que nascido em Moçambique, que fez tudo – mais ainda do que estava ao seu alcance – para ajudar a desenvolver a cultura e a língua portuguesa. Era um indivíduo extremamente empenhado em tudo o que fazia e, também por isso, tenho a melhor das impressões sobre ele”.

Qaundo o seleccionou para vir trabalhar para Macau, Morbey não o conhecia nem imaginava que estava a contratar “um amigo para toda a vida”. Azeredo chegou a Macau para leccionar no Quadro de Ensino da Língua Portuguesa em escolas chinesas, o que não se afigura tarefa fácil. Todavia, “obteve sempre resultados muito positivos”.

Desde essa altura que mantiveram um contacto estreito, primeiro em Macau e mais tarde em Bangeucoque, onde Morbey foi Conselheiro Cultural. Também ali os destinos de ambos se cruzaram. “Quando cessei funcões em Banguecoque fis diligências junto do Instituto Camões para que fosse ele a dar continuidade ao meu trabalho, nomeadamente enquanto Leitor de português na capital tailandesa. A minha proposta foi aceite mas monetariamente ele ficou a perder”. Pese embora os encargos financeiros para o Estado português serem bastante menores. Azeredo empenhou-se nas questões referentes à cultura , sendo responsável, designadamente, pelo ensino do português na maior universidade tailandesa, pela organização de seminários em que intervinham portugueses e tailandeses, pelas comunicações apresentada sobre a história das relações entre Portugal e a Tailândia.

Morbey volta a enfatizar a sensação de perda, não escodendo a emoção, a dor que lenta e crescentemente lhe assola a alma. “Estou efectivamente muito triste”, volta a desabafar, destacando “aperda de um grande homem que, onde se encontrava, conseguia extravasar as suas tarefas, tentando sempre ir mais além”. A juntar à acção que vinha desempenhando na Tailândia desde 1999 – com um intervalo de dois anos em que voltou a Macau – João Azeredo era artista, poeta, compositor, cantor, “alguém que possuia a sensibilidade dos portugueses que nascem noutras paragens, um homem multi-cultural extremamente rico enauando ser humano, sempre calmo, discreto e subtil”.

Como quem segreda uma confissão, o professor lembra que “Azeredo sabia cantar e tocar, compunha, gravou em Patuá, tem músicas num Cd de um grupo, “A outra banda”, gravado quando esteve em Macau. Um dos membros dessa banda de gente activa culturalmente foi Fernando Sales Lopes que não se escusa de recoradr ao Hoje: “Ele musicou poemas de gente de Macau e tocou guitarra nesse projecto. Tinhamos um grupo cultural sem nome mas bastante organizado”. Entre outros, levaram a cabo uma homenagem a Adriano Correia de Oliveira; comemoraram os 20 anos do 25 de Abril com um espectáculo no auditório no liveu português que envolveu música, dança, poesia, partes de improviso, um espectáculo em memória de Zeca Afonso – tendo sido editado um livro. “Zeca sempre”, feito à mão e com edição limitada; participou em tertúlias, foi actor em peças como “A boda dos pequenos burgueses”onde fezs o papel de noivo; deu vida a múltiplos exercícios dramáticos. “Culturalemnte era muito activo”, lembra Sales Lopes, apontando o malogrado como sendo “um amigo como há poucos”, acreditando que Azeredo deixou cá muito dele.

Sobre a forma de prazer, gozo e partilha. “Era um jovem,. Sabe-se lá o que ainda poderia fazer”, comenta saudoso.

Ficam os segmentos de um percurso artístico cuja passagem por Macau deixou marcas.

Eternas. “Costumo dizer que de insubstituíveis está o inferno cheio, mas a verdade é que João Azeredo vai fazer muita falta à nossa acção cultural externa, designadamente na Tailândia”. Era casado com uma tailandesa, tinha um grande afecto pelo país onde actualemente trabalhava, dixia sempre que “havia de arranjar maneira de ficar lá para toda a vida”.

Cumpriu-se o desígnio. Sem hora nem despedida. Fica a obra, entre ela um poema. “A ponte II”, editado no livro “O mar de hoje” e escrito em Agosto de 1990:

Olhar-te

Hoje

A ascenderes-te à despedida do sol

Ominipotente e tranquilo

Com a promessa das ilhas na boca

Catálise insinuante

Na narrativa fechada

Em que desfilava a astenia de ser

Deste dia

Devolveu-me

O folgo de estar

Aqui partilhando comigo

A alegria suspensa

De estarmos (tu e eu) vivos”

( Artigo este artigo foi escrito pelo jornalista JOSÉ MANUEL SIMÕES e publicado no jornal HOJE MACAU.)

HISTÓRIA E HISTÓRIAS DE UM POLÍCIA-POETA

ANTÓNIO CAMBETA

Não é que sejam necessariamente incompatíveis, como o caso presente mostra, mas sempre tive uma certa dificuldade em sisualizar a convivência, para não dizer coexistência, entre a farda e o verso. Polícia e poeta na mesma pessoa, pode ser? – interrogava-me. Pode, pois. A prova viva (ainda que a dois tempos, já que o poeta só chegou quando o polícia se foi, no momento da reforma em 1992) veio do Alentejo, de Évora. Chama-se António Manuel Fontes Cambeta e há quarenta e um anos adoptou Macau, onde nos conhecemos, para sua morada. E já não quer outra, confessa num dos seus poemas.

Conversar com ele é um prazer, um encontro com relatos na primeira pessoa das experiências de quem não se quis confinar às dimensões do berço familiar (sem o renegar), não temeu a aventura da vida, fosse por que razões fosse, e se fez a ela. Até aqui, onde parece ter ficado para sempre com um grão na Ásia. Como aconteceu afinal a tantos de nós, eu incluindo.

O normal é as pessoas escreverem as suas recordações em prosa, deste ou daquele tipo e por isso eu, com esta mania da poesia que tenho, confesso-lhe desde logo o meu agrado pela sua “anormal”(que bem que sabe esta palavra às vezes!) escolha.

Diz , com a bonita franqueza descomplexada dos genuinos, que optou pelos versos para registar grande parte das suas memórias porque assim dá menos erros ortográficos...

Não foi só por isso, claro, insisto eu, pouco convencido, precisamente quando o almoço chega.

Sorri e dá-me razão: depois de começar a escrevê-las achei que ficariam melhor resumidas e passei à poesia. Bom, fico só um bocadinho mais satisfeito, mas pronto.

Não recusou no entanto a escrita em prosa. Para além das “Memórias de um agente em Macau”, há muito mais “Minhas Histórias”, contidas e contadas em cd’s com dezasseis relatos de viagens que teve a gentileza de me oferecer – Macau (Toi Shan) e Tailândia (Kantchanaburi, Isan-Buriram e Budismo, casamento e Transoirtes na Tailândia) são apenas algumas delas. O formato-livro continua a ser ainda dos mais belos e por isso espero sinceramente que mais cedo ou mais tarde passem a ele também.

Em Portugal, muito novo comecei a trabalhar como marçano em Évora. Tinha desistido do estudar e passei a fazê-lo à noite na Escola Comercial, onde não acabou de concluir o Curso Geral de Comércio ficando pelo quarto ano.

Aos dezasseis anos atingi o posto de gerente e aos dezoito me alistei como voluntário no exército.

Sem o saber, o jovem António tinha acabado de dar o primeiro e decisivo passo naquele que haveria de ser o caminho do seu destino asiático: furriel miliciano integrado na Companhia de Caçadores 690 chegou a Macau em Setembro de 1964. Em Agosto de 1966 passava à disponibilidade e empregava-se na Agência Comercial Aldifera. Mas o bichinho mordia-lhe as canelas e no ano seguinte entra para os quadros da Polícia Marítima e Fiscal como agente de segunda classe. Duas décadas mais tarde, foi galardoado pelos dois últimos governadores da administração portuguesa em Macau, Carlos Melancia e Rocha Vieira.

Relambramos uma porta bastante recuada no tempo.

Aquando das invasões francesas, um dos membros das tropas napoleónicas, de origem franco-italiana, decidiu desertar e radicar-se na aldeia da Corvaceira, perto de Viseu. Viria a ser o trivasô paterno de António Cambeta.

A estas origens se deve o facto - e se calhar também a carreira que escolheu – de saber um pouco de francês e de italiano que junta à sua fluência em Inglês, Cantonense e Tailândes. Línguas e malhas que o império (da vida) tece num homem que vem de uma família de sete irmãos, possui parentes expalhados pelo Brasil, estados Unidos da América, Canadá e Austrália e tem raízes no antigo Reino do Sião. Afinal, o Alentejo pode ir mesmo muito além do Tejo.

Mais um copito de tinto para ambos enquanto vou tratando da dobrada com grão de bico, que não está nada má, e continua.

Casou em Macau uma senhora chinesa que adora, que às vezes tem uma paciência de santa para me aturar, da qual tem dois filhos: o mais velho é funcionário da Consetória de Registos e o mais novo, licenciado no Canadá, e trabalhando presentemente para a Socieda de Jogos de Macau. Ambos casados. Portanto, o polícia-poeta também já conhece bem o que siginifica ser avô.

Há muito tempo que o Cambeta viaja todos os anos várias vezes entre dois amores (que, não por acaso, também são meus...), Macau e a Tailândia, passando temporadas numa e noutra, em Bangkok tem três formosas e belas filhas a mais velha exercendo a profissão de médica num reputado hosital da capital.

Artigo este publicado no Jornal Ponto Final a 12 de Agosto de 2005 e redigido pelo amigo JOÃO AZEREDO.

Para si estimado amigo, que tive a honra de conviver quer em Macau como em Bangkok, aqui fica o meu grato reconheciemnto pela sua sincera amizade. Que a sua pura alma descanse em paz nos Reino dos Céus.

As minhas sinceras condolências à familia enlutada.
Partiu mais um Amigo, mas as suas obras permanecem vivas em nossos corações.

Um comentário:

Anônimo disse...

A amizade não tem terra, é um abraço eterno de mar cujo calor permanece no coração de quem fica e acena permanentemente a quem parte!