Thursday, July 10, 2008
NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR
Parte 4ª
N.Valdez dos Santos: "Não vamos descrever, passo a passo, a brilhante defesa de Macau porquanto isso já foi repetido, inúmeras vezes, destacando-se, pelo seu valor histórico e literário, os estatutos de Marques Pereira, publicados na revista Ta-Ssi-Yang-Kuo e, principalmente, os do Professor Charles Boxer. Por isso basta indicar que, os macaenses, após terem rechassado o ataque holandês, obrigando-os a fugir precipitadamente para os seus navios, abandonando um pesado canhão que tinham desembarcado, mandaram um aviso ao vice-rei da Índia, pedindo socorros urgentes que incluissem "um cabo de guerras" e 300 soldados com os repectivos "subsídios", além de uma eficaz ajuda em dinheiro, destinado à fortificação e artilhamento da cidade".
"Com a excepção do número de soldados pedidos, que ficou pelos 100, todos os outros pedidos foram concedidos e acrescentado a Macau, inesperados, privilégios que mais tarde, frei Jesus de Maria, viria a mencionar, na sua obra "Asia Sinica e Japonica": " A Provisão Real ou Alvará concedido a Dom Francisco Mascarenha primeiro Capitão geral desta cidade hera tão honorifico e tão amplo, que lhe dava poder, mando, jurisdição e alçada sobre toda a gente de guerra,...Ao mesmo tempo Dom Francisco Mascarenhas expedio o Vice Rey Conde de Vidigueira mais duas Provizoens: uma para que o Capitão Mór das Viagens do Japão não tivesse já mais poder nem manodo nesta Cidade de Maco; e outra para que se não pudesse em Macao fazer mais artilharia sem ordem do Capitão Geral". Dom Francisco de Mascarenhas é nomeado Governador de Macau e inícia funções a 17 de Julho de 1623. Saiu de Goa acompanhado dos fundidores Pedro Dias Bocarro e filho Manuel Dias Bocarro cuja finalidade seria a instalação de uma fundição de bocas de fogos. Situa-se junto à Fortaleza do Bom Parto e no local conhecido por "Chunambeiro". A denominação do lugar provém pelo facto de ali se fabricar cal de ostras, produto conhecido por "chunambo" ou "chunamo". A fundição está destinada a produzir peças de ferro e bronze. Porém quando os Bocarros, pai e filho, chegaram a Macau a fundição já operava pelos chineses em termos artesanais e de fraca qualidade. Pedro Dias Bocarro, regressa a Goa em 1625 e entrega a fundição ao filho Manuel Bocarro. Existem contraversões quando à veracidade das datas acima indicadas. A versão, dada por Manuel Bocarro, é outra e relata que teria sido expedido para Macau, em 1625, pelo mando do Conde Vidigueira. Em Macau en controu uma "Caza de fundição" na qual tinham gasto "huma m.tº quantidade de dr.º pella necessidade q della tinhão ser tal e tão grande q obrigou a não reparar no gastar delles". E mais adiante cita que a fundição tinha estado confiada a "hú espanhol, vindo de Manilla", mas devido a não ter conhecimento, nenhum, da arte, Manuel Bocarro descreve-o "deu m.tª grande perda por delle se não colher fructo algú dellas". Foi despedido pelo conde de Vidigueira e ordenou a Manuel Bocarro que seguisse para Macau e com ele as intruções para fundir: "toda a artelharia q. lhe fosse necss. para a sua fortificação como para toda a mais que se houvesse mister para o serviço" . Nunca Manuel Bocarro mencionou que seu pai Pedro Bocarro o tivesse acompanahdo de Goa para Macau. No início do ano de 1624, Filipe II enviou uma carta a D. Francisco da Gama, Conde de Vidigueira que tinha tido conhecimento que na Índia havia "hum fundidor de artilharia bom oficial desta arte, por nome P.º Diaz Bocarro" e, sendo assim ordenava que ministrasse a arte "a outras pessoas" . As ordens, de Filipe II, eram que se ensinasse outras pessoas, mas que o segredo da arte de fundição não poderia saír das oficinas e a má sorte, viria acontecer, a um fundidor, local, ter fugido e, mais tarde, apanhado e mandado assassinar pelo Conde de Vidigueiro.
Recomenda a maior produção de artilharia em Goa e não menciona que o mestre Pedro Bocarro abandonasse Goa e fosse para Macau. Manuel Bocarro chegou a Macau em meados de 1625 e até ao final desse ano trabalhou na "Caza de Fundição como ajudante. Em 1626 a fundição fica livre da direcção dos "dois castelhanos" e dedica-se, Manuel Bocarro, com todo empenho à fundição de bocas de fogo de ferro e bronze. Seria o primeiro canhão fundido pelo Manuel Bocarro uma boca de 36 que durante séculos esteve activa na Fortaleza do Monte e passaria à história com o nome "Peça dos Mandarins". O nome teria sido dado, segundo a tradição dos macaenses, sentado na peça, que o mandarim de Macau Tsó Tang, assumiu as suas funções e, voltando, hábito seus sucessores tomavam posse, no dizer de Vicente Nicolau Mesquita: "d´hua especie de monumento, attenta a veneração e respeito que os chinas lhe consagrão desde mui tempo - he tbm sobre ella que os mandarins de Macau tomavam posse do seu lugar". No ano de 1627 Manuel Bocarro fundiu vários canhões de grande tamanho que podiam disparar projéctiles de pedra com o peso de 50 libras. Todos os canhões estava dedicados aos santos: S. Afonso, St.ª Ursula, S. Pedro Mártir, S. Gabriel, S. Tiago, S. Lino Papa, S. Paulo e outros nomes de santidades. Por muitos anos, defenderam Macau, colocados nas fortalezas e, pensa-se (sem termos a certeza) que alguns ainda ainda ali se encontram, como peças de artilharia e a lembrar a memória de um passado histórico. As peças de S. Lourenço e de St.º Ildefonso estão exposto na Torre de Londres e os de St.º António e S.Miguel são propriedade do Museu de Woolwich. O relatório de 3 de Março de 1637, designado:
"Lista contendo a artilharia existente nas fortalesas, baluartes e dentro da cidade do nome de Deus de Macau, segundo o que existe no dito porto" o Padre José Montanha escreveu, na sua obra "Aparatos para a História do Bispado de Macau", um capítulo relativo às fortalezas e canhões de Macau. (Consulte-se o Cod. 9448 dos Reservados da Bibl. Nacional que é o 1º Tomo dos Aparatos...", respeitante aos anos de 1557 a 1582, tendo, porém, num apêndice, com outra letra, várias relações respeitantes a acontecimentos até meandros do Século XVIII.
No inventário do Museu de Djakarta, sob o n.º 27012, é descrita a seguinte peça de artilharia:
"Canhões; outrora o "sagrado canhão" de Dkakarta, .... orígem: provávelmente fundido pelos portugueses, capturado, pelos holandeses aos portugueses em Malaca (1641).
O "Canhão Sagrado" é tradicionalmente considerado de origem portuguesa e já foi objecto de cuidadosos estudos por parte do Dr. M. Neyens e Dr. K.C. Crucq.
Este último autor escreveu: "Finalmente, desejo dizer alguma coisa de interesse vital com respeito ao Sagrado Canhão de Batávia. No museu militar de Lisboa há um canhão, que se presume ter sido fundido por Manuel Tavares Bocarro, que tem os cachos da mesma forma que o nosso Sagrado Canhão, o que vem de novo confirmar a orígem portuguesa do canhão de Batávia. É agora altamente provável que este canhão fosse fundido por Manuel Tavares Bocarro..." O Dr. Crucq apresenta outros argumentos, muito pouco consistentes, para endossar a autoria do "Canhão Sagrado a Manuel Bocarro e que são, normalmente aceites. O facto de não ter gravadas quaisquer marcas ou siglas, e a data como era norma nas fundições dos Bocarros, aliado ainda, a ter uma legenda em latin: Ex me ipsa renata sum, que não era usual nos canhões portugueses - só conhecemos em caso, no terço do canhão H.2, da regência de D. Pedro II, que tem a legenda Vltima Ratio Iustilac -leva-nos a admitir que não se trata de um canhão de Bocarro e a pôr em dúvida a sua orígem portuguesa. Consulte-se o P.e Manuel teixeira, in. Macau e a sua Diocese, VI, pp.111 a 119
CONTINUA
José Martins
P.S. Informações de várias fontes do meu arquivo particular. A matéria em cima dos canhões e fortes portugueses na Tailândia (com excelente informação já obtida) ainda demorará algum tempo dado que a história do fundidor, Manuel Tavares Bocarro, ainda irá inserir várias partes.
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