o mar do poeta

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domingo, agosto 5

VIAGEM SEM REGRESSO - 5 DE AGOSTO DE 1964


Foi no dia 5 de agosto de 1964, o articulista embarcou no navio India com destino a Macau, faz hoje 48 anos, quis o destino que fosse uma viagem sem bilhete de regresso.



Familiares dos que partiam faziam adeus da gare do cais de Alcantra


O articulista subiu ao mastro mais alto  podendo ver seus familiares, Tia Felizarda, Tio Tói e prima Maria Vivência  acenando lenços brancos.


Foram 45 dias de viagem, com paragens em Luanda, Lourenço Marques, Beira, Nacala e Singapura, atracando ao cais de Kwoloon no dia 22 de Setembro de 1964.



A bordo dessa longa e enjoativa viagem houve tempos livres, embora contiuasse a ser ministrada instrução ao pessoal da companhia de caçadores 690 à qual pertencia o articulista.


O tempo se ia pasando da melhor forma possível, e aqui nesta foto é disso o exemplo, embora não saiba tocar concertina lá iam saindo umas notas falsas, que fez rir seu camarada Santana e um dos seus subordinados.





O navio India levava-se com destino a Macau duas companhia de caçados a 690 e 691, e muito material de guerra que seria desembarcado em Luanda e Lourenço Marques.





O artriculista nas horas vagas is passando o tempo da melhor forma, isto é quando ia até à borda vomitar, até era um slong usado todos os dias "JÁ TOMOU SEU TODDY HOJE? TODO O MUNDO VAI TOMAR" o que significava, já teve seu enjoo hoje, tudo o mundo vai vomitar. isto porque o pessoal que compunha as companhias era na sua maioria alentejanos e era a primeira vez que andavam de navio.



Havia várias cadeiras colocadas no convéns em que os Sargenros e Oficiais aproveitavam para ir tomando banhos de sol.

Qaundo o navio India atracou ao cais de Luanda, o articulista foi o primeiro a desembarcar, tinha comprado as roupas e sapatos no famoso Grandela em Lisboa, quando ia a descer o portaló, embicou nos travões do mesmo, caindo-lhe os saltos dos sapatos, apanha-os e segui portaló a baixo.
No cais junto a ambos os lados do portaló estava um cabo e mais três soldados todos da Polícia Militar, eram uns calmeirões e estavam fortemente armados, ao passar por eles, o cabo, numa vóz bem áspera disse "Miúdo fica aqui à espera que teu pai desça,  e ali fiquei uns minutos, tendo cabo feito a seguinte pergunta, o teu pai é Sargento ou Oficial? bem ai eu fiquei a olhar para ele e lhe respondi, o meu pai era sapateiro quem é Furriel Miliciano sou eu, e prontamente me identifiquei, e eles igualmente prontamente se puseram em sentido e fizeram a continência devida e segui em direção a um restaurante que ficava no cais, mas ainda ouvi dizer a um deles, porra, as coisas lá por Portugal também andam mal, agora até já mandam os putos para a tropa, não voltei a trás para lhes responder ou advertir, pois estava com fome.

Dirigia-me a resturante quando fui abordado por vários portugueses residentes em Angola, perguntando-me se desejava trocar Escudos da metrópole por escudos angolares, nada percebia de câmbios, mas lhes perguntei quando me davam por mil escudos, um deles com um maço de notas na mão, respondeu, damos 3 mil escudos angolanos, e sem pensar em mais nada a não ser na comida, lá troquei os mil escudos.

Tinha andado enjoado nos últimos dias e pouco tiha comido, sentia-me fraco, entrei no restaurante vi a ementa e pedi um bife e uma garrafa de vinho tinto, o preço era incrivelmente barato. Passado uns momentos lá veio o prato com um enorme bife, batatas fritas, ovo estrelado e salada. pão o havia à descrição, comi tudo muito rápidamente, depois fui bebendo o vinho nas calmas, e depois de bem comido e regado foi uma bica acompanhada de uma maceira e para rematar o almoço duas bananas.

Ao sair do restaurante deparei com dois camaradas meus, o Vitoria natural de Cabo Verde e o Santana natural de Goa, e lá fomos os três dar uma volta por Luanda.

O aparato militar em Luanda era imenso, viatura iam e vinham carregados de militares, alguns deles feridos.

  





Visitamos como não podia deixar de ser a bela baía de Luanda, indo depois até aos muceques.


O articulista juto de angolana e um filho de um português, numa zona já fora de Luanda.

Ficámos em Luanda três dias para que o navio pudesse descargar todo o material de armamento e não só.

No último dia em Luanda aproveitei um comprei um cacho de bananas que me ficou por 10 escudos, bananas essas que distribui pelo pessoal do meu plutão.

Seguimos viagem, debrumos o Cabo da Boa Esperança e me fez recordar Bartolomeu Dias e a sua façanha, seguimos rumo a Lourenço Marques, uma tia minha tinha comunicados a meus primos que resideiam em Lourenço Marques que o navio India fazia nesse porto uma paragem de 4 dias, ficando combinado que eles me iriam receber ao cais.

Atracado o navio não vi ninguém empunhando letgreiro algum com o meu nome, pelo que desembarquei e seguindo pela avenida da República me diria para os Correios, onde trabalhava uma amiga de nossa família e cujos pais eram novos vizinhos em Évora, nesse trajecto reparei que alguém me seguia, olhei várias vezes para trás e vim o tipo, pensei que seria alguém que se preparava para me gamar, mas não, o tipo lá teve a coragem de se me dirigir e muito gentilmete me perguntar se eu era o Tói Cambeta, bem a resposta não podia ser outra e ele logo me abraço dizendo eu sou o primo João Paulo.

Como estavamos perto dos Correios fui falar com a minha amiga Maria Mourato e lhe estreguei os abraços e beijos enviados pelos pais.

Dali seguimos para casa dos meus primos, pais do João Paulo, os pais eram meus primos direitos, moravam numa avenida perto da Igreja de Nossa Senhora, tinham uma bela casa e alguns criados, e por lá fiquei esses 4 dias comendo e dormindo em sua casa.

Eram e continuam a ser os filhos João Paulo residente em São Paulo - Brasil e seu irmão mais velho residente nos EUA, ambos pastores evangélicos, a família pertencia à Igreja Batista, para notar que a maioria dos menbros da clã Cambeta, são anglinaos, e todas as noites lá tinha que os acompanhar e ouvir os sermões, tendo-me ofertado uma biblia.

Terminada a estada em Lourenço Marques o navio seguiu rumo à Beira, ali ficámos somente dois dias, mas deu para que eu e meus camaradas pudessemos sair e ir conhecer a cidade e seu muito activo porto.

Um dia fomos comer passarinhos fritos num restaurante chinês e beber umas laurentinas numa esplanada do centro da cidade, no restaurante chinês além dos passarinhos ainda comemos um Chau Min.

Na esplanada pedimos 3 cervejas, marca Laurentina, e para nosso espanto, o empregado que nos serviu postou as cervejas os copos e mais três de camarões de Moçambique, pelo que lhe dissemos que não queriamos camarões, pois pensavamos que seria bem caros, puro engano, os camarões eram oferta da casa, pelo que por ali ficamos até às tantas da noite antes de regressar-mos a bordo.

O Navio India runo desta vez para Nacala uma cidade, se a isso se poderia chmar na altura, visto só possuiir uma rua, onde à noite os leões por lá passeavam.

Em Nacala o navio ficou amarrado a uma árvore, embora o porto, com as suas duas enormissimas baías, ainda não tinha as infratruturas necessários para o atracamento a um cais condigno.

Sai do navio acompanhado de meus soldados do meu pelotão e fomos jantar num dos dois restaurante existentes escolhemos o primeiro que era frequentado por moçambicanos, o restaurante era gerido por um português, junto ao balcão se podia ver a malta da terra emborcando cachaça e muitos deles homens e mulheres já estavam super embriagados.

Sentamos e ali jantamos, na mesa ao lado estava um preto que não nos deixava de mirar, convidei para se sentar na nossa mesa e lhe indageui se já tinha jantado, tendo recebido resposta negativa, pelo que mandamos vir mais uma dose para ele cujo nome era António, gostava, segundo dizia dos português e tinha imensa pena de não ter sido militar, não foi apurado devido à sua baixa altura.

Depois de bem jantados seguimos na compnahia do António e no cimo dessa única rua que compunha a cidade havia um café, e lá fomos nós tomar a bica, sentamo-nos na esplanada, lado esquerdo da entrada para o mesmo, porém havendo ali algumas viaturas que nos retirava a visão da rua, passamos para o lado direito da esplanada, mandamos vir os cafés e umas macieiras, quando vimos air do café dois portugueses e entrarem na viatura que se encontrava parcada junto ao lugal onde nos tinhamos sentados, os tipos puseram a viatura a trabalhar e em vez de fazerem marchá a trás seguiram em frente levando as mesas e cadeiras entrando pela montra do café adentro partindo tudo, ao ver-mos o sucedido demos graças a Deus em termos mudado de local

O encarregado do café um senhor bem corpolento e bem vestido, de origem africana lá fui mandar vir com os dois portugueses, dizendo que teria que pagar todos os prejuízos, e lamentava-se dizendo que teria de ali ficar toda a noite com receio de ser assaltado ou que os leões por ali aparecem-se, os dois portugueses, já perdidos de bebedos, disseram que no dia seguinte seria entregue o vidro da montra e lhe pediram as medidas do mesmo.
 Esse dois portugueses eram pilotos da Força Aérea, cuja base ficava ali por perto, não vi entregar dinheiro algum ao senhor do café, e dali sairam para a sua base.

O serviço de correios ainda estava aberto, era um minúsculo edifíco co apenas uma pequena sala, havia um bicha que dava para a selva, mas o pessoal militar ao me ver, deixaram que eu foi atentedido em primeiro lugar, tinha escrio dois bilhetes postais que iam enviar para minha mãe e para minha namorada, agradeci e sai.

O António que nos acompanhava disse conhecer umas amigas que moravam numa roça ali perto e para lá seguimos.

As amigas do António, três, moravam numa cubata com boas dimensões, possuia uma sala e três quartos. quem nos recebeu foi, penso eu a dona, uma 'jovem moça de 17 anos chamada Maria da Conceição, era linda e super simpática, já as duas colegas eram igualmente simpáticas mas feias.

Pensava a Maria da Conceição que nós estavamos aquartelados ali por perto e logo se prontificaram a ser nossas lavadeiras, foi-lhe explicado que não, só ali estavamos de passagem, nosso destino era Macau.

O António com elas falou e depois nos informou que poderiamos ali passar a noite, tudo bem concordei eu, os meus colegas igualmente concordaram e lá escolheram as moças com quem iriam passara  noite, a Maria da Concerição essa logo se atracou a mim.

O pobre do António esse ficou na sala, como estava calor e eu envergava um casaco, despiu e o entreguei ao António, o casacom tinha cigarros isqueiro documentos e alhum dinheiro, o António o recebeu e ali ficou de pé, enquando n;ós seguimos para os respectivos quartos.

Não havia luz electrica, mas sim o quarto era iluminado poe uma vela, a Conceição apagou a vela com receio que das cubatas ao lado pudessem ver.

Depois de uma noite de amor, acordei quando o sol me veio bater na face, a Conceição ainda dormia e para a acordar lhe dei um beijo carinhoso em seus belos lábos.

Levantamo-nos a Conceição foi buscar uns baldes de água e ali mesmo no quatro me deu banho.

Qaundo cheguei à sala, para meu espanto ali estava o António de pé com meu casaco na mão tal como o tinha deixado na noite anterior.

Volvido pouco tempo se juntaram os meus dois camaradas e as mo'/cas com quem tinha passado a noite, estavam muito alegres e ficaram admirados pelo tratamento dados pelas moças.

O navio saiu de Nacala rumo a Singapura nessa mesma tarde, o António me entregou o casaco, verifiquei se nada falatava, estava tudo tal como tinha deixado, nem um cigarro o António tinha tirado.

Saquei da carteira, tinha ainda muitos escudos moçambicanos que de nada me serviram em Macau, pelo que entreguei à Maria da Conceição 1 200 escudos paraelea dividir com as migas, não quis receber o dinheiro dizendo não ser prostituta, mas lhes fiz ver que não era o caso, tanto insisii que lá recebeu o dinheiro, ajudando-lhe a meus pés agradecendo, dali saimos podendo ver ainda as lágrima correndo pelas faces da Maria da Conceição.

O António no acompanhou até ao cais, onde lhe dei todos os escudos moçambicanos que possuia, deu-nos um abraço e chorou de alegria.

Eram 17 horas quando o navio largou runo a Singapura, volovidos uns dias ficamos fundeado no porto, não nos sendo autotizado desembarcar.

De Singapura rumámos para Hong Kong até ali o mar se encontrava calmo, porém navegando junto à costa do Vietname fomos apanhado por um mega tufão o Rose, as vagas eram tão altas que passavam por cima do mastro mais alto do navio, apanhamos falentes sustos, mas a viagem continuo.

No dia 22 de Setembro de 1964 o navio India atracou aos cais de Kwoloon - Hong Kong, onde nos foi permitada a saida, mas só aos Sargentos e Oficiais. A primeira impressão que tive foi péssimo, a sujidade das ruas e das casas bem como o barulho enorme vindos deles, ficando depois a saber que os chineses estavam jogando majong.

Na compnahia de mais doi furrieis fomsoa até um bar ali fomos abordados por uma senhora que nos convidou a ir-mos até ao segundo andar onde havia umas moças que exerciam a mais velha profissão do mundo, lá fomos, meus colegas escolheram as moças e eu por ter só um dolar americano fiquei na sala com os casacos deles rrsrsrs.

Regressamos depois a bordo para recolhermos os novos pertences seguindo depois para o Ferry Takshing que se encontrava atracado ao lado do navio India, e nos iria levar até Macau.


Foram três hora e meia de viagem, eram cerca das 19 horas quando o ferry atracou à ponte 12 do porto interior, o cheiromque provinha da cidade era do género de peixe salgado que me ficou entrenhado nas narinas até aos dias de hoje, volvidos 48 anos.



Pode ver-se o articulista transportando a sua mala de cor escura

Nesta foto pode ver-se o articulista o primeiro da direita aguardando a viatura.

Defronte da ponte ficámos a aguardar as viaturas que nos levariam para os respectivos quarteis, a Companhia de Caçadores 690 à qual pertencia iria para o Quartel da Ilha Verde em Macau a 691 para o Quartel da Monh Ha, porém o Tenete da minha compnahia disse para reunir a minha ses'são, dez homens, e seguir para a ponte 8, onde iria embarcar numa lancha de desembarque dos Serviços de Marinha runo à Ilha da Taipa, juntamente seguiu um pelotão com destino à Ilha de Coloane.

Era já noite cerrrada quando chegamos ao quartel que estava em péssimas condições e ainda se podiam v er os estragos do último tufão que tinha assolado Macau.

A Ilha da Taipa era constiuída por uma pequena vila todo o resto eram extensos arrozais.

Em terras da China a vida do articulista iniciou a sua mudança de uma forma radical.



O articulista com seus 20 anitos, na ilha da Taipa, desempenhando as funções, nome pouposo, Comandante Militar da Ilha da Taipa.




9 comentários:

Anônimo disse...

Bonita história de vida e bem ilustrada. Gostei
Abração

Henrique António Pedro disse...

Verdadeira história viva! De suster a respiração com a saudade das coisas boas daqueles tempos.
Abraço

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo José Martins,
Ainda estou bm recordado, embora no dia de embarque já ir com uns copos, a viagem de Estremoz até Lisboa deu para ir tocando viola e beber uns copos o resto está i na pequena história, pena foi não ter mais rolos de filmes senão teria tirado mais fotos em Moçambique, é assim já e já lá vão 48 anos.
Abraço amigo

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo e Ilustre Poeta Henrique Pedro,
O tempo parece passar sem dar conta, já se passaram 48 anos desde que de Portugal sai.
Muito mais teria para contar, mas relatei o isencial.
Abraço amigo

Prof.Ms. João Paulo de Oliveira disse...

Estimado amigo António Cambeta!
Fiquei enternecido ao ler seu relato pormenorizado da época que você deixou desolados seus entes queridos, principalmente sua valorosa e saudosa mãe, ao embarcar no navio que o levou ao Oriente...
O que merece destaque são os registros fotográficos!!! Isto demonstra sua preocupação, já nesta época, com a memória!!!!!
Caloroso abraço! Saudações memorialistas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Confraree e Ilustre Prof. João Paulo,
Já lá vão 48 anos, sempre tive cuidsado com a memória ou não usasse fósforos para acender os cigarros.
A minha extremosa mãe chouro na minha partida, mas muitos chourou quando soube que não regressava a Portugal, é a vida, recordar é viver.
Abraço amigo

Rui Moio disse...

Um pedaço de vida vivida! Quotidianos de há 48 anos ilustrados e descritos com prazer.
Por aqui se mostra alguém que gosta da viagem, da descoberta, alguém curioso e corajoso como foram os marinheiros das descobertas, os soldados das conquistas, os funcionários do dever, os governadores, comerciantes e sacerdotes do multiculturalismo. O Gambeta é desta elite, da elite que fez o meu Portugal, a minha portugalidade, a minha Nação. Eu sou desta Nação... multicultural, multiétnica, de todos os continentes. E sou assim, mesmo quando este meu Portugal, já não existe!

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado amigo e Ilustre escriotr Rui Moio,

O meu sincero muito obrigado por seu gentil comentário.

Quis Deus que a minha vida assim tenha e continua a ser, nestas paragens longínquas do oriente, que igualmente fizeram parte de Camões, Venceslau de Morais, Bocage, Camilo Pessanha entre outros, já para não falar de Fernão Mendes Pinto, cujos passos tenho seguido lá no reino do Sião e Pegu.
O nosso Portugal ainda existe, o Jardim à beira mar plantado é que anda muito mal tratado por quem nos governa desde o 25 de abril.

Português sempre de alma e coração.

Abraço amigo

Ausenda Ribeiro disse...

E vão uns bons anitos, Primo!

Gostei de ler

Beijinho