Missionário português (c.1520-1570) nascido em Évora e falecido em Setúbal. Votado à vida missionária, viajou por várias terras, entre as quais Goa, Malaca, Camboja e China. Nas suas viagens de pregação, ia fundando conventos dominicanos.
Regressou a Portugal em 1569, época em que Lisboa vivia uma terrível epidemia. Frei Gaspar da Cruz teve um papel relevante no combate à peste, mas veio a contrair a doença, que o levou à morte. Deixou uma obra, publicada nesse mesmo ano, que constitui precioso testemunho da atividade dos dominicanos no Levante.
Segundo Rui Manuel Loureiro, Doutor em História e Investigador, no seu artigo publicado no Livro DITEMA, Dicionário Temático de Macau, da Universidade de Macau, relata:
Frei Gaspar da Cruz terá nascido em Évora, em ano não se consegue apurar, sendo mais tarde, também em data incerta, admitido no Covento de Azeitão da ordem dos Pregadores.
Partiu para o Oriente em 1548, integrado num grupo de missionários Dominicanos, dedicando-se durante cerca de seis anos ao trabalho apostólico no litoral hindustânico. Em 1554 encontrava-se em Malaca, fundando uma casa da sua Ordem, e demorando-se na cidade até Setembro do ano imediato, pois nesta data embarcou num navio de mercadores portugueses com destino ao reino do Cambodja.
O incansável missionário permaneceu durante cerca de um ano em território cambodjano, viajando um pouco através do reino, mas em Dezembro de 1556 estava já no litoral da China, tendo oportunamente conseguido autorização para visitar Cantão, onde estanciou durante cerca de um mês.
Apesar de se terem gorado por completo os seus eventuais projectos de missionação, pois a China permanecia então fechada aos estrangeiros, com excepção precisamente do porto de Cantão, Frei Gaspar não perdeu tempo, e parece ter aproveitado ao máximo a sua curta estada no litoral chinês, calcorreando exaustivamente toda a cidade, observando ruas, casas e templos, trocando impressões com gente oriunda de variados estratos sociais, frequentando andiências dos mandarins, avaliando hábitos e costumes, documentando-se sobre práticas culturais e religiosas, enfim, recolhendo preciosas informações sobre os mais variados aspectos da realidade chinesa.
Paralelamente, o nosso Dominicano entrevistou portugueses bem experientes em assuntos chineses, "pessoas dignas de fé", como ele próprio referirá, chegando mesmo a obter uma cópia de "um compêndio de um homem fidalgo que cativo andou pela terra dentro". Frei Gaspar referia-se ao trabalho de Galiote Pereira, antigo prisioneiro que chegara a Sanchoão em finais de 1552 ou princípios do ano seguinte, depois de passar vários anos em prisões chinesas.
Em princípios de 1557 estava novamente de partida, e, depois de escalar Malaca, inicou um périplo pela Insulíndia, visitando nomeadamente o porto de Macassár, antes de regerssar ao litoral do Industão, quase três anos mais tarde.
Passou ainda por Ormuz, antes de embarcar em Goa, em 1564, com destino a Portugal. Viria a falecer anos mais tarde, em Setúbal, vítima de uma virulenta epidemia de peste que ajudava a combater.
Em Fevereiro de 1570, duas semanas após a morte de Frei Gaspar da Cruz, o impressor André de Burgos publicava em Évora o célebre Tratado das Cousas da China, que era a primeira monografia exclusivamente dedicada ao Celeste Império a conhecer na Europa as honras da impressão.
A escolha da oficina tipográfica parece sugerir que o missionário, após o regresso do Oriente, se teria estabelecido no mosteiro eborense da Ordem de São Domingos. E aí, o padre Dominicano procedera a uma exaustiva compilação dos materiais sobre a China até então reunidos pelos portugueses.
O relato de Frei Gaspar, de uma forma brilhante, sistematizava as notícias, as imagens e as vivências resultantes de um longo, e nem sempre pacífico, convívio lusitano com a realidade chinesa. A obra do nosso autor, contudo, não se destacava apenas pela riqueza do conteúdo, pelo rigor da informação e pela variedade das fontes utilizadas, já que o Tratado das Cousas da China é atravessado do princípio ao fim por uma atitude de flagrante simpatia em relação às realidades sínicas.
O missionário, ao longo de muitas páginas, elogia quase sem medida a eficácia das formas de governo, a imparcialidade da justiça, a exemplaridade dos castigos, o respeito pelas hierarquias, a habilidade manual extrema, que desenvolve as soluções mais inesperadas para os problemas da vida quotidiana, a caridade e a benevolência das instituições de assistência, o apurado ordenamento urbano, a organização meticulosa do sistema produtivo, etc.
Enfim, a China é apresentada aos leitores da obra como um verdadeiro modelo social, digno da maior admiração e interesse, que apenas é manchado pelo facto de os chineses viverem na "ignorância da verdade", totalmente apartados da "fé de Cristo".
O Tratado das Cousas da China parece ter conhecido alguma circulação além fronteiras, pois vários escritores estrangeiros a ele se referirão em anos subsequentes, os mais célebres dos quais seriam talvez Bernardino de Escalante, autor de um Discurso de la navegación de los portugueses (Sevilha, 1577) e Frei Juan Gonzáles de Mendoza, autor da celebérrima História de las cosas más notables, ritos y costumbres del gran reino China (Roma, 1585.
Interessante artigo do Doutor e Investigador Histórico, Rui Manuel Loureiro.
Por ter despertado a atenção do articulista, visto ser igualmente natural de Évora e conhecer o percurso efectuado pelo Frei Graspa da Cruz, irá o articulista tentar encontrar nas bibliotecas de Macau o livro do Tratado das Coisas da China, ou então, encomendar à livraria, livros Cotovia, mas aqui fica um extrado do livro:
A obra do missionário dominicano, que foi a primeira monografia impressa na Europa sobre o Celeste Império, para além de sistematizar de forma magistral todo um conjunto de notícias que haviam sido recolhidas pelos nossos navegantes ao longo de várias décadas de intensos contactos luso-chineses, transmitia também os resultados das indagações levadas a cabo pelo autor em Cantão, por ocasião de uma breve visita efectuada àquela metrópole.
O Tratado que agora se reedita, desta vez em versão modernizada e em formato de bolso, destaca-se pela incrível riqueza de conteúdo, pelo enorme rigor documental e pela variedade das fontes utilizadas.
Além do mais, Frei Gaspar da Cruz, sintetizando toda uma corrente de opinião então existente em Portugal, apresenta uma imagem extraordinariamente positiva da China e dos chineses, que, no seu modo de ver, superam todos os outros povos asiáticos «em multidão de gente, em grandeza de reino, em excelência de polícia e governo, e em abundância de possessões e riquezas».
Frei Gaspar da Cruz foi um dos muitos religiosos portugueses que no século XVI passaram ao Oriente.
Após um curto período de trabalho evangélico em diversos estabelecimentos portugueses do litoral ocidental da Índia, iniciou um largo périplo pela Ásia marítima, que o conduziu nomeadamente a São Tomé de Meliapor, a Malaca, ao Camboja, a Cantão, às Celébes e a Ormuz.
É provável que o incansável viajante, no cumprimento de ordens dos seus superiores, estivesse na realidade a efectuar um levantamento sistemático das possibilidades de missionação que se abriam aos dominicanos em terras orientais.
Por volta de 1564 regressou a Portugal, tendo provavelmente fixado residência no Alentejo.
Nos anos seguintes, aproveitando elementos colhidos durante as suas deambulações asiáticas, Frei Gaspar da Cruz dedicou-se à composição de um extenso Tratado das cousas da China, que seria publicado em Évora, em 1570, pelo impressor André de Burgos.
2 comentários:
Muito interessante e informativo como sempre.
Desconhecia.
Boa noite!
Passando para uma visita!
Boa semana!
Saudações,
Carla
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