o mar do poeta

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quarta-feira, agosto 10

TOKALON

 
 
Tokalon - Embalagem? Tubo? Ou...
Desde muito pequena, como já aqui disse várias vezes, tenho aquele "ligeiro" problema de só fazer uma coisa bem feita quando faço unicamente essa coisa.
Explicando melhor.
Se fizer ou pensar em duas coisas ao mesmo tempo, uma, ou ambas, ficam mal feitas. Pronto.
Eu sei que sou "ligeiramente" perfeccionista e não me contento com pouco.
Mas, também, não é bem assim.
É que, depois, também me esqueço da coisa menos importante que tenho para fazer.
Tem lógica. Acho eu. Não sei. Nem me quero ralar.
Tudo isto para vos contar um episódio de quando eu tinha para aí uns treze, catorze anos.
Diz-me a minha mãe:
- Olha, quando saíres da escola, podes passar pelo super e trazer-me uma embalagem de creme de noite, Tokalon?
(Sim. Eu sou desse tempo.)
Muito bem. O super ainda ficava distante de casa e, a mim, não me custava nada. Antes pelo contrário. Gostava de passar pelo centro da cidade.
(Nessa altura, não morava em Lisboa.)
O pior era se eu me esquecia.
"Não. É pouca coisa, desta vez" - pensei.
Vou para a escola. Aulas e tudo o mais que isso implica...
Falar com as amigas dos assuntos "importantes" da vida.
Brincar. Rir muito. Olhar... e já falar com os amigos. Enfim.
Aquilo de ser adolescente, dá muito trabalho.
Tem muito que se lhe diga.
E uma pessoa quer lá saber do creme Tokalon!
E ainda bem que assim é!
Saio da escola e, por acaso, lembro-me do recado!
Ena! Que bom! Mas...
- Eu sei que é Tokalon... Mas como se pede? Um creme só? Hum... É de dia ou de noite? Que coisa! Vamos andando e pensando... Hum... Aquilo é um tubo. É. Olhe, é um tubo de Tokalon. Acho que... para de dia. Não. Para de noite. É isso!!! Olhe, se faz favor, é um tubo de creme Tokalon para de noite... É um tubo de creme Tokalon para de noite...
E lá vou andando e repetindo, toda contente com a minha boa memória, mas... olhando sempre para todos os pormenores que encontro pelo caminho e que - ainda hoje assim é - não despertam a menor curiosidade a qualquer ser vivo que se preze de ser "normal".
Olhando... e esquecendo-me do "papel principal".
Continuando.
Chego ao super e já pouco me lembrava do pedido ensaiado.
Mas, a fila era tão grande que dava para pensar melhor no assunto.
Só que a fila não era só grande. Era enorme.
De tal modo que me disperso a olhar para todos os cremes da última moda, batons, vernizes e afins, que por ali se encontram a chamar-me a atenção (não é esse o seu "papel principal"?) até que, de repente, oiço:
- Olá! A menina, se faz favor?
"Eu, já? A fila era tão grande. Como é possível?"- penso.
E eis que o normal, em mim, acontece. Esqueci-me do recado.
Olho para o senhor, sorrio e digo:
- Olá!...
Tentando, simultaneamente, lembrar-me do recado direitinho: "Eu sei que é Tokalon. É creme. Mas o resto? É..."
E reparando na fila atrás de mim, com todos de olhos postos na minha pessoa, porque nunca mais me despacho, resolvo que tem de ser dito de enfiada. "Seja o que Deus quiser."
E Deus quis assim:
- Olhe... É... É...
(O senhor, nem pergunta nada. Só olha para mim com os olhos arregalados, tipo: "Sim, despacha-te, faz favor! Olha a fila. Tenho mais que fazer.")
- Pois... É... É UM PACOTE DE TOKALON DE NOITE PARA DE DIA, se faz favor.
Demorou tempo para perceber o porquê do semblante daquelas caras.
Do senhor... e dos outros da fila atrás de mim.
Não parece que tenha dito nada de extraordinariamente mal.
Só tive de explicar tudo melhor ao senhor. Mais nada.
Mas a minha mãe disse-me que não era bem assim. Eu percebi.
Acontecimentos destes?
São às dezenas. Para não dizer às dúzias.
A pele da minha mãe? Um mimo! ;)
O Tokalon? Aí está de novo.
Eu? Publicidade gratuita... (Mas devia seguir o exemplo!)

Fonte - tresgues 



Um comentário:

Prof.Ms. João Paulo de Oliveira disse...

Estimado confrade e amigo António Cambeta!
Como é do seu conhecimento a minha amiga, a Dona Miquelina, não quer nem ouvir falar no Creme Tokalon devido o trauma que causou a sua saudosa tia Maria das Angústias (1880-1965), que morava na Vila Nova do Coito, localizado no reino distante além-mar...
Caloroso abraço! Saudações enrugadas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP