Monday, August 18, 2008
NA ROTA DOS CANHÕES - A IMPORTÂNCIA DOS PORTUGUESES NA DEFESA DO REINO DO SIÃO
Parte 1ª
Depois de terminarmos (que haveria muito, ainda a revelar!) a história do fundidor Manuel Bocarro, vamos nos embrenhar sobre a importância dos portugueses na defesa, da soberania, do Reino do Sião, hoje a Tailândia. Mas antes, de chegarmos aos fortes às armas, aos canhões e à formação de soldados, siameses, pelos portugueses, vamos contar como a etnia thai se estabeleceu no norte Tailândia, há 3.500 anos, na região de Sukhuthai. Os thais, raça minoritária, originária da região Yunnam, sul da China foi expulsa (aliás ainda hoje a China tem essa tendência), cujas minorias despojadas de suas orígens têm a tendência de se deslocarem em direcção ao sul e seguindo o curso dos rios. O Prof. W. Eberhard da Universidade da Califórnia, na sua obra "História da China" afirma que os tais viviam, no ano de 1450 (AC), junto ao "Rio Amarelo", muito antes os chineses, ali, se fixarem. Em escavações, arqueológicas, foram encontrados objectos de bronze, desse período, que indicam ter sido manufacturados pela etnia tai. Os tais vêm de uma raça heterogénia onde se misturam sangues de Yao e Tongouse. Os chineses pouco depois de ter penetrado no território dos tais, como a maioria,tomaram conta do poder administrativo e expulsam-nos e estima-se, por volta dos anos de 1450 AC, Dirigem-se para o sul e como acima foi descrito e fixam-se em Sukhutai. Os tais identificam-se como nação em 1238 e de quando Sukhuthai, é uma parcela de território do grande império Khmer. Dois homens são os arquitectos dessa autodeterminação: Pho Khun Muang e Pho Khun Bang Hao declarando a independência do Reino de Sukhuthai. Mais tarde entroniza-se o Rei Rama Kamkhamhaeng, o Grande e o inventor do primeiro alfabeto tai, conhecido, até aos dias de hoje. A primeira inscrição, escrita em tai, foi cinzelada numa pedra no ano 1292. Os tais, identificados como povo dão o nome ao seu novo país "Muang Thai" (Tailândia) que traduzido para o português "Terra Livre". Ainda não está bem definida a razão porque os tais se viriam a mudar para mais ao sul e fundar um novo Reino de Ayuthaya. Históriadores aventam a hipótese que a mudança teria sido para que o Rei de Sukhuthai se livrasse dos conflitos dos seus vizinhos, que constantemente se guerreavam, ou se pelo facto das terras de Sukhutai não possuirem a fertilidade desejada para a uma vivência, sob a abundância, do seu povo. Em Sukhutai só lhe conhecemos um pequeno curso de água junto a uma alta montanha, ao sul e a uma certa distância onde se situava a administração do reino. Cremos que a área de Sukuthai estava sujeita as secas. O pequeno rio desagua no rio Chao Praya (Chao Praiá) em Kamphaeng Phet, pertencendo jurisdição de Sukhuthai, onde viveu uma significativa comunidade tai e ainda hoje existe um parque como muitas ruínas, budista, da época e em certas partes, restos de muros que serviam para se defenderem da entrada do inimigos. O Rei Utong ou porque pretende expandir o seu reino ou livrar-se da cobiça dos seus vizinhos, ordena a um grupo de homens de sua confiança e diz-lhes: "segui a direcção do Sul e procurai uma terra para onde nós possamos mudar e viver em paz". Não são conhecidos, históricamente, quantos enviados o Rei Utong teria incumbido para a descoberta, de novas terras, mas certo teria sido uma caravana de elefantes, que partindo de Sukhuthai até Kamphaeng Phet, ali outros tais se juntariam que navegando em almadias (pequenas embarcações cavadas em grossos troncos de árvores de Teca), seguiram-nos em procura de um novo país. O curso do Rio Chao Prya, em Kamphaeng Phet já comporta um nível de água muito razoável e de fácil navegabilidade até Aiuthaya. Os tais são sabedores que aquele rio vai alargando as margens conforme vai correndo para o sul e por certo iriam encontrar a terra sonhada pelo Rei Utong. De Kamphaeng Phet a Ayuthaya são cerca de 350 quilómetros e com facilidades, de abastecimento logístico, dado a abundância de comida que vai havendo no percurso, para os enviados assim como para as bestas de carga (elefantes) que os transporta. Chegados a Ayuthaya vão encontrar uma ilha fértil, onde dois rios vão ao encontro do Chao Prya: o Pasak, vindo das terras do leste e o Lopburi do nordeste. De volta os enviados do Rei Utong informam-no: "ter encontrado uma ilha muito fértil ao Sul de Sukhutai circundada por três rios". O Rei não hesita e prepara o seu povo, as centenas de elefantes e com ele, seguem para as terras baixas de Ayuthaya que dista a 100 quilómetros da embocadura do rio Chao Praya que despeja as águas no Golfo do Sião. O tais organizam-se, criam a cidade real, constroem os templos, budistas; palácios para alojar o Rei; os membros da família real e as casas dos nobres. A cidade real situa-se dentro do perímetro das margens do três rios que forma uma lha. Fora da cidade real, em todas as margens dos três rios erguem-se as casas dos tais. Os campos da baixa de Ayuthaya são demasiadamente fértiles e passaremos a descrever o que Fernão Mendes Pinto nos diz na sua "imortal" obra a "Peregrinação", capitulo 189: "....grandeza, abastança, riqueza, e fertilidade que vi neste reino do Sião e império Sornau, e quando mais proveitosa nos fora tê-lo antes senhoreado, que tudo quanto temos na Índia, e com muito menos custo do que até agora nos tem feito. Este reino, como se pode ver no mapa, tem por sua graduação quase setenta de costa, e cento e sessenta na largura do sertão. A maior parte dela é terras muito baixas, em que há muitas campinas lavradas, e rios de água doce, e por isso é muito fértil e abastada de mantimentos e de carnes. Nas partes altas tem arvoredos espessos de muita madeira de angelim, de que se podem fazer milhares de navios de toda a sorte. Tem muitas minas de prata, ferro, aço, chumbo, estanho, salitre, e enxofre, tem também muita seda, águila, benjoim, lacre, anil, roupas de algodão, rubis safiras, e ouro. e disto tudo muito grande quantidade. Nos matos da costa tem muito brasil, e pau-preto, de que todos os anos se carregam mais de cem juncos para a China, Léquios, Cambodja e Champá, e têm mais muita cera, mel, e açúcar". É impressionante como Pinto descreve o Reino do Sião e esta realidade só pode ser analisada por quem conhece a Tailândia, como nós. Existem as florestas cerradas, que são povodas por elefantes e outros animais selvagens onde predomina o tigre. Ayuthaya dado à sua abundância e de solos ricos o comércio floresce e volta num importante centro comercial, com a constante chegada, dos juncos chineses (que dominavam a navegação no Golfo do Sião e o Mare do Sul da China) com mercadores chineses e malaios ao Porto Internacional de Pom Phet junto à embocadura do Rio Pasak. Muitos dos produtos produzidos no Sião, antes de os portugueses, conhecerem Ayuthaya, já eram comercializados, em larga escala, pelo malaios e chineses em Malaca, tendo como principais clientes os mercadores árabes que deste empório os transportavam para o norte de África navegando pelo Mar Vermelho e para Itália através do Golfo Pérsico. Não se conhecem guerras, violentas, durante os 161 anos, desde a fundação de Ayuthaya, entre os tais e os seus vizinhos; a Birmânia e o Cambodja, antes de os portugueses conhecerem o reino no ano de 1511. Porém dado ao desenvolvimento do comércio do Sião viria a expandir o seu território até ao sul obtém a soberania de pequenos estados em que os chefes, anualmente, vão a Ayuthaya para serem recebidos, prestarem vassalagem, em audiência ao Rei e pagar-lhe o tributo, em ouro. Entre os pequenos e vários estados tributários designamos três: Mergui no Mar de Andaman, Malaca mais ao Sul e Pattani no Golfo do Sião. Mergui, embora menos importante que o empório comercial de Malaca, é um dos pontos de chegada de mercadoria de Ayuthaya, por água e terra. Percurso que demorava cerca de 15 dias entre Ayuthaya e Mergui. Os juncos saídos do Porto de Pom Phet, navegavam para o sul do Golfo do Sião até "Maw Pass", a mercadoria no dorso de elefantes chegava ao rio Tenassarim e deste até à Baía de Mergui. Em Mergui, muita da mercadoria era comecializada, pelos árabes, chineses ou malaios e ou seguia para Malaca ou tomava o rumo do norte da Baía de Bengala com destino à Índia, mercados marítimos arábes que a fariam chegar aos centros comerciais das especiarias do Norte de África ou os de Itália: Veneza, Piza e Génova. A descoberta do Caminho Marítimo da Índia por Vasco da Gama em 1498, viria a transformar, completamente, não sou o sistema comercial da Ásia, com a introdução das armas de fogo, a construção de fortes, veio a substituir as rudimentares paliçadas e as consequentes guerras que se seguiriam. Os homens portugueses, os missionários do Padroado Português do Oriente, as armas, os canhões, a pólvora, as novas tecnologias de defesa, introduzidas pelos portugueses no Antigo Reino do Sião veio não só a modificar este reino como assim toda a Ásia e a ligação dos seres humanos do ocidente com os do oriente.
Continua
José Martins
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