Tinhamos já tudo preparado, os nossos alojamentos ficavam no Convento de Santa Clara, no dia 3 nos deram uma folga, e eu, conhecendo bem a cidade, na qual tinha imensos amigos, vesti-me à civil e com eles fui confeternizar.
Parámos em Évora para que a Companhia de Caçadores 691 embarcasse, nós os Sargentos e Oficiais fomos autorizados a desembarcar, por minha parte tinha a minha querida mãe, minha irmã Rosalina e a minha namorada, que ali se tinham deslocado para de mim se despedirem.
Fui uma despedida emociante para os meus familiares e para a minha namorada.
Deles me despedi e a minha namorada a beijei fortemente, foi a última vezes que a beijei e a vi, pois volvidos são quase 45 anos sem notícias dela.
Deixamos então Évora e prosseguimos a viagem até Lisboa. Como estava super cansado e emocionado, me fui deitar, só acordando quando a automotora chegou ao cais de embarque, em Alcantra.
Ali desembarcamos, tendo as duas companhias, um pelotão da Polícia Militar e mais al;guns militares, formado no cais, tendo sido proferido um discurso por um membro do governo, e sido benzidos pelo Cardeal de Lisboa.
Eu, assim que o navio largou do cais, subi ao mastro prncipal, e lá do alto fazia os últimos adeus.
Os Sargentos ficaram alojados em camarotes de segunda classe, os Oficias em camarotes de primeira classe, enquando as praças, seguiam nos porões, onde improvisadamente foram montadas duas casernas.
O camarote que me calhou e que era repartido por quatros Furrieis, ficada junto a um refeitório, e foi-nos dado a escolher a ir ali tomar as refeições ou ir-mos tomalas no salão principal, preferimos o que estava junto ao nosso camarote, pois lá poderiamos estar mais à vontade e sem necessidade de ir-mos com o uniforme de gala.
Durante a viagem a instrução continou a ser ministrada, porém, com muitas baixas devido ao enjoo.
Eu também enjoei, mas não era um enjoo provocado pelo balanço do navio, mas sim do forte cheiro do gasóleo.
A viagem até Luanda decorreu óptimamente.
NAVIO PRINCIPE PERFEITO
O navio India, tinha sido fretado pelo exército, e transportava imensa carga e material bélico, que se destinava às tropas em Angola e Moçambique.
Quando navegavamos já na costa de Angola nos cruzámos com o navio Princepe Perfeito, e volvidos dois dias, atracavamos nós ao cais de Luanda, treze dias depois de termos deixado Lisboa.
Eu, como tinha passado mal em termos de alimentação, embora tivesse feito sempre um esforço, para manter alguma comida no estomago, estava desejando de poder desembarcar.
Assim que nos foi permitido, lá fui eu, vestir-me com as vistosas roupas que tinha comprada na Lanalgo, calçando uns sapatos de calfe, fui o primeiro a descer o comprido portaló, qundo o fazia, os saltos dos sapatos se prenderam a uma ripa das escadas, tenho arrancado os saltos, que apanhei e guardei no bolso das calças.
No cais e junto`ao portaló, estavam dois miliares da Polícia Militar, corpolentos e fortemente armados. O cabo não me deixou prosseguir o meu caminho, pedindo-me para ficar junto dele até um dos meus familiares desembarca-se, pois pensava ele, ser eu filho de algum Sargento ou Oficial.
Na rua defronte do cais havia um restaurante e o aromático cheiro da comidas me entraram pelas narinas, aguçando-me o apetite, foi então, que saquei da carteira e me identifiquei ao Cabo, este e seu colega, se puseram em sentido e me cumprimentaram militarmente e pedindo-me desculpa.
Dali sai, em direcção ao restaurante, mas ainda ouvi o Cabo dizer para o seu colega "porra, agora em Portugal, já utilizamos putos para a guerra".
Nas calmas fui disfrutando daquela bela comida, que me ia caindo no estomago maravilhosamente bem.
Comi ainda um pudim de flan, bebi uma bica e uma Maceeira. Ao pedir a conta fui atendido pelo patrão do restaurante, nesse momento, alguns militares da minha companhia entravam no restaurante, e o patrão a eles foi atender, perguntando-lhes se desejavam trocar escudos de Portugal, por angolares!..
Após ter feito a troca dos escudos, meu atender e fazendo-me a mesma pergunta, o câmbio era óptimo, como tal paguei a despesa dando uma nota de 500$oo escudos, o almoço tinha ficado em 35$00, tenho recebido de volta 550$oo, o que quer dizer, tinha comido de borla e ainda ficava com mais 50$oo, fiquei super contente, só depos vim a saber que os angolares só eram aceites em Angola!...
Dali sai percorrendo toda a baixa de Luanda, havia muitas prostitutas portuguesas que ofereciam os seus serviços por 50$oo, nada quis com elas, continuando o meu percurso pela baía de Luanda e ali encontrado o Santana, meu colega de camarote, e com ele ainda o resto dia.
Visitamos cubatas, assistimos a um tiroteiro travado por militares pertuguses e alguns rebeldes, ali se senti que nos encontravamos em guerra. O movimento de viaturas militares era uma constante.
Regressamos ao centro de Luanda, os bares e cafés estavam repletos de militares e o ambiente era pesado. Depois de jantarmos, num bar regressamos a bordo.
No dia seguinte, na companhia de algumas camaradas, nos aventurámos a passear pela cidade onde fizémos algumas compras, bebemos umas Cucas, regressando ao navio, onde jantámos.
Na manhã do dia seguinte e sendo ainda possuidor de alguns angolares, sai e fui fazer compras, pois os angolares depois de sair de Luanda para nada serviriam. Aproveitei a comprar algumas peças de artesanato e também um enome cacho de bananas, que me custou 2$50 escudos, cacho esse deu ofertei a alguns militares da companhia a que eu pertencia.
Nessa mesma tarde o India deixava o cais de Luanda e rumava para Lourenço Marques.
O mar começou a ficar fortemente escrespado à medida que iamos dobrando o Cabo da Boa Esperança, que ao longe se avista, e nesse momento os Lusíadas me vieram à mente, fazendo-me recordar o Adamastor e os perigos por que passaram os marinheiros portuguses, para o passar.
Dobrado o Cabo, deixamos para trás a história e o oceano Atlântico e entravamos numa outra história, agora já no oceano Indico.
Volvidos uns dias atracava o India, ao movimentado porto de Lourenço Marques, cidade esta onde tinha familiares e sabiam da minha chegada nesse dia.
Tendo autorização para desembarcar, não o fiz de imediato, visto ficar a aguardar pela vinda de um meu familiar. O Sargento Pimentel, que tinha frequentado as Pupílas do Exército tenho por essa altura tido poe companheiro um primo meu, disse-me que assim que o avistasse no cais me informaria.
Porém, volvidas cerca de duas horas e com não aparece-se qualquer familiar, na companhia de mais dois colegas, reslvemos desembarcar e ir conhecer a cidade.
Quando seguiamos perto do Restaurante Marialva, na principal avenida da cidade, reparei que estavamos a ser seguidos por um individuo que não tirava os os olhos de nós e ora passava para a nossa frente ou seguia trás de nós, o que me levou a comentar com meus colegas, que o tal indivíduo que nos vigiava devia ser marisca!...
Foi por essa altura, que o tal indivíduo se dirigiu a mim perguntando-me se era o Tói Cambeta. Esse individuo era afinal um dos meus primos, logo ali nos abraçamos, despedi-me de meus camaradas e, com o meu primo segui para sua casa.
A vivenda onde moravam ficava na zona de Polama, era uma moradia enorme, bonito e com uma vista maravilhosa, ali fui encontrar seus pais, ambos meus primos direitos, ficando a conhecer também o primo mais novo. Nesse dia em casa deles jantei, depois me levaram a uma igreja Baptista e lá tive qur ouvir a missa, nunca tinha entrado numa igreja protestante e isso me impressionou imenso. Depois da missa me levaram até ao cais, onde passei a noite no meu camarote no navio India.
No dia seguinte, o meu primo me veio buscar, tendo-se repetido os mesmos factos do dia anterior e sendo-me ofertada uma Biblica na qual escreveram a seguinte dedicatória: "Ao António Com desejos de felicidades e de bençãos espirituais durante a tua comissão de serviço. Com um abraço do primo Rui Cambeta - Lourenço Marques 29/8/64 ", Bíblia essa que já não sou possuidor, mas cuja dedicatória passei para uma Bíblia católica que me foi ofertada em Macau por uma madre amiga.
No dia seguinte deixamos Lourenço Marques rumando até à cidade da Beira, onde atracamos no seu mui concorrido porto, nesta cidade tinha um tio, que sabendo da minha chegada me foi esperar e com ele fui almoçar nesse primeiro dia, pois ficámos na cidade da Beira quatro dias. O meu teve a amabilidade de me mostrar a cidade, mas por deveres profissionais, depois se ausentou para Lourenço Marques, tendo eu e alguns colegas passeado pela cidade, e pela primeira vez na minha vida exprimentei a comida chinesa, na Beira havia muito comércio chinês e indiano e restaurantes era o que não faltavam.
Podemos disfrutrar de algumas Laurentinas bem geladinas, na esplanada de alguns cafés, em Portugal o acompahamento da cerveja era feito ou com amendoins ou tremorços e tinha-se que pagar por isso, porém na Beira o acompanhamento era outro e de borla, um prato de camarões de Moçambique.
Gostei da estadia naquela bem movimentada e bonita cidade.
Dali seguimos para Nacala, lá bem no norte de Moçambique, a entrada era composta por duas imensas baías lindissimas, ainda não tinha sido construído o porto, e o navio India ficou atracado a uma muralha.
Nacala era pequenina povoação constituída apenas por três ruelas, mas possuia dois cafés e um diminuto posto dos correios.
Em Nacala ficámos dois dias, na primeira noite sai com dois soldados amigos e fomos jantar num dos cafés, onde a maioria dos seus clientes eram naturais de lá e se encontravam junto ao balcão emborcando copos de aguardente.
Foi quando estavamos jantando que um jovem moço negro, simpático, a nós se dirigiu pedindo esmola, nada lhe demos, mas o convidamos para jantar conosco.
Ficou radiante o nos disse chamar-se António, e tinha imensa pena em não ter sido alistado para o exército, devido à sua baixa estatura. Depois de bem comidos e na companhia do António, fomos tomar um café no outro local, estre frequentado por portuguses, sentamo-nos na esplanada do lado esquerdo da entrada para o vistoso café que tinha duas enormes montras em vidro.
Como o local ali, não tinha uma iluminação em condições, nos mudados para outra mesa sita do lado direito da entrada do dito café, assim, com mais lumisidade lá estava eu a escrever alguns postais ilustrados, quando sairam do café dois portuguseses, entrando de seguida na viatura que tinham estacionada junto à mesa onde tinhamos estado sentados. Os dois portugueses deviam ter abusado das bebidas alcoólicas, e em vez de farem marcha à trás, seguiram em frente levando à sua frente a mesa e cadeiras onde momentos antes tinhamos estado, partindo o enorme vidro da montra e entrando no café.
Um dos empregados lá esteve a barafustar com os dois portugueses, dizendo-lhes que o prejuízo era avultado, e terei que aguardar uns dias por um novo vidro, até lá teria que ficar ali de vigilia, visto que, durante a noite podia ser assaltado ou ter a visita dos leões, que se passeavam por ali.
Os dos portugueses riparam da carteira e entregaram um avultado números de notas, prometendo que no dia seguinte trariam um novo vidro, pois eram pilotos da Força Áerea que se encontra nas imediaçãoes de Nacala. Nos. nem bebemos o café com o susto que apanhamos, e seguimos até ao diminuto posto dos correios para enviarmos os postais.
Tencionavamos regressar a bordo, quando o António nos convidou a irmos conhecer umas amigas deles, jovens, que moravam numa cubata na selva não muito longe dali.
Aceitámos o convite e lá seguimos o António. A cubata era grande, limpa, com três quartos, logo apareceram 3 belas moças, que se ofereceram para serem nossas lavadeiras, agradecemos o convite e as informamos que nós no dia seguinte seguinte seguiriamos para Macau, o que as deixou tristes. Eu não ia fardado, mas sim envergavas roupas civis, os meus amigos sim, iam fardados. O António então nos surgeriu para passarmos ali a noite na companhia de suas amigas, eu diclinei o convite porém os dois meus amigos tratram logo de escolher a companheira, então eu não tive outra alternativa e fiquei com a dona da cubata, uma jovem bonita, de 16 anos, chamada Maria da Conceição e com ela lá fui para o quarto, mas antes entreguei ao António o meu casaco, o qual continha uma cateira com os meus documentos, dinheiro, um maço de cigarros e um isqueiro.
Não havia iluminação electrica a única luz que havia era oriunda de algumas velas, segui para o quarto com a moça, ela teve o cuidado de apagar a vela, pois não queria que os vizinhos a visse comigo e lá foi dizendo que era a primeira vez que dormia com um branco!...
Bem, eu naquela escuridão só lhe via os dentes imaculadamente brancos e por vezes com o reflexo do luar seus bonitos e luzidios olhos. Ali estivemos fazendo amor, pela primeira vezna minha vida tinha tido relações com uma negra, mas adorei a experiência. Ela toda cuidasosa me lavou a perceito, e eu, desejando fumar um cigarro fui até à sala e lá estava o António de pé, segurando o meu casaco tal como o tinha deixado horas antes.
Passado pouco tempo os dois soldados meus amigos a nós se vieram juntar, e ali bebemos um forte e aromatico café feito pela Conceição.
Indagando quanto tinha a pagar a Conceição, com lágrimas nos olhos triste pela nossa partida disse que nada tinhamos a pagar, fui quando retirei da carteira todo o dinheiro que tinha, que era ainda alguns, talvez uns 350$00 moçambicanos, tendo-os dado à Conceição, o qual repartiu com as amigas. O António tinha dado já 100$oo e os meus amigos deram o que possuiam, pouco mais de 50$oo, tendo as moças e o António se ajoelhado a nossos pés agradecendo, despontava já o sol, quando nos embralhamos na selva de regresso a Nacala.
Quando chegamos ao navio que largaria nessa mesma manhã, fui repreendido pelo Comandante da Companhia, pois andavam preocupados conosco, visto termos sido os únicos a não termos passado a noite a bordo.
O António, esse povre diabo, no cais ficou fazendo-nos adeus até que o navio zarpou.
Agora com a navio sem carga quse alguma, o balancear era mais forte, o mar por vezes estava bravo e as ondas eram enormes causando mais enjoos entre o pessoal.
A viagem dorou quse quatro horas, já entrando no porto exterior de Macau no ar pairava um cheiro a peixe salgado, que nos entrou pelas narinas dentro, o ar era pesado e a imensa humidade se fazia sentir, estavamos em Macau, onde iriamos permaneceder por dois anos, porém comigo e como dia a lenda "Quem bebe a água da fonte do Lilau, por Macau permanecerá" e é bem verdade, já lá vão quase 45 anos depois da chegada nessa noite de 22 de Setembro.
Porém para o signatário não tinha terminado ainda a viagem, após a maioria do pessoal seguir para os seus quarteis em Macau, Ilha Verde onde ficou cediada a companhia a que o artuculista pretencia, para Mong-Há a outra companhia, para a Flora os Polícias Militares e os restantes para o Quartel General, o articulista e mais soldados, seguiram param a ponte 8 do Porto Interior, onde os aguardava uma Lancha de Dsembarque, dos Serviços de Marinha que nos levaria até à Ilha da Taipa, onde o signatário passou a desempanhar a pomposa posição de Comandante Militar da Ilha da Taipa.
Uma nova vida, agora por terras do oriente ia despertar para o articulista.
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