o mar do poeta

o mar do poeta

o mar do poeta

o mar do poeta

terça-feira, agosto 7

A MINHA VIDA MILITAR - 1a. parte

Com a idade 18 anos me alistei como voluntário no exército português, estando o país em guerra nas províncias ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique.

O fiz usando uma estratégica, minha saudosa mãe não sabia ler nem escrever, o requerimento que fiz para me alistar, sendo eu considerado ainda menor tinha que ter a aprovaçãos dos pais, no meu caso pessoal de minha mãe, para tal lhe pedi para assinar, pois o nome sabia escrer, dizendo-lhe que era para justificar as faltas que tinha dados na escola.

Estavamos no ano de 1962, fui o único a ir à inspeção no Regimento de Infatria 16 em Évora, todo orgulhoso por ficado aprovado, coloquei, como era hábito uma fitinha verde na lapela do casaco, quem não gostou nada da cena foi o meu patrão, dizendo que eu não queria era trabalhar, mas lá teve que se render à evidência.

Minha mãe ao ter conhecimento ainda foi falar e oedir a alguns Sargentos seus conhecidos para anularem o pedido, mas nada podiam fazer.

A 14 de Fevereiro de 1963 fui alistado no Exército português, tendo recebi guia de marcha para me apresentar no CISMI em Tavira no dia 11 de Agosto. 

Tinha feito uma economias, minha extremosa avó materna teve o carinho de me dar muitos enchidos por ela feitos, uma amiga dona de uma papelaria me deu alguns envelopes, blocos de escrita e alguns selos.

************************************************************************************
                                            Quartel do CISMI - Tavira

O Quartel da Atalaia, situado na freguesia de Santiago, em Tavira, foi mandado construír no ano de 1795, pelo Governador General do Algarve, o Conde de Vale dos Reis, Nuno José Fulgêncio de Mendonça Moura Barreto. Para este quartel veio o denominado Regimento de Infantaria nº14 (R.I.14), da cidade de Faro.

Por volta de 1837, e pela extinção do R.I.14, devido ao apoio dado a Miguel I de Portugal durante as Guerras Liberais, é colocado neste quartel o Batalhão de Caçadores nº5, substituído dez anos depois pelo Batalhão de Caçadores nº4 (B.C.4). Este último batalhão é transformado, anos depois, no Regimento de Infantaria nº4 (R.I.4), que regressa a Faro em 1915.

Em 1917, durante a 1ª Grande Guerra, parte de Tavira, para combater em França, um Batalhão do R.I.4. E em 1926, como resultado de diversos pedidos ao Governo, o R.I.4 regressa a Tavira, ficando nesta cidade até 1939, voltando neste ano a Lagos.

No ano de 1939, o Quartel da Atalaia recebe o Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (CISMI), para formação de sargentos, que se mantém até final da Guerra Colonial. O CISMI é extinto em 1989, e integrado no Regimento de Infantaria de Faro.

A partir de Setembro de 1939 aí passaram a ser ministrados os Cursos de Sargentos Milicianos.

Em 1948 passa a funcionar como Unidade independente denominando-se Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (CISMI).

Extinto o CISMI, em 1975 passa à dependência do Regimento de Infantaria de Faro alterando novamente o seu estatuto em 1 de agosto de 1993, passando a constituir-se como Centro de Instrução de Quadros (CIQ).

Desde Julho de 1996 encontra-se em funcionamento no Quartel da Atalaia o Centro Militar de Férias de Tavira (CMFT), destinado a praças (RV/RC).

Regimento de Infantaria Nº 1

Em 1 de Abril de 2008 o Quartel da Atalaia é ocupado pelo Regimento de Infantaria Nº 1. O processo de transferência iniciou-se com inúmeros reconhecimentos efectuados por militares dos diferentes Comandos Funcionais e Comando Operacional. A ocupação do Quartel da Atalaia iniciou-se em 3 de março, com um primeiro núcleo de seis militares destacados para Tavira com a missão de preparar as instalações para receber os materiais vindos da Carregueira, ao mesmo tempo que se iniciaram os trabalhos de reabilitação das infra-estruturas com o apoio do Regimento de Engenharia Nº 1.

Em 29 de abril de 2008 assume o comando do Regimento de Infantaria Nº 1, o Coronel de Infantaria António Gualdino Ventura Moura Pinto; então sob o seu comando, o Regimento tem vindo a consolidar o processo de transferência através do estabelecimento de contactos formais com as autoridades locais e da aquisição de materiais e equipamentos por forma garantir uma implantação sustentada, dotando ainda o aquartelamento das condições necessárias ao seu funcionamento normal e dando continuidade aos trabalhos de reabilitação das infra-estruturas.
O Regimento tem vindo a receber, de forma sistemática, diversas forças de escalão Companhia da estrutura das FOPE, as quais são atribuídas sob comando completo ao RI1.

Fonte - Enciclopédia livre

*********************************************************************************
Com uma mala de cartão e todos os meus pertences, lá seguiu de combóio até Tavira, estavamos no dia 9 de agosto. Quando desembarquei na gare de Tavira vi um movimento fora do comum, e um dos militares da Polícia Militar ao ver-me indagou se eu vinha para o CISMI, responde que sim, e lhe disse que só teria que me apresentar dia 11, mostrando-lhe a guia, mas ele não quis saber e mandou subir para uma camioneta a qual já estava repleta de pessoas que iam igualmente para o CISMI.


Chegado à parada do quartel saimos da camioneta e ali formamos, sendo obrigados a despir-mos, tendo-nos sido entregue o fardamento e depois colados nas diversas casernas, eu fiquei a pertencer à 2a. companhia.

Passei a ser o soldado miliciano aluno no. 1025.  Nessa mesma tarde fomos sujeito a uma inspeção médica sendo-nos depois dadas algumas vacinas.

Como tinha sido Comandante de Castelo da Mocidade Portuguesa, estava já habituado à ordem unida e a lidar com armas, como tal foi fácil a adaptação.

                                              O pelotão ao qual pertencia
Foi-nos entregues dois manuais, eram os mesmo que eram entregues aos oficias que tiravam o curso de aspirantes milicianos, e aos poucos os li e revi ficando assim a par de tudo o que o exército exigia dos futuros Sarentos e Oficias Milicanos.

Tive a sorte de nunca ficar de faxina às casas de banho, fiquei uma única vez de faxina, mas na cozinha, e quando me obrigaram a ir ao armazém buscar sacos de batatas e a lavar os grandes panelões me recusei a fazê-lo, não tendo para o facto sido repreendido.


Em tempo de guerra a instrução ministrada era imensamente dura, nunca desisti, antes pelo contrário, ainda ajudei muitos dos meus camaradas a superar as dificuldades.

Arranjei uma lavadeira à qual pagava 20 escudos por mês por lavar a roupa, dinheiro esse que ia tirando das minhas economias, já que o pré no primeiro mês foi de 5 tostões, uma caixinha de fósforos custava 3 tostões, e tinha que andar bem apresentado, com as botas e os amarelos a brilhar.


                                                       Parada do quartel

O Curso era constituído por duas partes, a recruta em si e depois o curso, quem passa-se na recruta fazia o juramento de bandeira e depois ou ficaria no CISMI ou iria para outra unidade militar tirar uma especialidade, como eu era da arma de infantaria continuei em Tavira.


Parada no centro da cidade de tavira após o juramento de bandeira, o articulista está assinalado com um x.

A instrução como já referi era bem dura, uma delas era ficar horas dentro das salinas  com a espigarda levantada e com a água dar-nos pelo queixo, saimos de lá e chegados ao quartel tomavamos um valente banho mas o cheiro horrendo das salinas permanecia nos nossos corpos ainda por uns dias.



                                                      Salto para o galho



                                                                      Portico


Aconteceram três casos que ainda me recordo como se tivessem passado ontem, um passou-se nos Correios de Tavira, onde tinha conta na Caixa Económica, um dia fui lá para levantar algum dinheiro, ia fardado como é óbvio, havia no local vários camaradas, a funcionária que me atendeu, ao lhe ser entregue o papel para levantamento de dinheiro, disse em vóz alta, o menino precisa da assinatura de sua mãe, todos os meus camaradas me olharam de lado e me chamaram de Chico. À funcionária em questão lhe disse deia-me o dinheiro que estou solicitando caso contrário me irei queixar a seu superior, foi dito e feito, entregou-me de imediado o dinehiro solicitado, depois lhe disse para nunca mais brincar com militares a não ser na cama e dali sai.

O segundo episódio se passou num domingo, após ter almoçado pedi autorização os Oficial de Dia e saí para a cidade, levando comigo o Manual, dirigi-me para o jardim da cidade e debaixo de mendronheiro ali estive serenamente lendo o manual, porém ao reparar que o mendonheiro estava carregado de frutos, deles foi comensdo, o efeito não se fez esperar e ali fiquei a dormir, quando acordei passava já das 21 horas e eu tinha faltado à refeição do jantar e não tinha dispensa de recolher, ficando apavorado pensando já no castigo que me ia ser dado.

Com a cabeça ainda pesada, pois tinha ficado embriagado com os medronhos, lá segui para o quartel indo falar com o Oficial de Dia e lhes explicando o que tinha acontecido, este riu-se e perguntou-me se estava com fome, respondi que sim e então me acompanhou até à cozinha onde pediu a um cozinheiro que me servise o jantar, grato fiquei e nunca mais tornei a comer medronhos.

O terceiro caso passou-me numa tarde de sábado, pretendia ir dar uma volta pela cidade, para o facto engraxei bem as botas e roupa estava impecavel e os marelos brilhavam, fiquei na formutra junto com os outros camaradas e eram muitos, o Oficial de Dia ao passar revista e chegar junto a mim, me disse para ir fazer a barba, fiquei perplexo visto ser um imberbe, mas lá tive que acatar as ordens, seguindo para a caserna e vendo-me ao espelho, não consegui dislumbrar pelo algum.

Os meus camaradas já tinham saído e eu dirigi-me ao gabinete do Oficial de Dia e me apresentei, este ao me ver disse, "Vês se tivesses ido assim à formatura já tinhas saído com teus camaradas, vá vá lá embora" eu fiquei vermelho de raiva mas nada poderia dizer, e dali sai para a cidade.

Outro caso foi uma noite tendo vontade de urinar e como não havia sanitários nas casernas, tive que atressar a parada e ir até aos sanitários, não havia luz, conhecia bem o local, não entrei numas das sanitas e da porta comecei a urinar, quando ouvi uma voz berrando, filho da p.... vai mijar para a p... que te pariu, bem sai daqui corrente e me fui deitar, passando pouco tempo entra na caserna um fulano a resmungar, aquele c..... mijou em cima da ceça, mas se eu souber quem foi lhe tratarei do sarampo.

Topei o tipo e a cama onde se foi deitar, era perto da minha, no dia seguinte bem cedo tinhamos prova de campo, bem cedo me levantei e o que fiz, tirei o capecete do tal tipo mijei para dentro dele e tornei a deitar-me, quando o tipo se levantou, fardou-se, vestindo o fato de macaco e colocando o capecete na tola, mas quando  fez tomou um banho de mijo, dando-lhe um ataque de histeria levando ao riso todos os seus camaradas, penso que deve ter apreendido a lição.


O curso teve a duração de cinco meses, nas provas finais tivemos que percorrer quase todo o Algarve com provas de subsistência, nada tinhamos para comer a não ser aquilo que fosse-mos encontrando pelo caminho, porém de fosse-mos apanhados a rioubar fruta seriamos castigados.

Um dia, sózinho palmilhando os montes da Serra do Caldeirão, estava cheio de sede, avistei um pequeno monte e para lá me dirigi, bati à prta da casa e uma senhora já de idade me atendeu, tendo-lhe pedido por favor para me dar um copo de água, a resposta dela foi que a tinha que ir buscar muito longe, dizendo para ir beber num poço que ficava junto ao Coiro da Burra, e lá fui eu.

Palmilhei ainda uns bons quilómetros, tirei a balde a 'gaua do poço e bei até ficar saciado.

No dia seguinteme juntei ao pelotão, comigo levava os cigarros do Instrutor, um Alferes Miliciano, não tinha patetite para comer e me sentia fraco, o Alferes me pediu os cigarros e meu deu para fumar mas recusei a oferta, deixando-o admirado tendo-me perguntado se não me estava a sentir bem, tendo-lhe respondido que estava com febre.




As provas terminavam dali a dois dias, estavamos no fim do curso e eu não queria dar parte de fraco ou perder o curso. As refeições desses dois dias foram pão e laranja e água, nada mais.

Fiz um enorme esforço para chegar ao quartel, já que o equipamento era bem pesado e ainda por cima levava uma metralhadora ligeira 7,92 mm Dreyse, chegados ao quartel havia na parada uma viatura paracada mas eu vi muitas, dirigi-me à caserna tirei o capacete bem como o resto do material colocando a metralhadora na barra da cama, de seguida sai do quartel com o fim de ir à enfermaria militar, o sentinela nem reparou no modo como eu estava vestido, o macaco tudo sujo assim como as botas, não levava boné e cambaliava ao andar, com muito esfroço lá segui para a enfermaria que ficava perto da Igreja de Santa Maria do Castelo, ainda bem longe do quartel.

                                                           Porta de armas
Entrei pela enfermaria dentro e me deitei na primeira cama que encontrei, pouco depois apareceu um cabo enfermeiro que me disse, aqui na enfermaria? o curso termina hoje e tu entras de férias, estavamos perto do Natal, pedi-lhe para chamar um médico pois me sentia muito mal.

Volvida cerca de meia hora compareceu o médico que me esteve a oscultar, verificando que estava com muita febre e bastante debilitado, perguntou ao cabo quando tempo levava o combóio de Tavira até Évora, pois tencionava me enviar para o Hospital Militar da região Sul que ficava em Évora, tendo o cabo respondido que levava X horas, o médico então disse que tinha que ser internado no Hospital Civil de Tavira devido ao estado que me encontrava, solicitou um jeep e para lá fui levado.

Já não me recordo de ter dado entrada no hospital, devido a ter ficado em estado de coma, só acordando 15 dias depois, quando o fiz ia para me levantar quando uma mão de uma enfermeira me segurou dizendo que eu estava muito fraco e não podia fazer esforços, por sinal essa dedicada enfermeira se chama Balbina, tal nome de minha extremosa mãe.

O médico de serviço compareceu e me disse ter dito uma paratifóde, e ali teria que permacer até estar totalmente recuperado.

A enfermaria onde se encontrava tinha somente 4 camas duas delas ocupadas igualmente por dois camaradas que tinham contraído a mesma doença.

A mãe de um desses camaradas me levava fruta já que não tinha familiares a virem visitar-me a minha extremosa mão ao saber quis ir a Tavira mas não tinhas posses para tal, e ali estava eu sózinho, sorte a minha que o Furriel Miliciano, Jorge Tembe, que tinha tirado curso de regentes agricolas em Évora e tinha estado hospedado em casa de uma tia minha, me ia visitar e me trouxe um dia u bolo rei e uma garrafa de vinho do Porto, vinho esse que nunca cheguei a beber.

A mãe do tal camarada um dia me meu ofertar as divisas de Cabo-Miliciano, seu filho tinha alta nesse dia e ia passar o ano novo em casa.

Ficando só naquela enfermaria, o médico aconselhou que fosse transferido para um quarto particular e assim foi. Estava eu nesse quarto quando entra um criado, pensdava eu que me iria ajudar no que fosse necessário, mas o tipo teve a lata de me apalpar o pénis tendo recebido como resposta uma valente cinturada, e nunca mais lá apareceu.

No dia 5 de Janeiro pedi ao médico para me dar alta, pedido esse que foi aceite.

O Jorge Tempe me tinha trazido o fardamento, lá me vesti, as botas pesavam imenso, mas com algum esforço lá segui para o Quartel tendo ido apresentar-me ao Primeiro sargento da companhia a que pertencia, este ao ver-me ficou muito admirado, não sabia que eu tinha estado internado no hospital.

Visto a papelada mandou fazer os espólio do material, lá me valeu uma vez mais Jorge Tempe, que tinha guardado todo o meu material, fiz entrega do mesmo, o Primeiro Sargento esteve verificando tudo e me disse que faltavam dois francaletes e como tal teria que pagar 7$50 por eles, lá desembolsei o dinheiro tendo-me sido entregue uma guia de marcha para me apresentar no regimento de Infantaria 10 em Aveiro, diploma esse não me chegou a ser entregue, entregou-me a caderneta militar na qual constava que tinham passado no Curso de Sargentos Milicianos de Infataria com a destinta nota de 18,33 valores..

Estava frio em janeiro de 1964, como tinha entregue o cinto e restante material, tive que usar um cordel como sinto e lá segui para a estação de caminhos de ferros com destino a Aveiro.





                        Estação ferroviária de Tavira, estátua de homenagem ao soldado.

- Continua.



Volvidos muitoa anos fui visitar o quartel de Tavira
,




4 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Vai dar-nos os pormenores todos, Amigo Cambeta? :))

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo Pedro Coimbra,
Quase todos pois existe sempre algo que não se pode revelar, mas de uma coisa pode ter a certeza, por essa altura só estava interessando nos estudos.
Abraço amigo

Anônimo disse...

Caro amigo Cambeta,
Isto não é um romamce....mas uma biblia!!!
Abraço amigo

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo José Martins,
Romance por mim vivido, para ser biblia falta-lhe o sagrado rsrsrs
Esta foi só a primeira parte de 3.
Abraço amigo