o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 11a. Parte

Monday, July 28, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 11ª
Pequena Introdução
Na continuação do nosso trabalho em cima do tema os "Canhões de Portugal", que não tem sido nada fácil, dado que temos de procurar muita informação e graças à internet nos é possível e facilita. Não somos especialistas nesta matéria e até noutras que nos temos debruçado há vários anos. Consideramo-nos um "jeitoso" e animado pela epopeia dos portugueses, quinhentistas, na Ásia. Sabemos que a história desses feitos se vai perdendo, entre a juventude, nos tempos que correm. É pena e triste os cidadãos de um país percam o interesse pelo que seus antepassados teriam sido há mais de cinco séculos. As gentes foram se desviando, com o correr do tempo, para outras áreas e uma delas é o futebol, as telenovelas, os assuntos "corriqueiros" que dia a dia vão entrando nas casas dos portugueses, através dos canais televisivos, que não instruem, mas em vez disso, vão embrutecendo e paralizam os cérebros. Ainda não vai há muito, tempo, assistimos a um concurso, levado a cabo pela RTPi, cujas perguntas(história,geografia,língua e cultura), aos concorrentes, eram feitas por uma comunicadora, bonita e de uma mediocridade incrível. As perguntas dirigidas aos concorrentes era daquelas que qualquer aluno da terceira classe, na escola do meu tempo, responderia logo de pronto. Naquele concurso de seis pessoas, algumas adultos, com dificuldade e muitas perguntas erradas lá foram respondendo. Algo segue mal no nosso país onde se dá importância à cultura de "polichinelo", aos telefones móveis, aos jogos electrónicos, às sapatilhas de borracha e às roupas de marcas inventadas. Levar um povo a assimilar a cultura e instruí-lo não é tarefa de meses mas leva muitos anos e, em Portugal, este ensinamento está irremediavelmente perdido. O ponteiro de ardósia, a pena, cujo bico era molhado no tinteiro, substituído, depois, pela plástica esferiográfica e há uns anos chegaram as teclas dos computadores que milagrosamente nos dá acesso a muita informação histórica e outras de utilidade para a sociedade. Não há bela sem "senão" e a juventude em vez de procurar história, ou outras matérias que lhes sirva no futuro para uma vida melhor, buscam nos websites: Hi5, Zorpia, MSN e outros mais que circulam na internet que são o retrógado e a infelicidade do destino que têm pela frente. Não estamos a procurar de indireitar o mundo, mas apenas a lamentar que as novas tecnologias inventadas tem o seu lado excelente, contribuiram para a melhoria de vida do Homem, e por outro uma hecatombe para os devaneios, da juventude que são eles o futuro de um novo Portugal.
Mas vamos à continuação do nosso trabalho.A correspondência oficial e outra particular para o Reino seguiu no final do ano de 1641, transportada na nau de Manuel Liz que entrara e largara o ferro no Tejo seis meses depois. Seguia a petição de Manuel Bocarro para a concessão de honrarias e o almejado hábito de Cristo, havia tanto tempo que o desejava pelos bons serviços prestados na Índia em Macau em favor de Portugal. Depois da restauração da soberania portuguesa havia mais em que cuidar; muito a fazer e defender o território. Também se deve, o despacho da demora à emperrada buracracia que contaminava os gabinetes da corte, que com toda a demora encobria a recusa de honrarias e mercês a Manuel Taves Bocarro. Em 29 de Setembro de 1643, depois do processo ser preparado para ser apresentado ao Conselho Ultramarino a resolução foi negativa. Não há mercês e o hábito de Cristo para o Manuel Bocarro. O fundidor era judeu e as "Merces Geraes de todas as Partes Ultramarinas", de onde partia a resolução a quem se deveria galardoar as honrarias pelos "bons ofícios" à Pátria portuguesa estavam sujeitas à deliberação de homens sentados a uma mesa onde deveria estar representados, além da nobreza o clero português. O clero, numa época onde o Tribunal da Santa Inquisição, estava bem activo a julgar, a condenar e a queimar pessoas vivas na fogueira, seria uma ofensa, clerical, de bradar aos céus conceder as vestes de Cristo a Manuel Bocarro, um cristão novo alcunhado por "marrano". Seis dias depois da aclamação de D. João IV, o conde de Aveiras voltou a escrever ao rei informando-o que ficava:"...depachando aviso p.ª a cid. de Machao na China hu navio lig.ro e como vay jaa fora da monsão dee lge Deos boa viage, e a tenha tambem dao a Ant.º Fialho Fer.ª porq me dá muito em q cuidar aquella cidª cõ vizinhansa de Manilla". Porém, por razões desconhecidas, o navio ligeiro, um pataxo de boa tonelagem só largou com destino a Macau em Fevereiro de 1642, acompanhado do galeão S. Francisco Xavier. Pensa-se que Manuel Tavares Bocarro deveria ter usado um destes navios, partindo de Goa e regressar a Macau. O galeão e o patacho navegaram em águas bonançosas, mas antes uns quinze dias de chegarem a Macau receberam ventos contrários e não há a certeza se a pequena embarcação teria aportado a Macau ou se teria ficado em alguma enseada. O Comandante António Marques Esparteiro, desmente esta versão, na sua obra "Três Séculos no Mar", refere-se ao galeão S.Francisco Xavier relata: " a galeota da sua conserva conseguiu alcançar Macau". Com esta informação teria sido provável que Manuel Tavares Bocarro estivesse incluído no número de passageiros do patacho, mesmo com os ventos contrários teria conseguido a viagem de Goa a Macau. Sensivelmente ao mesmo tempo da chegada de Bocarro a Macau aportou o patacho holandês "Cappela" que colocou toda a população em alvoroço e em estado de guerra. Deste navio batavo desembarcou, com espanto de todos "Antonio Fialho Ferreira, vestido de trajo olandes". Este inesperado visitante foi logo conduzido à fortaleza de S.Paulo, onde estava reunido o Conselho de Guerra. Fialho Ferreira recusou-se a prestar qualquer declaração e que o faria de muito boa vontade na Câmara. Chegado à "Caza da Camara desta cidade - informou depois o capitão geral D.Sebastião Lobo da Silveira - o dito home declarou que tinhamos por Rey e Sñor legítimo e verdadeiro dos Reinos e monarquia de Portugal o mag.de catholica delRey Dom João o 4.º e que mandara a elle dereitura a esta cidade em hua nao engreza em que partio do reino, a qual hua tormenta grande que lhe deu abrira e não pudera tomar outro porto senão Jacatará donde logo buscara remedio para passar a esta cidade.... O conde da Ericeira, na sua história: "História de Portugal Restaurado" que Fialho Ferreira chegou a Macau "achou aquêle opulentíssimo povo dividido em parcialidades. Conformou-lhes ânimos a nova aclamação, celebradas com festas tãos custosas que se pudera duvidar da relação delas, quando se ignorara a riqueza em que vivem os moradores daquela cidade. Ajustaram fazer a El-Rei um grande donativo de dinheiro, que logo mandaram para Lisboa, e duzentas peças de artilharia de bronze, com muitas munições, que foram remetendo nas monções que se ofereceram". Em realidade as festas da aclamação de D.João IV - que duraram três meses seguidos - foram deslumbrantes: "... só salvas de artelharia forão sinco, comessando desta fort.za em que resido as salvas, e attraz della as mais forças q cada salva se desparavão noventa peças grossas, com que esta terra, e outras ilhas parecia hum novo mundo, não fallo nos montes de mosquetaria, ouve também tres caminhadas de grande custo, em que entrei na primeira dellas, e a segurança da cidade, e a terceira foi de pee de mais seiscentas pessoas com tochas em q. entrarão todas as nações admitidas..." escreveu em 28 de Outubro de 1642, o capitão geral de Macau Lobo da Silveira. D. João Marques Moreira, pronotário apostólico de Sua Santidade escreveu a "Relação da magestosa, misteriosa, e notável acclamaçam, que se fez a Magestade d´ElRey Dom Joam, nosso Senhor na Cidade do nome de Deos do grande Imperio das Chinas" , obra que seria publicada em Lisboa no ano de 1644. O autor do livro conta que: "o capitão geral D.Sebastião Lobo da Silveira o qual mandou ajuntar o presídio todo no forte de S.Paulo, e descobrir a artelharia desta praça, que a milhor, e mais bem fundida de toda quanta sua magestade tem em seus estados, muyta em quantidade fundida por Manoel Tavares Bocarro aqui casado, e morador muy perito & perfeito na arte". D.João Marques Moreira dá conta do que observou e descreve as principais figuras que participaram na: "encaminhada de grande custo", referindo, numa passagem que se: "seguiam Manoel Tavares Bocarro, com Pero Gomes de Pina, vestidos de encarnado, e prata, com certas roupas largas brancas, de mangas de meyo braço, com o seu capilar ao uso dos nobres da Polonia, barretes guarnecidos de muyta pedraria, com colares de prata e cavallos accubertos com falpiques de argentaria". Ora esta descrição nos dá conta que Manuel Tavares Bocarro era um homem que lhe agradava mostrar a sua opulência de homem rico e, juntava-se as suas excentridades de burgês. Alimentava a ambição, obviamente o hábito de Cristo e possuidor de todas aquelas mordomias e privilégios para se distinguir entre a fidalgaria do Oriente. Aqui também se fica a saber que o Bocarro em 1644 estava a residir em Macau. Nos primeiros dias do mês de Março de 1643 fundearam em Goa duas naus holandesas, enviadas pelo governador de Batavia transportando um enviado holandês para jurar nesta cidade tréguas. escreveu, depois, o vice-rei da Índia que, num desses barcos vinha "Dom Francisco de Castelo Branco, que como em outra carta tenho dito, foi nomeado pello Capitão Geral da cidade de Macao para vis a esta de Goa, cõ aviso de ficar VMag.de aclamado e obedecido na dita cidade, e jurado o Principe nosso S.or. N. Valdez dos Santos escreve (autor de "manuel Bocarro o Grande Fundidor):O vice-rei conde Aveiras que já em Dezembro de 1641 tinha solicitado ao rei uma recompensa para Manuel Bocarro o que fora deferido, tendo sido provido com a fortaleza de Barcelor - ao ter conhecimento das aclamações de Macau com vista a obter para aquele grande fundidor as tão ambicionadas "honras, renova o seu pedido voltado aludir aos seus "muitos serviços... abelidade e suficiencia, e sobretudo pello bem que se ouve na ocasião da aclamação de V.Magestade he merecedor de VMage m.dar f.er honrras e m.os e deferir a hua consulta q sobre elle se fez e esta nesse Reino pª responder". A renovação do pedido de concessão de "honras" para Manuel tavares Bocarro, feita cerca de um ano depois do rei as ter negado revela, por parte do vice-rei, uma quebra de procedimento burocrático que só podemos explicar pelo desejo que o conde de Aveiras tinha em obsequiar uma pessoa que lhe merecia grande amizade e consideração. Assim, é licíto supor, que a amizade e consideração que o vice-rei da Índia tinha pelo fundidor de artilharia de Macau, tivesse nascido através de contactos pessoais que só poderiam ter sido estabelecidos em Goa, nos anos de 1640 e 1641. Mas esta pretensão não foi deferida o que aliás sucedeu a uma outra apresentada mais tarde. Não chegaram até nós as razões das recusas que, possivelmente, se basearam nos então chamados "impedimentos canónicos", ou seja, a presunção que Manuel Bocarro tinha uma ascendência judaica."
CONTINUA...José Martins
P.S. Com a devida vénia parte das fotografias inseridas foram retiradas da obra:"História das Fortificações Portuguesas no Mundo - Publicações ALFA.

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