Após alguns anos em serviço no Terminal Marítimo do Porto Exterior, embarquei nas vedetas da classe Charlie fazendo assim o tirocinio de embarque, ficando com as condições de poder concorrer a agente de primeira classe, condições essas que eram ter três anos no posto de agente de segunda classe e um ano de embarque, até andei embarcado mais que o tempo determinado, e muito aprendi com os velhos lobos do mar, no ano de 1976 concorri ao posto de agente de 1a. classe, tendo ficado bem classificado, ficando a aguardar ser promovido dentro em breve.
Desde a fundação da PMF, esta estava integrada na Repartição dos Serviços de Marinha, dependendo completamente dela.
No ano de 1976 foi formada as Forças de Segurança de Macau na qual passaram a pertencer a PMF, PSP, Bombeiros, Polícia Munícipa e a PJ, esta somente para efeitos administrativos.
O centro administrativo das Forças de Segurança estava sediado no Comando ou Quartel General em S. Francisco, onde se processavam todos os vencimentos.
Na parte de abastecimentos, as corporações foram dotadas de verbas para se administrarem por si próprias. Para tal foi necessário criar as infraestruturas para o funcionamento das novas atribuições.
O Comandante da PMF achou que eu era a pessoa indicada para desempenhar o cargo de Fiel interno e externo da PMF, embora não quisesse aceitar o cargo, mas o Comandante, que por sinal era natural de Évora e me conhecia bem, sabendo que eu tinha o Curso Geral do Comércio, disse que o cargo era simples, eram somente contas da "Maria Balbina", bem, lá aceite o encargo, esperaçando ter todo o apoio do comando, que, mesmo antes de tomar conta do cargo me foi dito, que queria as contas em ordens e que lá iria, de vez enquando, fazer um balanço e não queria encontrar falha alguma nem que fosse um parafuso a menos!...
O local que passou a servir de secretaria dos serviços de abastecimentos e de paiol, foi uma velha instalaçã, de pequenas dimensões e muita húmida, onde anteriormente servia de Cantina da Obra Social dos Serviços de Marinha.
Estava esse local muito degradado pelo que foi necessário ser feita uma limpeza geral e uma pequena caiação às paredes, embora o espaço fosse pequeno era suficiente para armazenar os materias necessários às operações.
Um Chefe da PMF encarregado do "paiol de inúteis, dos Serviços de Marinha, lá arranjou uma velha cambada secretária e uma cadeira. Foram estes os móveis recebidos para começar o meu trabalho como Fiel da PMF.
No Boletim Oficial foi publicada a dotação de verbas que a PMF passaria a dispôr, tomando conhecidos delas e depois de as estudar detalhadamente, concluí que as mesmas eram irrisórias, e como tal dei conhecimento do facto ao Comandante da PMF.
Para melhor se entender passo a explicar: como referi anteriormente, quando a PMF estava integrada nos Serviços de Marinha, havia apenas uma verba global para os abastecimentos, destinada a todos, estes Serviços, nunca sendo contabilizadas individualmente, as despesas efectuadas pela PMF, e disso tinha eu pleno conhecimento, visto ter trabalhado vários anos na Secção de Abastecimentos e Contabilidade dos Serviços de Marinha.
Agora, com a formação do Comando das Forças de Segurança, tiveram de ser feitos cálculos e atribuídas verbas, sem se saber se as mesmas eram compatíveis e suficientes para as despesas, isso depois se veria!...
Na altura embore fosse ainda agente de segunda classe, não tinha no entanto qualquer receio pelo serviço ou temor pelo volume e responsabilidade do cargo que iria desempenhar.
Tinha, como referi tinha o Curso Geral do Comércio e prestado serviço nos Serviços de Abastecimentos e Contabilidade dos Serviços de Marinha e me haveria de desenrrascar....
Para iniciar a contabilidade tive que comprar os respectivos livros, que acabaram de ser pagos do meu bolso! o restante material de expediente tive que o solicitar na secretaria da PMF que constou de um lápis, uma esferografica e uma borracha!...
A primeira acção foi resgistar as verbas por capítulos e em duodécimos, começando de seguida a receber requisições de materias e serviços. Trabalhava sózinho, já que o Adjunto do Comando, que nunca me gramou, fez convencer o Comandante que para o desempenho daquele cargo um só agente chegava. Frequentemente tinha que sair para fazer compras dos materias e suprimentos necessários para o abastecimento do paiol, e para o poder fazer tinha que solicitar as boas graças do Chefe de dia ao Comando para me dispensar a única viatura em serviço, um velho jeep Land Rover, é de salientar que o parque automóvel da PMF, naquele tempo era constituído por uma viatura do Comandate, uma velha camioneta, uma carrinha para transporte de pessoal e um jeep, por vezes ficava horas aguardando que o mesmo tivesse vago para poder efectuar o serviço que tinha solicitado.
Devido à escassez das verbas e para melhor gerenciamento de recursos, fiz as contas dos gasto e atribui a cada posto e vedeta um determinado valor a que tinha direito de requisições mensais.
Foi um trabalho muito intenso, agravado pela falta de uma viatura e telefone e de pessoal que pudesse dar uma ajuda, quer nas compras, entrega de matareias, limpeza quer na arrumação dos materias, eu era sózinho que fazia tudo até varrer o chão.
Logo no primeiro mês a contabilidade exibiu um "buracão" na verba atríbuida aos combustíveis, sobre a qual não tinha controle directo, em virtude de as vedetas se abastecem de gasóleo nos tanques dos Serviços de Marinha e só no final de cada mês era recebida a respectica conta.
Apenas as despesas com o abastecimento das vedetas era superior à verba de seis duodécimos ou seja meio ano de despesa total.
Foi necessário fazer uma informação-proposta requerendo aumento de verbas. Outra se seguiu para a conservação e reparação de bens. A verba para este sector era tão reduzida que as vedetas ou ficavam aguardando reparação ou as Oficinas Navais adiantavam os trabalhos ficando depois a aguardar um futuro pagamento....
Tive que solicitar, igualmente, outros amumentos de verbas, como por exemplo para o caso que me deu imensas dores de cabeça, ou seja a verba destinada para a água e electricidade.
A Sede do Comando da PMF e suas dependências ficavam nas instalações dos Serviços de Marinha, onde não existiam contadores separados, contudo estes Serviços recusavam-se a pagar os gastos efectuados pela PMF.
Não sendo prática a instalação de novos contadores, com a aprovação do Comandante das Forças acordou-se no pagamento de 15% do valor das facturas do consumo de água e de electricidade, passando os Serviços de Marinha um recibo comprovativo para acerto de contas.
A missão de Fiel estava ficando cada vez mais dificultosa e trabalhosa, pelo que, de novo, solicitei ao Comando para escalar um agente para me poder auxiliar. O Adjunto do Comando, encarregado do pessoal, que nunca simpatizou comigo, e a razão era bem simples, esse senhor, quando eu entrei para a PMF, encontra-se em Portugal no gozo de licença graciosa, 150 dias, não sei porque razão após terminada as férias não regressou a Macau e foi estagiar na Polícia Marítima de Portugal, na altura era Subchefe mas tinha concorrido ao posto de Chefe, quando regeressou foi promovido a Chefe sendo um dos mais novo nesse posto.
Entretanto o regulamento da PMF foi alterado tendo sido criado o posto de Adjunto do Comando, visto que até essa altura o posto máximo na PMF era de Chefe de Secretaria, nunca ninguém soube qual a razão porque o Comandante da PMF, sem realizar concurso algum deu esse lugar ao referido tipo, tendo sido muito contestado essa ilegal promoção, sendo eu um dos que assinaram o abaixo assinado condenando esse acto. Em virtude dessa promoção, alguns dos Chefes mais velhos, pediram para passar à reforma, ficando o tal senhor a mandar em tudo e em todos a seu belo gosto. negou o meu pedido dizendo que sózinho eu "dava bem conta do recado".
Esse mesmo Adjunto veio um dia até ao paiol onde me encontrava e determinou que eu fosse entregar em sua casa, alguns produtos , entre eles sabão, detergente líquido, vassouras, toalhas e uma bilha de gás, esclareci que para atender à sua solicitação, necessário seria que ele fizesse a devida requisição, não o fez e ficou irritado, pois sabia que o não podia fazer.
O que eu fui dizer, ele super irritado disse ser Adjunto do Comando e tinha direito aos produtos solicitados, pelo que lhe retorquei para me mostar a lei onde esse benificio estava escrito, já que os artigos e produtos se destinavam somente ao uso e consumo dos postos e vedetas e não ao consumo caseiro, dali saiu pior que uma "barata"!.
Por alturas do fecho das contas do ano económico e fiscal em curso, fui promovido a agente de primeira classe, quando estava no processo de encerramento das contas, aparece de novo o Adjunto, desta vez o objectivo não era requisitar coisa alguma, visto saber que eu não alinhava em falcatruas, mas sim para me informar que iria ser substituído, já que aquele cargo não era para ser desempenhado por um agente de primeira classe.
Assim que as contas foram encerradas e delas fiz entrega ao Comandante da PMF , fui destacado para ir prestar serviço no Posto 5 da Ilha da Taipa, é de referir que esse Adjunto , por obra e graça dos Espírito Santo, era Delegado Marítimo dos Serviços de Marinha para as ilhas da Taipa e de Coloane.
Fui substituído nas funções de Fiel da PMF por agente de segunda classe, "afilhado" do dito Adjunto, que pouco tempo depois era promovido a agente de primeira classe, mas continuando a exercer as funções de Fiel ainda por alguns anos.
Se muitas vezes as verdades são difícieis de se aceitar, também é difícial cumprir ordens e sempre manter a honestidade.
Era assim Macau nesses tempos passados!...
Esse dito Adjunto sempre me presseguiu até se reformar, foram muitas as queixas contra mim apresentadas ao Comando, mas depois e a seu tempo contarei alguns factos passados entre mim e esse mesmo corrupto e antipático Adjunto, mas o Comandante não estava ilibado, visto que "emprelhava" pelos ouvidos.
Para quem como eu tinha sido educadao em Portugal na regidiz do regime e desempenhado funções como militar, pensava eu ao entrar na Corporação da PMF, e sendo esta Comandada por um Oficial da Marinha Portuguesa, que a Marinha em Macau estaria bem representada com a PMF, a Briosa, mas de briosa tinha só o quero mando e posso.
Havia somente um Oficial de Marinha nos quadros da PMF, era o Comandante!....
Desfolhada mais uma página das minhas memórias, página esta como muitas outras, onde se poderá ficar a saber como funcionava a PMF, não só nos anos 60' mas durante os 25 anos em que pertenci a essa Corporação!...
A Sede do Comando da PMF e suas dependências ficavam nas instalações dos Serviços de Marinha, onde não existiam contadores separados, contudo estes Serviços recusavam-se a pagar os gastos efectuados pela PMF.
Não sendo prática a instalação de novos contadores, com a aprovação do Comandante das Forças acordou-se no pagamento de 15% do valor das facturas do consumo de água e de electricidade, passando os Serviços de Marinha um recibo comprovativo para acerto de contas.
A missão de Fiel estava ficando cada vez mais dificultosa e trabalhosa, pelo que, de novo, solicitei ao Comando para escalar um agente para me poder auxiliar. O Adjunto do Comando, encarregado do pessoal, que nunca simpatizou comigo, e a razão era bem simples, esse senhor, quando eu entrei para a PMF, encontra-se em Portugal no gozo de licença graciosa, 150 dias, não sei porque razão após terminada as férias não regressou a Macau e foi estagiar na Polícia Marítima de Portugal, na altura era Subchefe mas tinha concorrido ao posto de Chefe, quando regeressou foi promovido a Chefe sendo um dos mais novo nesse posto.
Entretanto o regulamento da PMF foi alterado tendo sido criado o posto de Adjunto do Comando, visto que até essa altura o posto máximo na PMF era de Chefe de Secretaria, nunca ninguém soube qual a razão porque o Comandante da PMF, sem realizar concurso algum deu esse lugar ao referido tipo, tendo sido muito contestado essa ilegal promoção, sendo eu um dos que assinaram o abaixo assinado condenando esse acto. Em virtude dessa promoção, alguns dos Chefes mais velhos, pediram para passar à reforma, ficando o tal senhor a mandar em tudo e em todos a seu belo gosto. negou o meu pedido dizendo que sózinho eu "dava bem conta do recado".
Esse mesmo Adjunto veio um dia até ao paiol onde me encontrava e determinou que eu fosse entregar em sua casa, alguns produtos , entre eles sabão, detergente líquido, vassouras, toalhas e uma bilha de gás, esclareci que para atender à sua solicitação, necessário seria que ele fizesse a devida requisição, não o fez e ficou irritado, pois sabia que o não podia fazer.
O que eu fui dizer, ele super irritado disse ser Adjunto do Comando e tinha direito aos produtos solicitados, pelo que lhe retorquei para me mostar a lei onde esse benificio estava escrito, já que os artigos e produtos se destinavam somente ao uso e consumo dos postos e vedetas e não ao consumo caseiro, dali saiu pior que uma "barata"!.
Por alturas do fecho das contas do ano económico e fiscal em curso, fui promovido a agente de primeira classe, quando estava no processo de encerramento das contas, aparece de novo o Adjunto, desta vez o objectivo não era requisitar coisa alguma, visto saber que eu não alinhava em falcatruas, mas sim para me informar que iria ser substituído, já que aquele cargo não era para ser desempenhado por um agente de primeira classe.
Assim que as contas foram encerradas e delas fiz entrega ao Comandante da PMF , fui destacado para ir prestar serviço no Posto 5 da Ilha da Taipa, é de referir que esse Adjunto , por obra e graça dos Espírito Santo, era Delegado Marítimo dos Serviços de Marinha para as ilhas da Taipa e de Coloane.
Fui substituído nas funções de Fiel da PMF por agente de segunda classe, "afilhado" do dito Adjunto, que pouco tempo depois era promovido a agente de primeira classe, mas continuando a exercer as funções de Fiel ainda por alguns anos.
Se muitas vezes as verdades são difícieis de se aceitar, também é difícial cumprir ordens e sempre manter a honestidade.
Era assim Macau nesses tempos passados!...
Esse dito Adjunto sempre me presseguiu até se reformar, foram muitas as queixas contra mim apresentadas ao Comando, mas depois e a seu tempo contarei alguns factos passados entre mim e esse mesmo corrupto e antipático Adjunto, mas o Comandante não estava ilibado, visto que "emprelhava" pelos ouvidos.
Para quem como eu tinha sido educadao em Portugal na regidiz do regime e desempenhado funções como militar, pensava eu ao entrar na Corporação da PMF, e sendo esta Comandada por um Oficial da Marinha Portuguesa, que a Marinha em Macau estaria bem representada com a PMF, a Briosa, mas de briosa tinha só o quero mando e posso.
Havia somente um Oficial de Marinha nos quadros da PMF, era o Comandante!....
Desfolhada mais uma página das minhas memórias, página esta como muitas outras, onde se poderá ficar a saber como funcionava a PMF, não só nos anos 60' mas durante os 25 anos em que pertenci a essa Corporação!...
9 comentários:
No tempo do CGC ou Curso Comercial era tudo feito a cursivo ou a canêta de tinta-permanente, como tal creio que deixou de existir... No entanto, este capítulo fêz-me recordar a minha professôra de Caligrafia que "era bôa como o milho" (EC Patricio Prazeres '67)... Hehehe!
Valdemar Alves
Amigo Cambeta,
Essa instituição dos "afilhados" existia antes, existia então, existe agora.
E vai existir no futuro.
Essa é das eternas.
Aquele abraço e votos de boa semana
Um precioso testemunho sobre a História recente da nosa velha pátria. Quanto à "cunha" ... hoje em dia...ganhou outra "dignidade", que é com quem diz outro "verniz" e subiu até de parada..
Abraço
Estimado Amigo Valdemar Alves,
Teve sorte em ter tido uma professora boa como o milho nas aulas de caligrafia, eu tive um professor já entrado nos anos e super antipático rsrsrs, eram usadas as canetas de tinta permanente mas com aparos diversos.
Nos dias de hoje não à tinta para se poderem ao luxo de escrever por canetas de tinta, que já deixaram de ser permanentes, agora são provisória e usadas só em protocolos rsrsr.
Abraço amigo
Estimado Amigo Pedro Coimbra,
Pois como não podia deixar de ser Macau continua com as suas especificidades.
Mas antigamente toda a gente comia da mesma malga, hoje parace que não, os copos de cristal é só usado por alguns.
Mas como pode verificar, nas parcas letras que escrevi, não eram só afilhados, mas sim o quero mando e posso, e como tal a PMF ficou super conhecida como uma corporação onde facilmente se podia enriquecer, nunca foi o meu caso.
Felizmente estou bem e o mais principal é a saúde, pessoas sérias e honradas raras foram aquelas que se notabilizaram na vida, é assim já.
Abraço amigo
Estimado Amigo e Ilustre Poeta Henrique Pedro,
Infelizmente os administradores portugueses durante o seu reinado em Macau era assim que procediam e nada ou pouco fizeram, com algumas excepções.
Mas para quem conhece a Ásia como eu, sabe que esse mal não era exclusividade dos portugueses, O Laos, Cambodja e Vietname ex-colonias francesas tinham o mesmo processo e nada deixaram de relevo o mesmo acontecendo na antiga Birmânia ex-colónia inglesa.
Hoje os padrinhos continuam, em Portugal são bem conhecidos os Boys, mas queles que trabalham em prole do país com dedicação e honestidade esses são posto de lado, é assim já.
Abraço amigo
Estimado confrade e amigo António Cambeta!
Que preciosos registros você tem legado para as gerações do porvir!!!
Que Mnemosine o tenha como pupilo sempre!!!
Caloroso abraço! Saudações memorialistas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
Amigo Cambeta,
mais uma longa história
das muitas que tem para contar;
há quem diga que a mais antiga profissão do mundo é a prostituição - pois eu diria
que a par com esta
há uma outra:
a profissão dos "afilhados"...
pois essa existiu desde sempre, continua a existir
agora e sempre.
Sobre a imagem do Lord Buda na posição de deitado,
a Guia que tive em Chiang Mai disse-me isso:
representa a terça-feira
também o meu dia de nascimento,
e digo-lhe que foi um dos souvenirs que trouxe comigo
não comprei mais nenhum buda, apenas um nessa posição
é a minha!
Abraço amigo,
Ester
Parabéns por mais este belo registo para memória futura. Abraço.
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