o mar do poeta

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sábado, maio 26

MEMÓRIAS DE UM AGENTE EM MACAU - MAGALHÃES E O HIDROPLANADOR

O terminal marítimo do Porto Exterior era composto por duas pontes, uma, a grande, em cimento, pertencente ao governo onde laboravam as companhias de navegação Far-East e Shun Tak e uma ponte pequena de madeira, que servia a companhia de navegação Hong Kong Macao Hifroids.

Esta última era uma pequena ponte , montada sobre dois batelões, um servido de embarque e desembarque de passageiros e o outro de apoio aos Serviços de Emigração, desde se estendia um longo corredor de madeira que servia para a entrada e saída dos passageiros dos respectivos batelões para a avenida, na entrada junto à avenida havia uma pequena bilheteira seguida de um quarto onde durante a noite o agente da PMF pernoitava, bem como um bacão que servia de mesa de revista.

Era uma ponte sem o minímo de condições para os passageiros estarem, já que não havia sala de espera, mas sim somente um bar com algum espaço mas muito reduzido.

A companhia que explorava a ponte era, como referi a Hong Kong Macao Hidrofoils, possuindo uma frota de hidroplanadores, tal como que se pode ver na foto acima exposta, havia dois tipos, os maiores e dois pequenos. ainda estou recordado de alguns dos nomes dos mesmos, o Flamingo, Albatroz, Condor e Ibis entre outros.

Esta ponte embora não tivesse as condições ideais, tinha imenso movimento, cujas viagens começam às 07.00 horas e terminavam ao pôr, visto que nessa altura ainda os hidroplanadores não estavam providos de aparelhos de visão nocturna. As empresas de turismo de Macau utilizavam bastante este meio de transporte devido aos bilhetes serem mais baratos e efectuarem mais viagens.

No período das 15.00 às 16.00 horas havia em regra um maior afluxo de passageiros nas partidas para Hong Kong.

Devido às pequenas dimensões da ponte e às constantes avarias nos barcos, frequentemente geravam-se grandes confusões e até motins entre os passageiros.

Durante bastante tempo prestei serviço no terminal marítimo e nesta ponte, numa tarde, o senhor Magalhães, gerente da firma "Macau Tours" ainda hoje em actividade, acompanhava um grupo de turistas japoneses que regressavam a Hong kong na viagem das 15.00 horas.

A agnomeração na ponte era grande mas os passageiros lá se iam acomodando de qualquer maneira. O hidroplanador da viagem das 14.45 horas tinha avariado e o pessoal da companhia decidiu dar prioridade a estes passageiros, e ai começou a barafunda, já que o grupo de turista japoneses, que a Macau Tours tinha trazido , pretendeu embarcar, mas devido à lotação do hidroplanador  ter ficado lotada com os passageiros da viagem das 14,45 horas e da maioria dos turista japoneses, sete deles não poderam embarcar.

O senhor Magalhães, pessoa sempre afável e amiga,  a ver o que se estava passando, barafustou com os empregados da companhia, todos eles macaenses, tal como ele, queria que os seus clientes seguissem todos juntos, contudo a companhia não o quis ouvir dizendo que os restantes, eram sete, seguiriam na próxima viagem das 15.15 horas, mas o Magalhães não achava bem, e insistia para que seguissem todos no mesmo hidroplanador.

Eu e alguns empregados da companhia ainda tentamos convencer sete passageiros que já se encontravam no interior do hidroplanador para cederem os seus lugares para os turistas japones, mas foi em vão nosso pedido. A lotação estava esgotava e eram 15.00 horas, portanto o hidroplanador teria que largar da ponte e efectuar a viagem dentro do horário previsto.

Quando o capitão do hidroplanador pretendia fazer a manobra de largada, o senhor Magalhães, quando viu um funcinário da companhia se dirigir para o cabeço afim de largar o cabo da proa, ali amarrado, agarra o cabo não permitindo o hidroplnador de efectuar a manobra de desatracação. Criou-se então um impasse e cheguei a falar com o senhor Magalhães, dizendo-lhe que outro hidroplanador estava prestes a sair e os seus sete turistas podiam embarcar, devendo chegarem a Hong kong quase ao mesmo tempo.

Este porém mantinha-se firme agarrando o cabo. O capitão nada podia fazer, porque se invertesse a marcha o Magalhães seria arrastado para o mar e as co0nsequências podiam ser imprevisíveis.

A meu pedido o Subchefe do Posto, compareceu para falar com o senhor Magalhães, mas este não acatou o pedido formulado. O tempo foi-se passando e o outro hidroplanador aguardava o embarque dos sete turistas, como nada se resolvia aproximei-me do senhor Magalhães e dei-lhe ordem para largar o cabo, como não obedeceu à minha ordem fui obrigado a dar-lhe um pontente soco na face, o que fez com que largasse o cabo, podendo desta forma e sem perigo algum, o hidroplnador largar da ponte.

Ficou assim resolvido o assunto, o senhor Magalhães teve que resignar-se e os seus sete turistas lá embarcaram no outro hidroplanador que largou logo de seguida.

O caso não ficou por aqui, foi levantado mum auto de notícia por desrespeito às autoridades e procedimentos perigosos na ponte. Nada resultou desses autos, apenas a companhia de navegação foi multada por mau procedimento de controle e não cumprimento de horários.

Felizmente tudo terminou em bem e o senhor Magalhães, amigo da Polícia Marítima e Fiscal desde longa data, veio pedir-me desculpas pelo seu acto, atribuindo a culpa à companhia de navegação e prometendo não mais utilizar os seus serviços.

Mas não foi só este caso que aconteceu naquela ponte onde eu infelizmente me encontrava destacado, acontecimentos esses dois deles já relatados neste parco blog, Saco de Cobras e Dançarina de Hong Kong, e outros que se tentarei relatar.





6 comentários:

Jose Martins disse...

E eu ainda sou do tempo que passei nessa ponte e uma vez embarquei num barco que demorou umas três horas de Macau a Hong Kong e apanhar o avião!
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Belo tempo.... Macau ainda não estava poluído de progresso e poucos portugas se aventuravam a emigrar, a não ser os que tinha ficado por lá depois de cumprir a missão militar.
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A árvore das Patacas ainda estava em flor e as patacas viriam, em abundância, a partir de 1990....
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Muda-se o tempo,
Muda-se a vontade
Saudade que o vento
Vai levar para a eternidade!
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Recordar é viver o passado!
Abração

Prof.Ms. João Paulo de Oliveira disse...

Estimado confrade e amigo António Cambeta!
Estas crônicas do tempo que você estava sob a égide de Netuno nos possibilitam conhecer fatos e lugares com seu viés arguto e tarimbado!!!
Que a deusa da Memória o tenha como pupilo sempre!!!
Caloroso abraço! Saudações memorialistas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP

Henrique António Pedro disse...

Fico com pena de, nas minhas andanças pelo Império, nunca ter tido oportunidade de visitar macau. Agora o faço pela mestria da pena do amigo António.

Abraço

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo José Martins,
Nos anos 60'Macau era uma pequena aldeia, onde todos se conheciam, e onde os comerciantes até falavam o português.
Durante mais de 400 anos que Portual adminstrou Macau pouco ou nada fez, hoje Macau é aquele mundo que teve o prazer de conhecer.
Muda-se o tempo, muda-se a vontade é bem verdade.
Abraço amigo

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Confrade e Ilustre Prof. João Paulo,
Nos tempos que passei na PMF não só estava son a égide de Netuno, havia o deus diabo e outros deuses que com seus afiados arpões iam fazendo difícial a vida de todos aqueles que eram integros, mas tudo passou.
A deusa da Memória essa ainda me acompnaha de uma forma genial e com ela sempre vou aprendendo mais a cada dia que passa.
Grato fico por seu gentil comentário.
Abraço amigo

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo e Ilustre Poeta Henrique Pedro,
Felizmete conheci um pouco de Angola e de Moçambique antes de vir para Macau, que nesses anos era uma ainda uma pequena aldeia.
Estou tentando dar a conhecer como era Macau e como se vivia maqueles tempos, porém a minha escrita é pobre e parca, mas irei fazer o meu melhor.
Antes de conhecer a descrever a sério o que se passava dentro da Coporação da PMF, tentaria dar uma ideia do que era Macau,
Grato pelo seu gentil comentário.
Abraço amigo