o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 8a. Parte

Wednesday, July 23, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 8ª
Os holandeses cobiçam a Índia Portuguesa assim como outras possessões administradas por Portugal. As navegações de Portugal evitavam encontrarem-se com as holandesas. Em Março de 1638, Filipe III determinara que "não fosse à China nenhum navio mercantil" e que todas "as embarcações manças e desarmadas passassem a ser artilhadas". Ordem que não viria a evitar a continuação dos holandeses apresar os navios e impedir os contactos entres os territórios portugueses na Ásia. Faziam-lhe frente as armadas de alto mar compostas de galeões fortemente artilhados e bem municiados e com experientes artilheiros, habituados à luta, por vezes atingindo enorme ferocidade. As viagens de Macau para Goa, para escaparem aos ataques e à pilhagem dos holandeses, parte delas são efectuadas em pequenos navios à vela ou movidos a remos, que penosamente navegavam ao longo das costas, escondendo-se em pequenas e isoladas enseadas, para escaparem aos poderoso "inimigo da Europa". O tráfego marítimo entre Macau e Goa voltou intenso, obrigando ao recurso de utilizar navios ingleses, cujo o custo do frete era feito a troco de pimenta. Os ingleses não eram exigentes no tipo de carga que lhes fosse entregue para deixar em Goa, que poderia ser desde peças de artilharia ao contrabando de cobre, que chegado da China a Goa "si hia fundindo (em) boa artilharia". Porém este recurso viria a falhar porque os holandeses o descobriram. Com imensa dor o vice-rei Telo de Menezes informava o rei Filipe III, da grave situação e avisava-o que convinha tanto quanto possível que fosse evitado a extinção de todo, o comércio com a China pela importância que o mesmo tinha para a coroa portuguesa e para a conservação dos territórios na Índia. Os Livros das Monções relatam muitas tentativas de navios portugueses pretenderem furar o bloqueio naval holandês para atingirem Goa, Macau e outros portos da Ásia. Falharam muitas delas, como o afirmou o vice-rei conde de Aveiras que nos mares da Índia havia mais de cem naus holandesas; o valor e a persistência dos marinheiros e aliados ao espírito de aventura dos portugueses sempre permitiu que alguns navios chegasse ao porto desejado. No ano de 1639 uma pequena embarcação goesa conseguiu chegar a Macau, levando os avisos do vice-rei Pedro da Silva e, entre eles, uma carta destinada a Manuel Tavares Bocarro, datada em 15 de Abril de 1639, na qual ordenava ao fundidor que ao serviço de sua majestade o Rei deveria deslocar-se a Goa. Aventa-se a hipótese que Manuel Bocarro não teria recebido a mensagem com a ordem para partir para Goa. No principio do ano de 1639, Jerónimo Osório da Fonseca um velho experimentado marinheiro teria largado de Macau num pequeno patacho com o propósito de atingir Goa navegando pelos estreitos de Sunda e do Bali, rota que antes nunca tinha sido usado. O Osório da Fonseca teria inventado um instrumento que lhe permitia, segundo suas previsões, navegar de leste para oeste, conhecer e traçar nova rota de Macau para Goa e, com isto, despistar as forças navais holandesas. Manuel Bocarro, não tinha motivo para se desculpar não poder deslocar-se a Goa, cumprir as ordens do vice-rei. Duzentas peças de artilharia estavam fundidas nas suas oficinas e prontas para ser expedidas para Goa e o bronze esgotado.
Bocarro como anteriormente já foi aqui revelado, receava pela sua vida se embarcasse num barco estrangeiro, a fama que já possuia na arte de fundir seria, motivo, suficiente, para o assassinarem em mares onde a lei e os escrúpulos moravam distantes. No ser de Manuel Bocarro seguia as saudades e o desejo de encontrar o seu velho pai ainda com vida e tudo indica que teria chegado a Goa antes de Junho de 1639 e a 24, do mesmo mês, assistira ao falecimento do vice-rei Pedro da Silva, vitimado de uma epidemia que grassava em Goa. Durante o ano de 1639 nos registos da saída de barcos portugueses de Macau para Goa apenas foi encontrada a saída do patacho de Jerónimo da Fonseca, o que bem nos dá a entender que o Bocarro seguiu com o Fonseca. Porém a veracidade certa da saída de Manuel Bocarro para Goa não está identificada, como exacta, isto porque o mestre fundidor partiu de Macau como um clandestino. Os historiadores Professor Charles Boxer, Monsenhor Manuel Teixeira e o Almirante Celestino Soares não dão como certa a saída de Manuel Bocarro de Macau em 1640. Ficará para sempre uma incógnita se o fundidor embarcou ou não, em 1639 ou 1640, para Goa. Numa carta que o Professor Charles Boxer, enviou a N. Valdez dos Santos (sua obra que me serve de guião para esta séries de artigos) informava-o:" porém como já lhe disse em Lisboa, é claro que Bocarro ficou em Macau durante os anos 1635-1645, apesar de ter sido mandado de voltar a Goa, como consta de sua autobiografia redigida em 1643, através de consulta extensa a seu respeito no Arquivo Histórico Ultramarino, Códice nº 79 do Conselho Ultramarino, de 16-XIi - 1643, fls. 1-5, "Manuel Tavares Bocarro estante em Machao pede em renumeração de seus serviços o abito de X. do com 30 Reis e o foro de fidalgo". Por outro lado Monsenhor Manuel Teixeira é categórico ao afirmar, em ("Macau e a sua Diocese, 6.º vol. p. 280): que "Manuel Bocarro estava lá (em Macau) em 1640... Isto prova-o pela Relação da aclamação de D.João IV em 1642..." Pode de facto tornar-se certas as afirmações de Monsenhor Manuel Teixeira, mas não há provas que o Bocarro estivesse em Macau em 164o. Outros dois historiadores Marques Pereira e Nascimento Moura, tiveram as suas dúvidas se Manuel Bocarro teria fundido peças de artilharia em Macau. (nota do autor deste artigo: António Feliciano Marques Pereira, Cônsul-Geral de Portugal em Banguecoque 1875 e acreditado em Malaca e Singapura, foi um proeminente diplomata, com brilhante obra no Antigo Reino do Sião e Jacinto José do Nascimento Moura, capitão de artilharia, com obras relevantes em cima das relações dos portugueses com Sião (que felizmente temos algumas destas obras na nossa biblioteca particular), elogia o cônsul Marques Pereira nos termos seguintes: "...pessoa de alto valor moral, mental e trabalhador infatigável, cujo o nome está ligado, estreitamente, a Macau, pelos seus relevantes serviços ali prestados, entre os quais avultam, os seus importantes trabalhos de investigação histórica". Marques Pereira, depois descreve uma boca de fogo que se encontra no Museu Militar de Lisboa afirma: "mas esta peça, como se vê da inscripção, apesar de ser do mesmo fundidor das que existiam em Macau não foi certamente fundida nesta cidade e a circunstância de ter sido embarcada em Moçambique para Lisboa, destroe a possibilidade de o ter sido". Tavares Bocarro teria ido para a Índia; e em Goa fundira esse canhão". O capitão Nascimento Moura, num estudo sobre a "Artilharia de Macau", publicada na Revista Militar ao referir-se "à colubrina mandada executar por António Telles de Menezes, Governador da Índia, em 1640", conclui que "parece, pois, que Manuel Bocarro também fundiu artilharia na Índia e que este material foi parar àquela colónia (Moçambique). A morte do vice-rei Pedro da Silva, teria sido para Bocarro um rude golpe e o ruir das esperanças de possuir, as bem merecidas honras de vestir o hábito de Cristo que lhe havido prometido Pedro da Silva que não mais teria sido que entusiasmar Manuel Bocarro a fundir as mais que pudesse peças de artilharia. O fundidor não tinha conhecimento que os vice-reis da Índia não tinham, dentro da hierarquia da coroa portuguesa, poderes para conceder ordens, a não ser, em casos especiais, algumas pensões, impostos pelo alvará do ano de 1612. Em verdade, mais tarde, Manuel Tavares Bocarro, desalentado escrevia: "o que mais se dezeja menos se alcança". E nunca mais receberia, cedo ou tarde o prémio, merecido, de reconhecimento da sua Pátria pelos sacrifícios do calor dos fornos de fundição e pelos serviços que tinha oferecido à Pátria portuguesa. O honesto e trabalhador Manuel Bocarro está a ser manipulado pelo Pedro da Silva e este, o vice-rei da Índia, aproveitar-se da produção de canhões do Bocarro, para depois ele mesmo receber as honrarias e mordomias do Filipe III de Espanha. Manipulações, muito frequentes, em Goa e noutras costas onde Portugal está instalado com feitorias de que os homens "bons" do reino, para ali destacados, se vão aproveitando dos feitos dos seus compatriotas para depois os chamarem a si. Mas este mal, ainda hoje continua vivo que bem merecia um estudo dos sociólogos, ir em procura, porque seria a razão que os vícios do passado, permanecem vivos e se mantêm na sociedade portuguesa actual. E para terminar esta parte: "coloquem-se os galões, no ombro de um cabo "lateiro" as de capitão e, depois, aguarde-se as suas atitudes... ou melhor: não peças a quem pediu ou sirvas a quem serviu"!
CONTINUA....
Jose Martins

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