o mar do poeta

o mar do poeta

o mar do poeta

o mar do poeta

terça-feira, junho 16

VULTOS MARCANTES EM MACAU - BOCAGE




  • Filho do Dr. José Luís Santos Barbosa e de Maria Joaquina Xavier Lestof du Bocage, o poeta Manuel Maria Barbosa do Bocage nasceu em Setúbal em 15 de Setembro de 1765. Em Abril de 1786, embarcou para a Índia como guarda-marinha.




  • Chegou a Damão a 7 de Abril de 1789, indo como tenente para o regimento de infantaria do Terço; no dia seguinte desertou, indo para Surrate. Daqui partiu para Macau, mas um tufão forçou o navio a arribar a Cantão, donde veio para Macau.


  • O governador Francisco Xavier de Mendonça Corte Real faleceu a 16 de Julho de 1789, sucedendo-lhe como governador interino o desembargador Lázaro da Silva Ferreira. Foi este quem repatriou Bocage para Lisboa, aonde chegou em Agosto de 1790, vindo a falecer em Lisboa a 21 de Dezembro de 1805.




  • É provável que tivesse partido de Surrate num naviio inglês, que um tufão arrastou para Cantão, como ele diz:


Por bábaros sertões gemi vagante

Até que os mares da longínqua China.

Fui por bravos tufões arrebatado.


Na elegia à morte do Príncipe D. José, lamenta-se:


E mais mísero eu, que habito no remoto Cantão...

Misérrimo de mim que em terra alheia...




Que fazia ele nesta "terra alheia" ?




... a vasta, a fértil China

Fofa de imaginátia antiguidade,

Pelo seu pingue sei

Te viu com lasso pá vagar mendigo.






  • É provável que tivesse acolhido a uma das feitorias estrangeiras dessa cidade, possívelmente à inglesa. Dali veio para Macau, onde foi acolhido pelo comerciante Joaquim Pereira de Almeida, a quem dedicou uma elegia em que diz: "Ó tu, meu benfeitor, meu caro amigo". Além desta, escreveu aqui três odes: - "A Esperança, oferecida em Macau a D. Maria de Saldanha Noronha e Meneses; outra a D. Maria de GUadalupe Topete Ulhoa Garfim; e a Lázaro da Silva Ferreira, desembargador da Casa da Suplicação e Governador interino de Macau. Presumimos que Bocage estivesse em Macau desde Setembro ou Outubro de 1789 a Março de 1790, em que partiu para Lisboa. A razão é a seguinte. Ele compôs em Cantão uma elegia à morte do príncipe D. José. Ora este faleceu a 11 de Setembro de 1788, mas a notícia só chegou a Macau a 15 de Setembro de 1789 e a Cantão pela mesma altura. Bocage, chocado com a notícia, lamenta-se:


Triste povo! E mais mísero eu, que habito

No remoto Cantão, donde, Ulisseia,

Não pode a ti voar meu débil grito!




  • Deve ter oartido pouco depois para Macau. ora como ele chegou a Lisboa em Agosto de 1790 e as viagens demoravam 5 meses, deve ter partido daqui em Março desse ano, graças ao seu benfeitor Lázaro da Silva Ferreira.


Macau honrou a sua memória dando o seu nome à Rua do Bocage.




(Artigo extraído do livro VULTOS MARCANTES EM MACAU do Padre Manuel Teixeira)

=================================================================






  • A Goa que Bocage encontra é muito diferente daquela que Afonso de Albuquerque conquistou e que se tornou o mais importante centro comercial do Oriente. Seus governantes se vangloriam do seu luxo e riqueza, mas tudo isso é apenas aparente porque Goa está em franca decadência, o império está falido e a corrupção toma conta dos seus habitantes. Tudo isso deixa o poeta indignado como se pode ver no fragmento do soneto abaixo.


"Das terras a pior tu és, ó Goa,

Tu pareces mais ermo, que cidade;

Mas alojas em ti maior vaidade

que Londres, que Paris, ou que Lisboa"




  • Bocage, nos 28 meses que ficou em Goa, entrega-se a novos amores e pratica uma intensa vida boêmia. Vida essa que o deixa acamado por algum tempo. Depois de recuperado, toma parte, em prol da causa portuguesa, na "Conspiração dos Pintos", manifestação dos goeses com a intenção de expulsar os europeus do seu solo.Devido a participação nessa luta, Bocage é promovido a tenente de Infantaria e, a 14 de março de 1789, é transferido para Damão.




  • No entanto, o poeta permanece pouco tempo nesse lugar, porque ele deserta da Marinha Real, logo em seguida, e segue para Macau. Vale lembrar que nessa época a deserção não era considerada uma falta tão grave, como nos dias de hoje.Durante a viagem seu barco é atingido por um ciclone e ele acaba aportando em Cantão. Ali, apesar da vida ter-lhe sido muito dura, Bocage obtem meios para chegar a Macau, onde generosamente é acolhido por um comerciante local que o apresenta ao Governador e esse o auxilía no regresso a Portugal.


Retrato próprio


Magro, de olhos azuis, carão moreno,


Bem servido de pés, meão na altura,


Triste da facha, o mesmo de figura,


Nariz alto no meio, e não pequeno.



Incapaz de assistir num só terreno,


Mais propenso ao furor do que à ternura;


Bebendo em níveas mãos por taça escura


De zelos infernais letal veneno:



Devoto incensador de mil deidades


(Digo, de moças mil) num só momento,


E somente no altar amando os frades:



Eis Bocage, em quem luz algum talento;


Saíram dele mesmo estas verdades


Num dia em que se achou mais pachorrento.


Bocage


Nenhum comentário: