o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 7a. Parte

Friday, July 18, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 7ª
A carta do Conde de Linhares foi longa e manifestava o desejo de Manuel Bocarro se deslocasse a Goa a qual pedido o fundidor não poderia recusar e demais a promessa de tão significativa a honraria da concessão do hábito de Cristo. Porém já antes Manuel Bocarro tinha solicitado ao vice-rei Conde de Linhares a autorização para viajar a Goa cuja finalidade seria o de visitar seus pais de avançada idade. O hábito de Cristo não seria, para ele, a um grande atractivo, dado que para o manter afimava "cô hu bom salário para sostentar estas honrarias". Manuel Bocarro, fundidor, de mãos calejadas não se sentiria confortável vestido de branco do pescoço aos pés com tal farpela. Havia algo mais, escondido, mesmo com a ordem do Conde de Linhares para seguir para Goa, que se fizesse desculpar-se de não ter embarcado a 30 de Outubro de 1635 numa nau inglesa, alegando que precisava de concluir o seu grande contrato da fundição de cem bocas de fogo e acrescentava: "o risco de embarcar num navio estrangeiro que o poderiam matar e com ele "se sepultaria a fundição de ferro". Mas Manuel Bocarro prometia que quando terminada a fundição das cem peças de artilharia de ferro, da qual encomenda despachava 34 na nau inglesa, se "passaria para Goa", cidade da sua criancice, aonde aprendeu a servir o seu rei e que seria a sua Terra de Promição, até porque Macau não seria mais que um porto de passagem de sua vida.
"Eu,Senhor, não me aRrependo nunca do que hua vez prometi" . Manuel Bocarro de facto pretendia viajar a Goa e uma das razão seria visitar seus velhos pais, mas não morria de amores de para ali se fixar em definitivo. O Conde de Linhares sabia, de antemão, os perigos que poderiam acontecer ao Manuel Bocarro embarcar num navio estrangeiro, em águas aonde não havia lei e esta a de "rapinagem" e, na carta ao vice-rei, desde que fosse em barco português e, se possível, gozando já da "merçe do foro e do habito... por que como o tempo da nossa vida seja inserto, e as viagens de mar de tamtos perigos se acaso me faltar a vida amtes de chegar a Goa, morrerei honrado e terão esta glória os meus deSendentes e se mandar me Deos a salvamento, porey todas as forças p.ª que tenha feito nesta cidade a fundição de ferros".
Nos dá bem a entender que Manuel Bocarro não aceitava como credíveis as palavras do Conde de Linhares e faz-lhe o teste na carta que lhe dirigiu e enviada no navio, juntamente com as 34 bocas de fogo, que lhe agradaria seguir de Macau já nobre honrado e sair em Goa vestido com o hábito de Cristo. Manuel Bocarro, como já se afirmou, não acreditava na promessa do Conde de Linhares, porque bem sabia que descendia de família de "cristãos novos" e tal habito concedido ao Bocarro iria causar ciúmes entre a fidalgaria portuguesa, já altamente, significativa na Ìndia Portuguesa e no clero local. Manuel Bocarro continuava afanadamente a fundir bocas de fogo de ferro coado não tendo, conforme assegurava ao vice-rei, para seu "descanso mais que alguas oras da noites e essas muy limitadas".
A fundição, segundo se aventa, operava as 24 horas dos ponteiros do relógio. Mês e meio depois da nau inglesa partir de Macau para Goa, Manuel Bocarro do ferro coado já tinham saído 22 canhões, onde entre eles se incluiam os de bocas de 14 libras de calibre. Em Fevereiro de 1636 acrescentavam-se mais 45 peças; e em Janeiro de 1638 completava o núnero de 130 e, no próximo mês de Abril, estaria dentro das nossas previsões previsões, dado ao ritmo de trabalho da oficina de Bocarro que estariam fundidas 200 peças. É impressionante e para a época, o frenesim que seguia na alma de Manuel Bocarro! Para fundir duzentas bocas de fogo fundidas, requeria uma enorme azafama logista, onde estava o transporte em bruto do ferro da China, por via marítima e o pessoal que seria necessário para a fazer funcionar, era com isto, um empresário de grande espírito e organizador. Macau, durante a permanência de Manuel Bocarro, vivia a época de glória e da que se pode considerar de prata. A "Nau do Trato" navegava de 1555 - 1640, num vai-e-vém entre Macau e Nagazaki (Japão) e daqui "abarrotada" de prata, cujo o valor, deste metal, os japoneses desconheciam e por lá existia muita abundantemento. (Para os interessados na história recomendamos "The Great Ship From Amacon" de C.R. Boxer - Centro de Estudos Históricos Ultramarinos - Lisboa, 1959")
Nos finais do ano de 1638 o vice-rei da Índia tivera conhecimento que Bocarro tinha concluído a fundição de 200 peças e de imediato se apressou depachar: "não há porq. fundir mais peças de ferro e que se venha p.ª Goa". A fundição de cobre de peças de fogo e de sinos, em Macau, estavam reduzidos ao mínimo. Manuel Tavares Bocarro, não poderia dispensar cuidados nas suas fundições dado que no Oriente grassava uma grande falta de cobre. Este metal chegava da China e difícil a sua aquisição. No Japão era proibida o comércio e sob a pena de morte aos vendedores e compradores. Noutros países orientais o cobre era possível juntando a moeda local que seria depois refundida e transformada em sinos e canhões. O cobre que se poderia obter seria em Goa, permutado, o que chegava, de Inglaterra por pimenta. No início do ano de 1638 não havia cobre em Macau e, Manuel Bocarro escrupuloso como o era, devia à Fazenda Nacional cento e trinta e quatro picos e dezoito cates desse metal, que o administrado da Fazenda comunicou ao vice-rei da Índia. O ferro principiava, igualmente, a escassear, porém essa falta não preocupava Manuel Bocarro a fundição de 200 peças, davam-lhe um certo descanso. As oficinas de Chunambeiro continuavam a fundir, embora, mais moderadamente. Manuel Bocarro, agora, com as peças fundidas e a redução laboral das suas fundições já não tinha desculpa para travar a sua ida a Goa e cumprir a ordem do vice-rei. Havia a dificuldade de conseguir um transporte próprio e seguro e, obviamente, em navios portugueses. Em Dezembro de 1637, o capitão-geral da China, Domingos da Câmara Noronha, solicitou ao vice-rei Pedro da Silva, para que lhe enviasse dois galeões para "poder passar a artilha.ª que está em Machao, e juntam.te levar as faz.das que ouvere de hir", mas, nessa altura, a Índia atravessava uma grave crise. Aos holandeses já não lhes bastava dominar os mares do extremo-oriente, o ter estabelecido bases nas Ilhas de Sunda e, agora, o principal objectivo seria o de expulsar os portugueses da Índia e conquistar Goa. Suas armadas bloqueavam as águas de Goa e as naus portuguesas não estavam à altura de lhe travar o poderio naval. A dinastia filipina, durante os 57 anos, decorridos, a dominar a administração portuguesa dos territórios altramarinos, tinha revertido num total desastre, quer no prestigío como na perda do poderia naval, na Ásia e Oriente desde 1580 e de quando Portugal perdeu a independência. A fidalgaria portuguesa, muita dela, tanto lhes dava como se lhes desse que Portugal estivesse sob o domínio castelhano... Dentro de suas almas, apenas existia, a ostentação de graus honoríficos; a opulência "pacotilhada" de parasitas, miseráveis, que tinham traído o Grande Afonso de Albuquerque. Não estariam, de todo, com o Rei de Castela ou com o agente do Rei de Espanha que vivia "nababamente" nos "Paços da Ribeira". Trabalhavam para eles e voltar a Portugal instalando-se, algures, numa província qualquer de Portugal e ali, como na Índia o fizeram, a viver aquelas grandezas de "ladrões" que o foram na Índia Portuguesa. Portugal, infelizmente, ainda hoje tem os seus "Capitães da Índia" os parasitas modernos que continuam a ser a cópia fiel daqueles que o foram na época quinhentista.
CONTINUA...José Martins

NA ROTA DOS CANHÕES 8a. Parte

Wednesday, July 23, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 8ª
Os holandeses cobiçam a Índia Portuguesa assim como outras possessões administradas por Portugal. As navegações de Portugal evitavam encontrarem-se com as holandesas. Em Março de 1638, Filipe III determinara que "não fosse à China nenhum navio mercantil" e que todas "as embarcações manças e desarmadas passassem a ser artilhadas". Ordem que não viria a evitar a continuação dos holandeses apresar os navios e impedir os contactos entres os territórios portugueses na Ásia. Faziam-lhe frente as armadas de alto mar compostas de galeões fortemente artilhados e bem municiados e com experientes artilheiros, habituados à luta, por vezes atingindo enorme ferocidade. As viagens de Macau para Goa, para escaparem aos ataques e à pilhagem dos holandeses, parte delas são efectuadas em pequenos navios à vela ou movidos a remos, que penosamente navegavam ao longo das costas, escondendo-se em pequenas e isoladas enseadas, para escaparem aos poderoso "inimigo da Europa". O tráfego marítimo entre Macau e Goa voltou intenso, obrigando ao recurso de utilizar navios ingleses, cujo o custo do frete era feito a troco de pimenta. Os ingleses não eram exigentes no tipo de carga que lhes fosse entregue para deixar em Goa, que poderia ser desde peças de artilharia ao contrabando de cobre, que chegado da China a Goa "si hia fundindo (em) boa artilharia". Porém este recurso viria a falhar porque os holandeses o descobriram. Com imensa dor o vice-rei Telo de Menezes informava o rei Filipe III, da grave situação e avisava-o que convinha tanto quanto possível que fosse evitado a extinção de todo, o comércio com a China pela importância que o mesmo tinha para a coroa portuguesa e para a conservação dos territórios na Índia. Os Livros das Monções relatam muitas tentativas de navios portugueses pretenderem furar o bloqueio naval holandês para atingirem Goa, Macau e outros portos da Ásia. Falharam muitas delas, como o afirmou o vice-rei conde de Aveiras que nos mares da Índia havia mais de cem naus holandesas; o valor e a persistência dos marinheiros e aliados ao espírito de aventura dos portugueses sempre permitiu que alguns navios chegasse ao porto desejado. No ano de 1639 uma pequena embarcação goesa conseguiu chegar a Macau, levando os avisos do vice-rei Pedro da Silva e, entre eles, uma carta destinada a Manuel Tavares Bocarro, datada em 15 de Abril de 1639, na qual ordenava ao fundidor que ao serviço de sua majestade o Rei deveria deslocar-se a Goa. Aventa-se a hipótese que Manuel Bocarro não teria recebido a mensagem com a ordem para partir para Goa. No principio do ano de 1639, Jerónimo Osório da Fonseca um velho experimentado marinheiro teria largado de Macau num pequeno patacho com o propósito de atingir Goa navegando pelos estreitos de Sunda e do Bali, rota que antes nunca tinha sido usado. O Osório da Fonseca teria inventado um instrumento que lhe permitia, segundo suas previsões, navegar de leste para oeste, conhecer e traçar nova rota de Macau para Goa e, com isto, despistar as forças navais holandesas. Manuel Bocarro, não tinha motivo para se desculpar não poder deslocar-se a Goa, cumprir as ordens do vice-rei. Duzentas peças de artilharia estavam fundidas nas suas oficinas e prontas para ser expedidas para Goa e o bronze esgotado.
Bocarro como anteriormente já foi aqui revelado, receava pela sua vida se embarcasse num barco estrangeiro, a fama que já possuia na arte de fundir seria, motivo, suficiente, para o assassinarem em mares onde a lei e os escrúpulos moravam distantes. No ser de Manuel Bocarro seguia as saudades e o desejo de encontrar o seu velho pai ainda com vida e tudo indica que teria chegado a Goa antes de Junho de 1639 e a 24, do mesmo mês, assistira ao falecimento do vice-rei Pedro da Silva, vitimado de uma epidemia que grassava em Goa. Durante o ano de 1639 nos registos da saída de barcos portugueses de Macau para Goa apenas foi encontrada a saída do patacho de Jerónimo da Fonseca, o que bem nos dá a entender que o Bocarro seguiu com o Fonseca. Porém a veracidade certa da saída de Manuel Bocarro para Goa não está identificada, como exacta, isto porque o mestre fundidor partiu de Macau como um clandestino. Os historiadores Professor Charles Boxer, Monsenhor Manuel Teixeira e o Almirante Celestino Soares não dão como certa a saída de Manuel Bocarro de Macau em 1640. Ficará para sempre uma incógnita se o fundidor embarcou ou não, em 1639 ou 1640, para Goa. Numa carta que o Professor Charles Boxer, enviou a N. Valdez dos Santos (sua obra que me serve de guião para esta séries de artigos) informava-o:" porém como já lhe disse em Lisboa, é claro que Bocarro ficou em Macau durante os anos 1635-1645, apesar de ter sido mandado de voltar a Goa, como consta de sua autobiografia redigida em 1643, através de consulta extensa a seu respeito no Arquivo Histórico Ultramarino, Códice nº 79 do Conselho Ultramarino, de 16-XIi - 1643, fls. 1-5, "Manuel Tavares Bocarro estante em Machao pede em renumeração de seus serviços o abito de X. do com 30 Reis e o foro de fidalgo". Por outro lado Monsenhor Manuel Teixeira é categórico ao afirmar, em ("Macau e a sua Diocese, 6.º vol. p. 280): que "Manuel Bocarro estava lá (em Macau) em 1640... Isto prova-o pela Relação da aclamação de D.João IV em 1642..." Pode de facto tornar-se certas as afirmações de Monsenhor Manuel Teixeira, mas não há provas que o Bocarro estivesse em Macau em 164o. Outros dois historiadores Marques Pereira e Nascimento Moura, tiveram as suas dúvidas se Manuel Bocarro teria fundido peças de artilharia em Macau. (nota do autor deste artigo: António Feliciano Marques Pereira, Cônsul-Geral de Portugal em Banguecoque 1875 e acreditado em Malaca e Singapura, foi um proeminente diplomata, com brilhante obra no Antigo Reino do Sião e Jacinto José do Nascimento Moura, capitão de artilharia, com obras relevantes em cima das relações dos portugueses com Sião (que felizmente temos algumas destas obras na nossa biblioteca particular), elogia o cônsul Marques Pereira nos termos seguintes: "...pessoa de alto valor moral, mental e trabalhador infatigável, cujo o nome está ligado, estreitamente, a Macau, pelos seus relevantes serviços ali prestados, entre os quais avultam, os seus importantes trabalhos de investigação histórica". Marques Pereira, depois descreve uma boca de fogo que se encontra no Museu Militar de Lisboa afirma: "mas esta peça, como se vê da inscripção, apesar de ser do mesmo fundidor das que existiam em Macau não foi certamente fundida nesta cidade e a circunstância de ter sido embarcada em Moçambique para Lisboa, destroe a possibilidade de o ter sido". Tavares Bocarro teria ido para a Índia; e em Goa fundira esse canhão". O capitão Nascimento Moura, num estudo sobre a "Artilharia de Macau", publicada na Revista Militar ao referir-se "à colubrina mandada executar por António Telles de Menezes, Governador da Índia, em 1640", conclui que "parece, pois, que Manuel Bocarro também fundiu artilharia na Índia e que este material foi parar àquela colónia (Moçambique). A morte do vice-rei Pedro da Silva, teria sido para Bocarro um rude golpe e o ruir das esperanças de possuir, as bem merecidas honras de vestir o hábito de Cristo que lhe havido prometido Pedro da Silva que não mais teria sido que entusiasmar Manuel Bocarro a fundir as mais que pudesse peças de artilharia. O fundidor não tinha conhecimento que os vice-reis da Índia não tinham, dentro da hierarquia da coroa portuguesa, poderes para conceder ordens, a não ser, em casos especiais, algumas pensões, impostos pelo alvará do ano de 1612. Em verdade, mais tarde, Manuel Tavares Bocarro, desalentado escrevia: "o que mais se dezeja menos se alcança". E nunca mais receberia, cedo ou tarde o prémio, merecido, de reconhecimento da sua Pátria pelos sacrifícios do calor dos fornos de fundição e pelos serviços que tinha oferecido à Pátria portuguesa. O honesto e trabalhador Manuel Bocarro está a ser manipulado pelo Pedro da Silva e este, o vice-rei da Índia, aproveitar-se da produção de canhões do Bocarro, para depois ele mesmo receber as honrarias e mordomias do Filipe III de Espanha. Manipulações, muito frequentes, em Goa e noutras costas onde Portugal está instalado com feitorias de que os homens "bons" do reino, para ali destacados, se vão aproveitando dos feitos dos seus compatriotas para depois os chamarem a si. Mas este mal, ainda hoje continua vivo que bem merecia um estudo dos sociólogos, ir em procura, porque seria a razão que os vícios do passado, permanecem vivos e se mantêm na sociedade portuguesa actual. E para terminar esta parte: "coloquem-se os galões, no ombro de um cabo "lateiro" as de capitão e, depois, aguarde-se as suas atitudes... ou melhor: não peças a quem pediu ou sirvas a quem serviu"!
CONTINUA....
Jose Martins

NA ROTA DOS CANHÕES 9a. Parte

Friday, July 25, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 9.ª
A morte do vice-rei Pedro da Silva, terá sido um golpe rude para Manuel Bocarro e a perda da esperança de obter as mercês e as almejadas honrarias para o compensar do trabalho árduo que teve na fundição de bocas de fogo em Macau. O novo governador da Índia foi designado segundo as regras de sucessão e perante o cadáver do falecido vice-rei Pedro da Silva foi empossado António Teles Menezes, homem de mérito, segundo Faria e Sousa: "com valor e com ambição de honras". Teles Menezes, levava 15 anos de permanência no Oriente e conhecido pela sua perícia militar, porém não tinha vocação para governar. Dentro dele existia o sentido patriótico de escorraçar os diversos inimigos que por terra e mar atacavam as possessões portuguesas na Ásia de que se iam aproveitando dada a decadência de Portugal. O novo governador não era, por aí além, um bom administrador dos fundos da Fazenda Real, gerindo como deveria os reduzidos orçamentos; inserir-se na difícil política e diplomacia oriental e debruçar-se na burocracia do seu executivo. Manuel Bocarro analisa Teles de Menezes e fica-lhe pelo caminho, a solicitação ao novo governador, o estudo e cumprimento da promessa que lhe tinha feito Pedro da Silva; o tão ansioso hábito de Cristo e o estatuto de fidalgo da corte portuguesa e o prémio: "acrescentamentos de homras e merces do fundidor que assistia na China". Manuel Bocarro terá que usar outra estratégia para conquistar as simpatias de Teles de Menezes, demovê-lo, para que as promessas falsas de Pedro da Silva fossem mais tarde cumpridas, montando uma nova fundição de canhões em Goa; entregar-se ao máximo a ela e mostrar o seu mérito de artesão a Teles de Menezes. Segundo a hipotética e provável viagem de Macau a Goa, pelo Bocarro, aventa-se que teria chegado ao território no primeiro semestre do ano de 1639 e na estação da monção e as guerras batalhas marítimas estagnadas e as embarcações nas baías ancoradas. Durante as "férias" no período da monção, vivia-se em Goa e em outros portos do oriento alguma ociosidade; o fundidor Bocarro aproveita-o para a construção de fornos para do minério de ferro, abundantemente em Goa, transformá-lo em coado e despejá-lo nas formas que daqui sairiam peças de fogo em ferro, que bem necessárias seriam para os fortes portugueses no Ceilão, Golfo Pérsico e Costa do Índico, "onde as aves de rapina", holandesas, não lhes davam paz ou ponta, que fosse, de sossego. O fundidor teria acendido os fornos no fim de 1639 ou no princípio de 1640 e entrega-se com todo o seu vigor e arte para fundir bocas de fogo de ferro coado. Manuel Bocarro não teve sucessos, como já tinham acontecido aos fundidores chineses, vindos de Macau, não acertava na tempera das peças. O fundidor vive amargurado e para ele a espécie de um enxovalho à sua sabedoria. As várias experiências que haja feito, com o ferro coado feito, todas lhe sairam goradas. Para Bocarro era uma derrota e teria que procurar salvar o seu prestígio e pensa-se que por sua iniciativa ou pelos conselhos de seu pai, voltou-se para a fundição de artilharia em bronze. Goa estava para Manuel Bocarro uma mãe madrasta e aquele enorme prestígio alcançado em Macau estava a diluir-se. O fundidor pretende fugir às críticas e ao escárneo dos seus inimigos pessoais de Goa, facetas de vida e tradicionais entre os portugueses com estatuto hierarquico na Ásia e Oriente. Mas voltando ao tempo de monção, depois de Bocarro não ter tido sucesso com a têmpera do ferro coado, por ordens de António Teles de Menezes, produz moldes idênticos aos da sua fundição em Macau, onde neles não faltaria, gravado o escudo de armas daquele território, mas sem o brasão, a Cruz de Santiago. Porém as peças ostentavam, em fitas ou en cártulas, a legenda que tinham sido fundidas, por ordem do governador da Índia. António Teles de Menezes, sob a lei da sucessão, pela morte de um vice-rei, considerava-se um governador interino. A 26 de Março de 1640 saiu de Lisboa um novo vice-rei da Índia, João da Silva Telo de Menezes, Conde de Aveiras, que a nau que o transportava, navega em águas bonançosas e de bom vento, depois de 174 dias lança o ferro em Goa. O novo vice-rei ao desembarcar em Goa encontra a cidade "num estado mizeravel e difficil". Porém António Teles de Menezes, não contava com a sua substituição e outro remédio não teria que aceitá-la e desde logo procura cativar as simpatias no novo vice-rei. Um dos brindes oferecidos ao António de Menezes e com a finalidade de o homenagear pelo alto cargo que tinha sido distinguido, por el-Rei de Portugal, o fundidor Manuel Bocarro vai modificar o molde da marca dos canhões e acrescenta-lhe: "móvel do brasão da família Silva Teles de Menezes, ou seja, um leão rompante, porém com uma variante de pura fantasia, isto é, sob um "coronel". "A peças de artilharia seriam no futuro fundidas com estes símbolos, mas não deixavam de ter o nome do fundidor: POR M.el BOCARRO. No Museu Militar de Lisboa encontram-se dois exemplares desta fundição. Uma dessas peças (R.1) é uma magnifica colubrina de bronse, com 13,5 cm de calibre, 3,64 metros de comprimento e cerca de 3o26 kg de peso. No 1º reforço tem as armas de Macau - sob uma coroa as armas reais portuguesas, ladeadas por dois anjos, segurando o da esquerda uma Cruz de Cristo e o da direita uma esfera armilar. As "Asas" da peça são tipicamente de formato oriental mas, no fundo da culatra, lembra um trabalho indiano que se completa com um certo mesticismo proveniente do cascavel, ornamentado com volutas e terminando numa mão de uma mulher a fazer uma figa o que, segundo a mitologia hindú, é o símbolo mágico para uma boa gravidez. Numa fita lê-se a seguinte legenda: ANT.º TELLES DE MENEZES - GOV.or DA INDIA 1640." Nesta peça não existe sigla que identifique o nome do fundidor, tudo indica que esta peça a que lhe foi dado o nome "Canhão Milagre", é obra de Manuel Bocarro. A omissão da assinatura pode considerar-se propositada, o velho Pedro Dias Bocarro pai de Manuel teria, nessa altura, 80 anos de idade e embora já não fundisse peças na sua oficina, que ali tinha dispendido 50 anos de sua vida a fabricar canhões, o facto teria sido por uma questão e respeito não ter gravado seu nome. Outra peça existe no Museu Militar de Lisboa (R.12) é muito parecida à anterior, mas com certas diferenças; as principais, possuirem, em relevo, o leão rompante e a indicação ter sido fundida "POR M.el TAVARES BOCARRO. Estas duas diferenças aparecem associadas o que leva a supor que os ornamentos fossem implantados, após a chegada a Goa do vice-rei Telo de Menezes. Há a particularidade destas duas peças é terem o cascavel completamente diferente. Na primeira é em formato de "figa", na segunda é em "flor de lotus", venerado símbolo da mitologia hindú, que representa o mundo saindo das águas. O leão rompante coroado era considerado uma honraria ao novo vice-rei da Índia e a inclusão do nome de Manuel Tavares Bocarro, bem se pode levar a entender que o velho mestre da "Real Fundição de Goa", Pedro Bocarro, ter morrido, o que de prever no final da monção, numa altura em que verificavam muitos óbitos em Goa e os idosos os mais afectados. N.Valdez dos Santos na sua brilhante investigação inserida no livro "Manuel Bocarro o Grande Fundidor" descreve na pg. 55: " Ao terminar a breve descrição dos canhões do Bocarro, fundidos em Goa no ano de 1640, e que hoje se encontram no Museu Militar de Lisboa, é lícito perguntar qual a razão porque ostentam as armas de Macau mas sem o respectivo brasão, ou seja, a Cruz de Santiago. Pode-se responder que isso talvez se deva ao facto de Manuel Bocarro Tavares Bocarro ter pretendido manter as armas que sempre gravara nos seus canhões e que inegavelmente, eram mais representativos de Portugal do que armas reais de Castela com um pequeno escudo português sobreposto. Segundo nos afigura a hipótese da estadia de Bocarro em Goa pode ser comprovada pelo traslado da petição que constitui a "consulta" anteriormente aludida, em que aquele fundidor pedia "em renumeração dos seus serviços o abtio de Xp.to com 50 Reis e foro de fidalgo". com efeito neste documento lê-se que "o g.or Ant. Telles logo que entrou a governar... ordenando lhe que logo fundisse todo o cobre q houvesse do Japão em dois géneros de artilharia, sendo hu delles de 18 e 20 calibres, por serem os das guerras e brigas q teve com enemigos porq so elles serão convenientes pª os galeões aos quaes tambem erão neces.as peças colubrinas para as partes que se requeirão nas armadas, fizesse 24 dellas de 12 e 16 sendo as de 12 de 20 L.as e 33 embocaduras, e as mais em canhão, nas quaes o Supp.to levou grande trabalho, como o mesmo G.or no fim da sua carta diz". Por este período transcrito depreende-se que a fundição das "24 colubrinas e os mais canhões devia ter sido feita em Goa, porque não se encontrou qualquer referências que, de meados de 1640 a fins de 1643 tivesse havido comunicações regulares para Macau onde, aliás, não havia sobre que permitisse a fundição de canhões de tão grande porte em número relativamente elevado. Ora, segundo segundo as palavras de Bocarro, este concluiu a fundição de artilharia "com grande trabalho, o que o governador não só reconheceu como também "se satisfez deste serviço".
CONTINUA...José Martins
P.S. Os agradecimentos e com a devida vénia foram retiradas as imagens da magnifica obra: "História das Fortificações Portuguesas no mundo". Editada por Publicações Alfa. Não nos seria possivel prosseguirmos este trabalho sem a ajuda desta e de outras obras publicadas.

NA ROTA DOS CANHÕES 10a. Parte

Sunday, July 27, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 10ª
Não era possível, nos escassos dez meses de governo de António Teles de Menezes, numa altura em que "era muy difficultozo haver novas da China" e o tráfego marítimo quase inexistente fazer-se a encomenda das peças de artilharia, proceder-se à sua feitura e enviá-las para Goa onde teriam chegado a tempo do ex-governador as ter visto, antes de embarcar numa pequena caravela que o levou a Lisboa. O Conde de Aveiras viu e apreciou as peças de Bocarro fundidas em 1640, porque este, na já muito citada petição afirma que este vice-rei "lhe escreveu outra carta logo que entrou a governar, em q diz o alcanse que deu aos serviços... e que fundisse o cobre q la tinha em peças de 16, e 20 de calibre e de 25 embocaduras de compri.to ,e as 24 colubrinas na forma em qu pella mesma carta lhe ordenou, prometendo lhe no fim della de lhe fazer as honras e merces q bem cahissem nos merecimentos do Supp.te "
Os vices-reis da Índia chegados a Goa, desde logo procuravam familiarizarem-se com os "cantos da casa" e, se leva a crer que teria lido a carta que o seu predecessor (se por sorte tivesse deixado o cargo em vida, numa época em que as "maleitas" e outros males afectavam) lhe teria deixado. O Conde de Aveiras visitou os principais serviços, conhecê-los, apresentar-se às pessoas que a superintendia. Um dos principais departamentos que mereciam especial atenção do vice-rei era o "Arsenal da Ribeira de Goa" que englobava a construção e reparação de navios da carreira e a fundição de canhões. De prever que o Conde de Aveiras na sua visita ao Arsenal tivesse contactado Manuel Tavares Bocarro e este, orgulhoso, lhe mostrara as 24 colubrinas que o governador Teles de Menezes mandara fundir. Em algumas peças o Bocarro ainda tivera tempo lhe incrustar a insígnia do leão rompante em louvor ao novo vice-rei. Abordou ao ilustre visitante, deu-lhe conhecimento do problema que tivera com a fundição e a têmpera, não conseguida, das peças de ferro . As 24 colubrinas apresentadas ao Conde de Aveiras, ainda não concluídos, os brocamentos e outros acabamentos onde, evidentemente, não lhe faltaria o polimento, exterior do bronze. Como se poderá analisar nas velhas bocas expostas em museu são ãutênticos, objectos de elogia à mitologia dos povos onde desde os emblemas que representam os país, aos animais (o caso do incrustação do leão rampante que representa a força, a coragem e a audácia), as plantas e os animais marinhos; os "arganeis" ao meio do canhão para levantamento e movimentação, são substituídos pelos golfinhos a sairem da água e depois em posição de mergulho. Conde de Aveiras, ordenou ao Manuel Bocarro que depois de terminar as 24 peças que acabara de ver, que fundisse outras e utilizasse todo o cobre disponível nos armazéns. Em 13 de Dezembro de 1641, segundo uma carta do vice-rei mandara preparar "hua urca de mais de 350 toneladas" para, durante o mês de Fevereiro de 1641, partiria para Macau numa viagem "per fora dos estreitos a q chamão de Sunda, navegassão noca e q há pouco descubrio". Porém as naus holandesas bloqueavm a barra de Goa, não permitindo a saida do navio. Teve que ser substituída a pesada embarcação por uma fusta que largou em Março de 1641. A fusta, conhecida também por galeota, foi fustigada pelo mau tempo, abrigou-se num porto de país amigo e conseguiu chegar a Macau depois de 9 meses de viagem, junto ao fim do ano de 1641. A fusta larga Macau em 2 de Fevereiro de 1642 de regresso a Goa mas devido a temporais (não encontrou pelo caminho os holandeses) que teve de enfrentar e queda-se a invernar em Solor e, só viria a chegar à enbocadura do rio Mandovi em 15 de Setembro de 1643, demorando, assim, 20 meses a viagem de Macau a Goa. Na fusta seguiram embarcados religiosos e em Solor deram conta que na ilha havia cobre em abundância e com eles, uma amostra, que entregaram ao Conde de Aveiras, que viria, depois, a comunicar ao Rei, em Lisboa. O monarca ficou entusiasmado com a nova descoberta, cuja carta só chegaria a Lisboa no final do ano de 1644. Não há conhecimento se teria sido transportado cobre de Solor para as fundições de Macau ou Goa, assim como as datas exactas da passagem de Manuel Tavares Bocarro em Goa. A proclamação da independência de 1 de Dezembro de 1640 e o fim da subjugação de Castela só é conhecia em Goa passado cerca de um ano. O Padre Gabriel Saldanha na sua obra " História de Goa" deixou uma pouco conhecida informação que se transcreve:
"Logo que D.João 4 se empossou do trono de Portugal, escreveu ao vice-rei da Índia, que era então o Conde de Aveiras, e ao tribunal da relação duas cartas, anunciando este facto e ordenando que o fizessem aclamar, anunciando este facto e ordenando que o fizessem aclamar, jurar e obedecer como Rei natural e verdadeiro que era. Em Março de 1641 sairam de Lisboa as primeiras naus da Índia, comandadas por Manoel de Lis e Bartolomeus Gonçalves trazendo essas ordens. Na altura de Cabo Verde, Manoel Lis pôde adiantar-se e fazendo a aclamação de D. João 4.º em Moçambique, seguiu logo para a Índia; mas, receando encontrar esquadras holandesas, que, por este tempo, infestavam os mares, aproou a Onor, donde enviou para Goa num pequeno barco seu filho André Liz, creança de 9 anos, inteligente e simpático, com as cartas del-rei, em companhia de Francisco da Silva Souto-Maior. Desebarcaram os dois emissários em Pangim e, enquanto o menino, animado de entusiasmo, próprio da sua idade, levantou clamorosos vivas a D. João 4.º , que o povo escutava com espanto e júbilo, Francisco da Silva apressou-se a ir a por terra comunicar a notícia ao Conde de Aveira em Goa. o intrépido menino foi rio acima acima ter com vice-rei, a quem entregou as cartas que trazia, instando-o a reconhecer logo a independência de Portugal e a ligitimidade do duque de Bragança. Sorriu-se o vice.rei da gentileza infantil embaixador, cuja sedutora eloquência o moveu a convocar sem perda de tempo as autoridades principais pessoas da cidade e propôr-lhes em substanciosa e patriótica fala de reconhecimento de D. João 4.º, e efectivamente, a 11 de Setembro de 1641, realizou-se em Goa a aclamação do novo soberano com grandes demonstrações de rigosijo público. A 20 de Outubro já fôra D.João 4.º reconhecido em todas as praças do oriente português".
Na primeira carta que o Rei D.João IV enviou ao Conde de Aveiras informava-o da Restauração de Portugal e determinava que avisasse todas "as partes da Índia... e a China posto q eu o tenho mandado fazer por António Fialho Ferr.ª q foi em dereitura a Machao pola via de Inglaterra". Conde de Aveiras apressou-se a responder, em 17 de Novembro de 1641, manifestando o seu júbilo e o de todos os portugueses
"per tão felice aclamação" Seguidamente indicava, entre outras coisas, que "a China se farão logo (em sendo monsão) os avisos necess.os alem dos q hei feito por alguas vias cõ a limitassão q permite hua carta q ha de hir por mãos pouco seguras, e querera Deus q lhe chegue também o q levou Ant.º Fialho Ferr.ª e muito se ha de estimar la nova da restutição de V. Mag.de a coroa de Portugal"
CONTINUA...
José Martins
Fotografias dos canhões da Ilha de Solor de Mark Schellekens e Greg Wiyncoll , publicadas no www.colonialvoyage.com/solor.html que tomamos (com a devida vénia) a liberdade de inserir nesta peça.

NA ROTA DOS CANHÕES 11a. Parte

Monday, July 28, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 11ª
Pequena Introdução
Na continuação do nosso trabalho em cima do tema os "Canhões de Portugal", que não tem sido nada fácil, dado que temos de procurar muita informação e graças à internet nos é possível e facilita. Não somos especialistas nesta matéria e até noutras que nos temos debruçado há vários anos. Consideramo-nos um "jeitoso" e animado pela epopeia dos portugueses, quinhentistas, na Ásia. Sabemos que a história desses feitos se vai perdendo, entre a juventude, nos tempos que correm. É pena e triste os cidadãos de um país percam o interesse pelo que seus antepassados teriam sido há mais de cinco séculos. As gentes foram se desviando, com o correr do tempo, para outras áreas e uma delas é o futebol, as telenovelas, os assuntos "corriqueiros" que dia a dia vão entrando nas casas dos portugueses, através dos canais televisivos, que não instruem, mas em vez disso, vão embrutecendo e paralizam os cérebros. Ainda não vai há muito, tempo, assistimos a um concurso, levado a cabo pela RTPi, cujas perguntas(história,geografia,língua e cultura), aos concorrentes, eram feitas por uma comunicadora, bonita e de uma mediocridade incrível. As perguntas dirigidas aos concorrentes era daquelas que qualquer aluno da terceira classe, na escola do meu tempo, responderia logo de pronto. Naquele concurso de seis pessoas, algumas adultos, com dificuldade e muitas perguntas erradas lá foram respondendo. Algo segue mal no nosso país onde se dá importância à cultura de "polichinelo", aos telefones móveis, aos jogos electrónicos, às sapatilhas de borracha e às roupas de marcas inventadas. Levar um povo a assimilar a cultura e instruí-lo não é tarefa de meses mas leva muitos anos e, em Portugal, este ensinamento está irremediavelmente perdido. O ponteiro de ardósia, a pena, cujo bico era molhado no tinteiro, substituído, depois, pela plástica esferiográfica e há uns anos chegaram as teclas dos computadores que milagrosamente nos dá acesso a muita informação histórica e outras de utilidade para a sociedade. Não há bela sem "senão" e a juventude em vez de procurar história, ou outras matérias que lhes sirva no futuro para uma vida melhor, buscam nos websites: Hi5, Zorpia, MSN e outros mais que circulam na internet que são o retrógado e a infelicidade do destino que têm pela frente. Não estamos a procurar de indireitar o mundo, mas apenas a lamentar que as novas tecnologias inventadas tem o seu lado excelente, contribuiram para a melhoria de vida do Homem, e por outro uma hecatombe para os devaneios, da juventude que são eles o futuro de um novo Portugal.
Mas vamos à continuação do nosso trabalho.A correspondência oficial e outra particular para o Reino seguiu no final do ano de 1641, transportada na nau de Manuel Liz que entrara e largara o ferro no Tejo seis meses depois. Seguia a petição de Manuel Bocarro para a concessão de honrarias e o almejado hábito de Cristo, havia tanto tempo que o desejava pelos bons serviços prestados na Índia em Macau em favor de Portugal. Depois da restauração da soberania portuguesa havia mais em que cuidar; muito a fazer e defender o território. Também se deve, o despacho da demora à emperrada buracracia que contaminava os gabinetes da corte, que com toda a demora encobria a recusa de honrarias e mercês a Manuel Taves Bocarro. Em 29 de Setembro de 1643, depois do processo ser preparado para ser apresentado ao Conselho Ultramarino a resolução foi negativa. Não há mercês e o hábito de Cristo para o Manuel Bocarro. O fundidor era judeu e as "Merces Geraes de todas as Partes Ultramarinas", de onde partia a resolução a quem se deveria galardoar as honrarias pelos "bons ofícios" à Pátria portuguesa estavam sujeitas à deliberação de homens sentados a uma mesa onde deveria estar representados, além da nobreza o clero português. O clero, numa época onde o Tribunal da Santa Inquisição, estava bem activo a julgar, a condenar e a queimar pessoas vivas na fogueira, seria uma ofensa, clerical, de bradar aos céus conceder as vestes de Cristo a Manuel Bocarro, um cristão novo alcunhado por "marrano". Seis dias depois da aclamação de D. João IV, o conde de Aveiras voltou a escrever ao rei informando-o que ficava:"...depachando aviso p.ª a cid. de Machao na China hu navio lig.ro e como vay jaa fora da monsão dee lge Deos boa viage, e a tenha tambem dao a Ant.º Fialho Fer.ª porq me dá muito em q cuidar aquella cidª cõ vizinhansa de Manilla". Porém, por razões desconhecidas, o navio ligeiro, um pataxo de boa tonelagem só largou com destino a Macau em Fevereiro de 1642, acompanhado do galeão S. Francisco Xavier. Pensa-se que Manuel Tavares Bocarro deveria ter usado um destes navios, partindo de Goa e regressar a Macau. O galeão e o patacho navegaram em águas bonançosas, mas antes uns quinze dias de chegarem a Macau receberam ventos contrários e não há a certeza se a pequena embarcação teria aportado a Macau ou se teria ficado em alguma enseada. O Comandante António Marques Esparteiro, desmente esta versão, na sua obra "Três Séculos no Mar", refere-se ao galeão S.Francisco Xavier relata: " a galeota da sua conserva conseguiu alcançar Macau". Com esta informação teria sido provável que Manuel Tavares Bocarro estivesse incluído no número de passageiros do patacho, mesmo com os ventos contrários teria conseguido a viagem de Goa a Macau. Sensivelmente ao mesmo tempo da chegada de Bocarro a Macau aportou o patacho holandês "Cappela" que colocou toda a população em alvoroço e em estado de guerra. Deste navio batavo desembarcou, com espanto de todos "Antonio Fialho Ferreira, vestido de trajo olandes". Este inesperado visitante foi logo conduzido à fortaleza de S.Paulo, onde estava reunido o Conselho de Guerra. Fialho Ferreira recusou-se a prestar qualquer declaração e que o faria de muito boa vontade na Câmara. Chegado à "Caza da Camara desta cidade - informou depois o capitão geral D.Sebastião Lobo da Silveira - o dito home declarou que tinhamos por Rey e Sñor legítimo e verdadeiro dos Reinos e monarquia de Portugal o mag.de catholica delRey Dom João o 4.º e que mandara a elle dereitura a esta cidade em hua nao engreza em que partio do reino, a qual hua tormenta grande que lhe deu abrira e não pudera tomar outro porto senão Jacatará donde logo buscara remedio para passar a esta cidade.... O conde da Ericeira, na sua história: "História de Portugal Restaurado" que Fialho Ferreira chegou a Macau "achou aquêle opulentíssimo povo dividido em parcialidades. Conformou-lhes ânimos a nova aclamação, celebradas com festas tãos custosas que se pudera duvidar da relação delas, quando se ignorara a riqueza em que vivem os moradores daquela cidade. Ajustaram fazer a El-Rei um grande donativo de dinheiro, que logo mandaram para Lisboa, e duzentas peças de artilharia de bronze, com muitas munições, que foram remetendo nas monções que se ofereceram". Em realidade as festas da aclamação de D.João IV - que duraram três meses seguidos - foram deslumbrantes: "... só salvas de artelharia forão sinco, comessando desta fort.za em que resido as salvas, e attraz della as mais forças q cada salva se desparavão noventa peças grossas, com que esta terra, e outras ilhas parecia hum novo mundo, não fallo nos montes de mosquetaria, ouve também tres caminhadas de grande custo, em que entrei na primeira dellas, e a segurança da cidade, e a terceira foi de pee de mais seiscentas pessoas com tochas em q. entrarão todas as nações admitidas..." escreveu em 28 de Outubro de 1642, o capitão geral de Macau Lobo da Silveira. D. João Marques Moreira, pronotário apostólico de Sua Santidade escreveu a "Relação da magestosa, misteriosa, e notável acclamaçam, que se fez a Magestade d´ElRey Dom Joam, nosso Senhor na Cidade do nome de Deos do grande Imperio das Chinas" , obra que seria publicada em Lisboa no ano de 1644. O autor do livro conta que: "o capitão geral D.Sebastião Lobo da Silveira o qual mandou ajuntar o presídio todo no forte de S.Paulo, e descobrir a artelharia desta praça, que a milhor, e mais bem fundida de toda quanta sua magestade tem em seus estados, muyta em quantidade fundida por Manoel Tavares Bocarro aqui casado, e morador muy perito & perfeito na arte". D.João Marques Moreira dá conta do que observou e descreve as principais figuras que participaram na: "encaminhada de grande custo", referindo, numa passagem que se: "seguiam Manoel Tavares Bocarro, com Pero Gomes de Pina, vestidos de encarnado, e prata, com certas roupas largas brancas, de mangas de meyo braço, com o seu capilar ao uso dos nobres da Polonia, barretes guarnecidos de muyta pedraria, com colares de prata e cavallos accubertos com falpiques de argentaria". Ora esta descrição nos dá conta que Manuel Tavares Bocarro era um homem que lhe agradava mostrar a sua opulência de homem rico e, juntava-se as suas excentridades de burgês. Alimentava a ambição, obviamente o hábito de Cristo e possuidor de todas aquelas mordomias e privilégios para se distinguir entre a fidalgaria do Oriente. Aqui também se fica a saber que o Bocarro em 1644 estava a residir em Macau. Nos primeiros dias do mês de Março de 1643 fundearam em Goa duas naus holandesas, enviadas pelo governador de Batavia transportando um enviado holandês para jurar nesta cidade tréguas. escreveu, depois, o vice-rei da Índia que, num desses barcos vinha "Dom Francisco de Castelo Branco, que como em outra carta tenho dito, foi nomeado pello Capitão Geral da cidade de Macao para vis a esta de Goa, cõ aviso de ficar VMag.de aclamado e obedecido na dita cidade, e jurado o Principe nosso S.or. N. Valdez dos Santos escreve (autor de "manuel Bocarro o Grande Fundidor):O vice-rei conde Aveiras que já em Dezembro de 1641 tinha solicitado ao rei uma recompensa para Manuel Bocarro o que fora deferido, tendo sido provido com a fortaleza de Barcelor - ao ter conhecimento das aclamações de Macau com vista a obter para aquele grande fundidor as tão ambicionadas "honras, renova o seu pedido voltado aludir aos seus "muitos serviços... abelidade e suficiencia, e sobretudo pello bem que se ouve na ocasião da aclamação de V.Magestade he merecedor de VMage m.dar f.er honrras e m.os e deferir a hua consulta q sobre elle se fez e esta nesse Reino pª responder". A renovação do pedido de concessão de "honras" para Manuel tavares Bocarro, feita cerca de um ano depois do rei as ter negado revela, por parte do vice-rei, uma quebra de procedimento burocrático que só podemos explicar pelo desejo que o conde de Aveiras tinha em obsequiar uma pessoa que lhe merecia grande amizade e consideração. Assim, é licíto supor, que a amizade e consideração que o vice-rei da Índia tinha pelo fundidor de artilharia de Macau, tivesse nascido através de contactos pessoais que só poderiam ter sido estabelecidos em Goa, nos anos de 1640 e 1641. Mas esta pretensão não foi deferida o que aliás sucedeu a uma outra apresentada mais tarde. Não chegaram até nós as razões das recusas que, possivelmente, se basearam nos então chamados "impedimentos canónicos", ou seja, a presunção que Manuel Bocarro tinha uma ascendência judaica."
CONTINUA...José Martins
P.S. Com a devida vénia parte das fotografias inseridas foram retiradas da obra:"História das Fortificações Portuguesas no Mundo - Publicações ALFA.

NA ROTA DOS CANHÕES 12a. Parte

Tuesday, July 29, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 12ª
A 4 de Março de 1643, seguiu de Macau para Lisboa uma carta em que dava conta ao Rei D. João IV as misérias passadas em Macau durante a subjugação de Portugal à coroa de Castela era assim, parte, do conteúdo: " He este clima per natureza de grandes diçensões e q provoca a desunião e em particular entre as cabeças do governo". Porém parece que havia constantes atritos entre os moradores e os governantes, incluindo o Rei e o vice-rei da Índia isto devido a uma velha questão que vinha dos anos de 1624 de quando o conde de Vidigueira nomeara D. Francisco de Mascarenhas para capitão geral de Macau que lhe outorgara um Regimento que limitava consideravelmente as transações comerciais daquela praça e especialmente com Manila. Macau, encravado na China, constitui uma pequena península com cerca de uns, pouco mais, de 4 quilómetros, era e como foi por séculos um porto franco e aberto à vivência de todo o género de pessoas e traficantes. Por tal os habitantes reagiram e não aceitaram o imposto pelo Regimento transmitido por D. Francisco da Gama, sob as ordens do conde da Vidigueira. Correu por lá que o próprio Filipe II de Espanha não teria, completamente, acordado com o texto daquela imposição do Regimento e teria recomendado ao vice-rei da Índia que no que se referia ao comércio com Manila que fossem concedidas mais facilidades. Nos habitantes de Macau nasceu a ideia de tornarem a península independente de Goa e fazerem do território um empório comercial e de maior identidade no Oriente. Ora todas as ordens emanadas em Macau, pelo governador, tinham a chancela do vice-rei da Índia, cujas estas o governador de Macau, a quem lhe devia toda a obediência não poderia contrariar de que viriam acontecer alguns distúrbios e, por algumas vezes, atingirem aspectos de gravidade. Entretanto o descontentamento não atingia só os moradores mas igualmente os representantes da Igreja. Entre os religioso havia disputas isto porque Filipe I de Espanha chegou a recomendar ao vice-rei da Índia para que não autorizasse o estabelecimento de duas congregações em Macau que eram os padres Jesuitas da Companhia de Jesus e a dos Capuchos. O monarca desejava no território, apenas, os Jesuitas, que os considerava senhores, espiritualmente, absolutos de Macau e que fossem eliminados os Capuchos. A Restauração da monarquia portuguesa veio incutir mais ânimo na gentes de Macau para que no futuro não estivesse Macau dependente de Goa. Foi criado uma linha política de pensamento económico com os objectivos de aproximar Portugal do Oriente com as praças comerciais da China e do Japão. Macau continuava a depender cada vez mais das autoridades sínicas e isto contribuia para a caída da autoridade portuguesa e a morte lenta do porto franco. Por cada alteração que ia surgindo, havia longos sussurros e ajuntamentos de grupos de pessoas nas ruas, discutindo e criticando as imposições que contribuiam para um descontentamento generalizado. Só em 1627 aparece designado, verbalmente, o nome de Manuel Tavares Bocarro de quando houve um levantamento da população contra o capitão geral D. Filipe de Mascarenhas. Foi elaborada uma lista a que lhe fora dado o nome de "Relação de Protesto" com mais de um cento de assinaturas onde continha os nomes de mais 100 proeminentes figuras da vida macaense. Porém, embora, Manuel Bocarro estivesse do lado dos protestantes não inseriu a sua assinatura na lista "Relação de Protesto": " Manoel Tavares Bocarro Mestre da fundição real não se assinou; e tem precedido em tudo muy honradamente",, como assim teria informado o administrador Manuel Ramos em 2 de Agosto de 1637, ou seja 10 anos depois. Entende-se aqui que o fundidor com negócios ligados à coroa não pretende ser envolvido em protestos e entrar em controvérsias com o capitão geral de Macau. Mais tarde Bocarro iria relatar que ele e mais oito pessoas que não incluiram os nomes na lista "Relação de Protesto" tiveram um mau encontro com os opositores, ficaram retidos pelos "matarê" e conta que apesar dos perigos que correra "o não obrigou nada a largar o serv.º de V.Mag.de (nem) as grandes promessas q faziam por assenar nos motins" . O fundidor parece que sempre se tenha alheado a motins, aos protestos e agitações políticas. Mas não está fora a hipótese que dava uma cravo e outra na ferrura, aparentando estar fora de conflitos e escreveria mais tarde: "imenço trabalho e gramdicimas despezas da minha fazenda descubri esta fundição de ferros" e acrescentava: "assim em tanta deminuiSão vay minha fazenda quanto pretendo se poupe a de Sua Mag.de, despendendo da minha o que per razão se devia despender da Sua Real Fazenda". De qualquer maneira e mau grado que houvesse: " as difficuldades todas q são muitas e muy grandes". Ora Manuel Bocarro pelo que depois escreve mais à frente tinha investido muito capital na sua fundição e continuava a trabalhar "no duro" para conseguir as mercês que jamais lhe sairiam do pensamento: "a poder de dinheiro (que) fico pondo muito da minha casa... (sem) esperar ganhos e reganhos" e na mira da recompensa: "honras e merces". Depois da Restauração e entronizado D.Joáo IV e aclamado em Macau com toda a legitimidade de Rei de Portugal, o monarca procurou acalmar os ânimos da população e concede-lhes regalias e privilégios e decretou acções disciplinares que incluiam a expulsão dos piores elementos e um castigo aplicado ao capitão geral por ter "esbombardeado a dita cidade com grande risco de se perderem os moradores dellas". O Conselho Ultramarino toma conta do problema da nomeação de um novo capitão geral para Macau, cuja a escolha antes era da competência do vice-rei da Índia. A escolha dos homens bons de Macau, viria a recair em D.Brás da Costa que de imediato escreveu ao Rei a agradecer a honraria com fora distinguido. Brás da Costa logo se viria arrepender e procurou de todas as formas não partir de Goa para Macau e assumir o posto. E volta a escrever ao Rei e faz-lhe uma descrição das condições de então em Macau: "mizervel estado da cidade de Macau... sem comércio careçendo até do comer ordinários". Exigiu um sem número de providências que sem as quais não seguiria para Macau. Mesmo com todas as exigências solicitadas ao Rei e atendidas por este, o Brás da Costa recusaria-se mais uma vez de partir para Macau. O Rei perante tal falta de palavra e desobediência acabou por emitir uma ordem para que fosse preso, mas tal facto não viria acontecer porque o Brás da Costa fugiu. Parece que D.Brás da Costa teria tido razões para não aceitar o cargo de capitão geral e no vários relatórios que escreveu que constituem o "Livro das Monções n.57", constituem um dos mais válidos documentos que dão conta da vida de Macau em meados do século XXII. Os seus pontos de vista chegam a ser impressionantes e dramáticas as referências das condições de vida dos habitantes: "a não poder haver nella trato de comércio". Só esporádicamente: "commercio com o Tartaro e com Manilla por via do Maccara". Mais adiante quando o comércio atingiu alguma melhoria foi abruptamente interrompido, a que se fica a dever à guerra civil na China, seguindo-se a terrível fome e a peste. Os moradores de Macau encontram-se numa situação desesperante e em 1648 escrevem ao Rei de Portugal dando-lhe conta: "a fome era tanta que mais vai servir a ElRey da China". E mencionava, ainda, que: "ahera hum espectaculo ver os mortos que todos os dias amanhecião pellas ruas, e adros das igrejas, donde botavão alguns por não terem com q.e os amortalhar". Muitos macaenses fogem para Manila e dão-se como vassalos do Rei de Espanha. D.João IV toma medidas para tentar resolver a situação em Macau, entre uma delas foi o de enviar uma embaixada ao Japão, chefiada por Gonçalo Siqueira de Souza, cujo o objectivo seria o reatamento das relações comerciais com aquele país e Macau. Em 29 de Janeiro de 1644 a embaixada largou de Goa a bordo dos navios S.André e S. António de Aveiro mas, a viagem, por não ter partido na época própria, está assim na estação da monção, foi tormentosa a navegação e perdeu dezenas de passageiros e tripulantes. Com dificuldades o navio S. André conseguiu arribar em Macau, em fins de Maio de 1645, mas o S.António de Aveiro não consegui chegar a Macau e regressa ao porto de partida Goa em 25 de Março de 1646. Em Macau levantaram-se várias questões no tocante em cima das ordens que teria recebido em Goa e como deveria actual, diplomaticamente, no Japão. Em Macau, estas não estão conforme aos interesses e desejos dos macaenses e Siqueira de Souza foi pressionado a regressar a Goa e que voltasse a Macau, depois, com novas directivas mais adequadas à situação que, então, se vivia com o Japão.Assim e para que Siqueira de Sousa (que deveria ter perfil de diplomata de agradar a Deus e aos Diabos), não criasse atritos ou até os macaenses não lhe permitirem partir para o Japao e dar cumprimento à missão diplomática que o Rei de Portugal o tinha incumbido, optou por regressar a Goa. Em 20 de Dezembro de 1645, regressa a Goa o embaixador Siqueira de Sousa e toma lugar a bordo do navio S.André, apoiado pelos navios, logísticos, Nossa Senhora da Conceição, S. Pedro, S. Tomé, Santa Cruz, Santo António e mais um pequeno barco que não ficou registado na frota. Foi a maior frota que partiu de Macau com destino a Goa, transportando a bordo cerca de 3.000 pessoas, das quais 750 eram mulheres. Macau fica praticamente despovoado, fugindo os seus moradores à morte, pela fome, que os aguardava. Todos os navios chegaram às águas de Mandovi em 20 de Fevereiro de 1646. Compreende-se que a viagem foi bem planeada, antes da chegada da monção, e a frota navegou em águas bonançosas e as velas receberam bons ventos.
CONTINUA
José Martins
P.S. O nosso trabalho vai continuar. Quando nos embrenhamos em contar a história dos portugueses no Oriente, entra em nós um fascínio dificil de controlar. Achamo-nos um homem dessa época e encontramo-nos entre os tantos que tanto deram a Portugal e ao Mundo da época quinhentista. Não faziamos conta que a história de vida de Manuel Tavares Bocarro se alongasse em tantas partes. Projectadas uma meia dúsia, mais ou menos. O nosso objectivo, de princípio estava vocacionado (continua) para descrevermos a importância, dos canhões e das armas, de Portugal no Reino do Sião, para que a soberania deste reino fosse conservada. Nós sabemos que os canhões de Manuel Tavares Bocarro contribuiram para isso. Nas nossas andanças, de peregrino, temos fortes razões de afirmarmos que os canhões de Manuel Tavares Bocarro foram importantes na defesa da identidade do reino do Sião, desde 1511 ( era de Ayuthaya), 1767 (era de Banguecoque) até aos dias que correm. Quem escreve por gosto não cansa e não nos dá o tédio quando estamos a escrever sobre histórias de portugueses, humildes como eu, da era quinhentistas. O nosso guião continua a ser a obra de páginas amarelecidas de N.Valdez dos Santos, editada em 1981, que bem merece ser divulgado o excelente trabalho que produziu em cima da vida e obra de Manuel Tavares Bocarro o Grande Fundidor. Não o conhecemos, não sabemos se ainda anda por este mundo de lobos e cordeiros.
Imagens: Parte retiradas da obra : "História das Fortificações Portuguesas no Mundo" Publicações ALFA