o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 7a. Parte

Friday, July 18, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 7ª
A carta do Conde de Linhares foi longa e manifestava o desejo de Manuel Bocarro se deslocasse a Goa a qual pedido o fundidor não poderia recusar e demais a promessa de tão significativa a honraria da concessão do hábito de Cristo. Porém já antes Manuel Bocarro tinha solicitado ao vice-rei Conde de Linhares a autorização para viajar a Goa cuja finalidade seria o de visitar seus pais de avançada idade. O hábito de Cristo não seria, para ele, a um grande atractivo, dado que para o manter afimava "cô hu bom salário para sostentar estas honrarias". Manuel Bocarro, fundidor, de mãos calejadas não se sentiria confortável vestido de branco do pescoço aos pés com tal farpela. Havia algo mais, escondido, mesmo com a ordem do Conde de Linhares para seguir para Goa, que se fizesse desculpar-se de não ter embarcado a 30 de Outubro de 1635 numa nau inglesa, alegando que precisava de concluir o seu grande contrato da fundição de cem bocas de fogo e acrescentava: "o risco de embarcar num navio estrangeiro que o poderiam matar e com ele "se sepultaria a fundição de ferro". Mas Manuel Bocarro prometia que quando terminada a fundição das cem peças de artilharia de ferro, da qual encomenda despachava 34 na nau inglesa, se "passaria para Goa", cidade da sua criancice, aonde aprendeu a servir o seu rei e que seria a sua Terra de Promição, até porque Macau não seria mais que um porto de passagem de sua vida.
"Eu,Senhor, não me aRrependo nunca do que hua vez prometi" . Manuel Bocarro de facto pretendia viajar a Goa e uma das razão seria visitar seus velhos pais, mas não morria de amores de para ali se fixar em definitivo. O Conde de Linhares sabia, de antemão, os perigos que poderiam acontecer ao Manuel Bocarro embarcar num navio estrangeiro, em águas aonde não havia lei e esta a de "rapinagem" e, na carta ao vice-rei, desde que fosse em barco português e, se possível, gozando já da "merçe do foro e do habito... por que como o tempo da nossa vida seja inserto, e as viagens de mar de tamtos perigos se acaso me faltar a vida amtes de chegar a Goa, morrerei honrado e terão esta glória os meus deSendentes e se mandar me Deos a salvamento, porey todas as forças p.ª que tenha feito nesta cidade a fundição de ferros".
Nos dá bem a entender que Manuel Bocarro não aceitava como credíveis as palavras do Conde de Linhares e faz-lhe o teste na carta que lhe dirigiu e enviada no navio, juntamente com as 34 bocas de fogo, que lhe agradaria seguir de Macau já nobre honrado e sair em Goa vestido com o hábito de Cristo. Manuel Bocarro, como já se afirmou, não acreditava na promessa do Conde de Linhares, porque bem sabia que descendia de família de "cristãos novos" e tal habito concedido ao Bocarro iria causar ciúmes entre a fidalgaria portuguesa, já altamente, significativa na Ìndia Portuguesa e no clero local. Manuel Bocarro continuava afanadamente a fundir bocas de fogo de ferro coado não tendo, conforme assegurava ao vice-rei, para seu "descanso mais que alguas oras da noites e essas muy limitadas".
A fundição, segundo se aventa, operava as 24 horas dos ponteiros do relógio. Mês e meio depois da nau inglesa partir de Macau para Goa, Manuel Bocarro do ferro coado já tinham saído 22 canhões, onde entre eles se incluiam os de bocas de 14 libras de calibre. Em Fevereiro de 1636 acrescentavam-se mais 45 peças; e em Janeiro de 1638 completava o núnero de 130 e, no próximo mês de Abril, estaria dentro das nossas previsões previsões, dado ao ritmo de trabalho da oficina de Bocarro que estariam fundidas 200 peças. É impressionante e para a época, o frenesim que seguia na alma de Manuel Bocarro! Para fundir duzentas bocas de fogo fundidas, requeria uma enorme azafama logista, onde estava o transporte em bruto do ferro da China, por via marítima e o pessoal que seria necessário para a fazer funcionar, era com isto, um empresário de grande espírito e organizador. Macau, durante a permanência de Manuel Bocarro, vivia a época de glória e da que se pode considerar de prata. A "Nau do Trato" navegava de 1555 - 1640, num vai-e-vém entre Macau e Nagazaki (Japão) e daqui "abarrotada" de prata, cujo o valor, deste metal, os japoneses desconheciam e por lá existia muita abundantemento. (Para os interessados na história recomendamos "The Great Ship From Amacon" de C.R. Boxer - Centro de Estudos Históricos Ultramarinos - Lisboa, 1959")
Nos finais do ano de 1638 o vice-rei da Índia tivera conhecimento que Bocarro tinha concluído a fundição de 200 peças e de imediato se apressou depachar: "não há porq. fundir mais peças de ferro e que se venha p.ª Goa". A fundição de cobre de peças de fogo e de sinos, em Macau, estavam reduzidos ao mínimo. Manuel Tavares Bocarro, não poderia dispensar cuidados nas suas fundições dado que no Oriente grassava uma grande falta de cobre. Este metal chegava da China e difícil a sua aquisição. No Japão era proibida o comércio e sob a pena de morte aos vendedores e compradores. Noutros países orientais o cobre era possível juntando a moeda local que seria depois refundida e transformada em sinos e canhões. O cobre que se poderia obter seria em Goa, permutado, o que chegava, de Inglaterra por pimenta. No início do ano de 1638 não havia cobre em Macau e, Manuel Bocarro escrupuloso como o era, devia à Fazenda Nacional cento e trinta e quatro picos e dezoito cates desse metal, que o administrado da Fazenda comunicou ao vice-rei da Índia. O ferro principiava, igualmente, a escassear, porém essa falta não preocupava Manuel Bocarro a fundição de 200 peças, davam-lhe um certo descanso. As oficinas de Chunambeiro continuavam a fundir, embora, mais moderadamente. Manuel Bocarro, agora, com as peças fundidas e a redução laboral das suas fundições já não tinha desculpa para travar a sua ida a Goa e cumprir a ordem do vice-rei. Havia a dificuldade de conseguir um transporte próprio e seguro e, obviamente, em navios portugueses. Em Dezembro de 1637, o capitão-geral da China, Domingos da Câmara Noronha, solicitou ao vice-rei Pedro da Silva, para que lhe enviasse dois galeões para "poder passar a artilha.ª que está em Machao, e juntam.te levar as faz.das que ouvere de hir", mas, nessa altura, a Índia atravessava uma grave crise. Aos holandeses já não lhes bastava dominar os mares do extremo-oriente, o ter estabelecido bases nas Ilhas de Sunda e, agora, o principal objectivo seria o de expulsar os portugueses da Índia e conquistar Goa. Suas armadas bloqueavam as águas de Goa e as naus portuguesas não estavam à altura de lhe travar o poderio naval. A dinastia filipina, durante os 57 anos, decorridos, a dominar a administração portuguesa dos territórios altramarinos, tinha revertido num total desastre, quer no prestigío como na perda do poderia naval, na Ásia e Oriente desde 1580 e de quando Portugal perdeu a independência. A fidalgaria portuguesa, muita dela, tanto lhes dava como se lhes desse que Portugal estivesse sob o domínio castelhano... Dentro de suas almas, apenas existia, a ostentação de graus honoríficos; a opulência "pacotilhada" de parasitas, miseráveis, que tinham traído o Grande Afonso de Albuquerque. Não estariam, de todo, com o Rei de Castela ou com o agente do Rei de Espanha que vivia "nababamente" nos "Paços da Ribeira". Trabalhavam para eles e voltar a Portugal instalando-se, algures, numa província qualquer de Portugal e ali, como na Índia o fizeram, a viver aquelas grandezas de "ladrões" que o foram na Índia Portuguesa. Portugal, infelizmente, ainda hoje tem os seus "Capitães da Índia" os parasitas modernos que continuam a ser a cópia fiel daqueles que o foram na época quinhentista.
CONTINUA...José Martins

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