o mar do poeta

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sexta-feira, agosto 14

MACAU GUERRA DO CHAUMIN - 123 - O SEU PORQUÊ

  • O articulista encontrava-se em Macau, trabalhava nessa altura na Agência Comercial Aldifera, sita na Avenida Almeida Ribeiro e teve conhecimento dos factos ocorridos na Ilha da Taipa, no dia 15 de Novembro, mas isso pouco o preocupou.
  • Porém as coisas foram piorando, e um dia, quando regressa a casa de sua namorada, de autocarro, carreira 4, foi avisado pela revisora que a partir dali não poderia mais usar os transportes públicos, ficou também a saber que tinha sido boicotado aos funcionários da administração portuguesa a venda de todos os materiais.
  • Já em casa de sua namorada que na altura residia na Estrada Coelho do Amaral, ouviu um enorme barulho e assumou-se à janela a ver o que se passava. Era um grupo enorme de pessoas, que vindas dos lados do Hospital de Kiang Vu, empunhando cartazes e gritando "abaixo os imperialista português" e outras frases contra os portugueses.
  • Para saber o que se passava, o articulista ligou a rádio e sintonizou a Rádio Vila verde, e foi através dela que ficou a saber dos acontecimentos, e ouviu o comunicado emitido pelo Quartel General, solicitando a todos os militares na disponibilidade para se apresentarem no Quartel General, porém o articulista, em casa de sua namorada ficou, só de lá saindo no dia 6 de Dezembro, quando as coisas se acalmaram.


  • Mas o porquê de tudo isto?

    Conforme relata o jornalista e escritor José Pedro Castanheira em seu livro "OS 58 DIAS QUE ABALARAM MACAU", o livro mais perfeito e informativo, em português, sobre os acontecimentos em Macau, no Capítulo 3 diz:

    CONFRONTOS NA ILHA DA TAIPA

    "15 de Novembro de 1966, na ilha vizinha da Taipa, Rui Andrade sai de casa manhã cedinho e dirige-se, como todos os dias, para a sede da Adminsitração das Ilhas, a autarquia responsável pelas ilhas da Taipa e Coloane.

  • Ao passar junto de um prédio velho e a ameçar ruína, repara que ele fora cercado por uma estrutura de andaimes de bambu, erguida por várias dezenas de operários e rapazes. Desconfiando, mal chega à sede do munícipio, chama o responsável da chamada Polícia Administrativa. "Pedi ao chefe Isidro para ir ver o que se passava". O polícia não se demorou muito. Quando se apresenta ao administrador, vem pálido e com os bofes de fora. "Chegou apavorado.

  • Fora insultado e apedrejado e só não lhe bateram por ser já velhote. Nem conseguira chegar à fala com eles".

Deveras intrigado, Rui Andrade envia ao local "três policias desarmados, que me disseram que eram guardas vermelhos que estavam a demolir aquilo para fazer uma escola".

  • Desconhecedor de qualquer projecto para aquele prédio, o administrador indaga junto do seu superior hierárquico. "Telefonei de imediato para o intendente Mário da Fonseca Ramos, que era o chefe da Repartição da Adminstração Civil, a cujo quadro eu pertencia. Disse-me que na Administração não havia processo nenhum".



Na Repartição da Administração Civil não havia processo algum relacionado com o prédio da Taipa. Pudera: ainda estava algures, mais ou menos perdido, na papelada da Repartição dos Serviços de Obras Públicas. O requerimento fora entregue, como haverá de assinalar o novo Governador, Nobre de Carvalho, "pelo menos desde Julho", mas aquela repartição, dirigida pelo engenheiro macaense João Tomás Siu, nada despachara. "O director das Obras Públicas metera o requerimento na gaveta!", acusa monsenhor Manuel Teixeira, o velho e respeitável sacerdote-historiador de Macau. "Os chineses tinham razão" na sua indignação e no seu protesto; para mais, "era a repartição que mais os tinha ferido e de que eles tinham mais queixas".


" Revoltados com com o silêncio arbitrário da administração e com a chocante desigualdade de critérios ( visto o governo ter autorizado a construção de uma escola nacionalista pró-Taiwan, ligado ao Kuomintang), e certamente que encorajados por tudo quanto se passava na China, os moradores da Taipa decideram levantar andaimes à volta do prédio, dispensado a necessária autorização oficial.
  • Ma Man Kei, um dos mais influentes empresários chineses, garante, em todo o caso, que "as Obras Públicas foram avisadas verbalmente que os trabalhos iam começar no sábado, feito por voluntários. O influente dirigente chinês é muito preciso: "As obras eram só para levantar andaimes para impedir que o edifício caísse, até vir a autorização escrita das Obras Públicas".
  • Diligente, assim que conforma a ilegalidade da obra, Rui Andrade ordena a sua suspensão. A ordem não é acatada. "Embarguei a obra, o documento foi afixado, mas logo arrancado", conta o administrador, que se vê complelido a pedir a intervenção da PSP para se fazer obedecer.
  • A seguir ao almoço, as obras são reatadas. O corpo policial volta ao local, mas desta feita é "alvejado com pedras, tijolos e garrafas lançadas pelos manifestantes", sem que consiga interromper os trabalhos. O caso começa a ser verdadeiramente sério. Vaz Antunes pede reforços ao Comando da PSP, que envia da cidade de Macau uma força de cerca de trinta homens.





  • À sede da Administração, chegam seis dirigentes da associação promotora da escola, convocados por Rui Andrade. "Mandei lá ir a PSP, para trazer os cabecilhas, para saber o que se passava.
  • Queria entrar em negociações com eles". A conversa decorreu no gabinete do administrador, que se fez acompanhar dos chefes da polícia administrativa e da PSP; o diálogo é em cantonense, idioma que Andrade domina. "Disseram que não vinham para negociar, mas sim para exigir a passagem imediata da licença. Mas eu já tinha embargado a obraao princípio da tarde, com autorização do Intendente. Eles já tinham tirado o telhado. Expliquei que não era eu quem dava a licença, eram as Obras Públicas, eu limitava-me a dar o visto. Não gostei da atitude dos comunista. Avisaram-me que, se não levantasse o embargo, a população revoltava-se contra mim. Exigiam, com toda a arrogância".
  • O diálogo dá lugar a uma discussão acesa que culmina com a detenção dos seis chineses, "por insubordinação e falta de respeito à autoridade", nos termos do relatório do encarregado do Governo. "Não tinha outro remédio senão mandar prendê-los", justifica Rui Andrade.
  • "Dei-lhes ordens de prisão dentro do meu gabinete. Foram levados pela PSP para Macau. Em seguida, comuniquei tudo ao Intendente, que concordou comigo". Um par de horas mais tarde, o mesmo Intendente telefona, "a dizer que o eng. João Tomás Siu ia deferir o processo. Tarde demais! Já eu dera ordem de prisão".

Extrados do Capítulo 3 do livro - Os 58 dias que abalaram Macau



O derrube da estátua Coronel Mesquita que se encontrava defronte das instalações do Leal Senado, que também foi saqueado, bem como os serviços notariais e outros.













A capa da revista sobre os acontecimentos, editada pelo jornal de língua chinesa, Ou Mun, uma edição trilengue, da qual o articulista tinha um exemplar.










No dia 29 de Janeiro de 1967, o Governador vai à sede da Associação Comercial de Macau e rubrica o pedido de desculpas, ficam desta forma apaziguados os incidentes do 1 2 3.
Mas foi uma forte humilhação para os portugueses, tendo colegas do articulista sido agredidos brutalmente, quando passavam junto do Clube Militar.
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Quem desejar todos os promenores sobre os acontecimentos em Macau no ano 1966, aconselho vivamente que leiam o livro OS 58 DIAS QUE ABALARAM MACAU do escritor e jornalista José Pedro Castanheira, editado pelas Publicações Dom Quixote.

2 comentários:

Anônimo disse...

BEM... O MEU PADRINHO HOJE VIROU-SE PARA AS BATALHAS E GUERRAS DE OUTROS TEMPOS... BATALHAS QUE FIZERAM A HISTÓRIA DESTE PAÍS. TEMPOS EM QUE HAVIA GENTE RIJA E DESTEMIDA PARA DEFENDER O QUE ERA SEU! ATÉ AS PADEIRAS, NÃO SE LIMITAVAM APENAS A COZER O PÃO. AHAHAHAHHAHAHAHAH.
UM ABRAÇO AMIGO CAMBETA.

ARMÉNIO CRUZ

Anônimo disse...

Me lembro perfeitamente quando tudo isso sucedeu, a nossa preocupação aqui era enorme, a nossa querida mãe chorava com medo que algo e grave te acontecesse, mas tu, como sempre, acalmas-te os ânimos e dizias que tudo corria bem
E graças a Deus assim aconteceu, mas tu que passas-te por todos esses conflitos não foi fácil por erto.
Um beijão