o mar do poeta

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terça-feira, maio 31

O JOGO DO PIÃO E SUA HISTÓRIA




 

 

Pião

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Este objeto moderno representa o sistema natural em que os piões giram, sempre dependentes de um material que os una ao chão e que os permitam rodar.


Pião (ou pinhão, como é chamado em algumas partes do Brasil, em corruptela de pião; xindire, em Maputo; n'teco, em Nampula e mbila, no Niassa, em Moçambique) é o nome dado em português aos vários tipos de brinquedo que consistem, na brincadeira clássica e antiga, em puxar uma corda enrolada a um objecto afunilado, geralmente de madeira ou plástico e com uma ponta de ferro, colocando-o em rotação no solo, mantendo-se erguido. Atualmente, há novos materiais para piões e esses materiais permitem girá-los sem a utilização de uma corda.

Nos piões mais antigos, a corda é o intermerdiário que transmite a força motriz dos braços, fazendo girar o pião em movimentos circulares em torno do próprio eixo que, em equílibro, gira (por causa da inércia) até perder sua força e parar.

Os piões mais simples são feitos de plástico ou madeira e giram apenas com a força dos dedos (sem o auxílio e cordas ou molas), até pararem devido ao atrito com a superfície. Quanto mais rápido o pião estiver girando, mais equilibrado ele fica. Dependendo da superfície o pião pode não girar corretamente.

Ao longo da história, seu uso vem variando da mais simples brincadeira de criança até instrumento de adivinhação e xamanismo. De fato, acredita-se que esta brincadeira (jogo), de origem arcaica, está associada com rituais de adivinhação e interpretação de presságios em certas épocas do ano, utilizando-se o pião para recriar o movimento dos astros, dando possivelmente como fruto a perinola.

Para as comunidades hispânicas (e também do Japão e anglófonas) existe uma ligeira variante do pião, chamada de trompo, na verdade o mesmo pião com um corpo mais bojudo, cuja nomenclatura pode variar segundo o lugar e a época.

Existem também múltiplas denominações derivadas do termo "pião", consideradas incorretas em espanhol.

Nos países lusófonos, entretanto, é adotado o termo pião para designar este brinquedo.

Dave bearing freestyle.ogg
Freestyle.

Foi um dos brinquedos mais populadores e difundidos na América Latina e no sul da Espanha, sendo substituído gradativamente por jogos/brinquedos das novas gerações.

Sem dúvida, na tentativa de subsistir a tradição, os fabricantes de piões revolucionaram o conceito: atualmente encontram-se piões impulsionados por molas e métodos de fricção diferentes da corda. Novos modelos de piões, como o Beyblade e o Levitron, ainda possuem certa vigência no mercado e tem se desenvolvido uma estrutura em torno deles que vão das tradicionais brincadeiras até elaboradas competições freestyle.

 

História

A origem do pião é incerta ainda que se tenha conhecimento de sua existência desde o ano 4000 a.C., já que foram encontrados alguns exemplares, elaborados com argila, nas margens do rio Eufrates. Há vestígios de piões em pinturas antigas e em alguns textos literários que citam o brinquedo/jogo. É citado também nos textos de Marco Porcio Catón, político e historiador romano. Além disso, o pião aparece nos escritos de Virgílio, destacando-se em sua obra Eneida (século I a.C.).

Da mesma forma, se tem encontrado piões pertencentes à civilização romana. No Museu Britânico, é conservado o pião mais antigo do mundo, encontrado em Tebas e datado de 1250 a.C..


Pião de plástico nada convencional, que vinha gratuitamente numa promoção do Sucrilhos Kellog's.

A Platão o pião servia como metáfora do movimento e Aristófanes se confessava aficionado pelo objeto. O poeta romano Ovídio também menciona o pião em seus poemas. Aulus Persius Flaccus (34 - 62), outro poeta romano, dizia que "em sua infância teve mais afeição ao pião do que aos estudos".

Durante umas escavações realizadas em Tróia foram encontradores alguns piões feitos de barro e outros exemplares têm sido desenterrados em Pompéia.

Os romanos e os gregos tinham este elemento como brinquedo. No entanto, as culturas do Oriente - China e Japão - foram os responsáveis por sua introdução no Ocidente.



No Japão, adultos e crianças brincam (jogam) com o pião convertendo este aspecto lúdico a uma verdadeira arte e desta forma executam numerosos espetáculos, dentre estes destaca-se aquele em que, juntamente depois de lançar o pião, utilizando um tipo de fita para fazê-lo bailar na palma das mãos ou em tábuas duplas passando de uma a outra.

Também há diversos exemplares de piões no México e na Argentina que são testemunhos de sua permanência no tempo.

Alguns pintores têm utilizado piões como motivo em seus quadros, como o espanhol González Ruiz (1640 - 1706), que em sua obra Catedral de Toledo demonstra uma partida de piões. O pintor e gravador chileno, Pedro Lobos (1919 - 1968) utilizou em seus temas o pião. O alemão Manfred Bluth, em sua obra Quadro Familiar (1979), de óleo sobre lona, incorpora em primeiro plano um pião musical.

Poetas chilenos têm se inspirado neste brinquedo, como Homero Arce (1901 - 1977), Alejandro Galaz (1905 - 1938), que escreveu Romance de la infância ou trompo de 7 colores ("Romance da infância ou pião de sete cores", em português), Victoria Contreras Falcón (1908 - 1944) que escreveu Trompo dormido ("Pião adormecido", traduzido), ou ainda María Cristina Menares, com Danza del trompo multicolor ("Dança do pião multicolorido", traduzido), incluído em seu livro de poemas para crianças Lunita Nueva ("Luazinha nova", traduzido).

Cita-se ainda, o peruano José Diez Canseo que escreveu em seus Estamapas Mulatas em 1951 o conto El Trompo, onde narra como Chupitos, um menino de dez anos, joga o pião com seus vizinhos no bairro de Rímac em Lima.

Além disso, existem selos postais que representam este jogo no Brasil (1979), Argentina (1938), Suíça (1986), Espanha (1989) e Portugal (1989).

O pião tem sido considerado como um dos brinquedos mais populares e conhecidos entre os adolescentes até o final da década de 1980.

Atualmente, como a maior parte dos jogos tradicionais, está desaparecendo.

Graças ao aparecimento de outros tipos de piões como o beyblade e o levitron, ainda possui certa vigência na indústria de brinquedos.

Além disso, têm sido incorporadas novidades em seu desenho visando facilitar seu uso, como os PowerStart, que em sua parte superior possuem um aparato no qual é inserido um dispositivo dotado de um sistema que, ao ser retirado, produz uma força de giro no pião deixando-o cair, evitando o desgaste de ter que recolocar (enrolar) o cordão inúmeras vezes.

Brasil e Portugal

As tradições de jogo do pião e ainda mesmo em jogos de adivinhação, são bastante semelhantes nos dois países lusófonos, como demonstram os estudos dos portugueses Jaime Lopes Dias (Etnografia da Beira, VI, 166-167); Augusto César Pires de Lima (Jogos e Canções Infantis, 26-27) e Rocha-Mandahil que, na "Revista Lusitana" (vol. XXVI, Porto, 1927) registrou ter o Arcebispo de Braga e irmão bastardo de Dom João V, Dom Jorge (1703-1756) jogado de modo entusiasmado o pião; e do brasileiro Aluísio de Almeida (in: Revista do Arquivo Municipal, CVIII, São Paulo, 1946) – como regista o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo.

Interessante cantiga evoca o pião e sua capa (o barbante), cantada em Portugal:
Para andar lhe pus a capa
E tirei-lha para andar,
Que ele sem capa não anda,
Nem com ela pode andar,
Com capa não dança,
Sem capa não pode dançar;
Para dançar se bota a capa,
Tira-se a capa para dançar.
Teófilo Braga, in "Eras Novas" ("As Adivinhas Portuguesas", p. 254)
Também no Brasil uma adivinhação brota do desafio entre dois cantadores, onde Zefinha de Chabocão argüi a Jerônimo de Junqueira:
Gerome, tu pra cantar
Fizeste pauta c’o Cão…
Que é o passo que tem
Nos altos do teu sertão,
Que dança só enrolado
E sorto não dança não.
Dança uma dança firmada
C’um pá sentado no chão?
  • Sobre o caso do Arcebispo Dom Jorge, registou José Reis (1742):
«O pião, no qual se simboliza o ímpio e vingativo, é fabricado do coração do pau mais duro. Arma-se com ferro agudo enquanto o cingem: cingido com o cordel, parece um penitente. Com o ferrão para cima, mostra que se acautela de molestar com ele. Porém, tanto que o poder de algum braço lhe dá corda e impulso, vai como um raio, volta o ferro para terra, racha, fere e lastima, ficando tão satisfeito que, em giros, anda campeando; até que, nesta felicidade dormindo e ressonando, serenissimamente acaba a vida que, animada do impulso, lhe durava. Deste jogo, que é de Meninos, podem aprender os homens, especialmente sendo Príncipes, a não darem o seu poder para vinganças sem ofensas»

Terminologia

Sobretudo entre as crianças e nas diversas regiões e países lusófonos, alguns termos servem para complementar as denominações do pião. Seu diminutivo é piorra ou pitorra  - sendo que, em Portugal, a pitorra é um outro tipo de pião, que possui uma pequena haste, diferindo deste principalmente porque no pião o movimento só ocorre com um impulso, ao passo em que na pitorra são dados diversos impulsos.

No Brasil a pitorra lusa chama-se carapeta ou carrapeta.

Em Portugal, há ainda a piasca, que pode ser simplesmente um pião mais pequeno, usualmente para os jogos das meninas, ou um tipo diferente de pião, de tamanho reduzido e que se lança friccionando os dedos indicador e polegar, isto é, sem cordel (piasca pode ainda, no jogo do pião-das-nicas, referir-se ao pião que fica no centro do círculo, que vai ser "atacado" pelos outros piões).
A linha ou barbante de enrolamento chama-se, nalgumas partes, de fieira, capa, cordel.

O pião, quando se move com tanta velocidade que parece estar parado, diz-se estar dormindo, no Brasil.

Estrutura do pião

Corpo

O pião é um corpo que pode girar sobre uma ponta que se situa no centro gravitatório de forma perpendicular ao eixo (ângulo) de giro, equilibrando-se sobre a ponta graças à velocidade angular, que permite o desenvolvimento do efeito giroscópico. Normalmente, como foi dito anteriormente, é utilizado como brinquedo e já foi usado como instrumento em jogos de azar e para realizar profecias e outros rituais.

O efeito giroscópico permite que se mantenha sobre sua ponta até que o vetor peso (massa · gravidade) termina por se inclinar em relação ao eixo, provocando uma variação na localização do centro de gravidade. Isto provoca uma variação na trajetória de giro, que começa a descrever círculos propiciando a queda do pião. Desta maneira, a queda é diretamente proporcional ao mencionado ângulo e ao vetor peso, e inversamente proporcional à velocidade de giro.






Sendo:
  • g: Vetor gravidade.
  • m: Massa.
  • c.m.: Centro de massas.
  • r: Vetor distância entre o centro de massas e o ponto de apoio.
  • L: Vetor movimento angular da força.
  • θ: Ângulo de inclinação do pião perpendicular ao solo.
  • Φ: Ângulo percorrido durante o giro, pertencente ao vetor movimento angular.
  • Α: Variação.
Peonza.png

Portanto, com o passar do tempo, o atrito com o ar e sobre tudo com o solo, provoca que o giro vá se debilitando. Então, o centro de gravidade começa a se tornar mais instável de tal maneira que o pião começa a girar descrevendo círculos no terreno, até perder por completo o equilíbrio, atingindo a queda.

Material e fabricação

Tradicionalmente, os piões eram feitos por artesãos e construídos com madeiras duras (Crataegus monogyna, Citrus, azinheira ou buxo, dentre outras) com a finalidade de serem resistentes para suportar os golpes que recebiam durante os jogos. Também têm sido encontrados exemplares de piões feitos de argila de civilizações antigas com a de Tróia.

Também eram fabricados pelas próprias crianças, com madeira de Fagus sylvatica ou azinheira que talhavam toscamente, colocando neles por fim um pedaço de ferro como ponta. As crianças também faziam piões com frutas secas, que faziam ruídos ao girar devido as sementes que levavam dentro. As crianças guayaberas fazem piões pequenos feitos de noz de tucumã (Astrocaryum aculeatum).

Hoje, se massificou e sua fabricação se faz com diferentes tipos de madeira  e inclui materiais sintéticos onde se destacam diferentes tipos de plásticos, a fibra de carbono e outros polímeros, importados usualmente de países asiáticos como a China e Taiwan, além dos Estados Unidos nas Américas. Além disso, tem sido incorporado, para evitar danificações na colisão, filamentos que vão desde o neoprene ao aço, passando por todo tipo de plásticos na zona de maior diâmetro.

Desenho

Winding the trompo.ogg
Enrolando um pião.

O desenho do pião variou enormemente ao longo da história, diversificando-se segundo a região. Tradicionalmente, possuem forma cônica e são maciços, entretanto pode-se encontrar diversas características conforme a região. Considerando as particularidades existentes, o mais essencial no desenho do pião é que sua forma seja a adequada para propiciar o efeito giroscópico.

Considera-se que o pião propriamente dito mede em torno de seis centímetros de altura, por quatro centímetros de raio em seu diâmetro maior.

Entretanto, esse tamanho pode variar facilmente. Os piões alemães, mais grossos, têm às vezes quase cinco polegadas de diâmetro  ainda que os piões esculpidos possam ser menores Os piões "taguas" são mais achatados, permitindo uma maior estabilidade.

Cabe mencionar também que aqueles piões que carecem da incisão entre a ponta e o corpo para começar a enrolar a corda (em geral, aqueles para menores de sete anos) apresentam uma fenda com o mesmo objetivo no corpo do pião.

Ornamentação


Pião tradicional com desenhos de forma horizontal com faixas e com marcas no corpo cumprindo uma função meramente decorativa.

Pião sem ponta metálica e com corte transversal. A função das faixas é aprumar a corda enrolada e apresenta desenhos no plano superior.


A forma mais usual de personalizar o pião é pintando o corpo à mão, existindo todo um artesanato para sua ornamentação. Nos piões que apresentam um corte transversal na parte superior, podem-se encontrar no plano distintos desenhos mas, geralmente, é usual realizar desenhos de forma horizontal como faixas, que ao girar se "esfumaceiam" e fazem um curioso efeito multicolorido no pião. Esse conceito artístico do pião teve importância na América do Sul, utilizando-se motivos maias e astecas.

Atualmente, pode-se encontrar piões com luzes e outros produzem, ao girar, sons musicais entretanto, os novos materiais não permitem a facilidade de pintar em cima deles, mas ainda assim pode-se obter de múltiplas cores e com diferentes desenhos.

Cabe especial menção às marcas realizadas no corpo. Estas correm o perímetro do pião de forma paralela umas às outras. Normalmente de pouca profundidade, nada fazem senão cumprir uma função decorativa, entretanto, em alguns tipos de piões como aqueles que carecem de ponta, a função é sujeitar a corda enrolada para que não resvale sobre a superfície.

Ponta

O corpo do pião termina com uma ponta, sobre a qual se apoiará durante o jogo. Desta forma, o pião permanecerá de pé, sobre a mesma, algo impensável sem o efeito giroscópico, que permite que isso aconteça.


Nos Estados Unidos e na Europa a ponta determina a idade do usuário para a qual se dirige o jogo: para menores de sete anos são dirigidos uma série de piões sem ponta metálica, nos quais o corpo termina em forma de ponta, igualmente, mas sendo esta de materiais mais brandos. Este modelo conserva a fenda para enrolar a corda no corpo do pião, mas na zona de maior diâmetro, na qual se liga a totalidade do cordel, faixa sobre faixa.




A ponta, que é também chamada de pico, garrocha ou ponteiro ou ainda ferrão, é o grande elemento influente na normativa que regula o jogo, além de ser o elemento mais perigoso do objecto. Ademais, para maiores de sete anos, podem-se encontrar dois grandes grupos de pontas diferentes: as arredondadas e as pontiagudas, que são as mais comuns.
Com ponta incrustada
Aqueles que têm uma incrustação de metal dentro do corpo, na sua parte inferior observa-se um orifício para tal efeito. Neste último caso, a ponta consta de duas partes: uma que sobressai do corpo e cuja finalidade será converter-se em ponto de apoio do pião e receber o impacto contra o solo, e outra que fica dentro do corpo, e cuja finalidade será permitir que permaneça sujeita ao pião. Desta forma, o corpo contempla uma abertura pela qual se introduz a ponta ficando unicamente de fora a "ponta" propriamente dita.

Neste último caso, a ponta costuma ter um desenho no qual existe uma fenda entre o corpo e a parte que sobressai, denominada espiga, que serve de apoio quando se começa a enrolar a corda, facilitando a tarefa.

É de notar que é normal ocorrer, nas pontas incrustadas, que depois de severos impactos se acabe "metendo a ponta", desaparecendo a dita fenda, impedindo o pião de jogar de novo.
As pontas incrustadas costumeiramente são metálicas (aço ou ferro, normalmente) e podem ser observados dois grandes grupos:
  • Ponta de grão ou ponta achatada. É a ponta do pião que tem forma arredondada. A sua forma permite que seja mais difícil que ele se enterre em terrenos em terrenos moles, ou que se introduza dentro do corpo do pião, mas aumenta a rotação diminuindo a duração do efeito rotativo. Além disso, resulta em clara desvantagem na hora de realizar jogos, como o parte-piões (em Portugal: pião das nicas), apesar de que, por outro lado, faz com que o pião seja mais seguro e que danifique menos o chão.
  • Ponta afiada ou ponta de ferro. Em contraposição com a ponta de grão, esta é mais pontiaguda, sendo considerada mais agressiva. Assim, tende a enterrar-se mais nos terrenos moles, a danificar o solo e, ao receber todo o impacto sobre um mesmo ponto, costuma furar mais facilmente o corpo. As vantagens que apresenta são uma diminuição da rotação, ao estar em menor contacto com a superfície e é claramente mais letal no jogo do parte-piões.
Sem ponta incrustada
Os que não possuem ponta incrustada dançam no extremo do corpo, que obviamente termina em forma de ponta, como que um prolongamento do pião, pelo que costumam ser feitos por inteiro do mesmo material (ainda que possam ser feitos com um material um pouco mais resistente na ponta). É o modelo próprio para menores de sete anos, segundo a normativa norte-americana e europeia. Este modelo conserva a fenda para enrolar a corda em redor do corpo, mas numa zona de maior diâmetro, na qual se liga a totalidade do cordel, banda sobre banda.

Corda

A corda, também conhecida como cordel, fio, cordão ou laço, é o elemento que, depois de enrolado no pião, ao atirá-lo, permite imprimir-lhe a força necessária que desenvolverá o efeito giroscópico. Quanto maior a rapidez ao lançá-lo, mais rápido será o movimento giratório.

O cordel costuma medir entre 30 centímetros e meio metro.

Para evitar que o cordel se escape da mão, na hora de lançar, é usual atar-se no extremo do fio, um troço de madeira, uma arandela, um clip, ou, o mais comum, uma moeda pequena furada, as quais, aproveitando-se o seu furo, introduzia-se o cordel e fazia-se um nó para que ficasse preso, assim conseguía-se ao lançar o pião, o objeto entre os dedos do lançador, evitando que a corda fosse lançada também.

Existe uma nova variante que prescinde do cordel tradicional, os PowerStart, que na parte superior possuem um engate no qual se insere um dispositivo que faz com que ao lançar o pião, imprime uma força giratória no pião, deixando-o cair, evitando o incômodo de usar o cordel.

Funcionamento

Para lançar o pião, o primeiro passo é ligar a corda em redor do corpo do pião. Coloca-se o cordel de forma paralela ao pião, sujeitando-o com o dedo polegar e com a outra mão começa-se a enrolá-lo perpendicularmente, formando camadas paralelas, de tal maneira que se cubra toda a superfície do pião. Para isso apoia-se uma fenda existente na ponta do corpo, que permite deixar a corda esticada, enquanto se enrola.

Basic throw.ogg
Reproduzir vídeo
Lançamento do pião.


No momento prévio ao lançamento, sujeita-se o corpo do pião na palma da mão e agarra-se o extremo do cordel entre os dedos indicador e polegar, com força para que o fio não escape durante o lançamento. Imediatamente antes de o lançar, coloca-se o dedo indicador na parte superior do pião e o dedo polegar na ponta.

Finalmente lança-se o pião e seguidamente puxa-se o cordel para trás. Este lançamento pode fazer-se de pé ou com o corpo encurvado, o que reduz o impacto contra o chão. Da mesma forma, pode fazer-se com a ponta virada para baixo, e com um movimento horizontal gira-se o braço, ou ainda com a ponta virada para cima, cima uma sacudida vertical do braço, até baixo.

Ao puxar o cordel para trás, exerce-se força, que se traduz num movimento angular ou cinético que faz com que o pião gire sobre si mesmo. Finalmente a ponta bate no solo e graças ao efeito giroscópico, que faz com que o pião gire, converte-se no centro de gravidade do corpo, permitindo que o pião "dance".

O efeito giroscópico permite que o pião se mantenha sobre a sua ponta até que o vetor peso (massa · gravidade) acabe por ter uma inclinação com respeito ao eixo, provocando uma variação na localização do centro de gravidade. Isto provoca uma variação na trajectória de rotação que começa a descrever círculos propiciando a queda do pião. Desta maneira a queda é directamente proporcional ao mencionado ângulo e ao vetor peso, e inversamente proporcional à velocidade de rotação.

Jogos

A partir do momento em que desenvolveu a técnica de fazer o pião girar, surgiram vários jogos, com vários níveis de dificuldade. Seguidamente são mencionados os mais tradicionais e conhecidos.

Individuais

Wire Walker.ogg
Ponte ou teleférico.
Skyrocket.ogg
Fazendo o pião girar na palma da mão.
  • Ponte ou teleférico: Com uma mão, agarra-se os dois extremos do cordel e estica-se. Na ponte que é formada, faz-se o pião "dançar". Ao levantar uma das duas mãos pode-se inclinar o cordel de tal maneira que o pião deslize.
  • Fazê-lo "dançar" na mão: Pode-se fazer com que o pião gire em cima da palma da mão. Outra forma é dar-lhe um golpe certeiro e fazer com que salte em cima da palma da mão onde está..
  • Lançamento ao ar: consiste em lançar o pião e antes que este atinja o chão e a corda se desenrole totalmente, se o traga de volta até à mão, fazendo com que o pião fique a rodar ali.
  • Deslizamento: Enquanto o pião gira, com a ajuda do cordel movimenta-se o pião de um lugar para outro.
  • Lançamento: Enquanto o pião gira no chão, enrola-se o cordel ligeiramente à sua ponta e puxa-se para cima. Nisto, o pião salta e vai cair, continuando a girar, seja no chão ou na mão.

Coletivos

  • Sacar objetos: Forma-se um círculo no chão, em cujo centro coloca, cada jogador, uma bola-de-gude, outro pião, ou mais usualmente, uma moeda, e depois de cada um lançar o seu pião, recolhe-se o mesmo na mão e tenta-se lançá-lo contra uma das moedas (ou outro objeto) a fim de a tirar do círculo, repetindo a operação enquanto o pião continuar girando. Quem consegue tirar a moeda do círculo, fica com ela. Quando o pião deixa de girar, passa a ser a vez de outro jogador.
  • Parte-piões (pião das nicas): Forma-se um círculo no chão, em cujo centro se coloca um pião, contra o qual se lançam os outros piões com a finalidade de destruí-lo. O jogador que falhar o "tiro" terá de substituir o pião do centro (o pião das nicas, ou piasca) pelo seu próprio.
  • Parte-piões, de maior dificuldade: Forma-se um círculo no chão e um dos participantes tem de lançar o seu pião, ficando este girando no centro do círculo. O outros jogadores lançam os seus piões contra esse que gira no centro. Quando o pião para de girar, precisa de ficar fora do círculo, para que o dono o recolha. Se não ficar fora do círculo, passa a ser a "vítima" e apenas poderá sair com os golpes ou choques dos outros.
  • Tira-piões: Forma-se um círculo no chão e os participantes precisam de atirar o seu pião a fim de ele ficar girando dentro do círculo. O pião que acabe por sair do círculo, por causa do impacto com os outros piões, perderá.

Tipos de pião

Pião tradicional, ou bearing

Piões maiores do que os piões tradicionais lhes proporciona uma maior estabilidade.


Considera-se como o pião propriamente dito, e mede cerca de seis centímetros de altura, por quatro centímetros de raio no seu diâmetro maior.

É o pião mais comum, feito tradicionalmente de madeira, artesanalmente, embora hoje em dia seja fabricado, muitas vezes, com materiais sintéticos entre os quais se destacam vários tipos de plásticos, a fibra de carbono e outros polímeros, importados usualmente de países asiáticos como China, Taiwan ou Estados Unidos. Foi também incorporado, para evitar danos na colisão, materiais que vão do neoprene ao aço, passando por todo tipo de plásticos na zona de maior diâmetro.
Pião alemão
O pião alemão é feito de madeira de azinheira ou de buxo e são ocos. Os piões alemães são mais largos, chegando a medir quase onze centímetros de diâmetro na zona de maior perímetro. Na lateral possui uma abertura redonda, bastante ampla. Possui um prego largo, de ponta redonda que mede quase 5 centímetros, e é da grossura de um dedo. Faz-se girar com um cordel, como os piões tradicionais.
Pião pequeno
É um pião diminuto, que se faz com pequenos cocos de palmeiras.
Pião coot
Assim se denominam os piões mais achatados. Serem assim proporciona-lhes mais estabilidade.
Pião sede e pião peixe-ruivo
O pião sede é aquele que apresenta ponta redonda e suave, ao contrário do pião peixe-ruivo, que apresenta uma ponta afiada e rugosa. Este termo também se aplica àqueles piões com ponta torcida ou desnivelada.

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Hoje, o articulista, através de sua nétinha, regessou ao tempos de sua infância, não para brincar ao jogo do pião, aquele que, aquando criança, brincava com seus amigos, em sua terra natal, Évora, não era desses piões, que precisavam de usar gita, e que se faziam torneios de luta com os mesmos.


Este que minha nétinha têm é um pião moderno, tal como se podem ver nas fotos.


O piso onde o pião irá girar

O pião girando, como se pode ver, tem até uma proteção, caso o pião tende em sair.

A máquina, tipo pistola, para o arremesso do pião


Este jogo, moderno, do pião, tem algumas variantes, podendo-se escolher os tipos de piões e seus efeitos, coisas dos japoneses, desta forma, embora bizarra, o jogo do pião, na nova vertente, não esquece o jogo do pião antigo, e foi isso que mostrei a minha nétinha, como o avô jogava, nos seus tempos de infância.


A caixa com todos os apetrechos para o jogo do pião, moderno.

Mudam-se os tempos, mas na memória de muitos o velho pião continua bem vivo, e continua sendo transmitido às novas gerações.

SINETES



Quando o articulista chegou a Macau, nos anos de 60s, o sinete era muito usado, pelos residentes chineses, eles o usavam, em documentos oficiais e nos bancos, visto não saberem escrever o seu nome.

Outros o faziam, em documentos oficiais, e continuam a ser usados para autenticar obras de arte, tais como em porcelanas e pinturas.

Muitos destes sinetes são autênticas obras de arte.



Sinete como impressão

São usados em convites de festividades como casamentos, aniversários e festas em geral.Geralmente, para deixar o convite mais decorado, se usa um tipo de cera dourada ou escarlate, no qual é impressa com sinetes cheios de enfeites e paquifes com as iniciais dos casais ou aniversariantes.



 
Sinetes orientais

Chamados de hanko e yinzhang no Japão e na China, os sinetes orientais possuiam como emblema caracteres orientais, eram fabricados geralmente com madeira, bambu, pedra sabão e até jade. Não eram impressos em cera, mas em nanquim retirado de glândulas de polvos e lulas. Tinham também animais do zodíaco chinês dependendo da ocasião. São os predecessores do bloco de madeira chinês.



O articulista, no longínquo ano de 1966, madou fazer um sinete, em Jade, com  seu nome em chinês, porém, nunca o utilizou, o mantêm como peça decorativa, visto ser vistoso, tem uma cabeça de Leão na parte superior do mesmo.





A base é o nome do articulista, KAM MEI TA


Um vaso chinês


A sua autenticidade.

Fila para se deitarem num caixao

Fila para se deitarem num caixao

Artigo publicado, hoje, no Jornal Correio da Manhã.



O articulista em 21 de Março de 2009, tinha postado em seu blog, um artigo sobre este rito budista, tal como se poderá ver no link abaixo inserido.


http://cambetabangkokmacau.blogspot.com/2009/03/orando-dentro-de-urnas.html



Fotos tiradas pelo articulista

segunda-feira, maio 30

ESCULTURA ORIGINAL


Uma peça bem original, apresentada na Feira de Arte em Hong Kong

Fonte - Jornal South China Morning Post - Hong Kong

sábado, maio 28

REVOLUÇÃO DE 28 DE MAIO DE 1926

 

 

Revolução de 28 de Maio de 1926

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Gomes da Costa e as suas tropas desfilam vitoriosos em Lisboa (6 de Junho de 1926).


A Revolução de 28 de Maio de 1926, Golpe de 28 de Maio de 1926 ou Movimento do 28 de Maio, também conhecido pelos seu herdeiros do Estado Novo por Revolução Nacional, foi um pronunciamento militar de cariz nacionalista e antiparlamentar que pôs termo à Primeira República Portuguesa, levando à implantação da auto-denominada Ditadura Nacional, depois transformada, após a aprovação da Constituição de 1933, em Estado Novo, regime que se manteve no poder em Portugal até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.

A revolução começou em Braga, comandada pelo general Gomes da Costa, sendo seguida de imediato em outras cidades como Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e Santarém. Consumado o triunfo do movimento, a 6 de Junho de 1926, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, Gomes da Costa desfila à frente de 15 mil homens, sendo aclamado pelo povo da capital.

 

Os antecedentes

Implantada a 5 de Outubro de 1910, a Primeira República Portuguesa cedo deu sinais de instabilidade e de progressiva degradação das suas instituições. Para além das aventuras sidonistas, eram constantes os rumores e as ameaças de golpe.

Nos primeiros anos da década de 1920, terminada a Grande Guerra, a instabilidade cresceu: para além dos governos se sucederem a um ritmo alucinante (foram 23 os ministérios entre 1920 e 1926), os atentados bombistas e a forte actividade anarco-sindicalista criavam no país um clima pré-insurreccional que fazia adivinhar um fim próximo para o regime.

O princípio desse fim anunciado ocorreu a 19 de Outubro de 1921, apenas 11 anos após a implantação da República, quando, na sequência da demissão do governo presidido por Liberato Damião Ribeiro Pinto, o protector da Guarda Nacional Republicana, então a guarda pretoriana do regime, e a sua posterior condenação a um ano de detenção (confirmada a 10 de Setembro de 1921 pelo Conselho Superior de Disciplina do Exército), um conjunto de militares ligados àquela força policial, a que se juntaram militares do Exército e da Armada, se sublevou.

A sublevação desembocou na chamada Noite Sangrenta, o assassinato por um grupo de marinheiros e arsenalistas sublevados de algumas das principais figuras da República. O coronel Manuel Maria Coelho era o chefe da sublevação. Acompanhavam-no Camilo de Oliveira e Cortês dos Santos, oficiais da Guarda Nacional Republicana, e o capitão-de-fragata Procópio de Freitas.

Sem possibilidade de resistência, o governo presidido por António Granjo apresentou a sua demissão a António José de Almeida, tendo Granjo procurado refúgio em casa de Francisco Pinto da Cunha Leal, o líder do ala esquerda do republicanismo e próximo da liderança do movimento revolucionário. Descoberto, foi levado ao Arsenal da Marinha, o centro revolucionário, e abatido a tiro.

O mesmo aconteceu a diversas outras figuras gradas da política republicana, incluindo o almirante Machado Santos, o comandante José Carlos da Maia e o coronel Botelho de Vasconcelos, todos raptados por uma camioneta fantasma que percorreu Lisboa naquela noite.

A somar aos efeitos políticos e sociais da Noite Sangrenta, ao longo dos anos de 1924 e 1925 a crise agudiza-se, com um crescendo do sentimento de insegurança e da instabilidade política. Os atentados bombistas sucedem-se, com ataques que por vezes são semanais.

A carestia de vida, afectando essencialmente o operariado, fortemente mobilizado pelas correntes anarco-sindicalistas, provoca manifestações, como a de 22 de Fevereiro de 1924, que frequentemente descambam em violência e confrontos, como os ocorridos nos Olivais, Lisboa, a 28 de Maio daquele ano.

Entre os militares vive-se um crescendo de sublevações e de indisciplina. Bem exemplificativo deste ambiente é a revolta da aviação: os militares aviadores aquartelados na Amadora sublevam-se na noite de 3 para 4 de Junho de 1924, depois da demissão do respectivo comandante. São cercados por tropas de Queluz, mas só no dia 7 aceitam render-se, graças à acção do general Bernardo Faria que entra no campo, desarmado e acompanhado por oficiais de várias unidades militares.

Logo a 14 de Julho registam-se confrontos entre militares, envolvendo o Exército e a Guarda Nacional Republicana, a que não estão alheias movimentações anarco-sindicalistas e de tendência fascista, anunciando o jornal A Época, a 13 de Agosto de 1924, nova tentativa golpista, desta vez um assalto ao forte da Ameixoeira que teria sido preparada por um comité integrado por João Lopes da Silva Martins Júnior, que desejava como chefe Gomes da Costa. Insinuava-se então que o golpe visava pôr o partido radical no poder e que o futuro ministro do trabalho seria José Carlos Rates, secretário-geral do Partido Comunista Português.

A 28 de Agosto de 1924 é abortada nova sublevação, desta feita no castelo de São Jorge, onde são presos oito comunistas e um radical.

Os tumultos prosseguem um pouco por todas as zonas urbanas onde existisse operariado, aparecendo constantemente novas organizações e uma crescente violência.

A revolta de 18 de Abril de 1925

Considerado o primeiro ensaio do 28 de Maio de 1926, depois de boatos de uma tentativa de revolta monárquica a 5 de Março, no dia 18 de Abril de 1925, dá-se nova revolta militar, desta feita de grande magnitude e envolvendo, pela primeira vez desde 1870, oficiais generais no activo.

A revolta, que teve o apoio da Cruzada Nun’Álvares, era de carácter nacionalista e assumiu claras semelhanças com o golpe de Primo de Rivera em Espanha.

Envolveu pelo menos 61 oficiais, tendo, entre os líderes militares Sinel de Cordes, Gomes da Costa, Raul Augusto Esteves e Alfredo Augusto Freire de Andrade, e, entre os conspiradores civis, Antero de Figueiredo, Carlos Malheiro Dias, José Adriano Pequito Rebelo e Martinho Nobre de Melo.

Seguindo um plano operacional que já se podia considerar clássico, pelas 17 horas do dia 18 de Abril, os revoltosos ocupam a Rotunda, com o batalhão de metralhadoras, o batalhão de sapadores de caminhos-de-ferro e a artilharia de Queluz. No dia seguinte Sinel de Cordes vai ao Quartel do Carmo tentar a conciliação.

Entretanto os jornais O Século e o Diário de Notícias são suspensos e Cunha Leal, que não teria qualquer ligação com o episódio, é preso. Para o jugular do golpe teve especial destaque a acção do Ministro da Marinha, o almirante Pereira da Silva. Dominado o golpe e, pelo menos momentaneamente, restaurada a legitimidade democrática, a 21 de Abril é exonerado o Ministro da Guerra Ernesto Maria Vieira da Rocha, que defendera que se parlamentasse com os revoltosos.

A partir deste momento a situação precipita-se e logo a 19 de Julho dá-se nova revolta, desta vez tendo à frente o comandante José Mendes Cabeçadas e Jaime Baptista.

É decretado o estado de sítio, mas Jaime Baptista, que estava detido no Forte de São Julião da Barra, consegue evadir-se e assalta o Forte do Bom Sucesso, enquanto Mendes Cabeçadas revoltava o cruzador Vasco da Gama.

A muito custo a revolta é dominada por forças fiéis ao governo, comandadas por Agatão Lança, resultando um único ferido em combate (o capitão Armando Pinto Correia), sendo os implicados presos e julgados, mas rapidamente libertados e reintegrados, tal era a falta de autoridade das instituições da República.

Os momentos finais da Primeira República

Ainda decorriam as investigações e julgamentos das tentativas anteriores e já ocorriam novas ondas de boatos e movimentações. Era claro que Gomes da Costa e Mendes Cabeçadas não desistiam e um golpe vencedor estava para breve.

Com a generalidade dos militares, e a maior parte da classe política, inconformados com a situação política de descrédito e ruína nacional, conspirava-se febrilmente, com Gomes da Costa aliciando altas patentes do Exército para aquilo que considerava a necessária arrancada patriótica que restaurasse o orgulho nacional.

Quando António Maria da Silva, a 18 de Dezembro de 1925, toma posse como Presidente do Conselho do 23.º governo desde 1920, era claro que a Primeira República vivia os seus últimos dias, já que todos os sectores de opinião, incluindo os velhos republicanos e os democratas e socialistas, aspiravam por estabilidade e segurança.

Esse sentimento era agudizado pelo reconhecimento que, um pouco por toda a Europa, as forças pró-ordem pública cresciam e na vizinha Espanha a ditadura de Miguel Primo de Rivera, depois da vitória de Alhucemas e da criação do Directório Civil, parecia ter êxito crescente, servindo de exemplo para a ansiada regeneração nacional.

As tentativas de golpe militar sucedem-se, e logo a 1 de Fevereiro de 1926, em Almada, nova tentativa, agora encabeçada por Martins Júnior e e pelo antigo Ministro da Instrução Pública Manuel de Lacerda de Almeida. Os convites a Gomes da Costa para encabeçar a regeneração nacional já vinham do princípio do ano anterior e adivinha-se a sua presença crescente nas movimentações. Crescia o desejo de que ele fosse, finalmente, o chefe ansiado.

O movimento do 28 de Maio

O golpe de estado de 28 de Maio de 1926 iniciou-se como mais um levantamento, dos muitos que já tinham surgido no seio da Primeira República Portuguesa, coincidindo com um momento crítico para o governo presidido por António Maria da Silva.

Embaraçado pela crónica má gestão do monopólio dos tabacos, um problema que já afligia os governos portugueses desde a fase final da monarquia constitucional, o governo decidira a 25 de Maio deixar de representar-se na Câmara dos Deputados, cortando os últimos laços com a legitimidade parlamentar. Como afirma um observador da política da época: o governo, inegavelmente, saía mal ferido da contenda, porque diminuído no seu prestígio. Mas o parlamento dir-se-ia quisera suicidar-se.

No ambiente de frenética intriga política que se vivia, os boatos de golpe desde há muito que corriam, sendo seguro que existiam múltiplos convites ao general Gomes da Costa para este dirigir um golpe, como sempre regenerador, que salvasse a Pátria.

Como entretanto em Braga se preparava para o dia 28 de Maio um Congresso Mariano, que congregaria naquela cidade as principais figuras do conservadorismo católico, entre as quais Cunha Leal, quando se soube que Gomes da Costa tinha para ali partido, ficou claro que o golpe estava eminente e que o seu epicentro seria naquela cidade.

Preparando o terreno, Cunha Leal logo no dia 27 organiza em Braga um almoço com apoiantes e discursa no Bom Jesus, criticando severamente o Partido Democrático que acusa de outrora ser obediente à ameaça do chicote de nove rabos do Dr. Afonso Costa, mas que então já nem sequer tinha um chefe e é um instituto tresmalhado.

Quanto ao que restava do campo nacionalista, afirma que nem toda a mole ambição do sr. Ginestal Machado, nem todas as intrigas do sr. Pedro Pita, nem todo o maquiavelismo do sr. Tamagnini Barbosa são susceptíveis de inspirar confiança à nação, sendo um mero organismo parasitário. É neste dia, depois deste discursos inflamado, que chega à cidade, pelas 22:00 horas, o general Gomes da Costa, vindo expressamente para assumir o comando do golpe.

Conforme havia sido acordado, logo no dia imediato, 28 de Maio de 1926, pelas 6:00 da madrugada, inicia-se a sublevação militar, com acompanhamento e apoio civil, incluindo do operariado da região, organizando-se uma coluna que parte sobre Lisboa. Coincidência, ou talvez não, na organização e na forma de mobilização há muitos traços comuns com a marcha sobre Roma, que a 28 de Outubro de 1922, pouco mais de três anos antes, levara à institucionalização do fascismo em Itália.

Seguindo o tradicional modelo do golpismo militar português, a partir de um pronunciamento na periferia, neste caso em Braga, o movimento repercute-se por todo o país com um grande número de unidades militares a proclamar logo nesse dia e ainda maior número no dia seguinte, 29 de Maio, a sua adesão ao golpe. Em Lisboa, verdadeiro alvo do movimento, uma Junta de Salvação Pública lança um manifesto que Mendes Cabeçadas se apressa a entregar a Bernardino Machado, o cada vez mais isolado Presidente da República.

Logo a 29 de Maio, a guarnição de Lisboa adere em massa ao golpe de Gomes da Costa, já sob a liderança de Mendes Cabeçadas, que com Armando Humberto da Gama Ochoa, Jaime Baptista e Carlos Vilhena formam a revolucionária Junta de Salvação Pública. Nesse mesmo dia os sublevados obtêm o apoio de Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, o temido comandante da polícia da capital. Nessa tarde, isolado e sem meios ou vontade de resistência, o governo de António Maria da Silva apresenta a sua demissão a Bernardino Machado.

Consumada a demissão do governo, a 30 de Maio Bernardino Machado convida Mendes Cabeçadas a formar governo. Este aceita e assume as funções de presidente do Ministério, acumulando interinamente todas as outras pastas.

Igualmente nesse dia, Francisco Joaquim Ferreira do Amaral é nomeado governador civil de Lisboa, consolidando a tomada efectiva do poder na capital. Perante a estabilidade conseguida e ultrapassado o risco de confrontos, Gomes da Costa dá ordem a todas as forças militares golpistas disponíveis para avançarem sobre Lisboa. Estava concluída a fase militar do pronunciamento.

A vertente civil prosseguiu com igual celeridade: nomeado o governo, a 31 de Maio Mendes Cabeçadas manda expedir, significativamente através da secretaria do Ministério da Guerra, a ordem para se encerrar o Congresso da República Portuguesa. Era o fim oficial do parlamentarismo português. Perante a afronta, isolado e sem meios de resistência, nesse mesmo dia Bernardino Machado resigna, entregando a chefia do Estado a Mendes Cabeçadas.

Nesse mesmo dia, numa declaração que retrata bem o espírito que se instalara em Lisboa, o major Ribeiro de Carvalho, apelava na imprensa a que se repetisse o modelo da Regeneração de 1851, com uma política ampla e de generosa conciliação nacional, ao mesmo tempo que salientava que a vitória da revolução é, antes de mais nada, um triunfo da opinião pública.

Os revoltosos venceram porque ninguém estava disposto a sacrificar-se por um governo que não traduzia os votos da nação.

Aparentando não ter um projecto claro de tomada do poder, o general Gomes da Costa, ainda em Coimbra na sua marcha sobre Lisboa, anuncia a 1 de Junho a formação de um triunvirato por si presidido, incluindo Mendes Cabeçadas e Armando Humberto da Gama Ochoa. Contudo, numa primeira cisão, Gama Ochoa retira-se, recusando a solução.

Entretanto, de vulgar golpe militar, o movimento iniciado a 28 de Maio tinha-se transformado numa vastíssima coligação mestiça de republicanos conservadores, monárquicos e nacionalistas revolucionários com um núcleo de jovens oficiais, apoiado e aceite por todos os sectores sociais e pela esmagadora maioria dos portugueses.

A 3 de Junho as tropas de Gomes da Costa chegaram a Sacavém de comboio e entraram em Lisboa sem sabotagens, nem resistência. Gomes da Costa prefere aguardar a formação de governo estável e a preparação de uma marcha triunfal antes de entrar em Lisboa e dirige-se para a Amadora, onde permanece com o seu estado-maior.

Entretanto, nesse mesmo dia 3 de Junho, em Lisboa Mendes Cabeçadas organiza o novo governo, entregando a Gomes da Costa as pastas da Guerra e interino da Marinha e Colónias. Para as Finanças escolhe António de Oliveira Salazar, para a Instrução Pública, Joaquim Mendes dos Remédios, para a Agricultura, Ezequiel Pereira de Campos e para a Justiça, Manuel Rodrigues Júnior.

Três dos ministros escolhidos (Mendes dos Remédios, Manuel Rodrigues e Oliveira Salazar) são professores da Universidade de Coimbra, tendo por isso ficado jocosamente conhecidos pela Tuna de Coimbra.

Mas a incerteza é grande, estando cada vez mais clara que a solução bicéfala Gomes da Costa-Mendes Cabeçadas é insustentável. Daí que os ministros da Tuna de Coimbra decidam, a 4 de Junho, fazer uma primeira paragem na Amadora, onde permanece Gomes da Costa, para conhecerem a real intenção do novo poder.

Desse encontro resulta que Mendes dos Remédios e Manuel Rodrigues prosseguem para Lisboa e tomam posse, mas Oliveira Salazar, mais timorato, volta para Coimbra no dia seguinte.

Preparado cenário, a 7 de Junho o general Gomes da Costa toma posse das pastas para que fora nomeado e comanda um impressionante desfile militar de vitória ao longo da Avenida da Liberdade. Desfilam 15 000 homens perante o aplauso de centenas de milhar de pessoas. Está terminada a marcha sobre Lisboa e o novo poder está completo nas suas vertentes militar e civil.

A estabilização no poder e as lutas internicinas

As consequências da estrutura bicéfala do poder e excessiva abrangência da coligação mestiça não permitiam uma agenda comum.

O governo presidido por Mendes Cabeçadas, que era simultaneamente o chefe de Estado, já que fora nele que resignara Bernardino Machado, não era compatível com a liderança real, ou pelo menos esperada, do general Gomes da Costa, o herói do 28 de Maio e o comandante da Parada da Vitória que tinha percorrido a Avenida da República a 7 de Junho. Daí que as tensões e as lutas fratricidas entre os novos senhores do poder não se fizessem esperar.

Desde logo Mendes Cabeçadas, revolucionário de uma linha moderada, julgava ainda ser possível constituir um governo que não pusesse em causa o regime constitucional, mas apenas livrasse Portugal da nefasta influência do Partido Democrático.

No entanto, os demais líderes do movimento, entre os quais Gomes da Costa e Óscar Carmona, julgavam-no como sendo incapaz de liderar a desejada regeneração e, no fundo, o último vestígio do regime constitucional da Primeira República. Foi assim que após uma reunião dos revoltosos no seu quartel-general em Sacavém, realizada a 17 de Junho de 1926, o comandante Mendes Cabeçadas foi forçado a renunciar às funções de Presidente da República e de Presidente do Ministérios a favor do general Gomes da Costa.

Era um golpe palaciano que punha fim à bicefalia do novo regime e dava novo passo em direcção à direita conservadora, afastando-o mais da herança parlamentar o regime anterior.

Mendes Cabeçadas parte para o exílio.

Nesse mesmo dia 17 de Junho Gomes da Costa toma posse como Chefe de Estado e como Presidente do Ministério, assumindo interinamente todas as pastas. Estas solução leva a que logo a 19 de Junho seja formado um novo Ministério, presidido por Gomes da Costa, tendo como ministros no Interior, António Claro, nas Finanças, Filomeno da Câmara de Melo Cabral, na Marinha e Colónias, Gama Ochoa, na Instrução Pública, Artur Ricardo Jorge, na Justiça, Manuel Rodrigues Júnior e nos Negócios Estrangeiros, António Óscar de Fragoso Carmona.

Apesar da constituição de novo governo e do afastamento de Mendes Cabeçadas, a instabilidade cresce e logo a 6 de Julho dá-se uma remodelação do gabinete, com Gomes da Costa a assumir a pasta do Interior, Martinho Nobre de Melo a dos Negócios Estrangeiros, e, por apenas algumas horas, João de Almeida na Marinha e Colónias.

A remodelação falha e cria-se um corrupio de nomeações e demissões que leva algumas horas mais tarde, a nova recomposição, com a substituição de António Claro, Óscar Carmona e Gama Ochoa, logo substituídos por Gomes da Costa, Martinho Nobre de Melo e João de Almeida.

Esta trapalhada governativa leva a que os ministros não atingidos pela recomposição, à excepção de Filomeno da Câmara, se declarem solidários com os restantes e o governo efectivamente colapsa. As forças mais conservadoras, agora lideradas por Óscar Carmona, assumem a liderança e a 8 de Julho o general Gomes da Costa é feito prisioneiro no Palácio de Belém, sendo posteriormente transferido para Caxias e Cascais, onde aguarda, sob prisão, a sua deportação para Angra do Heroísmo, nos Açores. A revolução acabava de destruir o seu principal obreiro e criador.

A 9 de Julho é a vez de António Óscar Fragoso Carmona formar governo, no qual acumula a Presidência do Conselho com a pasta da Guerra. Pouco mais de um mês depois da revolta, o 28 de Maio encontra finalmente uma linha de força no grupo conservador e nacionalista liderado por Óscar Carmona.

A coligação mestiça entra num processo de rápida perda de abrangência e começam a predominar os que sonham imitar a experiência de Primo de Rivera e o fascismo mussoliniano. Apesar disso, tudo ainda era possível: desde um regresso mais ou menos musculado à ordem republicana até à própria instauração de um novo regime, já que o regime ainda se resumia a uma ditadura militar periclitante, à mercê de todas as conspirações e golpes.

A primeira intentona dá-se a 11 de Julho, a partir de Chaves, com a sublevação do capitão Alfredo Chaves, a qual foi prontamente jugulada. No mesmo dia, Gomes da Costa parte para o exílio em Angra do Heroísmo. Fechava-se o ciclo, e o a partir daí o regime caminharia inevitavelmente para a direita, para a censura e para a progressiva supressão das liberdades cívicas que ainda sobreviviam.

Os democratas e a esquerda radical ficavam reduzidos ao reviralho e aí permaneceriam até 1974.

O Reviralho

Ficou conhecido como Reviralho, ou Reviralhismo, o conjunto de movimentos resultantes directa e indirectamente da acção política desenvolvida pela oposição republicana, democrática e liberal, entre os anos de 1926 e 1940.

Neste período, mas mais fortemente entre 1926 e 1931, enquanto o ímpeto insurreccional da década anterior não se esbatia e a ditadura não ganhava raízes, o Reviralhismo constituiu-se como a mais importante frente de combate à Ditadura Nacional e, depois de 1933, ao nascente Estado Novo.

Depois de 1931, o reviralhismo foi perdendo força, acabando por desaparecer a partir de 1940, em parte devido à consolidação do Estado Novo e em parte devido ao ambiente social e político criado pela Guerra Civil de Espanha e pelo advento da Segunda Guerra Mundial, o qual desaconselhava aventuras insurreccionais.

Outro forte contributo para o termo do reviralhismo resultou do repatriamento, em 1939 e 1940, dos principais líderes reviralhistas, em particular dos que se haviam fixado em Paris e que agora eram obrigados a capitular e regressar a Portugal face ao alastrar da guerra na Europa.

Com o fim do reviralhismo entrou-se num longo período de estabilidade político-institucional que apenas seria quebrado pelos acontecimentos que levaram ao 25 de Abril de 1974.

Da Ditadura Nacional ao Estado Novo

Estado Novo
Bandeira da União Nacional
História de Portugal
Consolidada a vitória do golpe, as forças vitoriosas, comandadas pelo general Gomes da Costa montado no seu cavalo, desfilam a 6 de Junho de 1926 pela Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Recebem então o aplauso da esmagadora maioria do lisboetas, cansados da instabilidade e traumatizados pelos constantes golpes e contra-golpes e pelos atentados terroristas que ao longo de toda a década se tinham sucedido a um ritmo alucinante. Era mais uma vez a recorrente regeneração nacional que se perfilhava no horizonte qual luz ao fim do túnel em que a desacreditada Primeira República Portuguesa desembocara.

Em consonância com os tempos que se viviam na Europa, o novo poder assumiu-se como antiparlamentar, atribuindo as culpas do caos que se instalara no país à política partidária e ao jogo do parlamentarismo. Assim, assume-se como uma ditadura militar, que em pouco tempo se passou, em desafio claro ao parlamentarismo democrático, a auto-denominar a Ditadura Nacional, encarnando um regime militar progressivamente mais autoritário.

Numa das suas primeiras medidas, o general Gomes da Costa dissolveu o parlamento, instituição então muito vilipendiada e acusada de ser principal causador da instabilidade política, e suspendeu as liberdades políticas e individuais. No entanto, a nova ditadura era instável porque o movimento militar não tinha projecto político definido e não conseguiu resolver os problemas económicos.

Para resolver a situação económico-financeira, o novo regime, em 1928, convidou o professor coimbrão António de Oliveira Salazar para assumir as funções de Ministro das Finanças. Salazar passou a anunciar um milagre financeiro, com o equilíbrio das finanças públicas e estabilidade do Escudo português, ganhando um progressivo domínio sobre a estrutura política, e depois militar, do novo regime.

Em consequência, foi nomeado Presidente do Conselho de Ministros (Primeiro-Ministro), em 1932. Com esta nomeação, em linha com o crescente peso do nacionalismo e do fascismo na Europa, o regime foi-se estabilizando e ganhando um pendor cada vez mais autoritário e repressivo, organizando-se como um Estado corporativista.

Foi assim que iniciado como mais um levantamento no seio da Primeira República Portuguesa, o golpe de 28 de Maio de 1926 veio originar o Estado Novo, um sistema político autoritário, antidemoliberal e anticomunista, nacionalista e corporativista, no contexto de uma lógica formalmente republicana que era concretizada, no dizer do manifesto da União Nacional de 1930, na ideia de uma República Nacional e Corporativa.

A transição completou-se com a aprovação da Constituição de 1933, a qual institucionalizou o Estado Novo, o herdeiro natural de Revolução Nacional, nome pelo qual o golpe de Estado do 28 de Maio de 1926 foi rebaptizado, regime que se manteria com poucas mudanças até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.