Quando entrei para a Polícia Marítima e Fiscal, na tomada de posse fiz o juramento de cumprir fielmente todas as missões que me fossem confiadas. Após esta cerimónia tivemos durante alguns dias instrução sobre regulamentos da PMF e ordem unida.
Apesar de ter sido Furriel Milicano, lá tive que carregar com a velha espingarda Mauser, e me submeter a receber este tipo de instrução, ministrada por um Subchefe, absolutamete alheio a este treinamento.
Alguns dias depois começamos a aprender o serviço de bordo nas vedetas, cem como as actividades no Terminal Marítimo e Posto Fiscal.
Apenas no primeiro caso aprendemos alguma coisa, como amarrar cabos e defensas, tomando também conhecimento dos canais de navegação.
A aprendizagem do serviço nos Postos, terminal Marítimo e Posto Fiscal (Alfandega), consistia meramente na observação do que faziam os Agentes em serviço nesses locais.
(Edifício do antigo Posto Fiscal que está muito bem conservado, mas às moscas)
(Edifício do antigo Posto Fiscal que está muito bem conservado, mas às moscas)
Fui destacado para a ponte 22, acompanhando um agente ali escalado para o horário das 17.00 às 01.00 horas, período que podia ser prolongado se fosse solicitada uma largada tardia de qualquer barco.
Observei que este agente verificava algumas mercadorias e respectivas licenças de importação.
Apercebi-me também que recebi algo facto que estranhei. Ao notar que o tinha visto, perguntou-me se não queria ir para casa mais cedo...
Respondendo-lhe afirmativamente, tirou então do bolso uma nota de $10 patacas que me entregou dizendo para ir jantar, pois estava assim terminada a apredizagem no Posto Fiscal!
No dia seguinte embarquei numa vedeta da classe Bravo, cujo Patrão era um Subchefe já idoso, velho lobo do mar, pessoa bastante experiente e óptimo contador de histórias.
Tinha vivido em Macau no tempo da invasão dos japoneses e por várias vezes viajara até Cantão pilotando uma vedeta da PMF.
A vedeta era uma velha embarcação de madeira, tendo servido na marinha inglesa ena guerra do Pacífico, a guarnição era composta por oito elementos, o meu estágio na vedeta seria de uma semana.
Como era a maior vedeta da esquadrilha da PMF, a sua missão era alargada ao serviço de vigilância e fiscalização exterior. Não havendo na altura a Divisão Mar, o Patrão da referida vedeta era directamente responsável perante o Comando.
Após nos abastercemos de água e géneros alimentícios para as refeições dos próximos dias, compareceu o agente que acumulava as funções de se segurança com as de cozinheiro.
Largámos da Ponte 1, que serrvia de base às veetas da PMF e após efectuarmos uma longa e alargada ronda fundeámos bem longe de Macau onde almoçamos. Não tinha apetite visto estar já fortemente enjoado.
Após o almoço o pessoal que não se encontrava de quarto recolheu ao dormitório para descansar, ficando eu a acompanhar o navegador de quarto pois não desejava ficar na Casa do leme, preferindo o exterior aonde se podia respirar ar fresco.
Sentei-me num local coberto por uma loba, porque dali tinha mais visibilidade devido ser o ponto mais alto situado a meio navio. Ao sentar-me ouvi um estalido proveniente da quebra de um vidro da escotilha, alguns pedaços cairma no dormitório acordando os agentes que ali descansavam.
O Patrão ao ouvir o barulho, veio saber o que se passava e passou-me um raspanete, dizendo que eu teria que pagar o vidro. Mandou levantar ferro, e o designado para o fazer fui eu, não havia máquinas para o efeito e o ferro era levantado à força dos braços, seguimos para Macau, onde num estaleiro chinês mandou substituir o vidro, pagando eu a despesa. Depois tornamos a seguir para a zona de vigilância muito para lá do farol de Ká-Hó.
O navegador, pessoa bastante simpática e igualmente óptimo contador de histórias, durante o trajecto foi dizendo que durante a noite tinha visto, por várias vezes, sentado no convéns, um oficial da marinha inglesa, com enormes barbas fumando cachimbo. Era o espírito do antigo comandante da vedeta. Disse-me tamb;em que no alojamento do pessoal apareciam algumas almas de marinheiros ingleses, mas que não tivesse medo, pois não faziam mal.
Depois de um jantar de comida chinesa, mal confecionada, da qual não gostei, pouco comi, o Patrão determinou que eu ficasse de quarto até à 01.00 horas, acompanhando o agente de quarto, que fazia as vezes de cozinheiro, este ficou sentado na casa de leme e eu preferi ir para o convéns.
Estava enjoado e preferira ficar no convéns caso me desse vontade de vomitar, sem reparar sentei-me novamente em cima da escotilha partindo outra vez o vidro. Desta vez os agentes que se encontravam a descansar barafustaram comigo e o Patrão zangadissimo, disse-me que irria dar conhecimento ao Comandante.
Quando terminei o quatro de serviço recolhi ao alojamento mas nada dormi. No dia seguinte demos entrada na Dica D. Carlos I e o vidro foi substituído nas Oficinas navais, desta vez nada tive que pagar, mas, fui chamado à presença do Comandante onde levei um valente raspanete, tendo sido ameaçado de punição caso voltasse a criar problemas a bordo.
Para um novato como eu as coisas começavam da pior forma, nas lides marítimas.
- Continua -
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2 comentários:
Sabe bem recordar quando muito temos que nos orgulhar.
Aplaudo, amigo António.
Estimado Amigo e Ilustre Poeta Henrique Pedro,
É uma boa verdade, sabe bem recordar, e mais quando temos o orgulho, como muito bem referiu, de poder contar as vivências passadas num local cheio de pessoas incompetentes e corruptas, para dar a conheer essas vivências não é fácil, só aqueles, tal como eu, passaram por elas e sofreram a malvadez e mesquinhes dos homens.
Abraço amigo
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