O ananaseiro (Ananas commosus L.) é uma Bromeliácea de origem americana que cedo chamou a atenção dos europeus pela excelência dos frutos e pelo aspecto destes.
Dentro do grande continente centro-sul americano, Cavalcante considera-o oriundo de Ibinapitanga e afirma que ainda hoje, no nordeste brasileiro, aparecem formas selvagens e se encontra no estado silvestre nas “capoeiras”ou vegetação aberta na Amazónia. Daqui teria irradiado, desde tempos muito antigos, para diversos territórios tropicais das Américas, onde estava já muito difundido quando Colombo o encontrou pela primeira vez, no dia 4 de Novembro de 1493, numa ilha das pequenas Antilhas a que deu o nome de Guadalupe, conforme o Diário de Colombo escrito por Pedro Martin D’Anghara.
A mesma planta e o mesmo fruto de “grande flavor e fragância” forma encontrados nos anos seguintes em vários territórios da América Central, na continuação dos contactos dos espanhois com a América.
Os portugueses também encontraram o ananás quando chegram ao Brasil.
Laufer diz que a primeira referência ao ananaseiro no Brasil é a da Pigaffeta, em 1519.
A primeira descrição conhecida da planta é feita por Fernandez de Oviedo y Valdez na célebre História de la India publicada em Sevilha em 1535, que inclui uma curiosa ilustração do fruto.
As características de aroma e sabor que o fruto exibia, a estima que as populações nativas lhe davam e as diversas utilizações em que o empregavam, nomeadamente como fruto seco, como fruto produtor de sumo para fermentar e como medicinal, devem ter dado ao ananás, desde logo, uma importância muito grande entre as novas plantas encontradas pelos europeus na América.
Não admira assim, que Pio Correia defenda a opinião de que, logo após o descobrimento da América, esta planta terá sido das primeiras a ser levada para a Europa, África e Ásia, onde se propagou tão rapidamente “como não há outro exemplo na história de qualquer outra planta frutífera.
A exaltação do ananás como “reis dos frutos”, como “presente dos deuses”, aparece desenvolvida por diversos autores, tendo em conta as razões expressas.
Duterte, ao chamar-lhe o “rei dos frutos”, considera-o “o mais belo fruto e o melhor de todos os que existem sobre a terra. É, sem dúvida, por essa razão que o Rei dos Reis lhe colocou uma coroa na cabeça, que é como uma marca essencial da sua realeza, pois que do Pai ele produz um jovem rei que lhe sucede em todas as admiráveis qualidades”.
Gandavo informa que “Hua fruita se dá nesta prouíncia do Brasil muito saborosa e mais pesada que quantas ha na terra. Cria se nua pranta humilde junto ao chão, a qual tem huas pencas como cardo, a fruita della nace como alcachofras e parece naturalmente pinhas e são do mesmo tamanho, chamão lhe Ananâzes e de pois de maduras tem hu cheiro muito excellente, colhem nos como sao de vez e com hua faca tirão-les aquella casca e fazem nos em talhadas e desta maneira se come. Excedem no gosto a quantas há no Reino, e fazem todos tanto por esta fruita que mandão pratar Roças delles como de cardais. A este nosso Reino trazem muitos deste ananázes em conserua”.
Piso também se impressionou com o nanás, considerando-o “uma espécie mui galante e causa louvar o autor da natureza é a que chamam ananás; seu fructo é a modo de pinha de Portugal; o gosto, o cheiro a modo de maracotão o mais fino , suas folhas são semelhantes a herva babosa (Alloes vera L.). A cabeça do fructo galanteou a natureza com um penacho, ou grinaldas de cores aprazíveis esta separada e entregue a terra é príncipio de outro ananás semelhante”, “Suas bondades servem para o gosto e medicina; come-se em fruita e faz-se conserva durável. Do succo d’este fructo misturado com água fazem os índios medicina”.
Frei Cristovão de Lisboa, pelos princípios do século XVII, referia-se ao ananás em termos igualmente elogiosos: - “O ananás he a milhor fruita desta terra quaando esta maduro e / xeira de muito longue e he amarelo como cera e tem hu olho em riba dele que em o botando no xão loguo apega e ce quome todo papelia”.
Sebastião da Rocha Pitta, em 1730, também se impressionou muito come ste fruto, dele dizendo que “Das naturais (frutas) cultas há infinitas, ( no Brasil) sendo primeira o ananaz, que, como o Rey de todas, a coroou a natureza com diadema das suas mesma folhas, as quais em circulo lhe cigem a cabeça e o rodeou de espinhos, que como archeiros o guardão”.
Muitas outras descrições, todas no mesmo sentido de exaltação do fruto do ananaseiro, podiam aqui ser referidas, mas estas consideramo-las suficientes para mostrar o interesse que o ananás deve ter merecido aos europeus quando chegaram à América.
A difusão do ananaseiro que os espanhóis conheceram na América central e os portugueses no Brasil, deve ter-se dado simultaneamente por estes dois povos peninsulares, utilizando os portugueses fundamentalmente a rota do Atlântico e Oceano Índico e os espanhóis as ligações que estabeleceram entre Acapulco e Manila. Para além da excelência dos frutos, que certamente foi factor de muita importância para justificar a difusão, nuito deve ter contribuído para o sucesso desta actividade o facto de o ananaseiro resistir muito bem a períodos de seca relativamente longos, o que seria de grande importância nas travessias marítimas demoradas.
Collins, refere a introdução do ananaseiro na Ilha de Santa Helena pelos portugueses em 1505 e, em 1549, é referido em Madagáscar, possívelmente utilizando a ilha como ponto de passagem entre o Brasil e a Índia. Outras introduções posteriores referidas no Oriente poderão ser obra dos espanhóis e dos portugueses.
Cristovão da Costa também considera o ananaseiro originário do Brasil e dái difundido pelas Índias ocidentais e orientais “nas quais ha delles agora em grande quantidade e por todas as mais partes dellas”e assinala-o como muito frequente na Índia, Malaca e ilhas da Oceânia em pleno século XVII. Rego refere uma transcrição importante, de cerca de 1552, segundo a qual “passado o inverno se fez D. Luis Fernandes de Vasconcelos a vela para India e dizem que levou do Brasil os primeiros ananazes”.
Não se conhecem contestações à afirmação de que foram os portugueses que introduziram o ananaseiro nas ilhas e costa ocidental da África, possivelmente logo nos princípios do século XVI, como defende Laufer. É também de referir que no Atlas de Fernão Vaz Dourado, de 1575, já aparecem frutos de ananás sobre o território africano, o que significa que seria aí uma fruta muito divulgada.
Porém, certos investigadores orientais e outros, têm vindo a colocar em causa não só a origem amaricana do ananaseiro, mas também, no caso de ser assim, terem sido os portugueses a levar a planta da América para os territórios asiáticos com os quais contactavam. Até ao momento, ainda não foram apresentadas provas indiscutíveis dos pontos de vista que vêm defendendo. Também Singh e Col consideram que o ananás foi trazido do Brasil e fixam mesmo a data de 1518.
Outro grupo de investigadores, aceitando muito embora uma origem americana, defende que o ananaseiro terá chegado à India muito antes dos portugueses, passando de ilha para ilha e de terra para terra, desde a América até à Ásia, e apoiando-se na Polinésia. Tal afirmação pelo menos como hipótese de trabalho, é perfeitamente possível e não é mais que a confirmação de pontos de vista comuns a migrações de outras plantas que teriam decorrido entre a Ásia e a América e vice-versa, muito embora ainda não se tenha encontrado uma explicação indiscutível.
Mesmo que fosse provado não ter sido introduzido o ananaseiro na Índia pelos portugueses, é indiscutível que seriam possivelmente portadores de melhores variedades e, sobretudo, de o cultivar e consumir, no que os investigadores estão geralmente de acordo.
É curioso reter a informação de que “a este nosso Reino trazem muitos destes ananazes em conserva “, o que demonstra a dificuldade, já conhecida no período a seguir aos Descobrimentos, de transportar os ananases frescos a grandes distâncias e, por isso. Faziam com ele “conserva durável”, que tanto veio a condicionar o desenvolvimento da cultura do ananaseiro e a orientação da sua produção.
Bem se confirma hoje que o fruto do ananaseiro tem condições de conservação difíceis que lhe foram atribuídas depois de atingir a maturação apropriada à expressão das suas reais qualidades de aroma, sabor e abundância de sumo.
Por isso, a fruta era fundamentalmente utilizada para consumo local e só era possível exporta-la, em tempos de navegação demoradas, quando o fruto era utilizado em indústrias caseiras que permitiam obter produtos estáveis.
Em periodos relativamente recentes, os mercados dos países situados a apreciável distância das regiões produtoras, avaliadas em dias de viagem, começaram a ser abastecidas com ananases frescos, quando os transportes se tornaram mais rápidos.
Há cerca de meio século, tinha-se como norma ser muito difícil colocar o ananás nos mercados das zonas temperadas, quando a demora do transporte fosse superior a 5 dias. Este conceito estava relacionado com os altos índices de qualidade que o mercado exigia a um produto considerado de alto nível.
Para superar essa dificuldade, alguns territórios mais próximos do mercado e com condições mínimas de cultura, decidiram orientar a sua actividade para a produção de ananás em fresco.
Encontram-se nessas condições a ilha de S. Miguel, nos Açores, onde a cultura do ananás foi introduzida em 1864. Executando essa actividade em estufa de vidro, conseguiu ultrapassar algumnas dificuldades do clima e produzir um fruto de alta qualidade, de colocação garantida nos mercados europeus. O excelente ananás “Azores”é bem conhecido. As altas cotações que conseguia, pagavam o artificialismo do meio em que a cultura é efectuada.
Outros países ou regiões, porque na altura com dificuldades de abastecer os mercados das zonas temperadas com ananás fresco, enverdaram pelo abastecimento de grandes unidades para a industrialização do ananás, que se tornou, em poucos anos, uma das maiores actividades de industrialização frutícola nos trópicos.
Com o tempo, os dados têm-se modificado um tanto.
Primeiro, veio o efeito do transporte aéreo, que permitiu colocar nos países europeus e norte-americanos os frutos em perfeitas condições e as cotações eram suficientes para suportar os encargos.
Com o tempo, o conceito do consumidor das zonas temperadas mudou muito e tem deixado de associar a alta qualidade à aparência do fruto: passou a aceitar com facilidade um produto que era possível fazer chegar por via marítima de alguns países tropicais com condições favoráveis para cultura ao ar livre e com custos de produção relativamente baixos.
Nesta condições, a oferta aumentou substancialmente e, como consequência, o preço baixou a tais níveis que, hoje, não se afasta muito do das tradicionais frutas das zonas temperadas, como é o caso da maçã, da pêra ou do pêssego.
Com este comportamento do mercado, aquelas regiões que haviam apostado na qualidade atravessam hoje situações difícies, por não estarem em condições de competir em preço com o ananás produzido nos trópicos e transportado por via marítima.
Em todo o caso, a industrialização, cujos núcleos principais se localizam no Hawai, África do Su, Vietname, Formosa, Tailândia e Filipinas, ainda hoje é o principal utilizador do ananás.
Em termos muito globais, a indústria transforma 60% da produção do ananás, o que é notável; cerca de 10% são exportados em fresco e os restantes 30% são consumidos nos países produtores.
A produção mundial situa-se em 9 652 mil toneladas (valores de 1990). Os grandes produtores mundiais são, actualmente, a Guiné e a África do Sul, em África, Os Estados Unidos (principalmente o Hawai), México e o Brasil, na América, a China, Indonésia, Tailândia, Malásia e Filipinas na Ásia.
A cultura do ananaseiro (abacaxi, como era chamado) teve um grande desenvolvimento em Angola a partir da década de cinquenta. Chegaram a constituir-se muitas empresas agrícolas quase exclusivamente baseadas na cultura do ananaseiro, devendo salientar-se os núcleos de da Quimbala-Caluto, cela, Balombo-Bocoio e Ganda-Cubal. A maior parte da produção era utilizada localmente para o fabrico do “vinho do ananás”, além do consumo interno que, na altura, era grande. Uma parte considerável da produção dos agricultores tecnicamente mais evoluídos era enviada para Lisboa, onde se chegaram a receber mais de 5 000 toneladas de ananás angolano.