Jornal Hoje Macau - José Simões Morais
Ainda o avião da Dragon Air não tinha partido de Hong Kong, já no aeroporto de Macau o ambiente de introspecção, criado pelas vibrações de um cântico monocórdico, em som de ladainha, entoado pelos monges budistas era oferecido à cidade. Esperava-se a chegada de uma das mais preciosas relíquias de Buda (sarira), um osso do crânio de Sidarta Guatama (563-483 a.C.).
Após o avião aterrar e o relicário onde é transportado esse osso com 2500 anos ter desembarcado, as manobras necessárias para o colocar em terra levaram ao acordar por fim da meditação e sentiu-se no ar a leveza com que o ambiente nos compõe no todo Universo.
Depois das mais altas individualidades de Macau, tanto budistas como políticas, terem prestado homenagem à relíquia numa singela cerimónia, o cortejo partiu em direcção à Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental (o Dome), onde vai ficar exposto até ao dia 3 de Maio.
Um dos ossos mais reverenciados de Buda
Em Nanjing, sabia-se da existência do famoso templo Da Bao En, que começou a ser construído em 1412, durante a dinastia Ming, pelo imperador Zhu Di em homenagem de gratidão aos seus pais e sobretudo à sua mãe. Todos os estrangeiros que visitavam a cidade o iam admirar, sobretudo para ver o lindíssimo pagode que nele existia e que no século XVII integrava a lista das 7 maravilhas do mundo a par com a Grande Muralha, o Coliseu de Roma, a torre inclinada de Pisa, entre outros locais. Este pagode foi completamente arrasado entre 1854 e 1856 pela revolução Taiping Tianguo, que achava estar essa torre colocada numa posição perigosa para as suas defesas.
Já no século XXI, o governo de Nanjing procurou localizar o lugar exacto do pagode e por isso, as casas de uma rua de Nanjing, onde se crê ter existido o recinto do templo, foram deitadas abaixo.
Durante a destruição das casas em 2007 foi encontrada parte de uma estela e fazendo daí o centro escavaram à sua volta. O desapontamento foi grande quando descobriram a base do pagode, pois esta era de diminutas dimensões em relação ao que seria o tamanho dessa torre. Com a certeza de ser ali a sua localização, começaram a escavar e a 9 metros de profundidade apareceu em Julho de 2008 uma estela. Segundo o que nela estava escrito, “neste local construído em 1011, durante a dinastia Song do Norte, era o Palácio subterrâneo (Di Gong) que pertencia ao templo de Chang Gan. A construção dessa cripta serviu para guardar o osso parietal da cabeça de Sakyamuni e outras relíquias de Buda. Estas estão dentro de uma caixa de ouro, que por sua vez se encontram no interior de um pagode de Asoka, tudo fechado numa caixa de ferro.”
A princípio, os caracteres da estela não despertaram grande excitação aos arqueólogos, já que desde há muito tempo esse osso do topo do crânio de Buda tinha desaparecido e apesar de se saber ter vindo para a China, não havia mais memória dele. Prosseguiram as escavações e por baixo da estela encontraram uma caixa de pedra que foi levada para o Museu de Nanjing, conjuntamente com a estela. No mês de Agosto desse ano foi a caixa de pedra aberta e encontraram uma caixa de ferro. Então saltaram à memória os caracteres escritos na estela e uma grande alegria inundou os arqueólogos. Abriu-se a tampa da caixa e outra tampa apareceu. Quando esta foi retirada encontraram o pagode de Asoka, que dentro tinha uma caixa em ouro e outra em prata. Só em Junho de 2010 foi anunciado ao mundo a descoberta do osso parietal de Sakyamuni (como é conhecido na China o Buda histórico), que é uma das mais importantes relíquias de Buda (sarira). Este passou a ficar guardado no templo Qixia, também em Nanjing e só agora saiu pela primeira vez para fora do Continente chinês. Primeiro esteve em Hong Kong e agora estará até sexta-feira em Macau.
A relíquia e vida
De novo em contemplação, a energia é oferecida numa proximidade ao todo que irradia e contém a Luz que ilumina o Espírito, de onde provêm as subtis Almas para alimentar os corpos. E é neste momento do Estar que o corpo precisa de esqueleto, guia no trajecto da vida para os adultos servirem a carne ao Espírito e assim, pelas suas acções serem.
Na filosofia budista, somos feitos pelos outros, pois não nos conseguimos ver por dentro e por isso não somos nós que nos fazemos.
Nessa consciência de Ser, que não se distancia da Natureza, pois ela é una, criam-se as realidades e mediante como as vivemos, assim O Somos. Uns projectam-se com o seu superior ou inferiorizado ser, pensando-se com os sentimentos da Verdade com que se fazem como padrão. Outros, pela reflexão, percebem os mundos de significados que as palavras e suas ligações mentais alcançam, mas só na acção se realizam, no dar para complementando, englobar de novo no Um do Todo.
Por tal, não é o que pensamos que interessa, mas como pensamos. E logo a pergunta surge: — O que viemos a este mundo fazer?
Fonte - Jornal Hoje Macau - José Simões Morais
Buddha's parietal-bone relic enshrined in Macao
- Delta News:
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