1a. e 2a. Repúblicas (1910-1926-1974)
A Revolução de 5 de Outubro de 1910
As revoluções não são factos que que se aplaudam ou se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade.
De certo que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regimes, com as tiranias, são maiores ainda.
As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias. »
Eça de Queiroz ( Distrito de Évora, 9 de Maio de 1867 )
Implantação da República
Nos dias 4 e 5 de Outubro de 1910 alguns militares da Marinha e do Exército iniciaram uma revolta nas guarnições de Lisboa, com o objectivo de derrubar a Monarquia. Juntamente com os militares estiveram a Carbonária e o as estruturas do PRP (Partido Republicano Português).
Na tarde desse dia, José Relvas, em nome do Directório do PRP, proclamou a República à varanda da Câmara Municipal de Lisboa. No dia 6 o novo regime foi proclamado no Porto e, nos dias seguintes, no resto do país. Em Braga foi-o no dia 7, tendo tomado posse da Câmara o Dr Manuel Monteiro.
O movimento revolucionário de 5 de Outubro de 1910 deu-se em natural sequência da acção doutrinária e política que, desde a criação do Partido Republicano, em 1876, vinha sendo desenvolvida. Aumentando contraposição entre a República e a Monarquia, a propaganda republicana fora sabendo tirar partido de alguns factos históricos de repercussão popular: as comemorações do terceiro centenário da morte de Camões, em 1880, e o Ultimatum inglês, em 1890, fora aproveitados pelos defensores das doutrinas republicanas que se identificaram com os sentimentos nacionais e aspirações populares.
Elias Garcia, Manuel Arriaga, Magalhães Lima, tal com o operário Agostinho da Silva, foram personagens importantes dos comícios de propaganda republicana, em 1880. O novo regime formou provisionalmente governo debaixo da presidência de Teófilo Braga, um ilustre escritor.
Este por sua vez emitiu uma nova lei eleitoral dando o voto a todos os adultos do sexo masculino e presidiu à eleição de uma assembleia constituinte, que abriu em 19 de Junho de 1911.
A Constituição foi aprovada pela assembleia em 20 de Agosto, e o governo provisional entregou a sua autoridade poucos dias depois (24 de Agosto) ao novo presidente, Manuel José de Arriaga.
Após o 5 de Outubro foi substituída a bandeira portuguesa. As cores verde e vermelho significam, respectivamente, a esperança e o sangue dos heróis. A esfera armilar simboliza os Descobrimentos, os sete castelos representam os primeiros castelos conquistados por D. Afonso Henriques, as cinco quinas significam os cinco reis mouros vencidos por este Rei e, finalmente, os cinco pontos em cada uma as cinco chagas de Cristo. O hino A Portuguesa , composto por Alfredo Keil tornou-se o Hino Nacional.
EVOLUCIONISTAS, UNIONISTAS E DEMOCRATAS.
Ainda que Henrique de Paiva Couceiro tentou uma invasão monárquica em Outubro de 1911, sem êxito, o principal perigo para o novo regime veio da sua própria divisão interna. Pelo momento estava apenas dedicado a perseguir os monárquicos e a igreja.
As ordens religiosas foram expulsas ( 8 de Outubro de 1910) e as suas propriedades confiscadas. O ensino da religião nas escolas primárias foi abolido e a Igreja Católica Romana foi separada do Estado.
Lei do Divórcio: o divórcio é legal pela primeira vez. A lei não faz distinção entre os conjugues no que respeita aos motivos de divórcio e aos seus direitos sobre as crianças. Novas disposições legais estabelecem a igualdade mulheres - homens no casamento e filiação.
As consequências legais do adultério passam a ser iguais para as mulheres e os homens. O acesso ao trabalho na administração pública é autorizado às mulheres. Em 1910 a primeira mulher nomeada para um cargo na Universidade, foi Carolina Michaelis de Vasconcelos (Filologia). A escola torna-se obrigatória para crianças (meninas e meninos) de 7 a 11 anos. Em 1913 Regina Quintanilha é a primeira mulher a possuir uma licença em direito.
As condições em como monárquicos e Católicos foram presos e tratados com as maiores barbaridades, causaram um efeito muito negativo no estrangeiro, mas essa condições e legislações anti-religiosas, só foram modificadas depois, e muito lentamente.
Condensado de Enciclopédia Britânica
Foram fundadas novas Universidades em Lisboa e Porto; mas a tarefa de destruição provou ser mais fácil que a da construção, e em pouco tempo os republicanos estavam divididos em:
Unionistas ( centro), liderados por Manuel de Brito Camacho
Democratas ( ala esquerda), liderados por Afonso Augusto da Costa
Levantamento de 1915
Um grande número de republicanos proeminentes, não tinha partido específico. O governo dos políticos republicanos oferecia poucas melhorias em relação ao regime monárquico, e em 1915 no meio de tanta desordem, o exército mostrou sinais de impaciência.
O Gen. Pimenta de Castro formou um governo militar e permitiu que os monárquicos se reorganizassem, mas revolução Democrática (Maio 1914) levou à sua prisão e exílio nos Açores.
O presidente Arriaga demitiu-se e foi substituído por Teófilo Braga e depois por Bernardino Machado (5 de Agosto de 1915 a 8 de Dezembro de 1917).
O regime Democrático, no qual Afonso Costa era a vedeta principal , terminou com a revolução do Major Sidónio Pais (Dezembro de 1917), que estabeleceu a "Nova Republica" de tendência à direita, que foi suportada ao principio pelos Unionistas.
O presidente Arriaga demitiu-se e foi substituído por Teófilo Braga e depois por Bernardino Machado (5 de Agosto de 1915 a 8 de Dezembro de 1917).
O regime Democrático, no qual Afonso Costa era a vedeta principal , terminou com a revolução do Major Sidónio Pais (Dezembro de 1917), que estabeleceu a"Nova Republica" de tendência à direita, que foi suportada ao principio pelos Unionistas.
1ª Guerra Mundial ( 1914 - 1918 )
Durante este período, com o começo da 1ª Guerra Mundial, Portugal proclamou a sua adesão à sua aliança com a Inglaterra (7 de Agosto de 1914) e pediu para entrar nas operações militares contra a Alemanha.
Em 17 de Setembro partiu uma primeira expedição para reforçar as colónias em África, que lutaram no noroeste de Moçambique, na fronteira com o Tanganica, e no sudoeste de África, na fronteira com a África Sul-ocidental alemã.
Em Fevereiro de 1916 Portugal apresou os barcos alemães que estavam nos seus portos , e a Alemanha declarou-lhe guerra ( 9 de Março ). Um submarino alemão bombardeia a cidade do Funchal na ilha da Madeira em Dezembro de 1916, o que causou grande emoção em Lisboa.
Uma expedição portuguesa partiu para a frente ocidental em 1917, sob o comando do General Tamagnini de Abreu; em 9 de Abril de 1918, ficaram debaixo de forte ataque alemão na batalha de La Lyz. Pelo tratado de Versalhes (1919) Portugal recebeu 0,75 porcento das indemnizações pagas pelos alemães e o Quionga área de Moçambique capturada pelas forças portuguesas na África Oriental.
O total de efectivos portugueses enviados para a França, entre 1917 e 1918, foi de 55.083. Tivemos 2.086 mortos e 5.524 feridos, o custo do baptismo de fogo, que o governo da República insistiu dar a Portugal para defender o seu Império Colonial.
Foi nesta guerra ( 1917) que pela primeira vez, a aviação do " United States Marine Corps" utilizaram uma base na ilha dos Açores para missões de bombardeio de alvos inimigos e abastecimento das tropas aliadas.
Um avião NC-4 da U.S. Navy no porto de Lisboa, em 27 de Maio de 1919. Tinha completado a primeira travessia aérea do Atlântico. Biplanos deste tipo foram utilizados nos Açores para a luta anti-submarina.
Os "US Marine Corps" nos Açores - A Patrulha Anti-Submarina nos Açores
Em Janeiro de 1918, a "1st Marine Aeronautic Company" embarcou em Filadélfia para os Açores, para começar as operações de luta anti-submarina, como Base Naval 13., A unidade era comandada pelo então capitão Francis T. Evans. A unidade tinha 12 oficiais e 133 sargentos e praças. Tinham como equipamento inicial 10 Curtiss R-6s e dois N-9s.T. Mais tarde a companhia recebeu mais seis Curtiss HS-2Ls que melhoraram muito a sua intervenção.
Durante 1918, a companhia Aeronáutica operou na sua base em Ponta Delgada na ilha de São Miguel., Fazia patrulhas aéreas regulares para cortar aos submarinos inimigos o acesso fácil às rotas dos "convoy" de barcos aliados e qualquer outro tipo da actividade nos Açores.
As suas actividade não forjaram grandes heróis, mas a " First Aeronautic Company" foi a primeira unidade da aviação americana a desempenhar uma missão militar especifica..
As Aparições de Fátima - (Ver Hist.Portugal de V.Serrão)
Desde 13 de Maio de 1917 que se criara o sentimento popular de que Nossa Senhora de Fátima, depois da festividade da Ascensão, aparecera a três jovens pastores em cima de uma azinheira no lugar da Cova Iria, perto de Fátima.
Numa linguagem serena, ter-lhes-ia anunciado uma nova aparição para ajudar a remir os pecados do mundo.
Assassinato do Almirante Machado Santos
António José de Almeida terminou a sua presidência (5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923), mas, reinava a confusão económica, os ministérios sucediam-se uns após outros em rápida sucessão.
Na violência de 1921, o fundador da republica, Machado Santos, e muitos outros foram assassinados. o Partido Democrático, liderado por António Maria da Silva, governou por 28 meses, mas caiu em Novembro de 1923 e foi seguido por ministérios de curta vida.
Esta violência ocorreu a 19 de Outubro de 1921, apenas 11 anos após a implantação da República, quando, na sequência da demissão do governo presidido por Liberato Damião Ribeiro Pinto, o protector da Guarda Nacional Republicana, então a guarda pretoriana do regime, e a sua posterior condenação a um ano de detenção (confirmada a 10 de Setembro de 1921 pelo Conselho Superior de Disciplina do Exército), um conjunto de militares ligados àquela força policial, a que se juntaram militares do Exército e da Armada, se sublevou.
A sublevação desembocou na chamada Noite Sangrenta, o assassinato por um grupo de marinheiros e arsenalistas sublevados de algumas das principais figuras da República. O coronel Manuel Maria Coelho era o chefe da sublevação. Acompanhavam-no Camilo de Oliveira e Cortês dos Santos, oficiais da Guarda Nacional Republicana, e o capitão-de-fragata Procópio de Freitas.
Sem possibilidade de resistência, o governo presidido por António Granjo apresentou a sua demissão a António José de Almeida, tendo Granjo procurado refúgio em casa de Francisco Pinto da Cunha Leal, o líder do ala esquerda do republicanismo e próximo da liderança do movimento revolucionário.
Descoberto, foi levado ao Arsenal da Marinha, o centro revolucionário, e abatido a tiro. O mesmo aconteceu a diversas outras figuras gradas da política republicana, incluindo o almirante Machado Santos, o comandante José Carlos da Maia e o coronel Botelho de Vasconcelos, todos raptados por uma camioneta fantasma que percorreu Lisboa naquela noite
Em 1925 os Democratas ganharam uma clara maioria. O presidente Manuel Teixeira Gomes (1923-1925) foi sucedido por Bernardino Machado. Uma revolta militar de 2 de Fevereiro, foi controlada pelo governo.
A revolução de 28 de Maio de 1926
Mas em 28 de Maio de 1926 uma revolução com maior fortuna rebentou em Braga. Bernardino Machado foi deposto, e foi formado um governo militar provisional, pelo Comandante José Mendes Cabeçadas e General Manuel de Oliveira Gomes da Costa.
Durante os dezasseis anos do regime parlamentar republicano, entre 1910 e 1916, Portugal teve quarenta e cinco governos. Portugal era conhecido internacionalmente pelo "pequeno México". O crescimento dos défices fiscais levou o país a uma super-inflação ( o custo de vida em 1926 era trinta vezes o de 1914 )e a uma moratória no pagamento da dívida externa.
Esta foi a principal razão da revolução do 28 de Maio e à instalação posterior de Oliveira Salazar por 40 anos !
A Revolução de 28 de Maio de 1926, Golpe de 28 de Maio de 1926 ou Movimento do 2 de Maio, também conhecido por Revolução Nacional, foi um pronunciamento militar de cariz nacionalista e anti-parlamentar que pôs termo à Primeira República Portuguesa, levando à implantação da auto-denominada Ditadura Nacional, depois transformada, após a aprovação da Constituição de 1933, em Estado Novo, regime que se manteve no poder em Portugal até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.
A revolução começou em Braga, comandada pelo general Gomes da Costa, sendo seguida de imediato em outras cidades como Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e Santarém. Consumado o triunfo do movimento, a 6 de Junho de 1926, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, Gomes da Costa desfila à frente de 15 mil homens, sendo aclamado pelo povo da capital..
A Ditadura Militar
2ª República. O "Estado Novo".
O governo provisional durou muito pouco tempo ( até 9 de Julho de 1926) tomado agora pelo general ( mais tarde Marechal) António Óscar de Fragoso Carmona, que favoreceu vastas mudanças. Foi eleito presidente em Março de 1928 e reeleito até à sua morte em Abril de 1951.
Os dirigentes militares tentaram solucionar a crise financeira com um empréstimo pedido à Liga das Nações, mas as condições impostas por esta incluíam uma supervisão fiscal, que foram rejeitadas, e Carmona chamou António de Oliveira Salazar para Ministro das Finanças com poderes totais para controlar os gastos do Governo.
António de Oliveira Salazar, professor de economia na Universidade de Coimbra, controlou os gastos do governo de 1928 a 1948, com orçamentos com saldo positivo ( a marca do regime) e devotou-se a proceder a planos de desenvolvimento.
Tornando-se primeiro ministro em 1932, promulgou a nova constituição de 1933; como ministro das Colónias preparou o Acto Colonial, assimilando a administração dos territórios no ultramar ao seu sistema.
O direito de voto só foi concedido às mulheres em 1931desde que tivessem um grau universitário ou com o secundário concluído. Os homens podiam votar desde que soubessem ler e escrever.
No entanto já em 1910, aproveitando-se da omissão legal sobre o sexo do chefe de família, Carolina Beatriz Ângelo - médica, viúva e mãe de duas crianças faz prevalecer a sua condição de chefe de família para depositar o seu voto nas eleições para a Assembleia Constitucional.
Em consequência, a lei foi modificada de forma a estabelecer claramente que só os homens podem exercer o direito de voto.
Como ministro dos negócios estrangeiros 1936-1947), guiou Portugal durante as dificuldades causadas pela Guerra Civil Espanhola e a 2ª Guerra Mundial. Manteve a neutralidade até a Inglaterra invocar a aliança Anglo-Portuguesa para obter bases nos Açores.
No entanto - facto muito pouco divulgado - já na 1ª Guerra Mundial a aviação do " United States Marine Corps" tinha utilizado uma base na ilha dos Açores ( Naval Base 13 ) para missões de bombardeio aos submarinos alemães e proteger o abastecimento das tropas aliadas.
Portugal na 2ª Guerra mundial
O papel de Portugal na 2ª Guerra Mundial foi apenas passivo, e felizmente, pois manteve-se neutral nesse conflito. Na Europa, só Portugal, Irlanda do Norte, Suécia, Suiça e Espanha se mantiveram neutrais.
Oliveira Salazar assumira a pasta dos negócios estrangeiros desde a Guerra Civil Espanhola. Com a Segunda Guerra Mundial o imperativo do governo de Salazar é manter a neutralidade. Próximo ideologicamente do Eixo, o regime português escuda-se nisso e também na aliança com a Inglaterra para manter uma política de neutralidade. Esta assentava num esforço de não afrontamento a qualquer dos lados em beligerância.
Primeiramente, uma intensa actividade diplomática junto de Franco tenta evitar que a Espanha se alie à Alemanha e à Itália (caso em que previsivelmente os países do Eixo com a Espanha olhariam a ocupação de Portugal como meio de controlar o Atlântico e fechar o Mediterrâneo, o que desviaria o teatro da guerra para a Península Ibérica).
Com a Espanha fora da guerra, a estratégia de neutralidade é um imperativo da diplomacia por forma a não provocar a hostilidade nos beligerantes e Salazar não tolerou desvios dos diplomatas que arriscassem a sua política externa. Quando o cônsul português, Aristides de Sousa Mendes, em Bordéus concedeu vistos em grande quantidade a judeus em fuga aos nazis, ignorando instruções do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Salazar foi implacável com ele e demitiu-o.
Sofremos um duro racionamento, "blackout" nas luzes das cidades principais, papéis colocados nas janelas das casas para evitar os efeitos dos estilhaços dos vidros em caso de bombardeamento, mas não houve problemas de maior.
No entanto, ainda que Portugal fosse um país neutral, forças aliadas australianas e holandesas ( 1941 ) e forças Japonesas ( 1942 ) desembarcaram em Timor que passou a ser cenário de uma luta entre ambas as forças opostas.
Segundo informações obtidas, a ocupação japonesa foi particularmente brutal e a sua política impiedosa, no que respeita à distribuição de alimentos provocando a fome que assolou o território, causando cerca de 40.000 mortos. ( Veja-se o Drama de Timor pelo Prof. Adriano Moreira ). Mesmo assim as relações diplomáticas entre Portugal e Japão mantiveram-se intactas.
Os japoneses também meio ocuparam e administraram Macau, quando da sua invasão e ocupação da China, mas ao contrário do comportamento brutal que utilizaram em Hong-Kong, utilizaram o território apenas para lugar de prazer, de jogo e descanso para as suas tropas.
Como já se disse, os americanos ocuparam a ilha dos Açores, para cortarem as bases de apoio aos submarinos alemães, depois transformada em Base Aérea, que Portugal cedeu...aos aliados, ao abrigo da sua antiga aliança com a Inglaterra.
Vendemos tungsténio e alimentos a uns e outros, Lisboa foi famosa como local de espionagem, chegaram milhares de refugiados, e parece que Portugal foi palco de grandes tráfegos de ouro nazi, cujas histórias se começam agora a conhecer pela divulgação pública, em Washington , de antigos documentos secretos, que só agora passaram a ser do domínio público.
Morte de Carmona
Com a morte de Carmona (18 de Abril de 1958). Salazar assumiu os atributos da presidência, até à eleição do General Francisco Craveiro Lopes. Este não foi reeleito em em 1958, mas sucedeu-lhe o Contra-Almirante Américo de Deus Tomás, eleito por uma larga maioria numa eleição onde foi favorecido.
O Estado Novo de Salazar era constituído por uma Assembleia Nacional, com deputados eleitos de quatro em quatro anos que agia como um bloco e que se reunia pelo menos três meses por ano, e por uma Câmara Corporativa. Todos os lugares na Assembleia eram dos apoiantes do governo. A Câmara Corporativa não funcionou até serem formados os sindicatos de trabalhadores e patrões (estes grémios). Faziam-se contractos colectivos de trabalho sob a supervisão do governo.
Orientado por planos de desenvolvimento (planos de Fomento), procedeu-se à electrificação, florestação e industrialização. Logo a seguir a II Guerra Mundial, reequiparam-se os caminhos de ferro, melhoraram-se as estradas, e criou-se uma linha área nacional. Introduziu-se a produção de aço, assim como a montagem de veículos automóveis e a reparação de navios-tanques (petroleiros). As economias de Angola e Moçambique foram integradas.
A determinação do governo Indiano de anexar a Índia Portuguesa piorou as relações diplomáticas (Agosto de 1955) e a invasão em massa das possessões Portuguesas por resistentes passivos indianos. Portugal efectivamente perdeu Dadrá e Nagar Haveli para a Índia ( apesar da Corte Internacional de Justiça em Abril de 1960, ter dado razão a Portugal), e em 19 de Dezembro de 1961, a Índia tomou Goa, Damão e Diu.
Salazar tinha dito que a descolonização não fazia parte do seu plano para Portugal, e quando Angola foi cena de distúrbios, nos quais se perdeu um certo número de vidas, reforçou as tropas nos territórios Africanos ( tal como se tinha feito em 17 de Setembro de 1914), e tomou a pasta de Ministro da Defesa. Em 1964 houve um recrudescência nos movimentos para a independência.
Os ventos da História
( História de Portugal - A.H. de Oliveira Marques )
«Depois da segunda Guerra Mundial, o despertar do continente africano e a generalização dos movimentos de independência exerceram o seu impacte também nas colónias portuguesas. Tanto em África como na Metrópole surgiram vários grupos, mais ou menos clandestinos, de unidade africana. Na década de Cinquenta, alguns estudantes negros e mulatos das universidades de Lisboa gritaram aos poucos um plano de independência num enquadramento africano. Perseguidos pela polícia, tiveram de sair de Portugal e de buscar refúgio no exílio.
O seu movimento era sobretudo intelectual, e escassos os contactos com as populações indígenas. Mergulhada numa vida tribal, primitiva, a esmagadora maioria dos africanos não tinha condições para reagir a activistas intelectuais nem podia compreender os seus objectivos. Mau grado as expressões enfáticas dos defensores da independência, havia pouca consciência nacional em torno de conceitos como Angola ou Moçambique, criações artificiais de finais do século XIX.
Os povos da África portuguesa, divididos por diferenciações tribais e linguísticas , dificilmente poderiam ir além dos seus horizontes agrícola - pecuários de cunho local. Uma maneira possível de promover rebeliões entre eles seria fomentar ódios racistas ( de negro contra branco ) ou explorar descontentamentos contra violências físicas por parte dos colonos. Outra possibilidade mais remota estava na junção de forças com os movimentos anti-salazaristas, no fito de desencadear uma revolução geral contra o colonialismo.
Esta hipótese parece ter sido aceite por alguns grupos oposicionistas portugueses - sobretudo entre os exilados - embora se pergunte até que ponto esses grupos aceitariam a aliança para além de uma mera estratégia política que derrubasse o Estado Novo.
Os movimentos em S. Tomé começaram depois dos massacres de Batepá, em que exército e colonos mataram centenas de nativos.
Na Guiné em 1959 depois das reivindicações salariais de marinheiros e estivadores em Bissau, reprimidas pela polícia de que resultaram mortos e feridos.
Em Angola. em Fevereiro de 1961 algumas centenas de filiados no M.P.L.A., passavam ao ataque armado de prisões, quartéis e a estação emissora de Luanda. Em Março de 1961, tribos do norte de Angola com o auxílio ou instigação de congoleses, massacrando selvaticamente centenas de colonos e suas famílias.
Toda esta situação levou à repressão violenta por parte das autoridades e dos próprios colonos, apoiados por elas, aliás com o auxílio de não pouco indígenas.
Difundiram-se amplamente relatórios das atrocidades que se diziam cometidas pelos Portugueses. O caso português atraiu a atenção mundial.
Contudo, os insurgentes, como as nações estrangeiras em geral e outros muitos dentro do País, subestimaram a tenacidade do Governo e a capacidade da própria Nação en tentar resolver o problema por via militar e também por outros meios
Mau grado um acordo táctico entre o MPLA e a FNLA em 1972, é possível dizer-se que Angola se achava próximo de pacificada por ocasião do 25 de Abril e que Portugal dominava praticamente todo o território da colónia.
Em Moçambique, um incidente catalizador, o chamado massacre de Mueda em 1960, que foi uma repressão contra os que protestavam contra as cooperativas que o governo colonial procurava impor. Essa repressão foi violenta, e segundo fontes dificilmente controláveis, teria causado centenas de mortos entre os trabalhadores contestatários.
Em 1974, perto de 80.000 soldados portugueses brancos actuavam nos três territórios. Além deles, havia que contar com, pelo menos, outros tantos soldados negros. Eram no entanto, raras as confrontações abertas, e a maioria dos militares regressava à Pátria sem nunca ter visto nem ouvido o inimigo. O resultado traduzia-se no seu número relativamente pequeno de baixas de morte, avultando, em contrapartida, as baixas por desastre e os feridos.
No golfo da Guiné, as formas armadas da recém-criada República do Dahomey, expulsaram os poucos residentes portugueses da fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, depois do gesto romântico do seu comandante, que deitou fogo ao edifício antes de se render ( 1961 ).
Na Índia, em 1954, os dois pequenos enclaves de Dadrá e Nagar-Avely foram permanentemente ocupados pelos indianos. Em Dezembro de 1961, tropas indianas invadiram Goa, Damão e Diu. Completamente submergidos por forças várias vezes superiores às suas, os Portugueses ofereceram apenas uma resistência simbólica, acabando o governador Vassalo e Silva ( depois condenado e banido do exército , em Lisboa ) por ordenar uma rendição geral.
Em Macau, a oposição entre a ideologia oficial portuguesa e a ideologia marxista chinesa levou à intervenção da China e à sua quase ocupação da cidade. Na década de sessenta, a propaganda maoísta inundou a pequena colónia.
Quando as autoridades procuraram resistir e obstar ao facto, a China fomentou um levantamento popular ( 1966 ), que obrigou o governo local e o governo de Lisboa a submeterem-se a todas as exigências chinesas. Macau passou a ser, em grande parte, controlada pela China .»
A entrada de Marcelo Caetano
Em Setembro de 1968 Salazar ficou incapacitado por uma queda e morreu em 27 de Julho de 1970. Devido a esse acidente, o Presidente Américo Tomás convidou Marcelo Caetano, um dos arquitectos do Estado Novo, para formar um governo. Caetano empenhou-se em continuar mas também para a "evolução", que incluía admitir a oposição para a Assembleia Nacional e suavizar os mecanismos de controlo económico em favor de um expansionismo.
Sob o Terceiro Plano de Desenvolvimento ( Fomento), fizeram-se vários empreendimentos mas a crise económica geral levou à inflação, à emigração do campo para as cidades e para outras partes da Europa. A liberalização moderada de Caetano dividiu aqueles que o apoiavam e estimulou a oposição Socialista e Comunista.
António de Oliveira Salazar
António de Oliveira Salazar nasceu no Vimieiro, Santa Comba Dão, em 28 de Abril de 1889. Morreu em Lisboa em Lisboa, em 27 de Julho de 1970). Em 1900, após completar os seus estudos na escola primária, com 11 anos de idade, Salazar ingressou no Seminário de Viseu, onde permaneceu 8 anos. Saiu do seminário em 1908, completou os seus estudos em Viseu e ingressou na Universidade de Coimbra em 1910 para estudar direito.
Em 1914 conclui o curso de direito com a alta classificação de 19 valores e em 1916 é assistente de Ciências Económicas. Assumiu a regência da cadeira de Economia Política e Finanças em 1917. Doutorou-se em 1918. Em 1921 foi deputado ao Parlamento por Guimarães, mas não encontrando aí qualquer motivação regressou à Universidade passado três dias. Aí se manteve até 1926.
Odiado por uns, e admirado por outros, António de Oliveira Salazar Doutor em Direito na área da Economia, pela Universidade de Coimbra, professor nessa mesma universidade, foi uma das figuras governativas mais enigmáticas da história de Portugal nos últimos séculos.
Arrasado pelo 25 de Abril, volta a sair do túmulo, e fica como o personagem do século XX numa sondagem feita pela revista Visão e canal de Televisão SIC. Recentemente volta a ficar entre os dez portugueses mais votados , no "concurso" Os Grandes Portugueses, organizado pela RTP. E parece que anda no primeiro lugar... Para tentar compreender este estranho fenómeno de popularidade, e poder compreender a sua figura sem cair nos exageros dos "amigos" e dos "inimigos", vejamos o que escreveu sobre Salazar, um historiador imparcial, Jacques Pirenne, na sua História Universal ( Edição 1972 ).
Ditadura militar e corporativa em Portugal - (Jacques Pirenne, na sua História Universal)
A direcção militar instalada pelo general Gomes da Costa em 1926 teve que mover-se, desde os seus inícios, com muitas rivalidades internas. Em 1928, Gomes da Costa foi derrubado e enviado para os Açores, enquanto o general Carmona foi eleito presidente da República. A ditadura militar não conseguiu libertar o país da sua anarquia económica e Carmona entregou as Finanças a Salazar, professor da Universidade de Coimbra que lograria dar a Portugal um regime estável. Para aceitar, Salazar exigiu que se lhe reconhecesse o direito de intervenção e veto sobre todos os gastos da República, conseguindo em pouco tempo restaurar as finanças de Portugal.
Em 1932 foi nomeado presidente do concelho de ministros e desde então ia dispor de um poder ditatorial. Tal como os Estaline, Hitler e Mussolini, Salazar vinha do povo, mas ao contrário desses monstros da história, Salazar era um universitário e os seus projectos diferiam porque não se propunha dar ao mundo uma ideologia nova. Tratava-se de um católico convencido que queria restaurar a administração do Estado permanecendo fiel aos princípios do catolicismo.
Na realidade, a política de Salazar inspirava-se no Syllabus de Pio IX, condenando os erros modernos. Como bom antiliberal, era hostil ao individualismo, e como anti-materialista, repudiava o socialismo. Portanto, não aceitava o parlamentarismo e negava-se a aceitar a liberdade de pensamento, conservando só, os grandes princípios do catolicismo.
Em 1933 dotou o país de uma Constituição que repudiando o sufrágio universal, o sistema de partidos e a luta de classes, criava um estado nacional e cristão fundado na família, a corporação e o município. Também deu preferência aos interesses da colectividade sobre os do indivíduo ou do grupo, dissolveu os partidos políticos e suprimiu a maçonaria e as sociedades secretas. Sobre estes princípios estabeleceu uma Câmara corporativa que tinha por missão informar a Assembleia Nacional sobre os projectos de lei que aí seriam discutidos e aprovados.
O regime corporativo, que constitui o fundamento social da ordem nova, baseia-se no princípio de colaboração de patrões e trabalhadores, unidos em Corporações não obrigatórias e relativamente autónomas. O Estado não substitui a iniciativa privada; limita-se a vigiar as actividades corporativas e, se preciso, reprimir os abusos.
Esta Constituição foi submetida a plebiscito em Março de 1934. Como em todos os países em que a ditadura se implantou depois duma guerra civil, obteve quase a totalidade de sufrágios favoráveis e foi aprovada.
Fonte - História-Portugal.blogspot
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