Tuesday, July 08, 2008
NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR
Parte 3ª
Começa aqui o correr da vida do fundidor Manuel Tavares Bocarro. Filho do de Pedro Dias Bocarro e irmão de Francisco Dias Bocarro. Os dois filhos de Pedro Dias Bocarro não mostraram, de quando jovens, vocação para a arte do pai. Teria sido pela recomendação do rei que colocasse os "rapazes" a trabalhar junto ao pai, para que aprendessem a arte de fundição. O rei entende que os dois filhos poderiam auxiliar o pai e numa carta informa: "algu officio de Justiça ou de minha faz, para que residindo na cidade possa ajudar a seu pay... na fundição de artilharia" O Manuel Bocarro, alistado nas armadas como marinheiro das naus. O rei noutra comunicação referindo-se ao Manuel: "pudera merece muito (pois) não era fraco nem coitado", o que dizia ser um homem robusto e espirituoso. A ordem tinha chegado de Madrid e quando Manuel Bocarro teria uns 18 a 20 anos. Mercê das ordens reais o jovem outro remédio não terá que juntar-se ao pai, Pedro Dias Bocarro. A carta acrescentava ainda: "assistir (às fundições)... com o dito seu pay em cuja arte e experencia com elle se avia criado", como depois em anos mais tarde Manuel Bocarro viria a escrever. O rei Filipe II de Portugal, em carta régia de 21 de Março de 1617, nomeou D. João Coutinho, conde Redondo, vice-Rei da Ìndia. O conde Redondo antes de partir para a Índia foram-lhe entregues, 56 capítulos com instruções que o aconselhava como deveria proceder quando ocupasse o seu alto cargo. Uma dessas instruções recomendava-lhe que incrementasse a produção de artilharia, dado que Filipe II tinha imperiosa necessidade de expulsar os seus inimigos da Europa. Estes eram os holandeses e ingleses que a todo custo, pela força e armas, procuravam ocupar as possessões, portuguesas, ultramarinas. Dois anos mais tarde por carta de 8 de Março de 1619, Filipe II volta à carga recomendando que não fossem ignoradas suas ordens. Mas o conde Redondo já não poderia cumprir as ordens do rei.... tinha falecido antes de chegar esta carta. Seu lugar de vice-rei é tomado pelo governador Fernão de Albuquerque e coube-lhe a ele informar Madrid que suas instruções tinha sido totalmente cumpridas e comunicava ao monarca: "32 peças de artilharia grossa e nisso trabalhou muito o mestre fundidor" . Estas peças são obra de Pedro Dias Bocarro e tudo indica que o filho Manuel Tavares Bocarro o ajudou e, viria, aprender e conhecer todos os segredos da arte de fundir o bronze e transformá-lo em bocas de fogo. No final do ano de 1622 a população da cidade Goa fica alvoraçada com os "avisos da China". O importante empório comercial de Macau tinha estado sujeito a um forte ataque dos holandeses. Porém os holandeses são completamente derrotados pela minoria portuguesa. Já nos anos de 1601 e 1603 os holandeses teriam tentado invadir Macau. O princípo do uso de Macau, pelos portugueses, sem haver o conhecimento exacto da data, teria sido nos anos de 1557, embora outros historiadores aventem que esta altura teria sido de quando os portugueses limparam os piratas da área e um dos reis da China autorizou que do território fizessem base e que ali construissem uma feitoria. Macau, após pouco tempo depois volta num importante centro comercial e um ponto priviligeado, não só para o comércio dos portugueses com a China como com o Japão. É aproveitado igualmente pelos missionários de Portugal dissiminarem a doutrina cristã na China e no Japão. Francisco Xavier, o apóstulo das Índias, viria a conseguir introduzi-la no Japão mas sem sucesso na China e acaba por falecer na ilha de Sanchuão às portas do grande império. Os holandeses e dado ao progressivo desenvolvimento comercial de Macau, pretendem ocupar o pequeno território; fazem-lhe três ataques seguidos: 1601, 1603 e 1607, sem sucesso. Filipe II, senhor da coroa portuguesa, para que os holandeses não voltassem atacar Macau, por carta régia de 18 de Janeiro de 1608, envia para Goa a mensagem: "que se continue a fundição em na cidade de Goa, mandando para isso trazer cobre da China, e dando ordem que parecer necessaria para que venha, obrigando aos que trouxeram mercadorias da´aquellas partes a trazer tanta quantidade de cobre que baste para pagar em minhas alfandegas, no mesmo cobre, todos os direitos que d´ella deverem taes fazendas". Na mesma altura, Filipe II ordenou que fosse nomeado um capitão-geral para Macau, o que viria, pouco depois, a revogar, talvez por conselho, dado que a população na altura não o justificaria. Os ataques dos holandeses aos pontos estratégicos onde os portugueses se haviam colocado, para controlarem o comércio do Japão, China e Malaca foram por mais de um século, as constantes preocupações dos portugueses. A corte em Lisboa em face de tal cobiça dos holandeses e ingleses, recomendou ao vice-rei da Índia para que houvesse todo o cuidado na defesa de Goa como também se deveria fundir artilharia em Macau, "até o tempo dar logar a se poder acudir com outras". A construção de fortificações em Macau teriam sido iniciadas por volta dos anos de 1612. Recomendava o rei, que todo o dinheiro amealhado na cidade "se empregue em cobre e se traga a essa cidade de Goa, para se fundir em artilharia". Nos anos de 1615 numa carta, com data de 21 de Fevereiro, o rei, dentro das suas preocupações e futuras, investidas a Macau pelos holandeses, que se fortificasse Macau e se fizessem "sem irritar o animo dos chinas". Porém a mensagem do rei chegou tardia, isto porque os chineses não tinham visto com bons olhos a construção da igreja de S.Paulo, em 1602 e outras que se seguiriam depois. Francisco Xavier já não pertencia ao número dos vivos mas a semente deixada em Macau estava a produzir frutos e o pequeno território iria ser o ponto ideal para o catolicismo se ramificar pelas terras do Oriente. Os chineses quedam-se alarmados e pensam que os portugueses estavam, com a construção de novas igrejas, a iniciar um "extraordinário" plano de fortificação. Em 1613 e 1614, impuseram aos portugueses de Macau várias condições, e entre elas uma "não edificar casas novas em sitios novos", o que se pode analisar que os portugueses procuravam os sitios altos, para construir fortes e igreja e com isto na mira de observarem e de se poderem defender da intrusão do inimigo, que eram, na altura, os holandeses. Os chineses, entretanto, mudam de opinião, quando previam ataques às populações de piratas e dos holandeses e permitiam então, ao portugueses, de construirem fortificações aonde melhor lhes parecesse. Os holandeses não desarmam e a todo custo de vidas e preço pretendem chamar a si Macau. As naus inglesas, em grande número, já sulcavam as águas do Índico e estas, e as dos holandeses, eram um quebra-cabeças para os vice-reis da Índia e os capitães dos navios portugueses. O filão de ouro, do comércio das especiarias, que os portugueses tinham descoberto na Ásia, se ficou a dever à descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, pelo Vasco da Gama em 1498, criou reboliço na Europa. Por alguns anos os ingleses e os holandeses estão quietos, mas pela espionagem e juntando o sistema "corruptivo" de compra de cartas marítimas as oficiais, portugueses, de poucos escrúpulos, foram conhecedo as rotas das naus portuguesas e os pontos, estratégicos, onde já se tinham fixado. A caida dos mercados das especiarias e pedraria de Veneza, Génova e Piza e Portugal já ser o senhor do comércio da Europa, do que havia no Oriente, viria alertar e colocar em "polvorosa" os holandeses e os ingleses para lhes arrebatar o privilégio desse comércio. Todos os meios era usados, por estes dois países rivais e ciumentos a Portugal e um dos quais, em voga, era o de piratear as naus portuguesas no alto mar e assassinar, sistematicamente, cruelmente as tripulações e passageiros. Macau no dia 22 de Junho de 1662, quinze navios holandeses com milhares de soldados, apoiados com milhares de canhões, estão ancorados, em frente à cidade. Igualmente, na altura, três naus inglesas estão ali aportadas. Os holandeses pedem aos comandantes ingleses que os auxiliassem na conquista de Macau. Segundo um documento existente no Leal "Senado de Macau "Collecção de varios factos" os holandeses não se ficaram pela resposta em relação à ajuda "Os Ingleses responderão q´não tinham duvida contanto qu´o saque seria delles". O comandante, da esquadra holandesa, não aceitou a fria condição da parte dos ingleses. Ao entardecer do dia 23 de Junho, Macau está sob violenta artilharia. Os três barcos inglesas, juntam-se aos holandeses, no bombardeamento, certamente na mira para que depois a cidade tomada entrassem no saque. Mas vamos ao que escreve N.Valdez dos Santos: " Ao raiar da madrugada os holandeses, sob o comando de Kornelis Reyerzoon, desembarcaram 800 homens, numa bem planeada operação militar, que começou com o lançamento de "uma cortina de fumos", conseguindo pela combustão de um barril de pólvora molhada. Seguidamente inciciaram o ataque à cidade que se encontrava, unicamente, defendida por "80 portugueses capazes de pegarem em armas, além de seus moços ou escravos, mas ainda assim sem capitão que os guiasse, pois o Governador Carrasco tinha-se retirado para Goa, sem que tivesse sido substituído, e o Capitão-mor de viagem do Japão também se achava ausente, estando d´este modo o Governo da cidade entregue aos Senado"
CONTINUA....
José Martins
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