o mar do poeta

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quinta-feira, fevereiro 24

ROTA DOS CANHÕES - 4a. Parte - JOSÉ MARTINS

Monday, September 15, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - A IMPORTÂNCIA DOS PORTUGUESES NA DEFESA DO REINO DO SIÃO

Parte 4ª
O Reino do Sião no princípio do século XVI é um país, demasiadamente, alargado que se estende desde as terras altas de Chiang Mai até à península malaia. A corte, instalada em Ayuthaya necessita de muita maneabilidade, política, para conseguir administrar tamanha grandeza territorial. Por diversas vezes o exército siamês tem que actuar para conseguir que as terras sob administração de Ayuthaya se mantenham intactas e sem que os representantes da coroa entrem em rebeldia e se recusem a prestar vassalagem ao Reio do Sião e pagar-lhe o tributo anual. Mas voltando à conquista de Malaca, em 1511, pelos portugueses e criado um clima de bom relacionamento, Rei Rama Thibodi II tem plena confiança nos portugueses e sabe que não desejam incetar guerras com o Sião ou países vizinho, mas apenas comerciar. A fixação dos portugueses em Ayuthaya viria a mudar a face do reino. Comercialmente desenvolve-se com as exportaçãoe: cana de acúcar, madeira de Teca, especiarias e a pedraria. O Rei de Ayuthya tem o monopólio de compra e venda de todos os produtos do Sião, a taxação de importação e exportação de todas as mercadorias carregadas ou descarregadas em Ayuthaya. O porto de Pom Phet, ganha o estatuto de internacional com o estabelecimento dos portugueses, numa área, vasta, de terreno oferecido pelo monarca de Ayuthaya, a cerca de 3 quilómetros a jusante, do porto, que desde então, aos dias de hoje, é conhecido pelo "Ban Portuguete". O calado das naus portuguesas são de alto mar e, apenas, com a possibilidade de navegarem umas poucas milhas a montante da foz do rio Chao Praya e lançam o ferro em Paknam. Deste ancoradoiro, os portugueses fretam juncos chineses, de largo calado, raso e construídos para navegarem nas águas do mar do sul da China, Golfo do Sião, Estreito de Malaca até à baía de Mergui, para que lhes transporte a mercadoria, trazida de Portugal e de Goa para o porto de Pom Phet. Mercadoria constituída por pouco mais que uns "panos"; umas "bugigangas" e a carga, principal, compunha-se de canhões, balas e espingardaria. O Reino do Sião possuia tudo em demasia e só pretendia armas para se defender contra a investidas do exército peguano que ainda só, por enquanto, se quedava a provocar os territórios do reino situados ao norte do Sião. Porém o Pegú, além de cobiçar a conquista do Sião está em guerra com os grupos étnicos: Mons e os Shans.
O Rei do Pegu Tabinshweti a sucede a Toungoo e consegue o controlo e a unidade entre os Mons e Shans. Agora, como objectivo, é atacar o Reino do Sião. Em Ayuthaya a paz seguia, absolutamente, pelo melhor. Tabinshweti, antes tinha conquistado Chiang Mai e alimenta o propósito de alargar esta conquista para o sul e as ambições de se senhoriar de Ayuthaya. Na corte do Sião impera a intriga, a infiltração de inimigos, a traição a juntar-se-lhe-ia a peste "smallpox" (bexigas). Rei Rama Thibodi II, faleceu em 1529 e sucede-lhe Bororajathira IV que viria a morreu de bexigas quatro anos depois de sua entronização. Toma o assento na cadeira do trono o Rei Chairajathira, casado com a Raínha Sri Sudachan, mãe de dois príncipes Phra Yord Fah e Phra Sri Silp. O Rei Chairajathira morreu em 1546 e há suspeitas de ter sido envenenado pela Raínha Sri Sudachan! A Raínha Sudachan, durante a saída Rei Chairajathirá, para Chiang Mai e dar luta aos peguanos, foi-lhe infiel e tomada de amores por um sobrinho que a engravidou e o motivo porque teria envenenado o Rei com peçonha.
O príncipe mais velho e herdeiro da coroa, Phra Yord Fah, com apenas 11 anos é entronizado e sua mãe a Raínha Sudachan, enquanto o príncipe não atingir a idade para ser o verdadeiro Rei, queda-se como a regente. Não poderemos deixar de aqui relatar aquilo que Fernão Mendes Pinto, escreveu em cima do caso do envenamento do Rei Chairajathira:
"Do mais que este rei de sião fez até se tornar para o seu reino, onde a raínha sua mulher o matou com peçonha"... E porque a rainha sua mulher, neste cinco meses que ele esteve ausente, lhe tinha cometido adultério com um seu comprador que se chamava Uquumchenirá, do qual a este tempo el-rei aqui chegou, era já prenha de quatro meses, receosa do que era razão que se receasse, determinou, para se salvar do perigo em que estava, matar seu marido com peçonha e, sem fazer mais sentença lha deu logo em porcelana de leite, de que não viveu mais que só cinco dias, no qual espaço de tempo proveu por seu testamento algumas coisas do reino, e satisfez as obrigações dos estrangeiros que o tinham servido nesta guerra do Chimmay (Chiang Mai), donde tinha vindo menos de vinte dias".
O Rei na agonia não se esqueceu dos portugueses que o tinham ajudado na guerra contra os peguanos em Chiang Mai e testamenta-lhe:
" E aos 120 portugueses que com lealdade vigiaram sempre na guarda da minha pessoa, darão meio ano do tributo da rainha de Guilbém, e liberdade em minhas alfândegas, por tempo de três anos, sem lhe levarem coisa alguma por suas fazendas, e seus sacerdotes poderão publicar nas cidades e vilas de todo o meu reino, a lei que professam, do Deus feito homem para salvação dos nascidos, como algumas vezes me têm afirmado".
E Pinto relata a entronização do pequeno principe Phra Yord Fah:
"E assim disse outras coisas a este modo, muito dignas de serem aqui declaradas, que por agora não declaro porque adiante espero fazer mais largamente. E também pediu a todos os grandes que então se acharam ali presentes, que para consolação lhe levantassem logo seu filho mais velho como rei, o que logo se fez com muita brevidade. E depois de ser jurado por todos os oiás, e conchalis, e monteus, que são dignidades supremas sobre todas as outras do reino, o mostraram de uma janela à multidão do povo que estava em baixo no terreiro, perante o qual lhe puseram uma rica coroa de ouro, a modo de mitra, na cabeça, e uma espada nua na mão direita, e umas balanças na esquerda, por ser este o seu costume antigo naquele auto. E posto o olá Passiloco, que era o mais supremo do reino, em joelhos diante dele, lhe disse quase chorando, em voz alta para que todos o ouvissem:
"A ti, menino santo de tenra idade, cuja ditosa e alta estrela foi seres eleito no céu para governares este império Sornau que Deus te manda entregar por mim, teu vassalo, o entrego agora com juramento de sempre o teres debaixo da obediência da sua divina vontade, com guardares igualmente justiça a todos os povos, sem haver aceitação de pessoas, entre alto e baixo, por onde se diga que não cumpres com o que juraste neste santo auto, porque torcendo tu por respeitos humanos o que a razão justifica diante do justo Senhor, serás por isso gravemente punido na côncava funda da casa do fumo, lago ardente de fedor espantoso, onde os maus e danados choram continuadamente, com tristeza de noite escura em suas entranhas. E para que te obrigues a isto a que este cargo que sobre ti tomaste te está obrigando, dize "xamxaimpom" - (que é como entre nós Amen). A que o menino, chorando, disse: "Xamxaimpom" - o que causou em todo o povo um horribilíssimo pranto que durou por um grande espaço. E fazendo aquietar o tumulto da gente, prosseguiu o mesmo em sua prática, dizendo: - E esta espada que se mete nua na mão, como ceptro que te dá poder na terra para subjugares os rebeldes, também quer dizer que estás por ela obrigado a sustentares com tua verdade os pequenos e fracos, para que os inchados do poder mundano os não emborquem com o assopro de sua soberba, que ante o Senhor é tão aborrecido como a boca do que blasfema do inocente menino que nunca pecou. E para que em tudo satisfaças ao esmalte formoso das estrelas do céu, que é o Deus perfeito, e justo, e bom, como potência admirável sobre o criado, dize: "xamxaimpom". A que ele respondeu dizendo duas vezes, chorando. "Maxinau, maxinau - "Assim o prometo, assim o prometo". E discorrendo o mesmo Passiloco por outras coisas a este modo, em que o menino por sete vezes respondeu: "Xamxaimpom" e se acabou esta cerimónia da sua coroação. Mas a derradeira parte dela foi vir ainda um talagrepo de dignidade suprema sobre todo o sacerdócio, de nome Quiay Ponvedé, o qual diziam que era de idade de mais de cem anos, e prontando-se aos pés do menino lhe deu juramento numa charana de ouro, cheia de arroz, e com isto o recolheram para dentro, por a brevidade do tempo não sofrer mais dilação, tanto porque já o rei seu pai começava a entrar no artigo da morte, como pelo pranto do povo ser tão geral em todos, que em todo o lugar e pessoa se não via então outra coisa senão lágrimas e suspiros" (Peregrinação, cap. 182, vol.2, pag. 182).
(Nota nossa: Este capítulo escrito por Fernão Mendes Pinto serviu de base a dois filmes, épicos, produzidos na Tailândia, entre eles se conta "Suriyothai", que mais adiante nos vamos referir a esta longa metragem). O Rei, jovem, entronizado como Phra Tianraja não teria tido um relacionamento salutar com sua mãe, regente, Sri Sudacha, dado às suas constantes intrigas na corte. Talvez o Rei tenha vindo a ter conhecimento que seu pai tinha sido envenenado, com peçonha, por ela e acaba por deixar o trono a sua mãe e recolhe-se, como monge budista no templo Rajpradit. Porém os nobres da corte de Ayuthaya não escondem o seu descontentamento pela governação da Raínha Sri Sudacha e descobrem que ela tinha como amante, um seu sobrinho, ainda durante a vida de seu marido o Rei Chairajathiraj.
Por vezes a Raínha Sri Sudacha recolhe-se no palácio real por largo tempo. Porém um dia os nobres convidaram-na para inspeccionar os elefantes brancos nos estábulos, reais, fora de portas da cidade; era esta uma traição para se desfazerem da raínha adulterina, que acaba por ser emboscada e morreu. Os nobres ligados à corte de Ayuthaya convidam, novamente, o Rei, já monge budista, para que deixe o templo e venha novamente assumir as rédeas do reino. Agora é lhe conferido o título do Rei Chakrapat e casa com uma dama, nobre, Suriyothai que entre eles se cria uma autêntica história de amor, que viria a ser consumada com a tragédia na morte da raínha em combate. Ayuthaya corre o ano de 1548 e na altura o Fernão Mendes Pinto, vive no "Ban Portuguete" que ao lugar se refere, na Peregrinação, e da comunidade luso/descendente que ali já vive. Não designa a aldeia dos portugueses pelo nome que hoje é conhecido o que se compreende a razão, dado que o nome de "Ban Portuguete" viria ser dado o nome mais tarde. O aventureirismo de Pinto, pela Ásia, não lhe permitia o estabelecer-se, por largo tempo num lugar. Era um daqueles portugueses, do seu tempo, sedento de conhecer o além do lugar por onde passava, que tanto hoje estava no Reino do Sião, a navegar no rio Mekong, com o pirata António Faria, até Phnon Penh, no Cambodja, em Malaca, na China e no longinquo Japão, junto ao padre Francisco Xavier. O Rei Tabinshweti do Pegu continua com as sua intenções, vivas, de conquistar Ayuthaya e decide, depois de se ter aconselhado com os nobres da corte, com os comandantes militares onde, entre estes, havia oficiais, portugueses, mercenários. É discutida uma a estratégia de marcha militar cujo destino seria Ayuthaya e destronar o Rei Chakrapat. Foi escolhido o caminho do norte de Pegu até aos "Três Pagodes" e depois de vencerem as subidas e descidas da cordilheira de montanhas, estão na província de Kanchanaburi e terão depois de percorrer as terras planas de Suphamburi e estão, a curta distância de Ayuthaya e atacá-la de surpresa. No ano de 1548, Ayuthaya, está bem provida de soldados de infantaria, de armas e canhões que os portugueses tinham permutado com produtos do Sião. Os nobres siameses quando dão conta que os peguanos se encontram nas proximidades de Ayuthaya, retiram os seus elefantes dos estábulos e há que lhes dar luta de corpo a corpo. Rei Chakrapa monta um seu elefante real, arma-o, bélicamente, e leva com ele dois soldados para que lhe cheguem as lanças e guiem o elefante. A Raínha Suriyothai pretende fazer companhia a seu marido e este em voz intimativa diz-lhe: NÃO! Suriyothai insiste, ignorando os perigos e o "NÃO" de seu marido. O pessoal que a servia na corte introduz a Rainha Suriyothai, com roupas de soldado, na peleja . A Rainha no campo de batalha, onde os elefantes predominavam na luta, de corpo a corpo, Suriyothay, está junto ao marido a lutar e não o perde de vista. A batalha é terrível onde se misturavam os sons do disparo da artilharia e os gritos dos feridos e outros de guerra.
O Rei Chakrapat, frenéticamente, entre os guerreiros, montado na cabeça do seu elefante procura o Rei do Pegú, para lhe dar luta. A Raínha Suriyothai segue-o o seu marido para o não perder de vista. Chakrapat desiquilibra-se, quando foi enfrentado pelo comandante, peguano, da linha da frente e quando este se preparava para liquidar o seu marido Suriyothai faz-lhe frente e lutou, por largo tempo até que cair, golpeada e ferida de morte. Porém seu marido o Rei Chakrapat sobreviveu. Os peguanos vencidos abandonaram o campo de batalha. Ao outro dia os dois príncipes, filhos da Raínha Suriyothai, Phra Ramesuen e Phra Mahin levantam o corpo de sua mãe no campo de batalha e em grande cerimonial da corte é-lhes feito o funeral. A Raínha Suriyothay é a heroína, tailandesa, mais venerada até aos dias de hoje. Sua memória foi reavivada graças à longa metragem (mais de três horas) produzida pelo Príncipe Chatri Chalerm Yogala e exibido no ano de 2001, que iremos dar conta em próximas partes.
José Martins

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