o mar do poeta

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sábado, maio 23

24 de JANEIRO de 1989 - SALVAMENTO NO MAR

A BORDO DA VEDETA DE FISCALIZAÇÃO DA CLASSE ALBATROZ - BRAVO 1 - MONDEGO

O SIGNATÁRIO
O SIGNATÁRIO - PATRÃO DA VEDETA E SEU SOTA PATRÃO, ALGURES NO MÁRES DA CHINA



O SIGNATÁRIO VENDO O RADAR


Um caso, este de certa gravidade, aconteceu a dois portugueses, um médico e um advogado.

Tinham um catamaran à vela no Clube Náutico situado na praia de Choc Van em Coloane.

Num sábado à tarde, como o tinham feito já por diversas vezes foram passear com a embarcação para além da área em que podiam exercer essa actividade. Navegavam ao largo a sul de Coloane quando um dos estais se partiu.

Devido às fortes correntes e ao vento foram arrastado para o mar alto. Não poderam dar o alerta por não terem aparelho de rádio.

Por volta das seis e meia da tarde, o encarregado do Clube Náutico deu por falta do catamaran e comunicou o caso às autoridades marítimas.

A vedeta “Bravo” em serviço na zona exterior, avisada do ocorrido fez de imediato uma batida em toda a área das águas territoriais de Macau, nada tendo encontrado.

Nesse dia encontrava-me de folga e eram para aí onze e meia da noite quando regressei a casa. Para minha surpresa encontrava-se à minha porta um agente da PMF que me aguardava.

Ao ver-me transmitiu a ordem do Comando para me apresentar com urgência na Divisão mar não referindo o motivo de toda aquela urgência. Como estava de folga só agora regressava a casa para dormir.

Contrariado tive de me fardar e segui no jeep que me aguardava para a Divisão Mar.

Através do Comandante da Divisão fiquei a saber o motivo pelo qual me chamaram com tanta urgência. Teria de se utilizar dos serviços da vedeta “Bravo-1” para irmos à procura dos dois portugueses.





A VEDETA ENTRANDO NO PORTO INTERIOR REBOCANDO O CATAMARAN




Aguardámos ainda a chegada de mais alguns menbros da tripulação, comparecendo sòmente mais dois.
Na companhia do Comandante da Divisão do seu Adjunto e de um Marinheiro Electricista lá seguimos para sul de Coloane por volta das duas horas da madrugada.

Ligámos o radar e girobussula, batendo em seguida toda a zona a sul de Coloane e ilhas chinesas ainda mais para sul, mas não havia sinais do catamaran.

O mar estava calmo, o vento soprava de leste e a visibilidade era boa, mas como ali começava o Oceano Pacífico, por mais que tentassemos avistar o catamaran nada encontrávamos.

Através do Comando em Macau foi solicitado auxílio aéreo às autoridades de Hong-Kong.

O avião disponibilizado para o efeito sobrevoou a vedeta e ficou a saber as áreas já percorridas.

Cerca de meia hora depois de nos ter sobrevoado entrou novamente em contacto conosco comunicando a posição do catamaran. Estava a sessenta milhas náuticas a sul de Coloane e com estas cordenadas para lá seguimos a toda a velocidade.









CHEGADA A MACAU - A IMPRENSA LOCAL, TANTO CHINESA COMO PORTUGUESA DERAM CONTA DO ACONTECIMENTO







Por fim lá avistámos o catamaran e seus dois tripulantes já bastantes desidratados.

Rápidamente os recolhemos para bordo da vedeta amarrando o catamaran à popa e seguindo de imediato para Macau quando eram quase uma da tarde.

Entretanto levantou-se um temporal com vagas bastantes altas e fortes mas a vedeta lá ia sulcando as águas com imensa dificuldade.

A páginas tantas uma enorme e forte vaga embateu no pára-brisas da vedeta partindo o vidro e atingindo a água o quadro eléctrico o que provocou um curto-circuito e incêndio na sala de comando que rapidamente foi extinto.
Como resultado deste incidente ficamos sem radar e sem girobussula estando ainda bem longe de Macau.

Embora não tivesse dormido ou comido, as grandes vagas não me fizeram enjoavam e antes pelo contrário, ia contando anedotas para levantar o moral do pessoal.

O catamaran quando foi encontrado seguia uma rota pouco usada pela navegação o que tornou difícil a sua detecção. Felizmente que tudo correu pelo melhor!









Chegamos a Macau eram aí umas cinco da tarde. No cais uma ambulância aguardava a nossa chegada e os dois portugueses foram de imediado conduzidos ao Hospital Conde de S. Januário para serem assistidos.

O Comissário Adjundo da Divisão Mar desembarcou dando-me entretanto ordens para seguir para a minha zona de serviço.

Recusei acatar estas instruções pois não tinha comida a bordo e ele bem sabia disso. Disse-lhe que só poderiamos sair dali quando todo o pessoal da guarnição tivesse comparecido e tivessemos tomado, tardiamente, a refeição do almoço, o que só veio a verificar-se depois das oito da noite, altura em que seguimos para a zona mas com mais uma noite perdida.










Passada uma semana sobre o corrido eis que os dois portugueses dirigiram-se à Divisão Mar para agradecerem ao Comandante todo o empenho feito para o seu resgate convidando-o para um jantar convite esse extensivo à minha pessoa, o que recusei.

Não tinha sido apenas eu mas toda a tripulação, na altura quatro elementos que no momento contribuiram para o exito da missão. Não tendo estes sido convidados eu também não poderia ir!

Muitos mais episódios passados no mar poderiam ser narrados mas para evitar tornar-me enfadonho ficamos por aqui...

Os meses foram se passando e o ano que me competia andar embarcado chegava ao fim. Este foi o meu último embarque.

Dali saí para Chefiar o Sector das Ilhas, outro novo desafio que se me deparava como poderemos verificar no capítulo respectivo.

Terminava assim a minha actuação como Comandante de uma vedeta da PMF.
A vida passada no mar não é fácil, e é desta forma no cumprimento de missões e não só, que esses homens aprendem o que é a soliriedade, empenho e força e coragem para enfretarem o seu dia a dia.
Com a ajuda de Deus Nosso Senhor, as minhas comissões no mar, embora árduas, decorreram de uma forma positiva, pois tinha sempre a meu lado Deus.

quinta-feira, maio 21

QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO - DIA DA ESPIGA

Após a ressurreição de Jesus, os discípulos achavam-se confusos, temerosos e um tanto desorientados. Reuniram-se no Cenáculo, o mesmo aposento usado para a celebração da ceia do Senhor. Ali, aguardavam as horas se passarem para ver o que lhes aconteceria.


O evangelho de João, no capítulo 20, nos versos 19 a 25, relata a interessante experiência que os discípulos vivenciaram no dia da ressurreição quando o Senhor se apresentou entre eles. Tomé estava entre seus companheiros e viu Jesus ressurreto e creu.


Estando as portas do aposento totalmente fechadas, Jesus apareceu. Esta cena se repetiu oito dias depois, da ressurreição. João 20:26-31.


Os outros evangelistas apresentam alguns lances mais desse período, que de acordo com livro de Atos, capítulo 1:3 foi de 40 dias. Esse espaço curto de tempo Jesus usou especialmente para confirmar a fé dos discípulos mais chegados e passar-lhes instruções especiais quanto ao que deveriam fazer após Sua partida.


E foi assim que achando-Se a um passo de volta ao Seu trono celestial, Jesus deu novamente aos discípulos a grande comissão evangélica, registrada em Marcos 16:15: "Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda a criatura".


Esta comissão Jesus havia transmitido aos Seus discípulos quando juntos haviam estado no Cenáculo. Porém um maior número de Seus seguidores deveria ouvir isso também.


Desta maneira, num lugar da Galiléia se realizou esta solene reunião. Em I Coríntios 15:6 lemos: "E, depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos." I Coríntios 15:6


Para esta reunião, o próprio Cristo, antes de Sua morte, designara o tempo e o lugar. (Mateus 26:32). O anjo no sepulcro, relembrara os discípulos de Sua promessa de os encontrar na Galiléia. (Marcos16:7).


Esta notícia se espalhara entre os seguidores do Mestre e com vivo interesse aguardavam esse encontro. Vindos de várias direções, dirigiam-se ao lugar da reunião.


Reunidos em pequenos grupos na encosta da montanha, buscavam saber tudo quanto era possível dos que tinham estado com Jesus após a ressurreição. Os 11 discípulos testemunhavam do que haviam visto e ouvido. Tomé lhes contava a história de sua incredulidade e dizia como suas dúvidas haviam se dissipado.


Então achou-se Jesus no meio deles. Em Suas mãos e pés divisaram os sinais da crucifixão. Seu semblante irradiava uma glória especial, esta foi a única entrevista com muitos crentes, depois de sua ressurreição.


As palavras de Cristo na encosta da montanha foram o anúncio de que seu sacrifício em favor do homem era pleno, completo. As condições para expiação haviam sido cumpridas.


Concluíra a obra para a qual viera ao mundo. E agora achava-se a caminho de volta ao trono celeste.


E então revestido de ilimitada autoridade repetiu a todos a comissão dada aos 11 discípulos: "portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." Mateus 28:18 e 20


Cristo declarou positivamente a natureza do Seu reino. Disse-lhes não ter sido seu desígnio estabelecer no mundo um reino temporal, mas sim espiritual. Não haveria de governar como rei terrestre no trono de Davi.


Cristo mostrou-lhes que tudo quanto havia se sucedido estava predito nas Escrituras através dos ensinos dos santos profetas. Cristo ordenou que os discípulos iniciassem a obra em Jerusalém.


Mas, não deveriam parar aí. Deveriam levar a mensagem a todos os lugares até os confins da Terra. Prometeu-lhes o poder do Espírito Santo, para que pudessem fazer, em nome de Jesus os mesmos sinais e maravilhas.


Depois desta grande reunião, Jesus estava pronto para as despedidas. Os discípulos já não relacionavam mais a Jesus com a cruz e o sepulcro. Para eles, Cristo era agora um Salvador vivo.


Como local de Sua ascensão, Jesus escolheu o Monte das Oliveiras, tantas vezes consagrado por Sua presença. Com os discípulos, dirige-se então para aquele local. Com as mãos estendidas em posição de bênção, Jesus ascende lentamente dentre eles.


Lucas narra assim a ascensão de Jesus: "E quando dizia isto, vendo-O eles, foi elevado às alturas e uma nuvem O recebeu, ocultando-O, a seus olhos. E estando com os olhos fitos nos Céu, enquanto Ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões de branco, os quais lhe disseram: "Varões galileus, porque estais olhando para o Céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir." Atos 1.9-11


Os discípulos voltaram para Jerusalém e já não mais se lamentavam, antes sim, estavam cheios de louvor e gratidão a Deus. Com regozijo contavam a maravilhosa história da ressurreição de Cristo e de Sua ascensão ao Céu.


Não tinham mais qualquer desconfiança do futuro. Sabiam que Jesus estava no Céu e que continuariam a ser objeto de seu compassivo interesse.


Jesus retorna ao Céu vitorioso. Seu sacrifício foi aceito pelo Pai. Satanás está derrotado. É um inimigo vencido. O caráter de Deus outrora manchado por suas acusações infundadas, agora está plenamente reivindicado. Todo o Universo tem convicção de que Deus é Santo, e Sua Justiça e Amor são infalíveis.


Jesus carregará para sempre as marcas nos pés e nas mãos que mostram o Seu sofrimento e morte para a Salvação do ser humano.


Este é um laço que jamais se partirá. Jesus disse: ". . . Eu subo para meu Pai e vosso pai, meu Deus e vosso Deus." João 20.17


A família no Céu e a família na Terra, são uma só. Para o nosso bem Jesus subiu ao Céu. Para o nosso bem Ele vive.


Que mensagem! Que esperança!


Amigo querido: Jesus veio aqui, morreu por nós, ressuscitou e foi para o céu.


Os discípulos o viram subindo e pela graça de deus nós poderemos vê-Lo voltando.


Quando Ele vir, iremos para o Lar.

(Extraído de Jesusvoltara)





Para o consenso da maioria dos cristãos, a doutrina da Ascensão afirma que o corpo de Jesus de Nazaré, depois de quarenta dias da sua Ressurreição, na presença das testemunhas dos apóstolos, ascendeu aos céus onde se encontrou na presença de Deus Pai, não só em espírito, mas também em sua pessoa humana (corpo e alma). A documentação histórica é narrada nos evangelhos de Marcos 16:19, Lucas 24:50-51, Atos 1:9-11, e Efésio 4:7-13. Este acontecimento é afirmado pela liturgia cristã, no Credo apostólico e no Credo de Nicéia.

Lucas 24:50 Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou.


Lucas 24:51 Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu.


Lucas 24:52 Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo;


Lucas 24:53 e estavam sempre no templo, louvando a Deus



Hoje assinala-se o Dia da Espiga. No calendário cristão, comemora-se a Ascensão de Jesus Cristo e, tradicionalmente, colhe-se a espiga de trigo para simbolizar a bênção dos primeiros frutos.


Nalgumas regiões, as plantas colhidas não se resumem ao trigo, compondo-se ramos que incluem o malmequer, a papoila ou o ramo de oliveira e que devem ser guardados ao longo de um ano.A simbologia de cada planta é a seguinte:


Espiga – pão,


Malmequer – ouro e prata,


Papoila – amor e vida,


Oliveira – azeite e paz,


Videira – vinho e alegria e


Alecrim – saúde e força.


(Extraído do Blog Alentejanando)
Ritual religioso e pagão de mão dada. Ascensão de Jesus e da fertilidade. Benziam-se os primeiros frutos e estreavam-se as gentes nas primeiras festas campestres do ano. Comungava-se a festa popular da farta merenda e da libido do bailarico com a natureza. O desabrochar do alento primaveril, a isso convidava. Rematava-se o dia com a oferenda ao lar de um ramo florido a simbolizar a fartura e a harmonia para a família.

No Alentejo: espigas de trigo, ramo de oliveira, papoilas e malmequeres campestres amarelos e brancos.
No Ribatejo, mormente, ao longo do vale do Tejo: espigas de trigo, ramos de oliveira, folhas de vide e flores campestres. O ribatejano a condensar com nitidez a trilogia alimentar mediterrânica: pão, azeite e vinho. Os dois a sintetizarem uma esperança renovada de um bom ano.

Parece-me ser este o dia do ano que reúne a maioria dos feriados municipais. Certamente, não será coisa do acaso!
=====================================autor descohecido===============================
Esta Quinta-Feira de Ascenção me faz recuar no tempo, em que, vivendo em Évora, ia para o campo fazer um piquenique e apanhar as plantas que compariam o ramo, isto na companhia da pessoa que mais amei na vida.
Um desses ramos o oferecia a minha Querida e Estimada Mãe, que o colocava na porta de acesso à varanda.
Anos esses que jamais voltarão, mas se refazem no pensamento e é com nostalgia que os recordo.


quarta-feira, maio 20

REFUGIADOS VIETNAMITAS EM MACAU

ESTA EMBARCAÇÃO VIETNAMITA, QUE HOJE SE ENCONTRA EXPOSTA NO MUSEU MARÍTIMO DE MACAU, FOI APANHADA PELO SIGNATÁRIO NO ANO DE 1990, JUNTO DO FAROL DE KA HO, TRANSPORTANDO 12 PESSOAS.











Na altura era Subchefe e aguardava a chegada dos meus camaradas para ser rendido quando o telefone tocou.



Era o padre Nicósia, encarregado da leprósaria de Ká-Ho, informando que nas imediações da mesma, tinham desembarcado 25 pessoas, sendo 14 adultos e 11 crianças.



Telefonámos para o Comando a dar conhecimento do caso solicitando ao mesmo o envio de várias carrinhas para o transporte dos presumíveis refugiados vietnamitas para Macau.



Após ter efectuado o telefonema compareceu o Subchefe que me vinha substituir no Posto.



Continuei por ali fiquei até concluir o trabalho e pouco depois compareciam várias carrinhas, acabando por seguir numa delas para Ká-Ho.



Quando chegámos a este local deparámos com um amontoado de gente o que me comoveu profundamente.



Algumas pessoas falavam flutuentemente inglês o que permitiu saber um pouco mais da sua história.



Abandonaram o Vietnam do Sul numa embarcação de pesca levando apenas mapas, termos, binóculos, etc. arriscando a própria vida ao partirem clandestinamente.



Chegaram ao Mar do Sul da China onde a ventania muito forte e agitadas ondas
por pouco não afundaram a embarcação.







Graças ao auxílio de uns pescadores chineses que encontraram pelo caminho, conseguiram desembarcar na praia de Ká-Ho em Coloane.



Estes refugiados foram os primeiros a aportar a Macau ficando no Território pelo período de oito meses.


Por essa altura já eram 27 pois tinham nascido na maternidade do Hospital “Conde de S.Januário” duas crianças do sexo feminino. Por casualidade a minha esposa foi a enfermeira-parteira que assistiu ao parto das mesmas.



Seis desses refugiados seguiram para o Canadá e sete para os Estados Unidos, para onde seguiram também os restantes no dia 23 de Fevereiro de 1978, com a coloboração da UNHCR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).



Passado um mês sobre a primeira chegada de refugiados vietnamitas eis que um outro grupo constituído por 122 indivíduos aportava a Macau com 40 homens, 30 mulheres e 52 crianças






A autêntica odisseia deste grupo por um pouco tinha um trágico epílogo, quando o barco em que seguiam, com cerca de 20 metros de comprimento, esteve à mercê de ondas altas, ventos fortes e chuva torrencial, com o motor avariado, seis dias depois de ter partido para Hong-Kong de Quang Ngai, cidade a cerca de 120 milhas de Danang.



O líder do grupo e médico de medicina tradicional chinesa Duang Thoung Hiep, de 44 anos, contou-me a tragédia e as longas horas de angustia e martírio passadas pelo grupo:



“Na altura não sabiamos bem onde estavamos e não tínhamos comido nada por mais de vinte e quatro horas apesar de termos arroz a bordo”.



Explicando a situação disse: “o barco estava cheio de água e a missão de todos era de esvazia-lo o mais rápido possível”. Na altura segundo Duang, “passaram por nós dois juncos tendo os seus tripulantes informado sobre um ciclone tropical que estava a caminho”.



Acrescentou que ele e os seus companheiros tentaram transmitir aos homens dos juncos que não podiam navegar e que era urgente uma ajuda pois caso contrário seria inevitável o seu naufágio.



“Os dois juncos afastaram-se do local possivelmente porque os pescadores não conseguiram ouvir o nosso apelo” continuou Duang.



Quando todas as esperanças estavam praticamente dissipadas e deitadas por terra, com alegria viram os juncos reaproximarem-se, estando as suas velas cada vez mais perto.





Os pescadores chineses apreenderam-se da nossa verdadeira situação e voltaram para nos salvar” concluíu Duang.



Os dois juncos acabaram por rebocarem o sinistrado barco vietnamita por umas cinco horas trazendo-o para Macau.



Em outra ocasião recolhemos um refugiado vietnamita, que tinha sido piloto aviador com treino em jacto-bombardeiros tirado na Base Aérea de Doldlop, Texas.



Tratava-se do segundo-tenente Tran Uy-Nam de 34 anos de idade, que não hexitou em afirmar na altura a existência de dezenas de campos de concentração no Vietname, com cerca de 800 a 1000 prisioneiros cada.



Estes foram os primeiros grupos de vietnamitas que aportaram a Macau. Seguiu-se depois uma autêntica avalanche que se prolongou por vários anos.



Passaram à história como “Boat Peopel”, invadindo quase todos os países da Asia para além de Macau e Hong-Kong, que não escaparam a estas sucessivas levas de refugiados.



Houve ocasiões em que ficaram completamente repletos de vietnamitas o campo de refugiados em Ká-Ho, o Quartel da Ilha Verde, o antigo Hospital de ‘S.Rafael e a Ponte Cais da Taipa, sendo até improsivadas umas barracas na “Doca D.Carlos I” para os abrigar.



Rápidamente o Governo de Macau se deu conta que não tinha possibilidades de dar aos refugiados o tratamento necessário e adequado, apesar dos seus “cofres” se irem esvaziando, devido aos onerosos encargos desta operação humanitária.







O Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas também não tinha mãos a medir para enfrentar esta alarmante situação.



Chegou então o momento em que foi determinado o fechamento dos campos de refugiados em Macau, não se aceitando mais exilados a partir dessa altura. As embarcações que chegassem a Macau seriam rebocadas para fora das suas águas Territoriais.



Numa ocasião em que estava de serviço ao Comando, atracou à Ponte número 1 uma embarcação com refugiados vietnamitas.



Tentou-se rebocá-la para fora das águas de Macau mas os refugiados eram renitentes, dizendo que prefeririam afundar ali mesmo a embarcação a ter de seguir para fora de Macau.



O Comandante determinou nos juntássemos à vedeta destacada para rebocar a embarcação a fim de lhe dar apoio.
Após um longo diálogo com os vietnamitas e depois de terem sido abastecidos de água, vivéres e gasóleo, conseguimos finalmente convencê-los a proseguirem viagem.



Prometemos que os levaríamos até junto de Hong-Kong onde seriam recolhidos pelas respectivas autoridades marítimas e passado pouco tempo, deveriam seguir para o Canadá ou Estados Unidos.



A viagem decorreu com toda a normalidade e só largámos o reboque já com Hong-Kong à vista.



Satisfeitos com a nossa cooperação os refugiados agradeceram vivamente, rumando em seguida para Hong-Kong.
Esta missão foi a pioneira no reboque de embarcações vietnamitas para fora das águas Territoriais de Macau. Milhares se seguiram, tendo participado ainda em centenas de outras operações similares, no comando de uma vedeta da classe “Bravo”.



O destino reservou-me esta difícil e humilde missão que humana e profissionalmente a desempenhámos!



Para se ter uma ideia mais concisa sobre os números de refugiados que aportaram a Macau e Hong-Kong, damos o seguinte mapa:

1978/79 1980/84 1985/90 1990/95
MACAU
4 333 2 777 17 1
HONG-KONG
79 906 28 975 59 518 27 434

Como referimos, em Macau a partir de meados dos anos oitenta, não se aceitaram mais refugiados, sendo as suas embarcações rebocadas para fora das águas territoriais.



Posteriormente estes exilados eram que procuravam sobretudo enviá-los para os Estados Unidos, Canadá ou Austrália.


The Government's official policy since 1982 has been to refuse asylum to all Vietnamese boat people arriving in Macau waters. With the approach of Macau's and Hong Kong's reversion to China, Vietnamese boat people prefer to travel further north to Japan and Korea. Only three or four boat people remain in Macau.








O ARTICULISTA APANHOU DUAS LEVAS DE REFUGIADOS VIETNAMITAS DURANTES AS DUAS COMISSÕES DE SERVIÇO QUE DESEMPENHOU COMO COMANDANTE DA VEDETA DE FISCALIZAÇÃO "BRAVO 1".






TRAGÉDIA COM VIETNAMITAS


Tinha sido uma manhã muito trabalhosa, logo ao entrar de serviço na vedeta “Bravo 1”, havia duas embarcações com refugiados vietnamitas que era necessário rebocar para fora das águas de Macau.



O tempo permitia esse reboque e como tal iniciámos o trabalho. Largámos o reboque era já quase meio dia, tendo as embarcações ficado bem perto de Hong-Kong onde em breve deveriam ser localizadas pelas vedetas da Polícia Marítima deste Território.



Regressámos e fundeámos defronte da praia de “Hac-Sa”, ali se encontrando já outra embarcação com vietnamitas a quem foi dado o apoio necessário, e depois fomos almoçar. Tencionávamos rebocá-la depois do almoço.



Entretanto outra embarcação com mais refugiados vietnamitas, vinda das ilhas defronte de Macau, tencionava chegar à praia.



Cortamos-lhe a manobra e obrigámos a que fosse amarrada à vedeta. Trazia umas oito pessoas. A primeira embarcação tinha 49.



Passámos estes oito indivíduos para a outra embarcação, sendo assim mais fácil fazer o reboque e quando tencionávamos seguir viagem, eis que aparece o Subchefe “Bali”, pilotanto um bote rápido e trazendo a reboque outra pequena embarcação com mais 12 refugiados vietnamitas.



Como este barco parecia ser mais novo, deixámos a bordo dois indivíduos para o pliotar, enquanto os restantes 10 se juntavam à primeira embarcação, que ficou com um total de 66 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Passámos os cabos e levámos as três embarcações a reboque.



Na totalidade efectuávamos dois reboques, a primeira embarcação como referimos com 66 pessoas, a segunda com duas e a terceira vazia.



O mar encontrava-se sereno mas o vento leste começava a soprar razoavelmente. Já bem longe das nossas águas, partiu-se o cabo de reboque da segunda para a terceira embarcação ficando a mesma à deriva.



Não parámos para a recolher pois isso seria feito no regresso. Mais adiante a segunda embarcação, devido a má condução da mesma, virou-se, forçando a primeira também se voltar.



O pessoal da vedeta que estava a postos, imediatamente cortou os cabos que ligavam à embarcação e rápidamente lançaram a rede de assalto. Prontamente todos os refugiados foram recolhidos do mar e passados para bordo da vedeta.
Do acidente foi dado conta ao Comando, que ordenou o regresso a Macau com os vietnamitas. Tivemos de acatar a ordem, embora estivessemos já mais perto de Hong-Kong.



Todo o espaço interior da vedeta ficou repleto de vietnamitas e a certa altura um deles veio ter comigo dizendo-me que havia um bébé que se encontrava mal. Fui vê-lo nos braços da mãe que tinha acabado de o amamentar. O seu rosto estava ficado azulado.



Fizemos-lhe os primeiros socorros mas nada adiantou. Solicitámos uma ambulância para a Doca D.Carlos onde iriamos atracar e a toda a velocidade seguimos para Macau.



Ali chegados, um tio do bébé seguiu com ele para o hospital e mais tarde viemos a saber que infelizmente o bébé falecera.
O caso foi entregue à Polícia Judiciária, tivemos de fazer um auto de notícia do ocorrido. A autópsia veio a apurar que o bébé não falecera por afogamento mas por causa do leite que tinha tomado.



A embarcação ficou em Macau por mais uns dias, tendo-se realizado o funeral do bébé. Mais tarde um colega meu, noutra vedeta, rebocou a embarcação e os referidos refugiados para fora das águas de Macau.





Terminava assim de forma trágica o reboque de vietnamitas para fora das águas de Macau.



Em outra ocasião houve um Agente que serviu de parteiro e felizmente o parto decorreu sem anomalias, tendo nascido um perfeito bébé do sexo masculino.





Pelo Despacho n.º 10/SATOP/97, publicado no Boletim Oficial de Macau n.º 5/97, II Série, de 29 de Janeiro, foi titulado o contrato de concessão gratuita, por arrendamento, de um terreno com a área de 9 232 m2, situado na ilha de Coloane, antigo Centro de Refugiados Vietnamitas de Ká-Hó, para aproveitamento com a construção de um Centro de Formação e Acolhimento de Jovens, a favor dos Salesianos de Dom Bosco (Sociedade de S. Francisco de Sales), entidade de carácter permanente religioso, canonicamente erecta na Diocese de Macau, nos termos e para os efeitos do Despacho n.º 10/SAAEJ/96, publicado no Boletim Oficial de Macau n.º 15/96, II Série, de 10 de Abril.



O ARTICULISTA NO ANO DE 1989 SENDO CONDECORADO COM A MEDALHA DE DEDICAÇÃO POR UM REPRESENTANTE DO GOVERNO DE MACAU.




- CONSIDERANDO-SE TRATAR-SE DUM GRADUADO POSSUIDOR DE SÓLIDOS CONHECIMENTOS PROFISSIONAIS E GRANDE LEALDADE, ALIADOS A ELEVADO GRAU DE DISCIPLINA, TEM DADO O MELHOR DE SI PRÓPRIO À POLÍCIA MARÍTIMA E FISCAL, MUITAS VEZES COM SACRIFÍCIO DAS SUAS MERECIDAS HORAS DE DESCANSO. -


1. MEDALHA DE CAMPANHA DE COMISSÃO DE SERVIÇO NO ULTRAMAR



2. MEDALHA DE MÉRITO PROFISSIONAL



3. MEDALAHA DE PRATA DE ASSIDUIDADE DE SERVIÇO NO ULTRAMAR



4. MEDALHA DE DEDICAÇÃO



5. MEDALHA DE DEDICAÇÃO E MÉRITO




RECEBEU O SIGNATÁRIO DO GOVERNO DE MACAU E DA CORPORAÇÃO DOS SERVIÇOS DE MARINHA E DA POLÍCIA MARÍTIMA E FISCAL ALGUNS LOUVORES, ELOGIOS, MENÇÕES E APREÇO E DUAS CONDECORAÇÕES SENDO A MAIS SIGNIFICATIVA A MEDALHA DE DEDICAÇÃO E MÉRITO.



-CONSIDERANDO OS SÓLIDOS CONHECIMENTOS TÉCNICO-PROFISSIONAIS, INVULGAR DEDICAÇÃO AO SERVIÇO E ELEVADO ESPÍRITO DE MISSÃO SEMPRE INEQUÍVOCAMENTE REVELADOS;



CONSIDERANDO A SUA FORTE PERSORNALIDADE E ELEVADA NOÇÃO DO DEVER QUE, SERVIDAS POR UM ESPÍRITO DISCIPLINADO E DISCIPLINADOR, CRÍTICO, FRANCO E LEAL, LHE TÊM PERMITIDO DESEMPENHAR A SUA ACTIVIDADE, DE FORMA NOTÁVEL, COM MELHORIAS NÍTIDAS PARA O SERVIÇO, MAIS PRESTÍGIO E DIGNIDADE PARA A CORPORAÇÃO E BENEFÍCIOS PARA A COMUNIDADE.



SE CONCEDE, NOS TERMOS DO ART. 5. PAR. 2. ALÍNEA a) DO DECRETO-LEI 42/82/M, de 3 de SETEMBRO , A MEDALHA DE MÉRITO PROFISSIONAL.



Gabinete do governador, em Macau, aos 27 de Julho de 1991.



O GOVERNADOR



VASCO ROCHA VIEIRA







O PADRE LANCELOTE RODRIGUES, REPRESENTANTE EM MACAU DO ALTO COMISSARIADO PARA OS REFUGIADOS.


Padre em Macau



Homem normal no caminho do bem



Bebe, canta e toca o coração de quem o conhece. Em Macau, onde vive, o padre Lancelote Rodrigues é, aos 85 anos, visto como um santo na terra.



O padre Lancelote Rodrigues 'é como um pai para todos'. Mas, se lhe disserem isso, sentir-se-á 'muito humilhado'. 'Não me sinto preparado para desempenhar essa tarefa. Preferia que dissessem que sou muito amigo de toda a gente'.



Há 73 anos em Macau, é visto como 'um missionário do Bem e pessoa sempre feliz'. Ama a vida, irradia bondade – 'se virem em mim um rapaz bondoso fico grato mas às vezes também me zango', esclarece. Para muitos, é mais que bom, é exemplo vivo de santidade: 'Isso não, é demasiado, santos estão no Céu e eu estou na Terra. Deixem-me ficar por aqui ainda algum tempo para ser um pouco mais pecador do que os outros'. Ultrapassada a modéstia, Lancelote reconhece ter 'feito muitas obras de assistência social'.



O padre pertenceu a uma organização – a Catholic Relief Services – através da qual conseguiu construir casas económicas, creches, clínicas médicas, escolas, um cine-teatro e um centro católico.



CIA PROTECTORA



Há quem diga que era próximo da CIA. 'Eles eram os protectores dos pobres, pois deram-nos muito dinheiro para os refugiados', comenta, não negando que 'era muito ligado ao governo americano'. 'Sempre nos abriu muitas portas. De modo que aproveitávamos. Eles tinham que saber a posição, a situação e a política da China, pelo que mandava muitos relatórios para o consulado americano de Hong Kong. Fazíamos isso muito abertamente. Às vezes os elementos da CIA vinham ter comigo. Falávamos, tomávamos as nossas bebidas, dávamo-nos bem. Representante da CIA nunca fui porque isso é uma coisa política', esclarece.



O amigo e arquitecto Carlos Marreiros enfatiza que 'o padre Lancelote é louvado por toda a gente, desde o mais pobre até governantes e embaixadores, tendo sido o verdadeiro cônsul-geral dos EUA em Macau nos últimos 40 anos.'



Mas recusa a palavra informador. 'Isso é que não. Ele está muito acima disso'.



AMAR 150 MIL



Aos 22 anos decidiu ser padre. 'Fiz bem, até porque os refugiados chegaram por altura da minha ordenação. Acontece que o bispo daquele tempo, Dom João Ramalho, não acreditava na minha vocação. Mandou-me tratar dos refugiados, tarefa que cumpri durante 14 anos. Tratar de pessoas que tinham perdido tudo foi uma experiência e educação formidáveis'.



Sobre a sua vida entre os Jesuítas, fala de uma disciplina dura mas 'esmerada'. 'Ao princípio víamo-los como uns tormentadores, mas quando saímos como padres, agradecíamos', confessa, não escondendo que 'recebia muitas torturas. Tínhamos que, durante horas, ficar a olhar para as paredes.


E também apanhávamos bofetadas e castigos corporais. Tive um castigo porque fui apanhado a fumar. Colocaram a minha carteira no meio de um corredor de 80 metros de comprido.' Desses tempos, lembra ainda ter escrito poesias às raparigas e de na procissão olhar para um lado e para o outro para ver 'onde estavam as mais bonitas'. Lancelote acredita que só não foi expulso graças à voz de soprano. 'Fazia falta no coro'.



Envelheceu mas não perdeu o espírito de outsider: 'Estou contra as directivas da nossa diocese, pois devíamos ser mais activos. É por isso que não me dou bem e estou de fora'. No mesmo tom, crítico, fala da China – 'onde devia haver mais abertura e menos corrupção'. 'Por exemplo, para realizarem os Jogos Olímpicos açambarcaram os terrenos sem dar qualquer compensação. O regime chinês não protege nem acalenta o seu povo'.



Lancelote Rodrigues gostaria que, 'daqui a 50 anos, fosse recordado como um homem alegre, um bonacheirão que gostava dos pobres e de uísque.' 'Recebi uma medalha das mãos da rainha de Inglaterra onde me chamam Sir Lancelote. Mas Sir Lancelote é o da Távola Redonda. Eu sou o Lancelote da garrafa redonda'.



VOZ DE BAIXO-BARÍTONO AFINADA COM UÍSQUE



A personalidade do padre dos pobres reparte-se entre a bondade – praticada de forma contínua junto de milhares e milhares de refugiados, pobres entre os mais pobres – e a atitude efusiva do ‘bon vivant’, aquele que é capaz de apreciar os prazeres da boa mesa, da música, da amizade e da alegria. Nos actos de missionário, onde é capaz de amar os mais necessitados e por eles dar tudo, jamais transpareceu o seu outro lado – folgazão, bom garfo, sempre bem-disposto, dono de uma potente voz de baixo-barítono. Lancelote Rodrigues não recusa emborcar dois deditos de um bom uísque antes de entoar algumas belas canções na companhia dos amigos.


Como diz o ‘Tao Te Qing’, de Lao Tzu, 'acabada a obra, o Santo (o homem Superior) afasta-se'. 'Nele, todos os dias emerge o Santo e, todos os dias, acabada a obra desse dia, afasta-se e enche de alegria o coração dos muitos amigos que o amam', refere o amigo e artista António da Conceição Júnior.



DESISTIU DO CASAMENTO



Padre Lancelote pensou desistir da sua vocação. Queria casar com uma rapariga 'muito sensata e boa'. Só desistiu porque 'gostava de ajudar os outros, principalmente os pobres'. 'Via tanta pobreza no campo de refugiados que me afeiçoei a eles. Se casasse isso perdia-se. Afinal, em vez de amar uma, podia amar 150 mil', conta.



OBRA EXEMPLAR NA CHINA JUNTO DAQUELES QUE NADA TÊM



Leonor Seabra, professora da Universidade de Macau e biógrafa do padre Lancelote Rodrigues, enaltece "a acção desempenhada pelo prelado no interior da China, junto de populações absolutamente carenciadas, às quais proporcionou melhores condições de vida. Graças aos inúmeros contactos, estabelecidos ao longo de muitos anos de actividades de ajuda humanitária, criou uma obra a todos os tí-tulos exemplar", reconhecida até pelo anterior Papa, João Paulo II, que o recebeu.



NASCIDO EM MALACA DE PAI PORTUGUÊS



Lancelote Rodrigues nasceu em Malaca, filho de pai português, e foi para Macau aos 12 anos. Decidiu aprender o português para poder estudar Filosofia e Teologia. Aos 22 decidiu ir para padre.



José Manuel Simões


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ESTA GENTIL E AFÁVEL PESSOA DESEMPENHO UM PAPEL IMPORTANTÍSSIMO AQUANDO DA PERMANÊNCIA DOS REFUGIADOS VIETNAMISTA EM MACAU.

What do you know about Canada?", visa officer Nadia Gray asked the Vietnamese refugee family. They were sitting at a make-shift desk at the refugee camp on Coloane Island while rows of other applicants waited just out of ear-shot for their own interviews and chance to move to Canada.




The parents put their heads together and discussed their answer. "Well, madame, we don't know very much but we know that there is a tree in Canada that Canadians love very much. We don't know the name of the tree or why it is so loved. " They noticed a picture of a Canadian flag. "That is the tree, madame. Perhaps if you accept us we will learn a great deal about Canada and we will try to love your tree."



This family was just one of the approximately 3,000 Vietnamese boat people who immigrated to Canada from Macao between 1979 and 1992. Unlike the huge, impersonal refugee camps in Hong Kong, the Vietnamese boat people who landed in Macao were very much part of a community. Under the paternal but strict administration of Father Lancelot, Father Alexander and other members of the Catholic Church, the Vietnamese refugees helped run their camps and strove to live up to a code of conduct that made life in the camps more bearable.



Years later in recalling the interview and the two little boys who played under her desk during this important interview, Gray hoped that the family had found in Canada a welcoming home and that they had learned to love our tree.


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Nascida num campo de refugiados



Tiffiniy Cheng tem as suas raízes familiares na província chinesa de Guangxi e no Vietname. Os seus avós paternos foram vítimas da grande epidemia de fome dos anos 50, quando Mao Zedong lançou o Grande Salto em Frente, que teve efeitos desastrosos para a economia chinesa. A família emigrou para o Vietname, onde o pai de Tiffiniy viria a casar com uma jovem daquele país.




Com a chegada dos comunistas ao poder, os Cheng fizeram como milhões de outros vietnamitas e lançaram-se à aventura, a bordo de uma pequena sampana. Alguns meses depois estavam temporariamente alojados no campo de refugiados de Ka Ho, em Coloane, onde Tiffiniy nasceu em Fevereiro de 1980.




Aí o Padre Lancelote Rodrigues acabou por encontrar-lhes um novo destino, como fez com milhares de outros refugiados que encontraram em Macau o seu primeiro porto de abrigo. Em Novembro de 1981, a família mudou-se para Worcester, no estado de Massachusetts, onde continua a viver até hoje.




Educada num ambiente familiar predominantemente chinês, onde a música e outras manifestações da cultura de Hong Kong estiveram sempre presentes, Tiffiniy não descansou enquanto não voltou à sua terra natal.




No ano 2000, depois de concluir o curso, esteve em Macau, visitou a biblioteca do IACM, folheou jornais antigos e procurou dessa forma reconstruir um passado de que os pais só lhe falam a espaços. Depois voltou com a família, numa viagem ainda mais emotiva. Tiffiniy diz agora ao PONTO FINAL que conta vir de novo a Macau para prosseguir na busca das suas raízes. Até lá, vai continuar atenta ao mundo confuso que a rodeia – em especial, a tudo o que lhe soar a injustiça.


Muitos mais factos se passaram com os refugiados vietnamitas, mas por essa altura o articulista encontrava-se em portugal no gozo de licença graciosa, muito ficou por contar, relatando apenas alguns, dos milhares de casos em que interviu directamente.







































































































































































511 ANOS APÓS VASCO DA GAMA TER CHEGADO À ÍNDIA

FAZ HOJE 511 ANOS QUE VASCO DA GAMA CHEGA À ÍNDIA.
  • NAU S. GABRIEL


    Foi em Évora que o Rei D. Manuel I entregou a Vasco da Gama as instruções e o comando das naus que partiram à descoberta do caminho marítimo para a Índia. As maiores figuras renascentistas portuguesas por aqui passaram ou viveram, marcando para sempre a personalidade da cidade.




  • Varios grandes eventos religiosos estão associados à Sé de Évora. Diz-se que aqui foram benzidas as bandeiras da frota de Vasco da Gama em 1497. No cruzeiro está a capela tumular de João Mendes de Vasconcelos, emissário de D. Manuel à corte de Carlos V de Castela, na tentativa falhada de trazer de volta a Portugal Fernão de Magalhães, que então preparava em Sevilha a primeira viagem de circumnavegação do globo.








    Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

    Vasco da Gama

    Vice-rei da Índia
    Mandato: 1524

    Precedido por: Duarte de Menezes




    Sucedido por: Henrique de Menezes




    Nascimento: 1469 Sines




    Falecimento: 1524 - Conchim


    Vasco da Gama (Sines, 1469 — Cochim, Índia, 24 de Dezembro de 1524) foi um navegador e explorador português da Época dos Descobrimentos, comandante dos primeiros navios a navegar directamente da Europa para a Índia.

    Descoberta do caminho marítimo para a Índia





    Filho do alcaide-mor de Sines, Estêvão da Gama, o rei D. Manuel I (1495-1521) confiou-lhe o comando da frota que, em 8 de Julho de 1497, zarpou do rio Tejo em demanda da Índia, com cento e cinquenta homens entre marinheiros, soldados e religiosos, distribuídos por quatro pequenas embarcações:




    São Gabriel, construída especialmente para esta viagem, comandada pelo próprio Vasco da Gama;
    São Rafael, também construída especialmente para esta viagem, comandada por Paulo da Gama, irmão do capitão-mor;




    Bérrio, oferecida por D. Manuel de Bérrio, seu proprietário, sob o comando de Nicolau Coelho; e
    uma carraca de nome São Miguel para transporte de mantimentos, sob o comando de Gonçalo Nunes, que foi queimada perto da baía de São Brás, na costa oriental africana.



    Vasco da Gama entrega a carta de D. Manuel I de Portugal ao Samorim de Calecute.




    Em 2 de Março de 1498, completando o contorno da costa africana, a armada aportou a Moçambique, depois de haver sofrido medonhos temporais e de Vasco da Gama ter sufocado, com mão de ferro, uma revolta da marinhagem.
    O piloto que o sultão da ilha de Moçambique lhe ofereceu para o conduzir à Índia, foi secretamente incumbido de entregar os navios portugueses aos mouros em Mombaça. Um acaso fez descobrir a cilada e Vasco da Gama pôde continuar até Melinde, cujo rei lhe forneceu um piloto árabe, conhecedor do Oceano Índico.


    Voltaria mais duas vezes à Índia - em 1502 e em 1524 -, de que foi governador e segundo vice-rei para lutar contra os abusos existentes que punham em causa a presença portuguesa na região. Vasco da Gama começou a actuar rigidamente e conseguiu impor a ordem, mas veio a falecer em Dezembro desse mesmo ano em Cochim, sendo os seus restos mortais trazidos para Portugal, mais concretamente para a Igreja de um convento carmelita, conhecido actualmente como Quinta do Carmo (hoje propriedade privada).






  • Vasco da Gama regressou a Lisboa no verão de 1499, um mês depois de seus companheiros, pois teve de sepultar o irmão mais velho (Paulo da Gama) que adoecera e acabara por falecer na ilha Terceira, no arquipélago dos Açores.

    D. Manuel I recompensou este glorioso feito, nomeando-o almirante-mor das Índias e dando-lhe uma renda de trezentos mil réis anuais que passaria para os filhos que tivesse. Recebeu, conjuntamente com os irmãos, o título de Dom e duas vilas, em Sines e Vila Nova de Milfontes.


Em 17 de Abril de 1498, avistou Calecute. Estava estabelecida a rota no Oceano Índico e descoberto o caminho marítimo para a Índia.





Em 2 de Março de 1498, completando o contorno da costa africana, a armada aportou a Moçambique, depois de haver sofrido medonhos temporais e de Vasco da Gama ter sufocado, com mão de ferro, uma revolta da marinhagem.







DESEMBARQUE DOS PORTUGUESES EM CALECUTE







  • Túmulo do navegador no Mosteiro dos Jerónimos.A presença de seus restos mortais na vila alentejana da Vidigueira prende-se ao facto de o soberano lhe ter atribuído o título de conde da Vidigueira de juro e herdade (ou seja a si e aos seus descendentes) em 1519. Aqui estiveram até 1880, data em que ocorreu a trasladação para o Mosteiro dos Jerónimos ficando ao lado do túmulo de Luís Vaz de Camões.

  • Há quem defenda, porém que, os ossos de Vasco da Gama ainda se encontram naquela vila alentejana. Como testemunho da trasladação das ossadas, em frente à estátua do navegador em Vidigueira, existe a antiga Escola Primária Vasco da Gama (cuja construção serviu de moeda de troca para obter permissão para efectuar a trasladação à época), onde se encontra instalado o Museu Municipal de Vidigueira.

Descendência

  • Da sua esposa, D. Catarina de Ataíde, teve sete filhos: Francisco, Estêvão (governador da Índia) , Paulo, Cristóvão, Pedro, Isabel de Ataíde e Álvaro da Gama. Alguns acompanharam-no e vieram a desempenhar importantes cargos no Oriente.











terça-feira, maio 19

NADAR PARA QUE LIBERDADE?

A FROTA DA POLÍCIA MARÍTIMA E FISCAL

UM EMIGRANTE SENDO DETIDO E RECOLHIDO PARA BORDO DE UMA VEDETA DE FISCALIZAÇÃO




No dia 1 de Agosto de 1986, o Jornal Gazeta Macaense, publicou um interessante artigo sobre a emigração clandestina em Macau e que a seguir iremos reproduzir. A autoria do mesmo é do seu Director João Severino.


" O Director do jornal tinha decidido formar uma equipa para a cobertura possível acerca da última "invasão"de emigrantes clandestinos, a qual tinha ganho honras de conversa diária em Macau.




Ontem, pelas 20.00 horas, reuniram-se na redacção dois jornalistas portugueses, 2 da imprensa chinesa e um colaborador do jornal profundamente conhecedor das margens do Território.




Eis a equipa constituída, podendo-se ver o Director da Gazeta Macaense e redator deste artigo, João Severino, é o senhor que se apresenta com bigode.


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Estudaram-se os melhores locais pelos quais os emigrantes clandestinos entram em Macau, falou-se da hora ideal, do perigo inerente à reportagem, dos meios móveis e informativos, enfim, de tudo um pouco que levaria cinco humanos que vivem em Macau ao encontro de muitos outros que tentam a todo o preço conquistar uma chamada liberdade? A de residirem em grupos de vinte num quarto onde habitualmente vive um casal? A de venderem o corpo por duas dezenas de patacas, de cada vez, repartindo as diversas comissões pelos controladores? A de vencerem um salário miserável, o qual não lhes dá para mais do que uma tigela de arroz por dia? A de sairem à rua mais ou menos à vontade uma vez por ano por altura do Ano Novo Lunar? Existem mil e uma razões que nos levam a poder afirmar que a liberdade procurada, não passa da mais ignóbil clausura disfarçada.




"DÊ-ME UM CIGARRITO" - PEDIDO DE UM EMIGRANTE AO REPÓRTER
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  • À meia-noite a reportagem da "Gazeta Macaense" dirigiu-se ao Comando da Polícia Marítima e Fiscal, a fim de recolher o ponto da situação respeitante à captura de emigrantes.
  • Fomos recebidos por homens sem sono, que de uma maneira ou de outra estavam em cima dos acontecimentos. Condutores de viaturas, especialista em comunicações rádio, em arquivo, em dactilografia, em vigilância e principalmente em dialogar com os "nadadores".
  • De imediato quem quis dialogar fomos nós, já que até aquela hora tinham sido capturados 24 cidadãos chineses oriundos das mais diversos locais.
  • GM. - Que idade tens? E porque é que viestes para Macau?
  • EMIGRANTE - Tenho 18... vim porque foram lá à minha terra dizer que o Governador de Macau ia dar cédulas a todos...
  • GM. - A todos quem?
  • EMIGRANTE - A todos os que estivessem aqui sem documentos e então eu resolvi por-me a caminho...
  • GM.- De que maneira?
  • E. - Como é que havia de ser, a nadar... primeiro vem-se ali para a montanha da Lapa. Espera-se que não hajam muitos barcos a passar e que a água baixe um pouco e depois... oiça lá, meu senhor? Dê-me um cigarrito...
  • GM.- Com muito prazer. Estás com frio e fome?
  • E. - O frio é só por um bocado, depois passa... andei muito tempo dentro de água. Fome é que tenho. Não como há muito tempo... tive foi azar...
  • GM.- E se tivesses sorte? Para onde ias?
  • E. - Ia procurar o meu irmão. Ele trabalha cá em Macau e de certeza que me arranjava comida e dormida.
  • GM.- Ele sabia que tu vinhas hoje?
  • E. - Não, senhor! Isto só pode ser quando...
  • GM.- Quando quê?
  • E.- Quando está bom tempo...

TRÊS DOS LOCAIS PREFERIDOS PARA O "SALTO" E ONDE ESTEVE A NOSSA REPORTAGEM
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  • Escusado será dizer que nos rimos um para o outro e que a vinda não tem nada a ver com o tempo, mas sim com particularidades sobejamente conhecidas de todos os leitores e que incluem questões financeiras.
  • O nosso interlocutor ainda nos disse que era a primeira vez que vinha a Macau a "salto". Que não voltaria a tentar o mesmo, ao que nós respondemos não acreditar e que os polícias que o prederam o tinham tratado bem, dando-lhe até vestuário novo. Nova gargalhada, se é que ensta situação possa haver lugar ao riso, pelo facto de termos dito, que do mal o menos, veio a Macau buscar roupa nova.
  • Pelo Comando da P.M.F., o ambiente era de atenção pelas comunicações que iam chegando, quer das vedetas em movimento pelas águas marginais, quer das patrulhas espalhadas por diversos locais.
  • E foi para um desses locais que a reportagem da "G.M." se dirigiu - a Ilha Verde.
  • Os nossos dois automóveis pararam naquela chamada ilha às 02.00 horas e logo que abandonámos as viaturas, tivémos a sensação que aquele local era de respeito, muito respeitinho. A noite estava quente e húmida. Acender cigarros nem pensar. Queriamos observar in loco a chegada de alguns "nadadores" Colocámos as máquinas fotográficas na velocidade certa e logo nos dirigimos para os tais locais escolhidos na reunião das 20.00 horas do dia que já tinha terminado. Ao fim de vinte ou trinta minutos passados, alto lá, que a nossa respiração susteve-se.
  • Ouviram-se disparos e latidos de cães, que mais tarde nos informariam tratar-se de pastores alemães usados pelos guardas do outro lado do Canal dos Patos. As opiniões divergiram no nosso diálogo quase silencioso. Houve quem dissesse que se tratava de metralhadora e quem afirmasse que os guardas estavam a usar panchões apenas para afugentar os "cobras" e seus acompanhantes.
  • O certo é que um dos "nadadores", mais tarde capturado, confirmaria que do outro lado , nessa noite, os guardas chineses não estavam para brincadeiras.
  • Passada meia hora, cada um de nós estava deitado ou sentado junto aos arbustos que se encontravam mergulhados no canal. Ver para crer . De repente os nossos olhos avistaram um género de tronco a boiar. Mas, o tronco movimentava-se. Seria da correnteza? Qual corrente, qual carapuça!
  • Logo atrás apareceu outro "tronco" e a aproximação era lenta. o último frente a frente entre nós e os "troncos" foi de uns 5 metros. Resolvemos abandonar o local. Não havia dúvida. Estavam ali dois emigrantes.
  • O nosso abandono do local deveu-se e nada nos priva de sermos verdadeiros, porque tivémos a sensação nítida de que os actos de violência se seguiriam.
  • Não estávamos ali para isso. Quem estava a chegar teria de salvar a pele. Custasse o que custasse, nem que tivesse de dar um murro ou uma facada no repórter intrometido.
  • A noite escura deve ter facilitado a fuga aos avistados "troncos". A mesma sorte não tiveram outros "troncos" que cerca das 04.00 horas, junto ao muro frontal ao Bairro do Hipódromo, vinham a nadar ajudados por bóias iguais àquelas com que as crianças brincam na praia. Aí a acção da Polícia Marítima e Fiscal ficou bem patente.
  • Uma vedeta patrulhava a zona compreendida entre a Doca Holandesa e o Fortim do Hipódromo, local este onde nos encontrávamos. De um momento para o outro os agentes ali em serviço avisaram-nos que estivéssemos com atenção porque a vedeta iria acender os holofotes, já que desconfiavam da vinda de emigrantes. Aviso feito, águas iluminadas e homens no mar. Homens será uma maneira de dizer, pois envoltos em bóias, ali estavam mesmo à nossa frente quatro "nadadores", entre eles uma mulher com mais de trinta de anos. A distância percorrida a nado tinha sido muito grande.
  • Estavam exaustos. Impossibilitados de fugir. Eis quando, um dos "nadadores" consegue dar umas braçadas rápidas para o lado das Portas do Cerco e assim livrar-se da captura. Ele nadava e nós de terra fazíamos perguntas.
  • G.M.- Não vens para aqui?
  • E. - Posso ir? não sou preso?
  • G.M.- Estão aqui polícias...
  • E. - Então, não vou!
  • G.M. - Mas para esse lado também és apanhado...
  • E. - Vamos lá a ver... Tudo pode acontecer. Adeus.
  • G.M. - Há quantas horas andas a nadar?
  • E. - Eu sei lá! Há mais de três...
  • G.M. - Onde arranjaste a bóia?
  • E. - Em Zhuhai!
  • G.M. - Posso tirar-te uma fotografia?
  • E. - Pode... eu viro a cara... adeus!
  • E assim desapareceu o nosso "nadador" pelas águas escuras em direcção à zona fonteiriça.
  • Na vedeta da P.M.F. a única mulher nadadora, de cabelo curto, oleoso, molhado, olhou-nos com desprezo. Ela sentia a revolta natural por os seus intentos sairem gorados. Contudo, acedeu a responder às poucas perguntas formuladas.
  • G.M. - É a primeira vez que nadas para Macau?
  • E. - Não, senhor! Já é a terceira vez e por três vezes fui apanhada. Vim de Kong Mun.
  • G.M. - E porque é que queres viver em Macau?
  • E. - Porque tenho cá a família toda e até tenho cá um filhito. Disseram lá em Kong Mun que o Governador é homem bom e que ia resolver a nossa situação...
  • G.M. - A vossa não! Ele ainda não disse o que faria. Andam para aí a mentir-vos.
  • E. - Foi o que disseram.
  • G.M. - Ao vires a nadar não penses que podes levar um tiro?
  • E. - Desde que haja cédula, não se pensa em tiros.
  • G.M. - Quando voltas, o que é que te acontece?
  • E. - Estamos cinco dias num centro onde estão os que são apanhados e por lá estarmos temos que pagar 150 RMB e então depois voltamos para a terra...
  • G.M. - E depois arranjas dinheiro para vires outra vez para Macau?
  • E. - Não, não! Eu não tenho dinheiro.
  • A vedeta começava o seu trajecto de regresso à ponte no. 1. Os emigrantes à chegada eram levados de jeep para o Comando e aí a mesma operação das anteriores. Roupa nova e se possível um cigarrito.
  • O raiar de um novo dia avistava-se no horizonte. Estacionámos na chamada meia-laranja, a fim de efectuarmos o balanço de 7 horas de reportagem. Um outro carro estaciona junto a nós. Tratava-se de mais um carro patrulha da P.M.F. Do seu interior saiem quatro agentes. Um deles completamente encharcado. Tinha estado a ajudar camaradas a capturar outros "nadadores" para dentro de uma sampana.
  • Sampana porquê? Porque os três barcos de borracha em serviço tinham-se rompido nas pedras. Os homens da Polícia Marítima merecem aqui, sem qualquer favor, uma palavra de admiração e apreço. O cumprimento do dever está acima de tudo.
  • Os mergulhadores tinham arriscado a vida. Os agentes da vedeta não ingeriam qualquer alimento há muitas horas. os membros das patrulhas apeadas e móveis não tiveram direito a descansar um minuto.
  • Trabalho exaustivo. Quanto a nós, em demasia. Só esta noite foram capturados 53 emigrantes. Os efectivos são escassos e que não passe pela cabeça de ninguém ser possível patrulhar com eficácia a totalidade da orla marítima.
  • Esta noite palmilhámos os muitos quilómetros, os buracões e buraquinhos por onde pode entrar gente. e podemos concluir que o trabalho levado a efeito pelos homens da P.M.F. em muitos casos é heróico. A tal ponto que o Guarda de 1a. Classe HO TAT VAI, recolhido já morto, por uma lancha da P.M.F., deu a vida pela sua farda.
  • HO TAT VAI foi ontem a enterrar com todas as honras militares. Façamos votos para que este problema da emigração clandestina não ceife mais nenhuma vida.
Que seja mínimamente resolvido, de modo a que pelo menos termine a exploração do "rastejante" pelo "nadador".

Foi o articulista, agente da P.M.F. durante 25 anos, e situações idênticas e outras ainda de maior perigosidade passou, tanto no mar, quando comandava vedetas, quer em terra como Chefe do Sector 4, zona essa onde os emigrantes usavam mais para entrarem em Macau.



Com o passar dos anos, a maioria dos emigrantes já não vinham a nado, mas sim em pequenas embarcações, os cabeças de cobra, assim chamados aos engajadores, recebiam avultadas quantias em dinheiro.
  • Muitas embracações capturou o signatário, as fotos acima reproduzidas são bem uma prova. Esta meninas, bem trajadas, eram recrutadas na China e vinha trabalhar para os clubes nocturnos de Macau.
  • As mama sames essas as controlariam depois e assim todo o dinheiro que iam conseguindo ganhar, parte dele era para pagar não só o transporte delas para Macau bem como parte para o cabeça de cobra e a mama same que as controlava.
  • Era assim Macau nos anos 60, 70, 80 e 90, depois da entrega de Macau à república popular da China é raro haver casos destes, vindo a nado do outro aldo da fronteira.

A prostituição essa continua, as meninas entram em Macau legalmente e depois por cá ficam, ilegais, exercendo o seu mister!...


  • SECTOR AREIA PRETA


  • Era Subchefe quando outro Subchefe, encarregado das patrulhas no Sector da Areia Preta tinha passado à reforma compulsiva, porque numa noite, ao serem encontrados alguns imigrantes ilegais entre os quais estava uma prima sua, deu-lhes protecção sem comunicar o facto ao Comando, que só veio a ter conhecimento deste caso mais tarde.

  • Prestávamos serviço no Terminal Marítimo e fomos escolhidos para substítuir este Subchefe.
    A designação de um Subchefe para aquela missão era um “desperdício” mas enfim, o Comando lá teria “as suas razões”!…

  • O Sector, se a isso o poderíamos chamar, tinha uma vasta áera, que ia desde a Doca dos Holandeses, onde se encontrava a patrulha 16 e ia até às proximidades das Portas do Cerco, onde actuava a patrulha 23.


  • A maioria da área ficava na Estrada Marginal da Areia Preta e a Estrada do Hipódromo, onde se encontrava uma pequena guarida e no outro extremo um fortim.

  • Nesta zona, desde o fortim no fim da Estrada Marginal da Areia Preta até às proximidades das Portas do Cerco, tinha sido colocada sobre as suas muralhas, uma rede bem alta que terminava com arame farpado, afim de impossibilitar a entrada de imigrantes ilegais.

  • Este local era o mais procurado pelos imigrantes, devido à curta distância que separava Macau da China.

  • Embora fosse Chefe do Sector não tinha instalações onde ficar nesta área, servindo-me da muralha como assento e quando o sol apertava colocava-me debaixo de uma árvore que se encontrava por ali perto.

  • Quando tinhamos necessidade de utilizar sanitários deslocavamo-nos a um dos estabelecimentos do bairro!
    O horário de trabalho era das 09.00 às 17.00 horas e o serviço constava de rondas aos patrulhas.

  • Raramente se assinava um manifesto de desembarque de gasóleo, de algum navio atracado a uma “Alva” existente no mar, e que bombeava gasóleo através de oleodutos, o que não permitia verificar a quantidade certa bombeada…

  • Falámos com o Imediato do Comando da PMF expondo-lhe a situação do Sector, esclarecendo que o serviço do Chefe do Sector era inútil durante o dia, só fazendo sentido durante a noite, altura em que os imigrantes ali desembarcavam ou vinha a nado da China.

  • O Imediato concordou com o nosso parecer autorizando um trabalho livre.

  • Nunca abusei desta facilidade e todos os dias passava lá muitas horas à noite, o que permitiu uma maior captura de imigrantes e um incremento na eficiência de serviço, factos estes que foram reconhecidos pelo Comando.

  • Entretando ocorreram alguns casos dignos de menção, referindo-me a um deles no capítulo PMF vs PJ.

  • Mesmo ali, naquele longínquo Sector, continuámos a ser assediados e perseguidos pelo tal Comissário.

  • Um dia dirigindo-me ao Sector na minha viatura particular, porque o mesmo não dispunha de viaturas de serviço, ao entrar no bairro da Areia Preta deparámos com obras na via que nos obrigaram a seguir para as Portas do Cerco, a fim de chegar ao Sector.

  • Eram quase nove horas quando cheguei à guarita. Passado pouco tempo recebia um telefonema do Comando para me apresentar ao Imediato. Para lá seguimos e como nada de mal tinhamos feito iamos com a consciência tranquila…

  • Fui informado pelo Imediato da participação que o Comissário tinha feito, por não me ter encontrado no Sector nessa manhã.

  • Fiquei perplexo, negando a acusação e explicando o que se tinha passado. Disse ainda que no trajecto que efectuara tinha-me cruzado com uma camioneta dos Serviços de Marinha e cumprimentado o pessoal que nela seguia.

  • Como era do seu conheciemnto, na noite anterior tinha estado no Sector até às quatro da manhã e detido um grande número de imigrantes. Além do mais, tinha-me autorizado a ter um horário de trabalho flexivél, para poder trabalhar de noite e de madrugada.

  • O Comissário alegara que ao rondar a zona não me tinha encontrado às 09.00 horas no local de trabalho e que ao perguntar aos patrulhas estes informaram que ainda não tinham visto o Subchefe, como se eu me tivesse de apresentar aos mesmos!…

  • Dissemos ao Imediato que estavamos fartos de ser perseguidos e que a partir daquele momento não ficariamos nem mais um minuto depois das 17.00 horas, expôndo-lhe até as razões daquela perseguição por parte do Comissário.

  • O Imediato que era uma pessoa justa e rectilínea elogiou os meus préstimos e mandou-me substítuir naquelas funções, colocando-me novamente no Terminal Marítimo.

  • Hoje em dia toda aquela zona foi completamente alterada, tendo desaparecido parte do mar bem como a Doca dos Holandeses. Novas avenidas foram rasgadas tendo sido construído um enorme bairro chamado “Iao On”.

  • Quando por lá passo já não me recordo onde eram as hortas nem do local onde ficava o fortim e a guarita, que me serviu como sede do Sector!…