Monday, September 22, 2008
MUSEU DE CANHÕES NUM JARDIM DO MINISTÉRIO DA DEFESA DA TAILÂNDIA
certamente quando se dirigia para o local, a seu lado direito, deve ter dado conta de um largo jardim, muito bem cuidado, com peças de fogo expostas, antigas, em seus suportes ou em carretas de duas rodas. Aquele jardim, tratado com esmêro, pertence ao Ministério de Defesa da Tailândia. Sem nos aventurarmos a classificá-lo, poder-se-à, cremos, considerá-lo um dos maiores do mundo. Aquele jardim/museu de guerra não está à disponibilidade do público. Podem, porém, os canhões ail expostos ser fotografos do passeio e como óbvio não se colhem as imagens com qualidade se dentro estivesse, dele a faze-las. Mas as peças de artilharia podem ser fotografadas desde que uma organização vocacionada para para a cultura, missão diplomática, acreditada no Reino da Tailândia, se dirigir por carta ao departamento de defesa. Compreende-se e natural que assim seja dado que dentro de um enorme edifício, construído em 1891 (reinado de Rama V, Rei Chulalongkorn), cujo traço pertence ao General Gerolamo Emílio Gerini, de nacionalidade italiana. Em 1986, acompanhei a jornalista Judite de Sousa, da RTP e no ano seguinte o jornalista da TDM (televisão de Macau), Avelino Rodrigues, para filmarem os canhões e completarem os seus trabalhos em cima das relações históricas entre Portugal e a Tailândia. Na altura o pedido tinha sido feito antes, por nota verbal, directa ao Ministério de Defesa, e assinada pelo punho do chefe de missão, de então, o embaixador José Eduardo de Mello-Gouveia para que fosse facilitado acesso ao "Jardim de Artilharia". Eu tinha interesse de lá voltar outra vez e fotografar todo aquele material, onde me parecia estarem expostas bocas de fogo portuguesas, isto porque Portugal foi o primeiro país da Europa a introduzir a artilharia, moderna, e as espingardas no Reino do Sião, logo após, ter travado relações, em 1511, com o Rei Rama Thibodi II, na segunda capital, Ayuthaya. Por carta, em Abril do ano corrente, dirigi-me ao embaixador e chefe da missão diplomática de Portugal na Tailândia, António de Faria e Maya e graças a seu empenhamento, pouco tempo depois, estava a fotografar os canhões do jardim do Ministério da Defesa. Vasculhando, as cópias, de documentação antiga (autorizado a faze-las por despacho do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, consulado do embaixador Sebastião de Castello-Branco), vou encontrar uma nota do cônsul, de Portugal, do Dr. Joaquim Campos, datada em 12 de Maio de 1939, em que se dirigia ao Ministério dos Negócios dos Estrangeiros da Tailândia, a solicitar, os bons ofícios, para que fosse ao jardim do Ministério de Defesa, obter imagem de dois canhões portugueses que ali estavam expostos. Acrescentava, ainda, o Dr. Joaquim Campos que tinha tido conhecimento do facto num artigo publicado no jornal da "Siam Society". Ora o Dr. Joaquim Campos além de ser cônsul de Portugal e médico era um históriador, por vocação, e mérito e o primeiro historiador, português, que escreveu, em língua inglesa, um brilhante artigo, publicado numa obra, editada pela Siam Society, em 1959 (quando infelizmente, o dr. Campos já não pertencia ao mundo dos vivos), com o título: "Early Portugueses Accounts of Thailand". Não chegamos a saber se de facto o historiador foi lá recolher imagens, aos canhões portugueses, porque nunca encontramos outros documentos, a não ser este, cuja imagem está aposta. Depois de obtida a autorização, que me foi dada verbalmente, pelo telefone, pela secretária, Pralom, do embaixador Faria e Maya, à hora certa, numa manhã, estava no local, acompanhado de minha mulher Kanda, para vencer a barreira de língua, caso fosse necessário. Fomos excelentemente recebidos, por dois oficiais do exército tailandês, uma senhora e um senhor e ainda um jovem, da casa dos vinte e poucos anos, de nome Silirat Wong Par, com uma máquina fotográfica pendurada ao ombro que me viria oferecer um excelente livro, que descreve a história da artilharia desde os primórdios que foi introduzida no Reino do Sião. O pai de Silirat Wong Par, médico de profissão, é um daqueles doentes, apaixonados pela artilharia. Edição de luxo, fotografias de excelente qualidade, 304 páginas e editados, em língua, tailandesa, apenas 3.500 exemplares. Livros foram distribuídos, por instituições, tailandesas, de educação e para assim a história da artilharia se mantenha viva na Tailândia. Pena, seja, que este excelente livro não seja traduzido para a língua inglesa (já que mais não fosse), reeditado, porque seria uma obra meritosa. Fotografei todas as peças, sem qualquer restrição, expostas naquele jardim de cuidado esmerado, só foi pena que aquela manhã, surgisse sem sol, que melhor teriam ficado as imagens obtidas. O livro, mesmo escrito na língua tailandesa, diz-me muito e a oportunidade de entendermos os princípios do uso da artilharia no antigo Reino do Sião. Os siameses eram pessoas de uma imaginação fértil e depois de terem conhecido os princípios da artilharia há que inventar sistemas para a fazer operar e usá-la. Vamos assim encontrar peças de fogo ligeiro, montadas no dorso de elefantes, com dois artilheiros e o homem que dirigia a besta de guerra. Imagem ao lado inserida, retirada de um mural, algures pintada na parede de um templo, onde os artista de uma época, exprimiam a vida do povo siamês. Os siameses, usam a artilharia, conforme as circunstâncias que de momento se lhes depara para se defenderem contra o seu inimigo, tradicional, do Reino do Pegu. Não basta só as peças de artilharia colocadas em cima do dorso de elefantes, mas os siamesa aplicam-nas em termos manuais. Eles aprenderam a arte de fundição, do ferro coado e do bronze com portugueses, em Ayuthaya. A soberania do território terá que ser preservada e a vida dos reis também. Porém, os siameses poderão ter os seus embates, políticos, internos, mas quando a soberania territorial está em perigo, esquecem as divergências, internas e apenas existe o sentido de defender a nação. Terminei, por agora, a "A rota dos canhões", que a iniciei a partir do fundidor Manuel Tavares Bocarro até à artilharia no Reino do Sião, introduzida pelos portugueses. Não sou técnico sobre a matéria de canhões, mas produzi um trabalho de reportagem que pode ser últil para os novos historiadores. Foram 21 partes, muitas horas de sono perdidas e investigação procurada, que graças ao meu arquivo, pessoal (franqueado a todos) e trabalho de 25 anos, foram conseguidas as fotografias que ilustraram mais de 500 páginas.
José Martins