o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 2a. Parte

Monday, July 07, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

PARTE 2ª
A evolução da fundição de artilharia de bronze, em quantidades industriais, em Portugal, deveria ter início na década de setenta do século XV. Entretanto são conhecidas peças fundidas nos primeiros anos deste século, apresentando-se com grande perfeição que não são inferiores às peças importadas do estrangeiro. Surge em Portugal uma nova era e classes de artesões,na arte de fundição com as suas ofícinas próprias. Em 1572 os fundidores principiam a ser regidos por um instrumento próprio.
"Hoje, aos comtemplarmos os canhões em exposição no Museu Militar de Lisboa, no Museu da Marinha ou os que se amontoam em pequenos museus e velhas fortalezas ou, ainda, os que embelezam jardins e lugares públicos, não podemos deixar de manifestar o nosso espanto a uma muito admiração perante a beleza e esmerada técnica com que foram feitos" (N. Valdez dos Santos - Manuel Bocarro o Grande Fundidor, pag 13)
Distinguem-se na época os mestres na arte da fundição: Diogo Garcia, Anes Fernandes, Pero Figueira e outros nomes. Com o correr do tempo, ficaram no esquecimento. Indústrias famíliares que passam de pais para filhos, onde, com especial, destaque para as dos Dias, dos Álvares, dos Anes, dos Gomes e dos Bocarros se firmam nesta arte. Fundem por cerca de um século "formosas" peças em bronze: o Tigre, o Dragão, o Selvagem e outras mais. A fundição de canhões em Portugal começa a ganhar as suas próprias raízes e está consolidada. Mas, bruscamente, todas as fundições deixam de operar. Era o protesto, dos fundidores; o seu orgulho nacional e das populações se encontrar ferido pela usurpação da coroa portuguesa pelos espanhois. Eles tinham contribuído, em muito, para as vitórias de Portugal no norte de África, costas do Atlântico do Índico e Ásia. Portugal atravessava a era de ouro e de abundância. São passados oitenta anos depois da descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, Portugal gozava de prestígio, impar, na Europa, mas a morte de D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Kibir, a traição do Cardeal D. Henrique, doar a coroa portuguesa à espanhola, viria a criar feridas profundas e o desânimo na sociedade portuguesa. O sentimento estende-se aos fundidores, metropolitanos e como forma de protesto e humilhados com a perda da soberania, em 1580, paralizam as suas fundições. Acontece o primeiro protesto da população de Lisboa que teve lugar em Alcântara e viria a ser abortado o que nos leva a crer pelas autoridades, portuguesa, já subjugadas à corte de Filipe I. O povo não aceitava estar sob, os destinos, da coroa espanhola, pelo motivo de ver os seus navios, as armaduras, os canhões e mais apetrechos usados nas guerras, pelos soldados portugueses, levados para Espanha. Os portugueses construiram as suas naus, fabricaram as armas; fundiram os seus canhões e reagiram à espoliação, infame de Espanha. Não desejavam, os portugueses, colocarem-se ao lado do invasor continuando a produzir material de guerra já que este viria a ser, depois, usado contra a eles próprios. O desinteresse está absolutamente generalizado e o patriotismo (enorme) que seguia dentro da alma portugesa não lhes permitia manter as forjas, malhar o ferro, acender os fornos de fundição e produzir bocas de fogo. Preferiam sofrer a precaridade do viver do que aliaram-se aos espanhois. Entram então em acção os reis espanhois e obriga os fundidores voltar às oficinas. A primeira ordem teria sido 11 anos depois da ocupação, seguindo-se outras em 1594 e 1604. Anos depois, Filipe II lamentava-se: "que antes em Lisboa, das muitas casas de fundição e de muitos fundidores existentes, só havia cinco e um, só, se encontrava em actividade e com a mínima produção". N.Valdez dos Santos: "Quem hoje contempla, no Museu Militar de Lisboa, um canhão de Pero Figueira, fundido em 1578, com toda a sua suficiência e habilidade em 1578, cheio de arte e de técnica e, depois, se se recordar dos dois pequenos canhões que estavam no Museu de Angola, feitos por ordem do rei de Espanha e com a obrigação, jurada aos "santos evangelhos que bem e verdadeiramente" serviria a fundição, poderá avaliar toda a tragédia dos fundidores portugueses. A arte, ao aformoseamento e à radiosa esperança do primeiro canhão de Pero Figueira, opõe-se uma menor perfeição dos segundos onde laconicamente, o fundidor se limitou a gravar, sobe o escudo real português, suportado por três anjos de asas protectoras, a simples legenda: PHILIPVS REX ESPANIARVM e o seu nome seguido da palavra LVZITANVS, simbolizando bem o espiríto português perante a ocupação filipina"
A resistência, passiva, portuguesa está generalizada e não pretende fundir canhões que com isto iria aumentar o poderio militar espanhol e a repressão. Esta iria manter-se por vários anos. Porém os reis de Espanha não desarmam, emitem ordens taxativas, criam medidas de protecção aos fundidores, concedendo-lhes várias regalias e despacham para Lisboa os seus melhores artistas de fundição de Espanha: João Vautrier, Fernando Ballesteros e Matias Escortim, sem contudo os mestres espanhois, mesmo com privilégios e o envio de mestres espanhois a fundição de canhões em Lisboa não foi reavivada. De um a um os fundidores portugueses foram desaparecendo. Arte e a experiência de mais de um século foi-se igualmente. Nas terras que Portugal se foi fixando com fortes e feitorias a coisa já não se passava como em Lisboa as fundições mantinham-se a laborar e a produzir, em menos escala, bocas de fogo para se defenderem contra os turcos, holandeses, ingleses.
O rei de Espanha não desarma e, também, não está no seu pensamento usar a violência em obrigar os fundidores e fabricantes da espingardia à força. As cartas de Madrid era um constante para o Terreiro do Paço com os pedido de incrementação de material bélico e âncoras. São decretadas ordens para o justo pagamento do material fabricado e concedendo regalias aos fundidores. A produção em Goa, como em Lisboa, tinha entrado em decadência. O Mestre da Fundição Real, Pedro Dias Bocarro, mesmo sob o desânimo ainda fundiu um número de peças superior a um milhar. Uma nova era na arte de fundir canhões instala-se em Goa e em meados do século XVII e durante a administração do conde de Linhares foram fundidas 106 bocas de fogo, 8 sinos - estes destinados às fortalezas . Dois anos depois do governo de Pedro da Silva, 1636 e 1637, são fundidas 101 peças, mais dois morteiros para a "Casa da Pólvora". Estão com isto a produzir uma média de 25 canhões que durante ao longo de sessenta anos de trabalho de Pedro Dias Bocarro, fundiu mais de um milhar de bocas de fogo e dezenas de sinos.
CONTINUA...
Nota do autor: Justiça a quem deve ser dada! Não me seria possível levar em frente este, modesto, trabalho se não tivesse reunido informação ao longo de 26 anos. Guardei tudo desde a recortes de jornais, monografias e o demais que designava a história de Portugal na Tailândia e da expansão. Mendiguei livros a Macau e graciosamente sempre me esmolaram. Atravessei a era de ouro do Instituto de Macau que foi de grande sucesso durante a presidência do meu amigo Dr. Jorge Morbey. Outros presidentes se seguiram continuei a ser contemplado com revistas de cultura e muitos livros. Fui prendado igualmente pela Fundação Oriente e pela mão do presidente Dr. Carlos Monjardino que pessoalmente viria a conhecer, em Banguecoque, lhe servi de cicerone em Ayuthaya e levei-o ao "Ban Portuguet". Continuei a ser brindado pelas publicações de grande valor histórico e obras de luxo editadas pela "Comissão Territorial para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses" do Governo de Macau. Para esta parte (2ª), aqui ficam os meus agradecimentos ao Sr. Francisco Xavier, natural de Diu, pela sua excelente obra: "Vice-Reis e Governadores da Índia Portugesa" - Imprensa Oficial de Macau e patrocinada pelo Governo do General Rocha Vieira. Nos dias que correm, a história de Portugal na Ásia é uma doente, em coma, prestes a partir para sempre. Bem necessitava que alguma coisa fosse feita para que fosse reavivada.
José Martins

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