Há muitos séculos, nas terras do que é hoje a Etiópia, um garoto-pastor de nome Kaldi acordou e logo deu pela falta de várias cabras. Como não pode haver pastor sem cabras, Kaldi resolveu partir pelas encostas e montanhas até descobrir onde estavam seus animais. Andou, andou, andou, mas não encontrou.
Quando o sol estava já caindo, o exausto Kaldi olhou, pela última vez para cima e para baixo e, para sua surpresa, percebeu algumas cabras cabriolando, dançando, num vale profundo. Logo ficou muito interessado nessa visão que podia ser até milagrosa. Pelo menos tinha a ver com o hábito caprichoso das cabras.
Lentamente foi se aproximando e percebeu que as cabras estavam mastigando uns frutos vermelhos que pareciam saborosos. Como Kaldi tinha estômago forte e sempre comia os alimentos das cabras, achou que podia também matar a fome com os tais frutos, mas pensou:
- Será que não será o fruto o provocador deste comportamento esquisito das cabras? Não será perigoso, pois as cabras parecem estar enfeitiçadas?
Ao mesmo tempo, o estômago apertava de fome e ele resolveu arriscar a sorte, experimentando alguns desses frutos, acreditando que a visão de cabras dançando era resultado da penúria estomacal. Afinal, quem já ouviu falar de cabra dançando?
Algumas horas depois, um monge passou pelo lugar e viu as cabras dançando com o menino-pastor. Achou tudo muito esquisito; esfregou os olhos, pois as alucinações acontecem naquelas regiões quentes, mas a alegre dança não desapareceu: os animais cabriolavam e o garoto saltitava. Quando tentou se aproximar, o garoto tentou fugir com as cabras em alegre algazarra.
O monge, porém, agarrou Kaldi pelo braço e exigiu explicações do comportamento bizarro, pois aquilo parecia ser feitiçaria, algo indigno de um bom fiel. O garoto mostrou os frutos e o monge acreditou que tamanha alegria pudesse vir, de fato, dos frutos vermelhos, pois é assim que se fazem venenos e poções para muitas finalidades, inclusive demoníacas. O correto seria, então, comprovar a finalidade dos frutos no laboratório do mosteiro e para lá seguiram o monge, Kaldi, as cabras e um saco de frutos vermelhos.
Quando a experiência ia começar, alguns monges revoltaram-se, temendo a ira divina. Tentaram exorcizar os frutos, jogando-os no fogo. O aroma desprendido pelos grãos torrados despertou a curiosidade do velho monge que percebeu não estar ali algo diabólico, mas talvez divino. O diabo não expele bom cheiro, mas ruim.
O monge amassou os grãos torrados, fez várias infusões e distribuiu para os noviços que, depois de umas boas canecas, ficaram muito alegres e dispostos para o trabalho, para a leitura e para as preces. Percebeu que o fruto era mesmo um presente de Deus para facilitar a vida dos monges que viviam reclusos. Percebeu que a bebida quente dava novo vigor, abrindo os olhos para novas inspirações, ajudando os monges a ficarem acordados durante as noites de prece.
Foi assim que o café ganhou um lugar na horta do mosteiro. Em 1727, os portugueses conheceram a bebida estimulante e a levaram para o Maranhão, no Brasil. Por volta de 1760, os frutos já denominados “café” começaram a ser plantados no Rio de Janeiro.
Cabras no cafezal
No Brasil, os cafezais são imensos e muitos produtores já testaram a capina por meio de cabras e ovelhas. Há milhares de cabras e ovelhas sendo utilizadas, todos os anos, como capinadeiras e esse é um fabuloso mercado para os animais.
O resultado na capina do café é muito bom, mas apresenta um grande perigo: os pesticidas atuais incluem Cobre, um produto que intoxica cabras, com muita facilidade. Assim, o correto é utilizar cabras e ovelhas em cafezais que não utilizam pesticidas que contenham Cobre.
Por outro lado, estranhamente, os turistas do mundo inteiro visitam o Brasil para dançar no carnaval e desfrutar a alegria do povo, mas as cabras que dançaram nos cafezais da Arábia, comem alguns frutos brasileiros aqui e acolá, mas ninguém jamais viu algumas delas dançando e remoendo. Dançaram lá, mas não dançam aqui, ou, pelo menos, ninguém vê.
Fonte - Revistaberro
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