Zambianos criam bicicleta de bambu
O uso da bicicleta como meio de transporte, apesar de ser uma necessidade no mundo em desenvolvimento, está também a ganhar popularidade no mundo desenvolvido devido ao seu impacto nulo em termos de poluição ambiental.
Mas agora, uma companhia baseada na Zâmbia decidiu ir mais longe e lançou há tempos o bamboosero.
Trata-se de uma bicicleta com um quadro feito de bambu e que está a ser vendida nos EUA. A primeira remessa foi despachada no mês passado.
O que torna este projecto ainda mais notável é o facto dos países africanos em geral exportarem principalmente matérias-primas para o resto do mundo.
A Zâmbia é um país que importa muito do mundo desenvolvido. E então, virar as coisas e exportar algo feito na Zâmbia com materiais zambianos é muito importante para o país
Vaughn Spethmann
Mas a Zambikes prefere exportar um produto acabado.
Divilance Machilika é o coordenador de operações da Zambikes que, para além de bicicletas normais, também fabrica carretas para vendedores de rua e para o transporte de pacientes.
A bicicleta de bambu é o último acréscimo ao seu catálogo.
"Em primeiro lugar, cortamos os bambus. Depois são postos de molho num estabilizador e depois começamos a fazer o quadro da bicicleta. Usamos sisal para juntar todas as partes do quadro e também usamos cola. No fim, colocamos os pneus, o garfo e o selim. A bicicleta está completa."
O norte-americano Vaughn Spethmann criou a Zambikes há dois anos com um antigo colega de universidade, Dustin McBride, e com dois zambianos.
Vaughn Spethmann acredita que o bambu é o futuro.
"O bambu é fantástico para o fabrico de bicicletas porque quando se está num terreno irregular o bambu amortece os choques e é muito mais confortável. E não é caro na Zâmbia porque cresce em todo o lado. A Zâmbia é um país que importa muito do mundo desenvolvido. E então, virar as coisas e exportar algo feito na Zâmbia com materiais zambianos é muito importante para o país."
O preço de um bamboosero para os clientes norte-americanos ronda os US$ 500 só para o quadro, e US$ 900 para a bicicleta completa.
Para Mwewa Chikamba, um dos co-fundadores da Zambikes, os preços não parecem afugentar os clientes.
"As pessoas que compram as bicicletas de bambu estão contentes. Eles estão no primeiro mundo e compram algo de um país do terceiro mundo. Têm uma bicicleta feita com um produto que cresce naturalmente, pelo que não temos que recorrer ao aço."
Mas, segundo Mwewa Chikamba, acrescidas aos custos estão as dificuldades para se fazerem negócios na Zâmbia.
As pessoas que compram as bicicletas de bambu estão contentes. Eles estão no primeiro mundo e compram algo de um país do terceiro mundo. Têm uma bicicleta feita com um produto que cresce naturalmente
Mwewa Chikamba
"Temos, em primeiro lugar, um problema com a burocracia. Não é fácil fazer coisas aqui. E também temos impostos muito altos. Não é fácil arranjar financiamentos e materiais e depois há o problema da força de trabalho não qualificada."
Várias vezes por semana a equipa de futebol da Zambikes não perde uma peladinha num descampado ao lado da empresa.
Foi ali que Dustin McBride e Vaughn Spethmann encontraram, pela primeira vez, os seus futuros colegas.
Eu era um trabalhador braçal num fazenda. Mas agora a minha vida mudou. Estou a aprender muito aqui
Divilance Machilika
Spethmann diz que foi uma oportunidade única, que resultou na ideia de se criar o bamboosero e não só.
"Uns rapazes convidaram-nos para um treino de futebol e, depois do treino, convidaram-nos para irmos à casa deles jantar. Mas não tinham nada para comer. Não tinham empregos e não tinham oportunidades. Hoje eles são os nossos mecânicos, os nossos soldadores, os nossos pintores e fazem parte da equipa da Zambikes."
A companhia treinou os seus actuais 45 trabalhadores e encorajou-os, com empréstimos sem juros, a comprar bicicletas para montar os seus próprios negócios.
Divilance Machilika foi um dos beneficiários.
"Eu era um trabalhador braçal num fazenda. Mas agora a minha vida mudou. Estou a aprender muito aqui. Tenho o meu próprio negócio, tenho uma plantação de milho. No ano passado plantei e este ano vou vender milho, o que é fantástico. Agora consigo sustentar a minha família. A vida está melhor."
Entretanto, na fábrica, Divilance e os seus colegas continuam a cortar e a preparar peças de bambu.
Se eles conseguirem fazer sucesso com bicicletas zambianas nas estradas norte-americanas, terão não só reinventado um modelo de negócios para o país.
Será caso para dizer que terão reinventado a roda.
Fonte- BBC
2 comentários:
Oi meu querido,
Sempre um prazer visita-lo.
Te ler e deixar que todo o
nosso universo se transcenda,
além deste mundo finito que nos envolve
e viajar contigo, em textos tão
bons de ler e tão convidativos.
Meu beijo
Este post é deveras curioso e interessante. Aqui estão um zambianos "esperto do cabeça pá"...
Abraço.
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