OUTRO MONUMENTO LUSO NA ILHA DE TANEGASHIMA
O cabo Kadokura, o ponto mais ao sul da ilha de Tanegashima, onde, em 1543, chegaram os portugueses, tem a partir de agora mais um monumento recordando os primeiros contactos entre os dois povos. Numa cerimónia realizada no cabo sobranceiro à praia de Nishimura, onde terá arribado a embarcação com os portugueses que introduziram no Japão as primeiras armas de fogo, foi descerrado um monumento oferecido pelos Serviços de Marinha de Macau.- A cerimónia contou com a presença do presidente da Câmara de Minamitane, do Embaixador de Portugal no Japão, José de Mello Gouveia, e do chefe dos Serviços de Marinha de Macau, Comandante Martins Soares, em representação do Governador Carlos Melancia.
- “Foi aqui que os portugueses introduziram as armas de fogo há cinco séculos, revolucionando a tecnologia de guerra no país. É aqui que temos hoje o centro especial japonês, ou seja, a nossa tecnologia de ponta”, afirmou o presidente da Câmara de Minamitane, Kaoru Nakamine, que salientou ainda que o primeiro encontro entre portugueses e japoneses marca “o início do intercâmbio internacional do Japão”.
- O Comandante Martins Soares reforçou a ideia do presidente da Câmara de Minamitane ao afirmar que “durante muitos anos, os portugueses contribuíram, com os conhecimentos de que eram portadores, para o alargamento da cultura japonesa e noutro sentido, foram os pioneiros na difusão da cultura japonesa para a Europa de então”. Martins Soares formulou ainda votos para que “se reganhe vitalidade, dinamismo e actualidade (...) no futuro e na modernidade das relações entre o Japão e Portugal”.
- A lápide agora descerrada, em forma de vela, e que comemora igualmente a vinda a Tanegashima da lorcha “Macau”, junta-se a quatro outros monumentos dedicados à chegada dos portugueses, em 1543, o mais recente deles deixado pelo navio-escola “Sagres” há cinco anos. O monumento oferecido pelos Serviços de Marinha de Macau, construído com granito na ilha de Tanegashima, foi benzido por um Padre Católico que, com três religiosas japoneses, realizou uma breve e inédita cerimónia religiosa.
(Jornal Tribuna de Macau 25-7-2008) reproduzindo acontecimentos de há 20 anos.
A Lorcha Macau foi uma réplica de uma lorcha macaense construída no território pela Marinha Portuguesa, com a classificação de UAM. Após participar na EXPO'98 foi doada à Aporvela, e posteriormente à Fundação Oriente.
História
Em 1986 em grupo de emigrantes portugueses da África do Sul construiu a réplica de uma caravela, a "Bartolomeu Dias", para assinalar a presença portuguesa nesse país. A ideia de fazer algo semelhante em Macau nasceu e cresceu no seio do contingente da Marinha no território, e após alguns estudos, foi iniciada a sua construção.
Lopo após o seu lançamento à água, a Lorcha Macau navegou até ao Japão para participar no Festival da Espingarda, na ilha de Tanegashima, onde se comemora todos os anos e chegada dos portugueses ao Império do Sol Nascente, tendo visitado também os portos de Kagoshima, Nagasaky e Omura.
- - A lorcha “Macau”, que participou no festival da espingarda, na ilha de Tanegashima (Japão), regressa a Macau no dia 19 de Agosto, depois de uma viagem de 44 dias, revelou à agência Lusa uma fonte dos Serviços de Marinha.
- A lorcha “Macau”, que partiu do Japão no passado dia 4, encontra-se neste momento na cidade chinesa de Xangai na sua viagem de regresso ao território. A embarcação, réplica dos navios que nos séculos XVI e XVII sulcavam as águas do mar do sul da China e do Japão, esteve em Kagoshima, Tanegashima, Nagazaki e Omura, cidades onde os portugueses se estabeleceram no século XVI.
- Até ao momento, a embarcação tem encontrado condições meteorológicas favoráveis nesta sua viagem de regresso a Macau. Com uma tripulação de 13 homens, a lorcha foi construída em Macau, possuindo o casco de tipo ocidental e o sistema de velas de influência chinesa. Segundo informação dos Serviços de Marinha, a lorcha “Macau”, depois de alguns ajustamentos e alterações necessárias a uma melhor utilização, nomeadamente no sistema de velas, poderá efectuar ainda este ano viagens à ilha chinesa de Sanchoão, onde morreu São Francisco Xavier, em Dezembro de 1552.
In “Jornal de Macau” e “Tribuna de Macau” 10.08.1988
Nos anos seguintes foram efectuadas várias viagens no mar da China, até à Correia, Singapura, etc.
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- Por altura do ano de 1989 o Embaixador Castello-Branco recebeu a visita de duas personalidades de Macau: o Comandante da "Lorcha Macau", o oficial da Marinha Portuguesa, Sá Leal, destacado naquele território; o Dr. José Lobo de Amaral, o director das edições do Centro Cultural de Macau.
A "Lorcha", sob o comando de Sá Leal, tinha feito furor em duas viagens: uma efectuada ao Japão e outra a Goa.
A "Lorcha Macau" era o símbolo, na Ásia, da portugalidade de outras eras.
Tinha sido construída nos estaleiros de Macau e fiel aos desígnios quinhentistas.
O Comandante Sá Leal, meu amigo, era daquelas pessoas mais generosas que haja conhecido, já viúvo, apaixonava-se facilmente pelos olhos, femininos, amendoados.
Mas não haveria mal nenhum nisso, pois o mesmo já tinha acontecido ao Comandante, primeiro-tenente, Venceslau de Morais de quando comandante da canhoneira Tejo, a fez navegar no Rio Chao Prya, lançar o ferro, em frente ao Consulado de Portugal, em Março de 1890.
Sá Leal pretendia trazer a "Lorcha Macau" a Banguecoque e ancorá-la em frente ao Jardim da Embaixada de Portugal.
Em sua mente estava haver recepções a bordo, fazendo os convites o chefe de missão, colocá-la à disposição da comunidade portuguesa e luso-descendente, oferecendo-lhe beberetes e lembranças.
Naquele barco cozinhava-se comida portuguesa e macaense e com uma despensa bem recheada de bacalhau, azeite e outras especialidades portuguesas.
Sá Leal e Lobo Amaral foram recebidos no gabinete do embaixador, ainda na residência junto à cozinha. Os dois ilustres homens de Macau apresentaram o projecto da "Lorcha Macau" navegar pelos Mar do Sul da China, o Golfo do Sião, subir o Chao Prya e quedar-se, ancorada, em frente à "Nobre Casa".
A vinda da "Lorcha Macau" não era bem vista pelo Embaixador Castello-Branco...
Primeiro porque na data assinalada pelo Comandante Sá Leal (um homem de meia idade e daqueles, marinheiros, que amam o mar), não estava conforme porque nessa altura estava ancorada no Porto de Banguecoque uma fragata inglesa e aquela pequena nau de outras eras não prestigiava, nada Portugal...
Sá Leal responde-lhe: "Senhor Embaixador mas a "Lorcha Macau" já esteve ancorada em diversos portos, onde estavam vasos de guerra, de outros países, em visitas de cortesia e nós marinheiros confraternizamos uns com os outros"!
E continuou: "Senhor Embaixador de marinharia e convívio entre outras tripulações, estrangeiras, conheço eu..."
Havia um problema o mastro principal da lorcha ser demasiado alto e não passava sob os arcos da ponte da Sathorn, a jusante da embaixada uns 500/700 metros.
Esse entrave seria solucionado com a colocação de outro mastro, em Macau, para que a lorcha chegasse e ancorasse em frente à Embaixada de Portugal.
Sá Leal a todo o custo queria mostrar a sua embarcação, quinhentista, aos habitantes da cidade de Banguecoque.
Mas todas as suas pretensões foram goradas pelo desinteresse do Embaixador Castello-Branco.
E eu e outros portugueses residentes em Banguecoque não nos deliciamos com umas boas comidas portuguesas e macaense na "Lorcha Macau".
E, não só, umas boas postas de bacalhau, azeite e azeitonas que Sá Leal me tinha prometido para a despensa de minha casa!
Na Tailândia não há bacalhau, por estranho que pareça e por tal, tenho sido, neste reino, um pobre de possuir o fiel amigo.
José Lobo Amaral fez outro pedido ao Embaixador Castello-Branco e este seria o autorizar a levar para Macau, uma certa quantidade, de monografias editadas no consulado do Embaixador Mello Gouveia...
Este pedido foi logo atendido dizendo-lhe: leve-as todas.
Isso é LIXO!
Depois de o Comadante Sá Leal e o Lobo Amaral de terem deixado o gabinete de Castello-Branco, chegaram junto a mim completamente frustados...
Quanto ao oferecimento das monografias (lixo) seria eu que as tinha de dar a Lobo Amaral e desde logo lhe disse: "Lobo Amaral vai levar algumas, mas todas não leva..." E claro só levou aquelas que entendi que deveria levar.
Casos de negação para a realização de eventos eram coisa comum na Embaixada.
O Dr. Paulo Rufino, meu compadre, a sua primeira comissão de adido foi na Embaixada de Portugal durante o consulado do Embaixador Mello Gouveia.
Era um jovem com o sangue novo e gostava de fazer coisas...
(Extraído do blogaquimaria) - de José Martins
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Em 1998 foi trazida para Lisboa, onde teve um lugar de destaque na Exibição Náutica da EXPO'98. Nesse mesmo ano foi abatida ao efectivo, por despacho do Almirante CEMA a 28 de Setembro e entregue a título gratuito à APORVELA.
Posteriormente foi cedida para a Fundações Oriente.
Comprimento fora a fora: 26.52 m Comprimento incluindo gurupés e retranca: 34.10 m Boca máxima: 6.60 m Pontal: 3.58 m Calado: 3.00 m Guarnição fixa: 10
O termo lorcha designa uma embarcação cujo casco obedece a um traçado europeu e cujo leme e aparelho vélico são de concepção oriental, combinando assim várias características que lhe davam rapidez e facilidade de manobra.
- A tonelagem destes navios era bastante variável, podendo ir desde 30 a 50 tonaladas. Normalmente construídas em madeira de cânfora e teca, as lorchas possuiam dois ou três mastros e estavam armadas com inúmeras peças de calibres diferentes.
- No séc.XIX as lorchas eram utilizadas quer no transporte de carga quer no serviço de vigilância e defesa contra os piratas.
- Através de um afretamento a preços previamente estabelecidos, os patrões das lorchas forneciam serviços de protecção a outras embarcações mercantes e de pesca, ao longo da costa do sul da China e, nalguns casos até perto das costas do Japão e da Coreia.
- A sua tripulação era mista, sendo um terço de portugueses e dois terços de chineses, num total que podia chegar até trinta homens.Em meados do séc.XIX existiam no porto de Macau mais de 60 lorchas, incluindo-se neste número algumas lorchas de guerra, cujo armamento era reforçado, e que se dedicavam apenas ao combate de piratas.
- São conhecidas as descrições de alguns combates em que intervieram as lorchas Adamastor, Leão Terrível, Amazona, Tritão e que terminaram com a destruição de inúmeros juncos piratas.
- A pouco e pouco, por diversos motivos, as lorchas de Macau foram desaparecendo, sendo substituídas por embarcações a vapor, que transportavam mais rapidamente as mercadorias ao longo do litoral da China.
- Apesar da sua construção não ter sido feita apenas em Macau, pois havia lorchas contruídas em Bangkok, Ningpo e Singapura, estas embarcações desapareceram completamente das águas do Sul da China nas primeiras décadas do século XX.
Características: Comprimento fora a fora: 26.52 m Comprimento incluindo gurupés e retranca: 34.10 m
- O convés e as superestruturas são em madeira de teca. O aparelho é do tipo oriental, sendo constituído por três velas e vergas em madeira e réguas e retrancas em bambú, envergando em três mastros de madeira. Para além do aparelho vélico, dispõe ainda de dois motores de 300 BHP/1800 Rpm, que proporcionam uma velocidade de cruzeiro de 9 nós.
- O Macau dispõe ainda de todo o equipamento moderno de navegação e comunicações.Esta embarcação destina-se a proporcionar a prática de mar à juventude de Macau e a divulgar no estrangeiro o nome do Território, bem como as suas realidades económicas, turísticas e culturais.
A lorcha"Macau" (UAM 202) foi abatida ao efectivo dos navios da Armada pelo Despacho n2 46/98 de 28 de Setembro do Almirante CEMA. Consideradas que, por parte da Marinha, se esgotaram as razões que justificaram asuaclassificação como Unidade .Auxiliar da Marinha (UAM), foi julgado oportuno a transferência do navio, a título gratuito, para a Associação Portuguesa de Treino de Vela (APORVELA), de acordo com a intenção oportunamente expressa pelo Governo de Macau. A cerimónia de transferência efectuou-se em 1 de Outubro de 1998. 0 primeiro oficial de marinha Comandante da lorcha "Macau" relata-nos seguidamente o historial do nascimento do navio, alguns episódios marcantes e o testemunho que o navio deixou no Extremo Oriente.
Em linhas muito gerais - e um tanto simplistas - dir-se-ia que os Portugueses, chegados ao Extremo Oriente e postos perante embarcações substancialmente diferentes das suas, terão concluído que os cascos ocidentais seriam melhores que os cascos locais - mas que, em contrapartida, as velas locais (do tipo junco) seriam mais práticas que as dos seus navios.
Da simbiose do que de melhor havia em cada tipo de embarcação terão nascido as lorchas que foram as embarcações emblemáticas da presença Portuguesa naquela parte do Mundo.
Ao longo dos tempos, as lorchas foram caçadoras de piratas, navios de carga, receberam motores auxiliares... e desapareceram no princípio deste século, vencidas pelo inexorável avanço do progresso.
Quando, em 1986, emigrantes portugueses da África do Sul promoveram a construção da caravela "Bartolomeu Dias", com o objectivo de a perpetuar no seu país de acolhimento, nasceu em Macau a ideia de construir também um navio que, partindo de Oriente' chegasse em simultâneo a Mosel Bay - após o que rumaria a Portugal, integrando-se no espólio do Museu de Marinha. Inevitavelmente a escolha recaiu numa lorcha.
- É oportuno recordar os mentores deste projecto: Capitão de Fragata António Martins Soares, então Capitão dos Portos de Macau, e Dr. Carlos Monjardino, na altura Secretário Adjunto do governo do território, na sequência de uma ideia dos então Comandantes Nobre de Carvalho e Pereira da Costa.
A primeira questão a surgir foi a falta de documentos escritos que pudessem orientar o Engº. Matias Cortes, Director das Oficinas Navais de Macau, na elaboração dos planos da futura lorcha.
- A segunda foi o constrangimento do comprimento do navio, forçado pela pequena dimensão das carreiras de construção existentes em Macau, face a determinados requisitos aceites e porventura menos necessários (dois motores principais, por exemplo -que obrigaram a desrespeitar a proporção comprimento / boca, tomando o navio mais bojudo que o original e diminuindo-lhe significativamente as qualidades vélicas).
- A terceira, de natureza política, teve a ver com as reticências que o governo da Nação colocou na viagem à África do Sul - numa altura em que o "apartheid" ainda ditava leis naquele país. A quarta, e definitiva, foi a escassez de calendário para a conclusão da construção em tempo de cumprir o encontro com a "Bartolomeu Dias".
Com destino aos Serviços de Marinha de Macau, cheguei ao território em Maio de 1986 - altura em que pela primeira vez tomei contacto com o projecto Iorcha"... e com um casco em construção acelerada, num dos estaleiros tradicionais de ilha de Coloane- fase a que se seguiu a conclusão da obra e o aprestamento nas nossas Oficinas Navais.
- A impossibilidade de cumprir o projecto original obrigou a repensar o destino da lorcha, tendo-se optado pela sua utilização como navio de treino de mar e de representação do Território e do País no estrangeiro.
Nasceu assim a U. A. M. 202 "MACAU".
Resolvidas estas questões de princípio... seguiram-se-lhe outras, de cariz mais prático. Que guarnição? Que regime de vida a bordo? Que uniforme? Rancho ou não rancho? Que subsídio de embarque? Que horário diário? Que procedimentos administrativos?
Como princípio orientador básico, procurou-se adoptar a doutrina seguida nos nossos navios, com as necessárias adaptações. Um exemplo: criou-se um Mapa de Abono... mensal, em impresso próprio - que "por acaso" não falava em sabão para lavar macas, mas que funcionava perfeitamente.
Para a lotação do navio considerou-se que dez seria um número razoável; 1 comandante (em acumulação com outras funções nos Serviços de Marinha), 1 mestre, 1 contramestre, 2 manobras, 2 condutores de máquinas, 1 "electrónico", 1 cozinheiro e 1 copeiro (este último com bastantes funções do "manobra" no dia a dia), lotação esta a reforçar com viagens longas com mais um oficial e um sargento MQ.
- Para mestre e contramestre chamaram-se de Portugal um Sargento e um Cabo de Manobra - o V Sarg. M Lúcio e o Cabo M Baptista. O restante pessoal foi recrutado localmente - o que levantou o problema adicional... da linguagem. É que nem os "ocidentais" falavam cantonense, nem os "orientais" falavam português!
A viagem inaugural da lorcha teve lugar (muito!) poucos dias depois de ter sido dada como pronta pelas Oficinas Navais. Rumou-se ao Japão, a fim de participar no Festival da Espingarda, na ilha de Tanegashima, onde se comemora todos os anos e chegada dos portugueses ao Império do Sol Nascente. Visitadas também, na altura, Kagoshima, Nagasaky e Omura.
O aprontamento do navio foi acelerado - e houve mesmo necessidade de levar a bordo um intérprete, o mestre Valente, meu "braço direito" no Departamento de Actividades Marítimas da Capitania dos Portos de Macau. Mas nem por isso a preparação da missão foi descurada. Desde logo se constituiu um Grupo de Trabalho para as actividades da lorcha "Macau" (que "funcionava" mesmo!) e cuja tarefa era propor, organizar e acompanhar os programas aprovados para o navio.
- Dele faziam parte representantes do Museu Marítimo, dos Serviços de Educação, do Turismo, da Economia, o Instituto Cultural de Macau e, mais tarde, da delegação local da Comissão dos Descobrimentos. Assim, quando a lorcha se deslocava ao estrangeiro, constituía apenas a parte mais "visível" de uma numerosa comitiva (que evidentemente se deslocava de avião).
- O "programa tipo" integrava exposições, conferências, uma semana de gastronomia portuguesa e macaense num grande hotel local e espectáculos pelo Rancho Folclórico de Macau ou por grupos de alunos dos estabelecimentos de ensino do Território. Estas viagens pressupunham uma programação cuidada, que implicava normalmente a deslocação prévia aos locais por parte de alguns dos membros do "Grupo de Trabalho".
- É claro que isto implicava despesas -Mas, mais tarde, os resultados obtidos encarregavam-se de as justificar amplamente. Também neste particular é oportuno recordar um pormenor relevante: é que todos os custos da missão - lorcha incluída - eram partilhados pelas entidades oficiais participantes (Educação, Turismo, etc.) e não apenas pelos Serviços de Marinha. óbvio, não é verdade?
Finda a viagem inaugural, houve que corrigir alguns pormenores no navio e ganhar uma rotina de vida diária e de actividade operacional em Macau.A principal avaria que se registou foi num dos telecomandos dos motores principais, o que obrigou a dar ordens por "porta-voz" para a ponte baixa, donde era possível comandar o motor em causa.
Nada de complicado no assunto... excepto uma vez, já em Macau, em pleno canal do Porto Interior, em que o "homem da ponte baixa" entendeu a voz de "pára a máquina" como ordem para desligar o motor...
Já nessa altura, e durante cerca de dezoito meses, a primeira hora e meia de cada dia de serviço era dedicada à aprendizagem da linguagem: português e cantonense. Professores e alunos éramos nós todos, sentados em redor da mesa do refeitório. O inglês era a língua comum, partilhada por mim e pelo A Chun, o nosso marinheiro "electrónico", que nos permitia orientar a classe".
O rancho, constituído logo que o navio arrancou, foi evoluindo do peixe cozido... com arroz, para uma mesa farta e de excelente qualidade, com sopa, um prato ocidental e dois ou três pratos chineses por refeição - combinação da boa gestão financeira e das artes culinárias do Mestre Lúcio com a qualidade e vontade de aprender de A Keong, o cozinheiro. A refeição era comum, no refeitório, excepto quando havia convidados para a Câmara de Oficiais.
- Enquanto internamente, vivendo, convivendo e trabalhando em conjunto, se iam retratando, de certo modo, as etapas de adaptação que os nossos antepassados portugueses e chineses percorreram, trabalho operacional não faltava:
- apoio à Escola de Pilotagem de Macau na formação dos quadros dos Serviços de Marinha, apoio à formação de desportistas náuticos (designadamente os dos cursos de Patrão do Alto), embarque de jovens das escolas do Território em viagens de treino de mar, aos domingos... Raras foram as semanas em que não houve missões programadas - as quais foram aproveitadas para saídas em treino próprio.
Foram assim os primeiros tempos de vida da lorcha "MACAU".
Ainda sob meu comando efectuaram-se, sempre segundo o padrão atrás descrito, viagens a Cantão, ao Japão e à India (com passagem por Singapura, Malásia, Sri-Lanka, Tailândia, Vietname..).
- Aventuras e desventuras, enrascanços e desenrascanços, dias magníficos e rabos de tufões, amizades e amores, riscos, lágrimas de emoção e de saudade, provas de consideração... e de desconfiança, momentos solenes e de puro divertimento, de tudo houve um pouco nestas viagens.
- Em Tanegashima sentimo-nos em casa; em Nagasaky ouvimos em nossa honra o hino nacional, cantado em português, por um coro de dezenas de figuras;
- em Taiwan, um pedido de arribada para fugir a um tufão que se aproximava perigosamente, só foi atendido quase vinte e quatro horas depois (enquanto o mar ia crescendo assustadoramente);
- em Bombaim fomos recebidos debaixo do arco triunfal das Portas da Índia pela marinha indiana e pelo presidente da Câmara;
- em Singapura obrigaram-nos a pagar o gasóleo "cash and in advance" "borrifando-se" completamente nos nossos protestos de que a lorcha era um "Portuguese Navy Ship";
- em Malaca, onde uma pequena comunidade fala uma espécie de português arcaico e se orgulha da sua ascendência lusitana, vimos um rancho folclórico dançando o vira e o malhão;
- em Goa desembarcámos sob uma chuva de flores e cantaram-nos o fado;
- em Cantão teimaram em que o navio deveria içar a bandeira chinesa de cortesia;
- em Danang, ficámos uma semana retidos pelo mau tempo... e percebemos porque custou tanto a tantos americanos deixarem aquele país... ;
- no estreito de Malaca escondemos valores e dinheiro com receio do assalto de piratas;
- em Damão, depois de uma noite memorável de confraternização a bordo, com a lorcha fundeada no rio Sandalcal, sob um luar indescritível, não contivemos a emoção ao ver partir os nossos anfitriões cantando toda a saudade que lhes ia na alma...
- De todos estes contactos ficaram o testemunho do grande capital de consideração que Portugal goza no Extremo Oriente, um enorme orgulho no nosso passado, amizades sólidas por onde se passou e com quem se trabalhou e, finalmente, uma indestrutível ligação com a guarnição de lorcha "MACAU".
Em 1998, a lorcha veio para Portugal, a fim de participar na EXPO.
Esgotadas as razões que justificaram a classificação do navio como Unidade Auxiliar e deixando de estar ao serviço do Governo de Macau, foi decidido superiormente o seu abate.
A APORVELA, em boa hora manifestou interesse no concurso do navio para treino de mar dos seus associados. Em 1 de Outubro do passado ano procedeu-se à cerimónia de oferta com todo o seu equipamento àquela associação, abrindo-se assim um novo capítulo na sua vida.
Para ela, para a APORVELA e para o velho amigo Zé Inácio, seu novo comandante - boa sorte... e bons ventos!!
Rui M. Sá Leal
CMG
(Primeiro Comandante da Lorcha Macau)
A LORCHA MACAU É AGORA A LORCHA DE MONCHIQUE
Navegou pelo Índico e por outros mares, tinha grandes objectivos; hoje faz passeios na costa do Algarve, ao serviço das Termas de Monchique.
O Museu de Marinha não a quer.
Os leitores de Macau – nomeadamente os mais recentes – que costumam acompanhar a rubrica “Há 20 anos” do Jornal Tribuna de Macau já puderam ler várias vezes sobre uma Lorcha Macau. Há 20 anos a construção desse barco gerou bastante expectativa e havia, na comunicação social local, grande atenção à sua actividade.
Por coincidência, alguns desses leitores podem já ter visto no Porto de Portimão, no Algarve, um barco com o nome de Lorcha Macau. Podem até ter ouvido falar que as Termas de Monchique, também no Algarve, oferecem passeios de um dia nesse barco, com almoço a bordo.
Trata-se do mesmo barco. O barco que a marinha portuguesa mandou fazer localmente (nos estaleiros de Coloane), por influência dos oficiais destacados em Macau, no final da década 80 do século passado, replicando uma lorcha tradicional, é hoje propriedade da Fundação Oriente, está adstrita às Termas de Monchique e atracaca no Porto de Portimão, onde realiza viagens turísticas.
Monjardino, mentor do projecto
Tal como descreve o seu primeiro comandante, Rui Sá Leal (num texto publicado pela Revista da Marinha), “quando, em 1986, emigrantes portugueses da África do Sul promoveram a construção da caravela “Bartolomeu Dias”, com o objevtivo de a perpertuar no seu país de acolhimento, nasceu em Macau a ideia de construir também um navio, que, partindo de Oriente chegasse a Mosel Bay (na Africa do Sul, onde Bartolomeu Dias aportou, depois de passar o Cabo da Boa Esperança, e onde se encontraria com a réplica da caravela Bartolomeu Dias) – após o que rumaria a Portugal, integrando-se no espólio do Museu de Marinha.
Inevitavelmente a escolha recaiu numa lorcha. É oportuno recordar os mentores deste projecto: Capitão de Fragata, António Martins Soares, então Capitão dos Portos de Macau, e Dr. Carlos Monjardino, na altura Secretário Adjunto do governo do território, na sequência de uma ideia dos então Comandantes Nobre de Carvalho e Pereira da Costa.
Em 1988, a Lorcha Macau foi lançada à água e a primeira viagem foi aré ao Japão onde participou no Festival da Espingarda, na ilha de Tanegashima ( uma festa que assinala anualmente a chegada dos portugueses a este país).
Além de outros portos japoneses, a Lorcha foi ainda à Índia, a Cantão, e passou por portos de Singapura, Malásia, Sri-Lank, Tailândia e Vietname, antes de viajar para Portugal, onde esteve na Expo 98.
A partir daí, e de acordo com o despacho do então chefe do Estado Maior da Armada, citado pelo comandante Sá Leal, “esgotadas as razões que justificaram a classificação do navio como Unidade Auxiliar e deixando de estar ao serviço do Governo de Macau, foi decidido superiormente o seu abate”. A APORVELA, Associação Portuguesa de Treino à Vela, mostrou interesse em receb6e-la gratuitamente, o que aconteceu ainda em 1998, mas cedeu-a em 2001 à Fundação Oriente e à Fundação Stanley Ho, as actuais proprietárias.
Como as Termas de Monchique pertencem à Fundação Oriente, as viagens na costa algarvia foram o destino natural.
MUSEU DA MARINHA NÃO A QUER
Questionada pelo PONTO FINAL sobre se a actual utilização não será um desvirtuamento face aos objectivos iniciais, a Fundação Oriente respondeu que não, que “não será um desvirtuamento, pois não há certamente muitas outras actividades que se adaptem a este tipo de embarcação. A Fundação já equacinou a sua cedência ao Museu da Marinha, que é porventura onde devria estar, mas até agora não houve interesse por parte daquele museu”.
Por isso os planos passam por continuar afecta às Termas de Monchique, dizem-nos.
Para a Fundação Oriente trata-se de mais um custo, na medida em que as receitas geradas não serão suficientes para pagar a sua manutenção e operação anual (aliás, pode ler-se no relatório e contas da Fundação Stanley Ho que “a Fundação oriente é credora de custos com o navio Lorcha Macau, pertencentes às duas fundações”.
O PONTO FINAL quis saber mais um pouco, mas as informações que vieram da Rua do Salitre, em Lisboa, dizem apenas que “os custos de manutenção dependem dos anos”e que as receitas geradas são “reduzidas”.
(artigo publicado em Macau no Jornal Ponto Final)
Um comentário:
Boas tardes!!
A lorcha "Macau" foi o meu primeiro local de trabalho! na epoca era a APORVELA que zelava por este patrimonio, e eu tive o previlegio de orientar visitas escolares.... lamento que tenha perdido essa função educativa e que sirva agora apenas como espaço de lazer... deveria ser mais que isso!
ps. desculpe-me o atrevimento de comentar mas não resisti
cumprimentos
e agradeço a sua noticia!!
emilia nogueiro
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