o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 13a. Parte

Wednesday, July 30, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 13ª
Em Abril de 1646 Siqueira de Sousa embarca a bordo do Galeão S. João Pérola, escoltado pelo Santo André. Em 24 de Julho chegaram a Macau e a 10 de Agosto tomam rumo ao Japão. Porém um violento tufão a cerca de trinta léguas de Nagásak, obrigou-os a regressar a Macau. No ano seguinte a 8 de Julho as duas embarcações fazem-se ao mar com destino ao Japão onde aportam sem problemas na viagem. No mesmo dia da chegada tentou, a missão diplomática, fazer os primeiros contactos com as autoridades japonesas, mas não teria sido uma recepção agradável, oferecida a Siqueira de Sousa. O embaixador de Portugal enfrenta uma série de dificuldades; alguns vexames à mistura e resolve voltar a Macau a 4 de Setembro e a sua missão gorada de refazer o reatamento das relações comerciais com o Japão.Em Fevereiro ou Março os dois navios regressam a Goa, onde teriam aportado nesse ano. A 19 de Janeiro de 1649 os dois galeões tomaram o rumo a Lisboa, onde o Santo André nunca chegariam, devido ao mau tempo, foi arrastado até à costa da galiza e os espanhois tomaram conta dele apresando-o. Segundo N. Valdez dos Santos, não se encontraram documentos se os dois navios tivessem carregado de Macau para Goa peças de artilharia, mas em Maio de 1645, o galeão S.Pedro o Grande e a caravela Nossa Senhora da Oliveira e Santo António, mas só este navio, embora fosse "embarcação piquena" carregou dez peças de artilharia, possivelmente de ferro pois, segundo o que escreveu o vice-rei D. Francisco de Mascarenhas "António Fialho...trazendo lhe a bordo artelharia e balas de V. Mag.de as não quis receber per ocupar o galião antes cõ carga de particulares, e de alguns que sem licença se vierão meter nelle" e, no entanto havia em Goa tanta esperança e necessidade que o galeão S.Pedro trouxesse de Macau o maior número possível dos canhões fundidos por Manuel Tavares Bocarro. De toda a documentação consultada só se referenciou o envio, de Macau para Goa, entre 1640 e 1645, de uma dezena de canhões, transportados na pequena caravela Nossa Senhora da Oliveira e Santo António. Foi possível que, a bordo dos galeões, tivessem sido enviadas mais peças de artilharia, até para servirem de lastro, mas, certamente que teriam sido em número relativamente reduzido porquanto o transporte de passageiro e suas bagagens deveria ter a prioridade e preenchendo o espaço dos porões. Aventa-se a hipótese que os dez canhões transportados na caravela Nossa Senhora da Oliveira e Santo António tivessem sido, em Goa, transbordados para o galeão Sacramento que iria partir para o Reino. O galeão Sacramento que está, intimamente, ligado às peças de artilharia fundidas pelo Manuel Tavares Bocarro e começa aqui a história da grandeza que viria a reverter em tragédia e um dos maiores naufrágios, com perda de vidas, que viria sofrer o galeão Sacramento na sua última viagem de Goa para o Reino. No ano de 1635, quando Ruy Dias da Cunha, capitão-mor de Baçaim, fez um contrato com o vice-rei da Índia pelo qual se comprometia, em nome da cidade de sua capitania, a construir dois galeões de alto bordo. O mais pequeno destes navios teria ficado concluído, no tocante às obras do casco, em meados de 1639, tendo sido lançado à água ainda nesse ano. Em 9 de Fevereiro de 1640, depois de ter sido aperfeiçoado e forrado seguiu para Goa, com uma equipagem escolhida entre os melhores marinheiros, a reboque de fustas, levando a seu bordo "toda a madeira necessaria para ali se acabarem de todo". Em Março o casco deste navio fundeou em Surrate e, no mês seguinte, rumou Goa, onde chegou nos primeiros dias de Outubro, três dias antes da esquadra holandesa, sob o comando de Domicus Bouwem, iniciar o quinto bloqueio naval àquela cidade. "O galeão Sacramento - escreveu em 2 de Agosto de 1641 o vice-rei Telo de Menezes, mencionando, pela primeira vez, o nome do navio - do contrato de Ruy Dias da Cunha está no Rio de Panelim, e posto que faz muita agoa, contudo procuro torna lo fazendo aforrar por vir sem esta obra porq o que tenho tambem metido muitos officiaes e confio em Nosso Sñor, que tambem possa navegar o verão que vem, ambos estes galiões são formozissimos, e ficando acabados serão os melhores q se virão neste estado, e ainda neste Reino" Que causa teriam levado o casco do galeão Sacramento a "fazer água" e a necessitar de "fabrico" pouco tempo depois de ter sido lançado à água? Seria má construção, má calafetagem, abandono do casco em seco, sob ardente Sol indiano, ou, então, qualquer acidente de viagem de Baçaim para Goa, em que foi rebocado por simples barcos a remos? O conde de Aveiras, em parte, responde a estas perguntas e ao iniciar que "acabou o galeão Sacramento tão falto de obras e em tal estado q no mesmo rio onde estava se hia a pique ao fundo cõ a muita agoa q fazia e por se não perder de todo, e cõ melhoria de settenta mil x.os que nesta embarcassão tinhã metido da faz.ª de V. Mag.de o mandei forrar, e fazer todas as mais obras de que necessitava cõ q ficou perfeissoado, e muito capaz de navegar..." Seguidamente o conde de Aveiras escreveu ao rei informando-o que "convê S.r q V. Mag.de cô a mesma brevidade nos socorros, fazendo o sempre em todas as monosoins, e nesta prim.ra cõ oito ou dez galeoins de forsa, ao menos, muito bastidos de gent de mar e guerra, artelharia, e dr.º p.ª sustento, assy da gente q nelles vier como para tripular dous muito gr.des e muito fermozos, hu de 80 pessoas e outro de 75 q fiz acabar depois que aqui cheguei, buscando p.ª isso dr.º prestados". De Lisboa não enviaram gente de mar e guerra para garnecer os novos galeões. Os galeões ancorados na Ribeira de Panelim era deveras prejudicial devido ao "damno que o bicho fazia nos galeons, pouco tempo depois o Sacramento mecessitava de urgentes reparações. De novo, em Novembro de 1643, voltou o conde de Aveiras a informar o Rei que o galeão Sacram.to q aqui há mais, feito em Baçaim, sahirá m.to bom, mas não está capaz de hir per ora p.ª a barra p.e nelle aver emtrado o guzano q hé em demasia neste rio, trato de o forrar, e cõ isso se fará delle o q V.Mage.de manda, se puder partir e a barra estiver desimpedida..." Havia a ideia de tornar o galeão Sacramento num dos mais fortes navios da época, dotando-o com as mais aperfeiçoadas técnicas e requesitos. propositadamente, com vistas a atemorizar os holandeses, fez espalhar o boato que o Sacramento seria o navio mais poderoso que, então, sulcara os mares do Oriente. Estas novidades fizeram com que os holandeses se alertassem, levando-os a desenvolver uma intensa campanha de espionagem à volta daquele navio, porém as informações que obtiveram, nem sempre seriam correctas, Umas indicavam que o galeão era muito bonito, de linhas finas, bem acabado, sendo do agrado geral e que, quando completamente artilhado, com 80 peças de bronze - que, conforme se dizia, tinham sido propositadamente fundidas - teria um poder de fogo verdadeiramente destruidor. Outras, porém frisavam que, para marcantes e técnicos navais, aquele galeão não era mais que "um sarilho de navio" ronceiro e difícil manobra. A título de curiosidade indica-se que, por estranho que pareça, as melhores informações que os holandeses obtiveram sobre o galeão Sacramento foram fornecidas directamente pelas autoridades portuguesas, quando enviado do governador de Batávia foi a Goa tratar das tréguas. Então o conde de Aveiras fez questão em lhe mostrar, em pormenor, o seu "fermoso galeão"! Não há nenhuma gravura do galeão Sacramento e só há a opinião do vice-rei Telo de Menezes que se tratava "do melhor navio jamais visto na Índia". Mas informações e curtos depoimentos documentais e pelo recurso ao "Livro das Traças de Carpintaria" de Manuel Fernandes e no "Livro Náutico", Quando um navio de carreira da Índia partia de Lisboa, o seu apresto era cuidadosamente preparado. Todos os mantimentos - matatolagem ou victualhas - como assim se dizia - necessários à longa viagem, eram acondicionados - avictualhados - nos respectivos porões; a água doce ou aguada, contida em pipas de carvalho, ficava num paiol próprio; os apetrechos náuticos armazenavam-se em paióis, a artilharia alojava-se nas suas baterias e, até o lastro - muitas vezes constituído por pedras aparelhada, pronta para ser utilizada nas construções de fortalezas e igrejas - era estivada no fundo dos porões com cuidados especiais. Mas, nas viagens de retorno, ao deixarem Goa, as naus vinham abarrotar em especiarias e outros produtos orientais que enchiam os porões e espalhavam-se por todos os recantos dos navios, chegando-se, algumas vezes, ao exagero de se suspenderem caixas, fardos e atados fora das bordas ou no painel de popa. O lastro era substituído, em grandes partes, por pipas de água doce, pelos canhões e, por vezes, até pela própria pimenta e mantimentos. A defesa dos navios era confiada, somente, a três ou quatro pesados canhões, montados no convés, na crença que o seu aspecto e poder destruidor fossem suficientes para afugentar ou afundar qualquer barco atacante. Além disso também se confiava que o tempo de aproximação dos navios inimigos permitiria põr em bateria as peças que estavam nos porões. Porém, na prática, nem sempre era possível e visível e, daí, a razão dos vários insucessos das pesadas naus da Índia, quando eram atacadas pelos ligeiros galeões holandeses. Quando, em 1646, o galeão Sacramento se aprontou para a sua viagem até Lisboa, certamente que não foi excepção. teria carregado os habituais 7000 a 8000 quintais de especiarias - ou sejam, entre 350 a 400 toneladas métricas - consentidas pelo "Regimento do Tratado das Drogas", mais meia centena de pesados canhões de ferro, e de bronze, fora a bagagem de passageiros e tripulantes, esta constituida, essencialmente, por pedras preciosas, pérolas, seda e pimenta. A artilharia normal de um galeão variava entre as 50 a 75 peças mas, para as grandes viagens, esse número era muito reduzido. Em várias relações de dotações de artilharia e munições das naus da carreira da Índia, as bocas de fogo andavam, em média, entre as 20 e as 30, os pelouros, normalmente osilavam pelos mil e a pólvora não ia além de 10 a 25 quintais. CONTINUA.....
Achamos e por bem inserirmos as imagens das duas primeiras armadas para Índia.Canhões e naus estiverem sempre de mãos dadas. A primeira sob o comando de Vasco da Gama e que viria a descobrir o "Caminho Marítimo para a Índia". Vasco da Gama o Capitão- Mor, saiu do Tejo a 8 de Julho de 147, com quatro naus e uma tripulação de 160 homens.
Vasco da Gama, na S. Gabriel;Paulo Gama (seu irmão) na S. Rafael; Nicolau Coelho na Bérrio - Gonçalo Nunes em uma nau com mantimentos. Sucessos desta armada: A gente da nau de Gonçalo Nunes, e os mantimentos que levava, depois de ter passado o Cabo da Boa Esperança, avante da aguada de S.Brás, se repartiram pelas outras da Companhia, e ela despejada lhe puseram o fogo. A nau de Paulo Gama, tornando para Portugal, varou em os baixos entre Quiloa e Mombaça, os quais chamam de S. Rafael, por respeito da nau que assim, se chamava, e a gente se reaortiu pelas duas da companhia. A nau de Nicolau Coelho, tornou a salvamento a Lisboa a 10 de Julho de 1499, e Vasco da Gama a 20 de Agosto do mesmo ano, havendo gastado na viagem 26 meses na viagem. Segunda armada: partiu Pedro Ãlvares Cabral para a Índia, em 9 de Março, por capitão de treze velas - naus,navios, caravelas, das quais com temporal rijo que lhe deu na travessia do Brasil, para o Cabo da Boa Esperança, se perderam quatro: e de todas estes eram capitães: Luis Pires - arribou a Portugal - Gaspar Lemos, de Santa Cruz, terra do Brasil, tornou a Portugal com a nova do descobrimento do dela; Pero Dias, com a tormenta foi ter a Mogadaxo, junto ao Cabo de Guardafui, e à tornada se encontrou com Pedro Álvares Cabral no Cabo Verde; Vasco Ataíde, perdido na tormenta, com Pedro Álvares Cabral, Nicolau Coelho e Nuno Leitão; Simão Miranda: abalroou na tormenta com Pedro Alvares Cabral e milagrosamente se salvaram; Aires Gomes da Silva, perdido na tormenta; Simão de Pina, perdido na tormenta. Sancho de Tovar, em tõrnada para Portugal se perdeu com o vento rijo travessão em um baixo perto da costa de Melinde, e depois de toda a gente ser salva lhe puseram fogo, Bartolomeu Dias, perdido na tormenta. Como se pode verificar a armada de Pedro Álvares Cabral, que viria a ser descoberto o Brasil nenhuma das naus conseguiu chegar à Índia.José Martins
P.S. Fontes: "Manuel Bocarro o Grande Fundidor" de N.Valdez dos Santos - "Memórias das Armadas" - Edições Mar-Oceano - Macau 1990 . Organização Introdução e Notas de João C. reis

 

NA ROTA DOS CANHÕES 14a. Parte

Monday, August 04, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 14ª
Na primeira metade do século XVII a artilharia não se tinha diferenciado em naval e terreste pelo que, pesados canhões de bronze eram usados a bordo, mau grado os graves inconvenientes da ocupação de espaço - que a bordo é sempre reduzido - diminuição do poder de carga, foram os danos que causavam nos madeiramentos do navio, muito especialmente quando faziam fogo. estas desvantagens juntavam-se as do maior peso e volume das munições, da pólvora, e essencialmente, uma guarnição numerosa, factor importantíssimo na vida de bordo pois refletia-se quer no espaço de alojamento para os homens quer na sua alimentação e, ainda, na disciplina, nem sempre fácil de se conseguir em pessoal com tempo de serviço diário reduzido. Os grandes canhões de bordo tinham interesse para o bombardeamento de uma cidade ou ataques as fortalezas, construídas junto às costas, muitas das vezes seriam obrigados a fazer fogo entre as distâncias de os 2000 a 2500 metros, o mesmo já não acontecia na luta entre as naus. Os grandes alcances deixavam de ter interesse dado que as abordagens das naus se faziam entre os 30 a 40 metros e na perseguição, destas, os disparos seriam feitos na ordem dos 100 a 150 metros. A questão dos alcances, quando utilizados os grandes canhões pelo "condestável" de uma maneira grosseira, mais ou menos empírica dado que os alcançes variavam, para o mesmo ângulo de tiro, com carga explosiva, para se evitarem tiros além das distâncias normais, diminuindo com isto a quantidade de pólvora. Porém, nas chamadas peças de "camara encarnada" para que a pólvora ficasse devidamente comprimida era necessário que a bucha ou taco, que separava do pelouro, tivesse maiores proporções. A "ciência" do condestável consistia em calcular o comprimento da bucha, que podia ir dos 5 aos 50 centímetros, numa proporção inversamente proporcionalmente aos alcances. Uma peça de artilharia destinada à defesa imediata de um navio tinha que estar preparada com uma mecha de estopim fortemente impregnada de pólvora e a carga explosiva "atacada" pelo taco que ficava firmemente encostado ao pelouro de ferro. Depois deste era colocado, sob pressão dos soquetes, a "rêde focinheira", para não permitir que a bala se movimentasse com os balanços do navio, e, por fim, era posta a "tapa rabo", ou seja, uma espécie de enorme rolha de cortiça que vedava a boca da peça. Qualquer canhão, assim preparado, quer fosse para pequenas ou grandes viagens, tinha que ser cuidadosamente protegido da humidade e da água do mar, pelo que era quase que "embrulhado" em peles de boi praticamente com o couro ainda verde. Estas peles, muito em especial aquelas preparadas em Goa, eram mal curtida, como, aliás, ainda hoje o são. Com efeito, os cortidores goeses, designados por "chamares", limitam-se a pôr as peles em água misturada com cal, para as macerar e cair o pelo. Em seguida, para as curtir, colocam-nas, durante cerca de uma semana, em tinas com água e folhas de anvali ou casca de marêta. Ao fim de algum tempo retiram-nas e secam-nas à sombra e, quando bem secas, consideram-nas "peles curtidas". Para que estas peles, assim separadas, pudessem resistir às longas viagens marítimas, com uma demorada passagem pelas zonas tórridas, e não apodrecessem era necessário e indispensável barrá-las, abundantemente, com alúmem, em especial de sulfato de ferro. De todos os canhões embarcados no Sacramento - quer os próprios do armamento, quer os da carga - teriam sido escolhidos os maiores para a defesa do navio. Assim, pesadas as colubrinas, com 2 ou três toneladas de peso e uns 3 a 4 metros de comprimento, foram colocadas no convés, nos devidos reparos, prontas a fazer fogo, dado que o galeão, em qualquer altura da viagem para Lisboa, corria o perigo de encontrar corsários holandeses ou ingleses e, além disso, nas costas de Portugal, havia a temer a armada de Castela. Não era mais que um pesado navio, imensamente carregado: mais de 60 canhões de ferro e de bronze, amontoados desde os porões ao tombadilho, toneladas de especiarias empilhadas nas próprias câmaras, dois três canhões de bronze, por borda, empachando o convês, e um formigueiro de pessoas procurando encafuar-se nos mais reduzidos espaços - a que chamavam "gazalhados" - na esperança de regressarem ao reino ditante. Na tarde de 3ª feira, do dia 19 de Fevereiro de 1647, Luis de Miranda Marques, capitão-mor do galeão Sacramento e António da Câmara de Noronha, capitão da nau Nossa Senhora da Atalaya, embarcaram em engalanadas galeotas e foram para bordo dos seus navios, ancorados a meio do Mondavi, acompanhados de dezenas de embarcações miúdas onde músicos "tocavam toda a sorte de instrumentos" enquanto nas fortalezas de Goa e nos navios fundeados se davam descargas de arcabuzaria e salvas de artilharia. Pouco tempo depois o próprio vice-Rei D. Filipe de Mascarenhas foi a bordo dos navios, acompanhado "com muitas embarcações de amigos e parentes" para desejar votos de boa viagem e fazer a entrega simbólica dos Regimentos de navegação para o reino. No dizer de Bento Teixeira Feyo - um dos poucos sobreviventes do naufrágio da nau Atalaya e único relator daquela odisseia - a despedida das águas azuis e calmas do Mandovi, tendo por fundo o casario imponente de "Goa Dourada", foi tão afectuosa que a "saudade acrescentava o sentimento e as lágrimas, em todos os olhos brotavam livremente". Pela madrugada do dia seguinte a marinhagem e passageiros, num total que devia orçar pelas mil pessoas, com "sentidas lágrimas" desfraldaram as velas, suspenderam as pesadas âncoras e, com destino a Portugal... onde a esmagadora maioria dos homens e os dois navios, jamais chegariam. Não podemos descrever, passo a passo, o que foi a viagem do galeão Sacramento e da sua companheira a nau Atalaya durante a travessia do Ìndico, pois foram quatro longos meses, ora de tempo bonançosos ora de grandes mares, com as ocorrências inerentes às viagens de então. Horas boas e más, díficeis de se resumirem e que se não ligam, directamente ao assunto deste estudo. Assim vamo-nos reportar, unicamente, aos últimos dias do mês de Junho de 1647, com mais precisão, a 30 de Junho, um dia depois de S.Pedro. Por entre grandes mares - resto do temporal do dia de S. João - o Sacramento navegava com traquete, aproximando-se de terra. "Saindo a Lua - como, depois, escreveu Teixeira feyo - os da vigia derão fé de Terra muyto perto, & avistando, mandou o Piloto marear para o mar, sendo o vento pouco, & a agua tirava para terra muyto, & estandoo galeão meyo arribado, o não acabou de fazer, por mais diligencias, que lhe fizerão, largando a gavea de proa, & cevadeira sem querer já mais arribar, antes tornando cõ a proa para terra, sempre foy duas horas para ella cõtra o leme, & mareando, até que cõ hum grande mar tocando a quilha do mastro grande para a popa, de maneira, que logo se foi desfazendo...". Assim naufragou o galeão Sacramento na baía hoje chamada Sardínia, muito perto do actual Porto Elizabeth. Não há o propósito de descrever o que teria sido a tragédia do naufrágio, porém se hoje fossem descobertos os destroços do galeão Sacramento e a sua preciosa carga de canhões, fazendo trazer ao conhecimento o imenso drama de outrora e até nós, um dos mais interessantes problemas da arqueologia marítima do nosso século - o encontro no fundo do mar, de um canhão de bronze, fundido há cerca de 360 anos por Manuel Bocarro e que estaria "como se tivesse acabado de sair das mãos do fundidor". Voltamos ao governo de D.Filipe de Menezes, não sabemos se foi por inciciativa deste vice-rei ou se por proposta de algum dos membros do seu conselho, nos princípios de 1648, o nome de Manuel Bocarro foi apresentado ao rei "como digno de toda a merce". Portugal é um país em guerra e com muita necessidade de artilharia e naturalmente que os fundidores fossem estimulados no decorrer do seu trabalho e, óbviamente, recompemsados. Porém no Portugal da Restauração e com o fundidor Manuel Tavares Bocarro, não aconteceu assim. O Rei, por mais estranho que possa parecer negava-se a reconhecer os méritos do seu melhor e maior fundidor de artilharia e mais uma vez o seu nome foi meniconado para a justa recompensa de toda a sua grandiosa obra. Existia o propósito firme de nunca lhe conceder as "honras e merces" que Manuel Bocarro tanto ambicionava. Outros fundidores da sua época com trabalhos menos relevantes do que os dele eram regularmente compensados. A igratidão perante Manuel Bocarro assemelhava-se ao tratamento que tinha sido dado a Afonso de Albuquerque - o extraordinário fundador do Império Ultramarino Português - também se queixou amargamente que: "assi velho como eu sam, pouco alvorasado, ainda não sam homem para me ter a hua carta degradesimento del rei que me enche de vaidade com ella". Com Manuel Tavares Bocarro sucedia o mesmo e, no entanto, ao debruçarmo-nos sobre a sua vida, ele surge-nos sempre com um português que só queria servir o seu rei e a sua Pátria, tendo como maior ambiação a de ganhar, pela sua ciência e trabalho na fundição de canhões - que segundo as suas palavras, era a sua "natural inclinação", a honra de um foro de fidalgo com a mercê de um hábtito de Cristo, "com que ficaria honrado a ele e toda a sua descendência". A unica explicação que se pode encontrar, para que Bocarro não tivesse a recompensa que merecia e que tanto desejava, seria a de "impedimento canónicos". Deveremos lembrar que Portugal, em meados do século XVII, vivia uma época de intolerância e forte antipatia com ps judeus infieis e, a Manuel Bocarro, podia-se atribuir-lhe uma ascendência judaica - é certo longínqua - e, possivelmente, um casamento com alguma judia holandesa ou, talvez, com uma chinesa rica mas de duvidosa conversão à fé católica. Não obstante a posição da corte de Lisboa, na Índia e em Macau, os serviços de Bocarro eram devidamente apreciados e, pelos "seus merecimento e não outro respeito algu" foi, em fins do ano de 1651, nomeado para Conselheiro do leal Senado de Macau. Foi muito provável que, com esta nomeação, tivessem cessado todas actividades de Bocarro como fundidor de artilharia, de sinos e, eventualmente, de âncoras. No dizer do conde de Óbidos, nesse ano em Macau estava em "grande apertos", que no aspecto financeiro que no alimentar e, como consequência, manter-se-ia a falta de cobre e de ferro, o que certamente, provocava a paralização das oficinas de fundição de artilharia. Além disso, segundo as palavras do capitão-geral João de Sousa pereira, escritas em 1655 mas que, possivelmente se poderão aplicar a 1651, "quanto a se fazer fundição, ne a faz.ª delRey esta p.ra isso ne Manoel Tavares Bocarro te cabedal para a fundir à custa da sua faz.da". No entando, em estudos apresentados pelo padre Manuel Teixeira e pelo tenente miliciano Silva Amaro é referida a existência de uma peça de bronze - mas que não a localizam - com a seguinte legenda: POR ORDE DO CAPITÃO GERAL DE MACAO MANOEL TAVARES BOCARRO A FÊZ 1651.
N. Valdez dos Santos: Afigura-se-nos que a inscrição transcrita não está correcta quanto à data, dado ao anteriormente indicado e também por não constar do "Mapa demonstrativo do comprimento e pezo das Bocas de Fogo de bronze existentes nas diferentes fortalezas da Cidade de Macau" elaborada em 21 de maio de 1846, pelo então 1º sargento Vicente Nicolau Mesquita. Além disso há que ter em atenção o facto da referida peça não ter sido localizada, quer pelo padre Manuel Teixeira quer pelo tenete Silva Amaro, que se limtal a afirmar a sua existência. Isto faz pressupor que houve erro na leitura da legenda de uma das muitas peças fundidas por Bocarro em 1631 e que, como tantas outras, também já desapareceu. O "silêncio" documental que há sobre o nome de Manuel Bocarro nos muitos documentos consultados respeitantes aos anos de 1651 a 1654, causou-nos uma certa admiração porquanto as sua funções de Conselheiro do Leal Senado, juntamente com o facto de ser um abastado morador de Macau, com mais de trinta anos de permanência na cidade, outorgava-lhe uma posição social e um certo destaque que, dificilmente, poderia passar despercebido.
O padre Manuel Teixeira, no seu estudo sobre "os Bocarros" escreveu que: " O Prof. C.R. Boxer, em carta particular, datada de Londres aos 20 de Novembro de 1958, comunicou-nos o seguinte: " O filho de Pedro Dias Bocarro, chamado Manuel tavares Bocarro, era goês, e trabalhor em Macau desde 1625 até 1656 como fundidor, e desde 1657 até 1664 foi o capitão geral da colónia, consoante documentos nos arquivos de Goa, que lá achei em 1951. Não sei se morreu lá por 1664, ou se voltou a Goa, como ele quiz fazer entrar as suas filhas no convento de Santa Mónica".
CONTINUA (a parte seguinte finaliza o trabalho sobre Manuel Bocarro)
José Martins
Fontes: N. Valdevez dos Santos - Manuel Bocarro o Grande Fundidor - Lisboa MCMLXXXI . Estampas: Memórias das Armadas da Índia- Edições Mar-Oceano - Macau 1990.

25 DE FEVEREIRO DE 1836

Revólver foi patenteado no dia 25 de Fevereiro de 1836, por Samuel Colt


revólver Smith & Wesson Modelo 60

Revólver de 1888.

Um revólver (em inglês: revolver) é uma arma de fogo de repetição, de porte individual, normalmente um só cano e com calibres variados. O depósito de cartuchos do revólver é constituído por um tambor ou cilindro giratório com várias câmaras ou culatras onde ficam os cartuchos (usualmente cinco ou seis, porém variando para mais ou para menos). O mecanismo de alimentação rotaciona este tambor um arco de revolução por disparo, de onde provém seu nome. Sistema moderno descende do projeto desenvolvido por Samuel Colt em 1836. Revolveres são comumente armas de mão, porém outros tipos de armas podem ser consideradas revólveres também, como alguns rifles, lançadores de granadas e espingardas.

Funcionamento

O funcionamento básico de um revólver consiste em alinhar um cartucho alojado em uma câmara do tambor com o cano fixo através da rotação do tambor. Em revóveres de ação simples, isto ocorre ao se engatilhar o cão (ou martelo), enquanto em armas de ação dupla isto ocorre ao se pressionar o gatilho, o que também arma o cão.

Revólveres de ação dupla também podem funcionar em ação simples, bastando armar o cão manualmente. Ao se fazer isso o curso do gatilho e a força necessária para pressioná-lo são bastante reduzidas, aumentando a precisão do disparo.

Revólveres de ação simples, como o Colt Single Action Army e o Ruger Vaquero (atuais) e vários outros modelos antigos (como as armas do velho oeste) sempre necessitam que o cão seja armado manualmente. (Algumas exceções existem, como por exemplo os modelos de ação dupla Apenas, que normalmente possuem o cão coberto e não podem ter o cão armado manualmente, bons para porte pois não enroscam o cão em roupas quando sacados).

Curiosidades

Revólveres comuns não podem utilizar de silenciador, pois entre o tambor e o cano sempre há uma brecha por onde os gases do disparo escapam, produzindo barulho suficiente mesmo com silenciador na ponta do cano. Entretanto alguns modelos especiais russos e americanos (por exemplo o OTs-38,) que conseguiram silenciar o disparo.

Existem modelos de revólveres semi-automáticos como Mateba Autorevolver que driblaram o incoveniente de se ter o curso longo e pesado de um gatilho de dupla ação ao se engatilhar o cão após cada disparo. O momento gerado pelo disparo empurra o tambor para trás, armando e engatilhando o cão para o próximo disparo, deixando a arma em posição de disparo em ação simples.

Utilidade

Como seu projeto é do século XIX, certamente muitos avanços foram feitos que resultaram nas modernas pistolas, relegando os revólveres ao segundo plano em utilizações militares e policiais. Sua capacidade de munição limitada e maior tempo para recarga foram os principais motivos para a sua substituição. Além disso, seu tambor torna a arma mais difícil de se portar escondida, o que também o tirou do mercado de auto-defesa.

Porém os revólveres (armas de mão) conquistaram uma legião de atiradores devido principalmente a sua confiabilidade. Em caso de falha de munição, por exemplo, basta puxar novamente o gatilho que um cartucho novo é posicionado e disparado, em uma fração do tempo necessário para se posicionar um novo cartucho em uma pistola.

Em competições, atiradores (autointitulados "revolveiros") demonstram excepcional habilidade em modalidades que envolvem saque rápido, tiro de precisão e movimentação. Também são realizadas competições de revólveres de ação simples, onde os competidores utilizam armas réplicas de armas utilizadas no velho oeste americano.

A desvantagem do maior tempo de recarga de um revólver pode ser contornada com a utilização de "SpeedLoaders" ou "JetLoaders", e as desvantagens do acionamento em ação dupla não são nem notados por atiradores bem treinados. Prova disso são as diversas adaptações feitas, como por exemplo a adaptação de miras telescópicas em revólveres, tornando-os armas extremamente precisas a longas distâncias.

Alguns modelos de revólveres são fabricados em calibres muito grandes como .454 Casull, .44 Magnum e .500 S&W Magnum para caçadores se defenderem de grandes animais selvagens(exemplos: o S&W Smith & Model 500 e o brasileiro Taurus Raging Bull)

Fonte - Enciclopédia livre
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O articulista foi possuidor de vários tipos de revólveres, mas do que mais gostou e utilizou foi o Cold Cobra .38, de cano curto.

Para além deste, o articulista usou, igualmente o Colt Smith & Wesson .38 e o Magnum .357.

Smith & Wesson .38



Magnum .357, que ainda possue, por vezes é bom estar-mos prevenidos, mas o uso de armas destas, bem como de todas elas, só devem ser utilizadas em casos extremos, e o articulista, por várias vezes, foi obrigado a fazer uso delas.

quinta-feira, fevereiro 24

UM HISTORIADOR DA VERDADE



Relendo os vastos e belos artigos sobre a história dos portugueses no Reino do Sião, da autoria do grande historiador José Martins, e aproveitando as Celebrações dos 500 anos da Amizade Luso Tailandesa, nos artigos seguintes publicos vários artigos, desse grande historiador, abordando a Rota dos Canhões, espero que apreciei.
~Todos os artigos foram copilados do blog http://aquitailandia.blogspot.com/

Convido todos os leitores de meu parco blog a visitarem o blog do historiador José Martins, lá encontrarão a verdadeira história dos portugueses no Reino do Sião.


NA ROTA DOS CANHÕES 15a. Parte

Wednesday, August 13, 2008


NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 15ª e a final
Para que a história da vida de Manuel Tavares Bocarro fique completa não bastou pesquisar velhos arquivos mas, para se chegar a uma conclusão mais correcta não foram encontrados documentos inéditos. Será necessário, também, conhecer a sua obra, estudá-la sob os aspectos técnicos e artísticos e, ainda, saber que destino tiveram os seus canhões, sinos e âncoras - quais os que foram destruídos pelo tempo e pelos homens, quais os que chegaram aos nossos dias e quais os que jazem ignorados nas ruínas de algumas fortalezas de outrora ou nos seculares destroços de velhas naus e galeões. Possivelmente nunca será conhecida! Manuel Bocarro, embora, a sua obra tenha sido meritória e tenha contribuído para a defesa dos pedaços de territórios que Portugal controlava, na Ásia os homens que governavam essas parcelas não lhe deram o real valor. A hipocresia do Poder funcionava, os sorrisos e as palmadas nas costas de Bocarro, seria comuns como as imaginamos. Continuará a ser uma tarefa árdua para outros historiadores se aprofundarem e chegarem a uma conclusão exacta do que teria sido a vida e as actividades do fundidor, nascido em Goa e o maior quinhão de sua vida passou-a em Macau a fundir artilharia para defender as fortalezas de Portugal, na imensa Ásia; extremo oriente e as embarcações que navegam deste o Tejo ao Japão. N. Valdez dos Santos o autor da obra "Manuel Bocarro o Grande Fundidor" (como já por diversas vezes, no decorrer das partes anteriores, ser o nosso guia para o modesto trabalho que apresentamos), afirma que para concluir o seu pequeno livro: "...para o qual só podemos contribuir com pequeninas achegas colhidas numa ou noutra obra impressa ou manuscristos, onde se encontraram algumas referência ou alusões aos canhões de Macau".
Segundo uma das mais antigas descrições, do século XVII, de autoria do missionário jesuita José Montanha, que a intitula "Aparatos para a História do Bispado de Macau", dá conta que as fortalezas de S.Paulo, de S.Francisco e da Barra, os baluartes de S.Pedro, do Bom Parto e, ainda a esplanada da ermida da Nossa Senhora da Penha comportavam um total de 65 bocas de fogo das quais 43 eram de bronze - a maioria individualizada por nomes de santos - distribuindo-se os calibres entre as seis libras de bala até às 50 libras de bala. Marco d´Avalo que em 1638 visitou Macau, também se referiu aos canhões desta cidade, mas não com tanto pormenor ou rigor como o padre Montanha. dá conta de bocas de fogo existentes nas fortificações e indica os aspectos que mais o impressionaram. Da fortaleza da Barra relata: "16 grandes peças de artilharia, das quais 5 de diâmetro bem largo", havendo, ainda, dentro do bastião um "reduto bem elevado com 6 grossas peças, e de grande alcance" e de, no sopé da fortaleza de S. Francisco existir uma plataforma onde, no ano de 1632, se colocara uma "calubrina" de 48 libras de balla que alcança a distancia de legua e meia...". Refere que o número de bocas de fogo que existiam nas fortalezas de Macau era de 90. Segundo o historiador o Prof. Charles Boxer, em Dezembro de 1643, "a cidade de Macau forneceu uma grande peça de ferro e um bombardeira para a defesa de Cantão". Tudo indica que esta peça de artilharia tivesse sido fundida na oficina de Manuel Bocarro. Em Macau fica a tradição, entre a população, que o Imperador da China, em retribuição, ofereceu uma pequena parcela na Ilha da Lapa, mas não menciona qual teria sido o ponto onde estas peças teriam sido colocadas. O vice-rei da Índia Telo de Menezes, informou a corte de Lisboa "de estar Macau muy bem provida de artelharia esta feita outra muito q lavrou se por contrato". Estas palavras confirmam, em parte, as do cronista António Bocarro na sua obra "Livro das Plantas de Todas as Fortalezas...", escritas uns anos antes de que "ha na dita cidade de Machão setenta e três peças de artelharia afora muita de particulares e de S. Mag., de ferro q esta feita", mas, entretanto não dão a ideia do número, mesmo que fosse aproximado, de bocas de fogo fundidas por Manuel Bocarro. Vinte anos mais tarde o vice-rei da Índia, conde de S.Vicente começou a escrever um completo estudo sobre Macau, porém, à data de sua morte, que foi considerada uma perda nacional, quando esse trabalho, não completado, foi trazido ao conhecimento, inseria uma meia dúzia de folhas, dactilografadas com letra descuidada, com muitas rasuras e com frases repetidas e, algumas não entendíveis. O Conde de S. Vicente, mesmo só o seu relatório com meia dúzia de folhas, dá conta que, em Macau, havia em 1668: "400 péssas de bronze e m.tas delas requezas e perto de 302 Xp.aos e portugueses...". Aventa-se que o Conde de S.Vicente teria exagerado no número de peças de bronze, mas não está fora a hipótese que a totalidade de peças de artilharia de ferro e bronze comportaria esse número. O certo seria que os pontos estratégicos de defesa de Macau teriam que estar muito bem providos de artilharia. Os holandeses não desistiam da conquista do território e de primordial importância, como base para o comércio entre a China e o Japão e, não só, dali piratearem as navegações no Mares do Sul da China e do Golfo do Sião. Em 1622, quando do ataque holandês, Macau estava mal guarnecido de artilharia, segundo Faria e Sousa revela que não havia mais que 54 canhões. Na precipitada fuga dos holandeses derrotados deixaram uma peça peça de fogo e, mais tarde, o capitão geral Tomás Vieira com seis galeões, conseguiu capturar, aos holandeses, numa esquadra 24 canhões. As peças de artilharia fundidas por Bocarro com o correr do tempo foram desaparecendo e as fundidas, em bronze, colocadas entre as ameias das fortalezas e baluartes foram "pilhadas" fundidas e o metal aproveitado para várias aplicaçõs. Marques Pereira, Cônsul de Portugal em Banguecoque (1875-1888), segundo o Padre Manuel Teixeira foi o maior historiador de Macau, refere a existência, em Macau, de 109 peças de bronze e ferro, afirmando que apenas só 9 teriam sido fundidas por Manuel Bocarro e quatro destas desmontadas por não se encontrarem em condições de fazer fogo. Em 18 de Agosto de 1873 o tenente-coronel Almeida apresentou um largo relatório em cima da operacionalidade do material de artilharia que defendia Macau, indicando que o governador de São Januário mandara vender, por não estarem em condições de serviço, 48 bocas de fogo de ferro e tinham sido vendidas três peças de bronze, já serradas. Acrescentava, o seu relatório, que que se "continua a serragem de uma de calibre 36, e na fortaleza do Monte ainda existem cinco". Estes canhões de bronze, serrados em pequenso paralelípedos - muitos dos quais para servirem de pesa-papeis - era, sem dúvida alguma, peças de Manuel Bocarro, e mais, a de calibre 36 devia ser - por mais extraordinário e incompreensível que pareça - a célebre "Peça do Mandarim", fundida em 1626 e que, durante séculos, permaneceu, imponente, na Fortaleza de São Paulo. Mais tarde o então governador de Macau, conde de Paço de Arcos, "separou alguns (canhões) que pudessem ter valor histórico e mandou-os para Lisboa por um dos transportes de guerra". É muito possível que esses canhões, chegados ao seu destino, tivessem ido alimentar os fornos do Arsenal do Exército onde uma peça de artilharia era fundida em 14 horas, para "aproveitamento" do seu bronze. O conde de Paço de Arcos considerou "sem interesse nem valor histórico, como eram muito pesados, foram partidos em pequenos pedaços por um processo, considerado "muito engenhoso", o que mereceu ao seu autor grandes elogios. Para partir aqueles monstros de bronze: "armou-se uma espécie de cábrea a que estava ligada uma roldana pela qual passavam grossos cabos que suportavam um grande peso. As peças depois de aquecidas ao rubro na parte onde se havia de produzir a fractura, eram sbmetidas a uma pancada seca d´esse peso. Assim se quebraram todas, e esses pedaços de bronze antigo forma vendidos para se valer às necessidades do presente".
Foi o caminho que Macau deu a muitos dos seus velhos canhões que, nos tempos idos, tinham defendido Macau da cobiça dos seus numerosos inimigos e que hoje teria um valor incalculável. Há 130 anos, segundo Gabriel Fernandes existiam em Macau 136 bocas de fogos, de bronze e de ferro de vários calibres e espécie. Dez anos depois, em 1890, estavam distribuídas, por todas as obras fortificadas da cidade, 141 bocas de fogo das quais, ao que parece, 109 eram obsoletas como materia de guerra. Ao findar o século (XIX) só estavam em uso, em Macau, 118 bocas de fogo, incluindo dois morteiros, dois obuzes e duas metralhadoras. Porém, em 1930, o capitão Nascimento Moura ( nota nossa: considerado, depois de Fernão Mendes Pinto o melhor historiador que relatou "Portugal na Tailândia", poucos anos antes de o Dr. Joaquim Campos ser acreditado como Cônsul de Portugal nõ Reino do Sião), escreveu: "quási tôda a primitiva artilharia de bronze que existiu em Macau foi fabricada na fundição do Chunambeiro, por Manuel Tavares Bocarro, o qual pertencia a uma família de fundidores de artilharia, que em tal mister se norabilizou na Índia. Infelizmente dêsses canhões que deviam ser considerados monumentos da nossa história militar no Extremo Oriente, não se encontra um único exemplar em Macau". Macau, que trezentos anos antes vira Manuel Tavares Bocarro a fundir os seus famosos canhões, em 1930 não possuía nem um único! Em contrapartida, em Pequim e seus arredores existiam, até 1931, alguns canhões de Bocarro, e, certamente, que espalhados por todo o mundo existiriam muitos mais. Recuando no tempo, voltemos ao distante ano de 1778, quando ocoronel holandês Roberto Jacob Gordon andava a fazer um levantamento topográfico expedito das costas do Natal. Aquele oficial encontrou destroços de um velho navio e, no próprio mapa que estava a levantar, anotou o seguinte: "... entre as dunas os infortunatos sobreviventes fizeram na areia uma espécie de pequenos buracos, e tinham, segundo a minha opinião, morrido de fome, visto ali não haver habitantes; eu encontrei alguns esqueletos, que enterrei. Aqui estavam os restos de uma lindíssima caixa de marfim que parecia ter pertencido a uma livraria de uma igreja católica. Duas enferrujadas âncoras e um canhão, demasiado inacessível para identificação, estavam no mar e peças de madeira de ébano com rochas, na praia. Ao que se parece, durante mais de uma centena de anos, aqueles detroços que assinalavam uma das grandes tragédias marítimas de outrora, não mereceram grande interesse. Contudo, por razões que se não apuraram, ao findar o século XIX, George Macall Theal traduziu para inglês e incluiu na importante obra "História Colonial" a descrição de Teixeira Feyo sobre o naufrágio do galeão Sacramento. Ignora-se qual teria sido a repercussão da história do velho galeão seiscentista e só se sabe que, em 1951, um fazendeiro chamado H.G. Harraway, mandou "lavrar" por um conjunto de 22 bois, as areias da Baía de Sardínia. Foi, então, posto a descoberto um velho canhão de ferro, possivelmente aquele que, duzentos e cinquenta anos antes, o coronel Gordon tinha avistado. esta peça de artilharia foi classificada como sendo do século XVI e de orígem holandesa, tendo sido oferecida ao Museu de Porto Elisabeth. Hoje está colocado à entrada principal daquele museu, com a designação de "Canhão de Harraway". Ao que parece, o único contributo que este velho canhão trouxe foi a errada suposição que, à séculos, teria naufragado na Baía de Sardínia um navio holandês. Outro período de silêncio, desta vez de um quarto de século, voltou a cair sobre os velhos destroços do galeão Sacramento. Em 1977, depois de alguns anos de pesquisas subaquáticas, dois mergulhadores desportistas - David Allen e Gerry van Niekesk - trabalhando separadamente, encontraram nas águas da Baía de Sardínia, onze canhões, muito corroídos, que foram considerados de orígem portuguesa. Procedeu-se, então, à realização de laboriosos estudos históricos e cuidadosos trabalhos de recuperação daqueles seculares destroços e, muito em especial, dos canhões. A investigação histórica foi confiada à Dr.ª Diane Nash, historiadora do Museu de Port Elisabeth, que, pedindo ajuda a duas indiscutíveis autoridades da hsitória afro-oriental dos séculos XVI e XVII - os Professores Charles Boxer e Eric Axeison - foi conseguido desvendar a história do naufrágio da Baía de Sardínia e chegar à conclusão que os destroços encontrados pertenciam ao galeão português Sacramento, naufragado em 30 de Junho de 1647, quando navegava da Índia para Lisboa. Uma equipa de mergulhadores altamente organizados e bem apetrechados, viria a iniciar intensivos trabalhos de pesquisa e recuperação arqueológica dos destroços e, como escreveu a Dr.ª Diane Nash, "uma excitante e significatica nova descoberta foi feita a a de uma grande pilha de canhões de ferro e bronze, que jaziam juntamente, com a aparência de terem sido, transportados como carga de porão do navio. Mais 29 canhões de bronze foram recuperados... e um foi encontrado, quase miraculosamente, em boas condições. Debaixo de uma cobertura de vegetação marítima estava uma crosta protectora de ferro "emprestada" por electrólise pelos canhões de ferro que o rodeavam... Quando a crosta foi removida, o "canhão milagre", com toda a sua intrincada decoração de fundição em relevo, no primeiro reforço, olhava-nos como se tivesse acabado de sair das mãos do fundidor"
A identidade do canhão estava bem expressa nas armas da cidade de Macau e numa artística cártula onde se encontrava a seguinte legenda:

ANTº TELES DE ME NEZES GOVor DA INDIA A MANDOV FAZER NO ANNO DE 1640 . Na faixa da culatra um dístico completava a legenda: POR Mel TAVARES BOCARRO.

Para finalizar o nosso comentário:
Poderíamos ainda escrever muitas páginas sobre a pouco conhecida e ignoradas vida e obra de Manuel Tavares Bocarro. O contributo dele muito viria a contribuir, fundindo artilhares, para que Portugal ainda conseguisse defender algumas possessões na Ásia, daquelas que os holandeses sistemáticamente iam "pilhando" a Portugal. O pouco que sabe dele é através de uma longa carta que escreveu em 1635, em Macau e dirigida ao vice-rei da Ìndia. Carta que é a descrição de toda a sua vida e a permanência em Macau. Carta que certamente iremos publicar, mais adiante, dado que a caligrafia de Manuel Bocarro é de certo modo intrincada e merece uma cuidada transcrição. Manuel Bocarro, ganhando a vida a fundir artilharia em nome de El-Rei de Portugal, era um homem honesto quer nas suas obras como no perfil de homem que tinha herdado do pai Pedro Bocarro. Mas Manuel Bocarro nasceu e viveu entre a "fidalgaria", portuguesa que sustentava o poder com a ostentação das "mordomias" que lhes tinha sido concedidas em Lisboa pela dinastia dos Filipes de Espanha. O fundidor nasce e vive numa altura bastante difícil para a Pátria Portuguesa em que a soberania estava sob os destinos de Castela. Os fidalgos bem se acomodavam sob as ordens régias recebidas da Corte de Lisboa. Os holandeses seguiam tomando conta dos espaços portuguese na Ásia e travavam a navegação dos navios. Manuel Bocarro bem sabia o valor da sua arte e sempre desejou o ser recompensado com um título de nobre que era mais nem menos que o "Hábito de Cristo" a máxima honraria que se poderia galardoar, na época, o homem português pelas suas boas obras em favor do Reino. Nas veias de Manuel Bocarro circulava sangue judaico (embora já diluído) a sua pretensão, embora lhe tivesse sido prometida, enganosamente, jamais lhe poderia ser atribuída. O poderoso clero de Portugal apoiado à monarquia e esta ao clero, não permitia que um judeu ou "marrano" vestir a "farpela" o "Hábito de Cristo". Isto seria uma humilhação e um sacrilégio que o Deus Divino condenava, na eternidade, com as línguas do fogo do inferno.
José Martins
P.S. Só com a colaboração da livro de "Manuel Bocarro o Grande Fundidor" - Lisboa MCMLXXXI (que infelizmente não designa a editora) tive a possiblidade de apresentar o modesto trabalho em 15 partes. Tivemos que recorrer e plagiar muitos texto de N.Valdez dos Santos. Peço desculpa ao autor se porventura tiver acesso a esta prosa. Não tenho por hábito de plagiar textos, mas aqui fi-lo porque entendi que historiadores no futuro e com mais sabedoria que eu, escrevam mais sobre Manuel Tavares Bocarro. Vale a pena que outros "peguem" nesta história de tantas outras, esquecidas, dos feitos dos portugueses de outras eras na Ásia. A herança hsitórica de uma nação deve ser divulgada e esta infelizmente, em Portugal está a perder-se. Os homens políticos de Portugal, de momento acomodam-se, como "passaritos", no "Ninho da União Europeia", que jamais criarão penas, verdadeiras, para poderem voar alto mas de cera como as do Ícaro. Com o exemplo de 60 anos de Portugal sob o domínio dos espanhois foi uma tragédia para a continuação do desenvolvimento e expansão de Portugal no Oriente. Os homens contemporâneos não aprenderam nada. E infelizmente até duvidamos se têm conhecimento da história de Portugal do passado... Portugal será eterno se ainda houverem homens!
Se os não há não tarda que Portugal sofra a segunda humilhação e voltar a ser pisado pela "pata" ibérica" ou da Europa dos 27, de momento.

ROTA DOS CANHÕES - 1a. Parte - JOSÉ MARTINS

Monday, August 18, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - A IMPORTÂNCIA DOS PORTUGUESES NA DEFESA DO REINO DO SIÃO

Parte 1ª
Depois de terminarmos (que haveria muito, ainda a revelar!) a história do fundidor Manuel Bocarro, vamos nos embrenhar sobre a importância dos portugueses na defesa, da soberania, do Reino do Sião, hoje a Tailândia. Mas antes, de chegarmos aos fortes às armas, aos canhões e à formação de soldados, siameses, pelos portugueses, vamos contar como a etnia thai se estabeleceu no norte Tailândia, há 3.500 anos, na região de Sukhuthai. Os thais, raça minoritária, originária da região Yunnam, sul da China foi expulsa (aliás ainda hoje a China tem essa tendência), cujas minorias despojadas de suas orígens têm a tendência de se deslocarem em direcção ao sul e seguindo o curso dos rios. O Prof. W. Eberhard da Universidade da Califórnia, na sua obra "História da China" afirma que os tais viviam, no ano de 1450 (AC), junto ao "Rio Amarelo", muito antes os chineses, ali, se fixarem. Em escavações, arqueológicas, foram encontrados objectos de bronze, desse período, que indicam ter sido manufacturados pela etnia tai. Os tais vêm de uma raça heterogénia onde se misturam sangues de Yao e Tongouse. Os chineses pouco depois de ter penetrado no território dos tais, como a maioria,tomaram conta do poder administrativo e expulsam-nos e estima-se, por volta dos anos de 1450 AC, Dirigem-se para o sul e como acima foi descrito e fixam-se em Sukhutai. Os tais identificam-se como nação em 1238 e de quando Sukhuthai, é uma parcela de território do grande império Khmer. Dois homens são os arquitectos dessa autodeterminação: Pho Khun Muang e Pho Khun Bang Hao declarando a independência do Reino de Sukhuthai. Mais tarde entroniza-se o Rei Rama Kamkhamhaeng, o Grande e o inventor do primeiro alfabeto tai, conhecido, até aos dias de hoje. A primeira inscrição, escrita em tai, foi cinzelada numa pedra no ano 1292. Os tais, identificados como povo dão o nome ao seu novo país "Muang Thai" (Tailândia) que traduzido para o português "Terra Livre". Ainda não está bem definida a razão porque os tais se viriam a mudar para mais ao sul e fundar um novo Reino de Ayuthaya. Históriadores aventam a hipótese que a mudança teria sido para que o Rei de Sukhuthai se livrasse dos conflitos dos seus vizinhos, que constantemente se guerreavam, ou se pelo facto das terras de Sukhutai não possuirem a fertilidade desejada para a uma vivência, sob a abundância, do seu povo. Em Sukhutai só lhe conhecemos um pequeno curso de água junto a uma alta montanha, ao sul e a uma certa distância onde se situava a administração do reino. Cremos que a área de Sukuthai estava sujeita as secas. O pequeno rio desagua no rio Chao Praya (Chao Praiá) em Kamphaeng Phet, pertencendo jurisdição de Sukhuthai, onde viveu uma significativa comunidade tai e ainda hoje existe um parque como muitas ruínas, budista, da época e em certas partes, restos de muros que serviam para se defenderem da entrada do inimigos. O Rei Utong ou porque pretende expandir o seu reino ou livrar-se da cobiça dos seus vizinhos, ordena a um grupo de homens de sua confiança e diz-lhes: "segui a direcção do Sul e procurai uma terra para onde nós possamos mudar e viver em paz". Não são conhecidos, históricamente, quantos enviados o Rei Utong teria incumbido para a descoberta, de novas terras, mas certo teria sido uma caravana de elefantes, que partindo de Sukhuthai até Kamphaeng Phet, ali outros tais se juntariam que navegando em almadias (pequenas embarcações cavadas em grossos troncos de árvores de Teca), seguiram-nos em procura de um novo país. O curso do Rio Chao Prya, em Kamphaeng Phet já comporta um nível de água muito razoável e de fácil navegabilidade até Aiuthaya. Os tais são sabedores que aquele rio vai alargando as margens conforme vai correndo para o sul e por certo iriam encontrar a terra sonhada pelo Rei Utong. De Kamphaeng Phet a Ayuthaya são cerca de 350 quilómetros e com facilidades, de abastecimento logístico, dado a abundância de comida que vai havendo no percurso, para os enviados assim como para as bestas de carga (elefantes) que os transporta. Chegados a Ayuthaya vão encontrar uma ilha fértil, onde dois rios vão ao encontro do Chao Prya: o Pasak, vindo das terras do leste e o Lopburi do nordeste. De volta os enviados do Rei Utong informam-no: "ter encontrado uma ilha muito fértil ao Sul de Sukhutai circundada por três rios". O Rei não hesita e prepara o seu povo, as centenas de elefantes e com ele, seguem para as terras baixas de Ayuthaya que dista a 100 quilómetros da embocadura do rio Chao Praya que despeja as águas no Golfo do Sião. O tais organizam-se, criam a cidade real, constroem os templos, budistas; palácios para alojar o Rei; os membros da família real e as casas dos nobres. A cidade real situa-se dentro do perímetro das margens do três rios que forma uma lha. Fora da cidade real, em todas as margens dos três rios erguem-se as casas dos tais. Os campos da baixa de Ayuthaya são demasiadamente fértiles e passaremos a descrever o que Fernão Mendes Pinto nos diz na sua "imortal" obra a "Peregrinação", capitulo 189: "....grandeza, abastança, riqueza, e fertilidade que vi neste reino do Sião e império Sornau, e quando mais proveitosa nos fora tê-lo antes senhoreado, que tudo quanto temos na Índia, e com muito menos custo do que até agora nos tem feito. Este reino, como se pode ver no mapa, tem por sua graduação quase setenta de costa, e cento e sessenta na largura do sertão. A maior parte dela é terras muito baixas, em que há muitas campinas lavradas, e rios de água doce, e por isso é muito fértil e abastada de mantimentos e de carnes. Nas partes altas tem arvoredos espessos de muita madeira de angelim, de que se podem fazer milhares de navios de toda a sorte. Tem muitas minas de prata, ferro, aço, chumbo, estanho, salitre, e enxofre, tem também muita seda, águila, benjoim, lacre, anil, roupas de algodão, rubis safiras, e ouro. e disto tudo muito grande quantidade. Nos matos da costa tem muito brasil, e pau-preto, de que todos os anos se carregam mais de cem juncos para a China, Léquios, Cambodja e Champá, e têm mais muita cera, mel, e açúcar". É impressionante como Pinto descreve o Reino do Sião e esta realidade só pode ser analisada por quem conhece a Tailândia, como nós. Existem as florestas cerradas, que são povodas por elefantes e outros animais selvagens onde predomina o tigre. Ayuthaya dado à sua abundância e de solos ricos o comércio floresce e volta num importante centro comercial, com a constante chegada, dos juncos chineses (que dominavam a navegação no Golfo do Sião e o Mare do Sul da China) com mercadores chineses e malaios ao Porto Internacional de Pom Phet junto à embocadura do Rio Pasak. Muitos dos produtos produzidos no Sião, antes de os portugueses, conhecerem Ayuthaya, já eram comercializados, em larga escala, pelo malaios e chineses em Malaca, tendo como principais clientes os mercadores árabes que deste empório os transportavam para o norte de África navegando pelo Mar Vermelho e para Itália através do Golfo Pérsico. Não se conhecem guerras, violentas, durante os 161 anos, desde a fundação de Ayuthaya, entre os tais e os seus vizinhos; a Birmânia e o Cambodja, antes de os portugueses conhecerem o reino no ano de 1511. Porém dado ao desenvolvimento do comércio do Sião viria a expandir o seu território até ao sul obtém a soberania de pequenos estados em que os chefes, anualmente, vão a Ayuthaya para serem recebidos, prestarem vassalagem, em audiência ao Rei e pagar-lhe o tributo, em ouro. Entre os pequenos e vários estados tributários designamos três: Mergui no Mar de Andaman, Malaca mais ao Sul e Pattani no Golfo do Sião. Mergui, embora menos importante que o empório comercial de Malaca, é um dos pontos de chegada de mercadoria de Ayuthaya, por água e terra. Percurso que demorava cerca de 15 dias entre Ayuthaya e Mergui. Os juncos saídos do Porto de Pom Phet, navegavam para o sul do Golfo do Sião até "Maw Pass", a mercadoria no dorso de elefantes chegava ao rio Tenassarim e deste até à Baía de Mergui. Em Mergui, muita da mercadoria era comecializada, pelos árabes, chineses ou malaios e ou seguia para Malaca ou tomava o rumo do norte da Baía de Bengala com destino à Índia, mercados marítimos arábes que a fariam chegar aos centros comerciais das especiarias do Norte de África ou os de Itália: Veneza, Piza e Génova. A descoberta do Caminho Marítimo da Índia por Vasco da Gama em 1498, viria a transformar, completamente, não sou o sistema comercial da Ásia, com a introdução das armas de fogo, a construção de fortes, veio a substituir as rudimentares paliçadas e as consequentes guerras que se seguiriam. Os homens portugueses, os missionários do Padroado Português do Oriente, as armas, os canhões, a pólvora, as novas tecnologias de defesa, introduzidas pelos portugueses no Antigo Reino do Sião veio não só a modificar este reino como assim toda a Ásia e a ligação dos seres humanos do ocidente com os do oriente.
Continua
José Martins

ROTA DOS CANHÕES - 2a. Parte - JOSÉ MARTINS

Sunday, August 24, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - A IMPORTÂNCIA DOS PORTUGUESES NA DEFESA DO REINO DO SIÃO

Parte 2ª
Como o descrevemos na parte 1ª, com a descoberta do caminho Marítimo da Índia em 1498 por Vasco da Gama uma nova era principiava para a Ásia. O continente asiático, séculos antes de os portugueses o descobrirem era sabido na Europa que existia, só que vivia no imaginário das pessoas e, a figura lendária do Preste João das Índias.
A pimenta, o cravo, a canela, as sedas, as porcelanas eram vendidas nos mercados das grandes cidades europeias e nas costas mar mediterrâneoo. Especialidades orientais que seguiam pelas águas do Golfo Pérsico, do Mar Verelho e da milenária "Rota da Seda". Não nos iremos adiantar em designar os caminhos náuticos ou terreste por onde seguiam as mercadorias asiática, mas seguiremos o tópico da importância de Portugal na defesa do antigo Reino do Sião. Vasco da Gama ter-se-ía valido de informações de pilotos de navios muçulmanos na costa de Moçambique, já familiarizados com as rotas da Índia. Embarcações arábes, de mercadores, que nunca se atreveram (talvez o tenham tentado) passar o Cabo Bojador do Índico para o Atlântico, devido às águas encrespadas com o encontro, de várias correntes marítimas cuja fragilidade das suas embarcações não conseguiriam vencer. Vasco da Gama quando chega à Índia não consegue penetrar em Goa, encontrou hostilidades e fica ao largo da costa de Cochim e obtém as boas graças do Rei. Porém as naus de regresso a Lisboa seguem carregadas de pimenta e outras riquezas orientais e informações detalhadas para o Rei Dom Manuel I. D. Francisco de Almeida parte de Lisboa a a 24 de Março de 1505, com uma armada de 22 navios e com ordens do Rei D.Manuel que deveriam regressar 12 e ficarem na Índia 10. O monarca pretende que os pontos principais onde se procedia o comércio fossem fortificados. Confere todos os poderes a D. Francisco de Almeida para que mandasse construir fortes na Quiloa, Angediva e Cananor. Consegue uma uma aliança com o Rei do Cochim que irá utilizar como sede e o centro de operações para atacar as embarcações, muçulmanas e turcas em direcção ao Golfo Pérsico e Mar Vermelho, cuja carga depositada nos porões eram as especiarias. Mas voltamos a 1506, saiu de Lisboa uma armada do Tejo sob o comando de Tristão da Cunha e uma nau da sua frota é comandada por D.Afonso de Albuquerque que tinha por missão de vigiar e controlar as navegações do Mar Vermelho. Conquistou no caminho Socotorai e faz ali a sua base. D. Afonso de Albuquerque era o homem em que o Rei D. Manuel confiava e antes de partir para a Índia, entregou-lhe uma credencial, secreta, em que o nomeava como Governador, ao fim do termo de três anos de D. Francisco de Almeida. Albuquerque durante a espera que terminassem os três anos, seguiu em constantes guerras, no mar da Índia, com os mouros e conquista Curiate, Orfação e Ormuz. Estão assim os caminhos das navegações árabes e dos turcos bloqueados pelas naus portuguesas. Em Outubro de 1509 Afonso de Albuquerque, com ajuda do Marechal do Reino D. Fernando Coutinho, assumiu o cargo de Governador da Índia e logo de seguida é senhor de Calecute. No ano seguinte, em Fevereiro, entrou em Goa, pelos meios diplomáticos de que Albuquerque era mestre e ataca, em Maio, o Idalcão, de Goa, Yusofo Adil Khan e foi derrotado, mas reconquista-a, em 25 de Novembro. A posse de Goa não teria sido vista por bons olhos pelos goeses e consta que entre eles corria: " a conquista de Goa por um povo estrangeiro distante" foi profetizada como "jogui". Durante os cinco anos de permanência de Albuquerque nos mares da Índia, do Golfo Pérsico e Mar Vermelho, deu-lhe conhecimentos bastantes sobre o empório comercial de Malaca de onde, praticamente, toda a "mercancia" navegava nas águas sob seu controlo e dos portos comerciais. Falta, agora, a Albuquerque tomar Malaca, para que todo o comércio da Ásia e do Oriente seja pertença de el-Rei de Portugal D. Manuel I, de quem era amigo e fiel servidor. Afonso de Albuquerque foi recolhendo informações, através das tripulações dos barcos muçulmanos, que aportavam nos centros comerciais de Cochim, Calecute e Ormuz, com quem teria tido bom relacionamento a forma como deveria atacar Malaca, o maior e significativo mercado das especiarias de todo o Oriente. Em 1508, antes de Goa ser conquistada, as naus portugueses, dominam o mar da Índia e mais ao sul. Albuquerque, homem de muito rigor e leal ao seu Rei D.Manuel I envia-lhe um relatório e além de o informar das suas conquista na Índia, dá-lhe conta da grandeza de Malaca e que deveria ser conquistada. D.Manuel I bem sabe que Albuquerque é o homem em que pode confiar e não hesita em ordenar em que fosse equipada uma armada de 17 velas, que sairam do Tejo a 5 e a 9 de Abril de 1508, Diogo Lopes de Sequeira, toma o comando de quatro, já com o objectivo de conquistar Malaca, enquanto Jorge de Aguiar tem à sua conta 13 naus, que seriam 8 para voltarem ao Tejo com carregamento de especiarias e, as restantes 5 para se juntarem à armada de Diogo Lopes de Sequeira para o, projectado, assalto a Malaca. Diogo Lopes de Sequeira já era conhecedor da rota marítima da Índia e o homem indicado para conquistar a praça que antes já teria abordado e descoberto a ilha de Sumatra. Lopes de Sequeira, antes de chegar a Malaca, lançou o ferro em Sumatra que já ali estivera, coloca um padrão na cidade de Pedir e outro em Pecem e chega a Malaca a 11 de Setembro de 1509. Não encontrou, aparentemente, hostilidades da parte dos malaios, que eram absolutamente falsas e Lopes de Sequeira e seus homens teriam sido agarrados "à mão" se não tivesse sido avisado por uma mulher malaia, proprietária da estalagem que habitualmente frequentava. Fugiu apressadamente para a nau e não conseguiu evitar que alguns dos seus homens ficassem cativos do sultão de Malaca. Entre os prisioneiros contavam-se Rui de Araujo, Duarte Fernandes que viria aprender a língua Malaia e mais tarde o homem, chave, para o encetamento, primário, das relações entre Portugal e o Reino do Sião. Depois da tentativa falhada de Diogo Lopes de Sequeira procurar as boas graças dos sultão de Malaca, apresentando-se na praça como amigo e nunca com os propósitos (escondidos) de mais tarde apoderar-se da soberania usando, como é evidente as armas. Albuquerque não era homem que desejasse que seus projectos falhassem. A próxima tentativa de conquistar Malaca já não seria confiada a homens, mesmo que este fossem, de sua confiança seria ele mesmo que a iria tomar. O Governador da Índia, Afonso de Albuquerque, com tantas glórias já obtidas na Índia e senhor de outras praças o seu orgulho não poderia ser ferido e Malaca teria que ser praça portuguesa, fosse pela diplomacia ou pela acção da pólvora. O Grande Afonso de Albuquerque parte de Cochim com uma armada de 18 navios, onde neste grupo estavam incluíudos 3 galeões. Com ele segue a fina flor de comandantes: D. João de Lima; Fernão Teles Dandrade: Gaspar de Paiva; James Teixeira; Bastião de Miranda; Aires Pereira, Jorge Nunes de Lião; o patrão Dinis Fernandes de Melo; Pero Dalpoin, Auditor da Índia; António Dabreu; Nuno Vaz de Castelo-Branco; Simão de Dandrade; Duarte Silva; Simão Martins; Afonso Pessoa; Simão Afonso e Jorge Botelho. Nas costa de Ceilão a armada dá conta de uma pequena embarcação, Albuquerque ordena que seja aprisionada e coloca-a à frente da armada para que lhes indique o caminho para Malaca. Uma tempestade faz naufragar o galeão sob o comando de Simão Martins, que seguia com os porões carregados de cobre, cujo o peso da carga iria provocar um rombo na proa. Porém toda a tripulação é salva e metida nau sob o comando de Duarte Silva. Talvez nos tenhamos adiantado demasiadamente, no projectos de Albuquerque na conquista de Malaca e bem merece ser tratada, noutra ocasião dado que a história é longa e até com alguma complexidade. Como o afirmamos anteriormente, umas vezes Albuquerque usa a diplomacia e outras as armas e será, assunto, a tomada de Malaca a ser desenvolvida em próximo futuro. até porque possuímos muita documentação e alguma bem se pode considerar inédita. Depois da posse de Malaca, Albuquerque pretende, agora, travar relações com o monarca do Reino do Sião, Rama Tibodi II. Bem informado já estava que as relações com Ayuthaya seriam de primordial importância para juntar ao feito da conquista de Malaca, cuja praça estava sob a soberania do Rei do Sião, só que o Sultão tinha entrado em rebeldia e recusou-se a enviar a Ayuthaya um seu emissário, prestar vassalagem ao Rei e entregar-lhe o tributo em ouro. Albuquerque está a par de tudo isto e faz a sua jogada, enviando a Ayuthaya Duarte Fernandes, detido em Malaca, de quando o fracasso de Diogo Lopes de Sequeira e agora libertado por ele. Duarte Fernandes durante o seu cativeiro em Malaca aprendeu a língua malaia e rudimentares conhecimentos da língua siamesa e seria o homem indicado para que Albuquerque enviasse a Ayuthaya. Um junco chinês de nome Pulata partiu para Ayuthaya e Duarte Fernandes é um dos passageiros e enviado de Afonso de Albuquerque. Seria o primeiro português a conhecer o Reino do Sião. Gostaríamos de aqui salientar e informação para que outros historiadores, investiguem (com algumas dúvidas), que antes de Duarte Fernandes pisar terras do Sião já em 1505 o italiano Ludovico Varthema teria visitado o Reino de Pegu, Malaca e Ayuthaya, que partindo de Veneza em 1502, em puro aventureirismo, tomando "boleias" em barcos. Para sobreviver empregou-se na Feitoria portuguesa em Cochim, em 1508, regressou à europa, pela rota do Índico e do Atlântico e chega a Lisboa em 1508. Poder-se-á acreditar que teria revelado alguns dados, do que teria visto no Sudeste Asiático na Corte do Rei D. Manuel I, que todos, que fossem, eram bem aceites. Ludovico Varthema foi contemporâneo de Leonardo da Vinci, de Miguel Ângelo, Tizian, Rafael, Lutero e podemos acrescentar Damião de Gois, época da reforma, luterana e do Renascimento da Europa. Varthema escreveu um livro de umas 150 páginas que intitula "As Viagens de Ludovico Di Varthema".
Depois do sucesso de Duarte Fernandes, o primeiro emissário de Albuquerque a Ayuthaya a dar conta ao Rei Rama Tibodi II da conquista de Malaca, prepara outra missão diplomática, chefiava por António Miranda de Azevedo e Duarte Coelho. Bem se pode avaliar o perfil e o dom de diplomata que Albuquerque possuia. Antes de a missão partir para Ayuthaya, em 1512 e dá a Miranda de Azevedo instruções seguintes:
"Direis ao rei do Sião como el-rei de Portugal, meu senhor, me mandou a este porto de Malaca tomar emenda da treição que o rei e seus governadores fizeram a um seu seu capitão-mor e gente que a ele mandara tratar de amizade, e que sobre seu seguro lhe mataram e cativaram muita parte da gente em terra.
Lhe direis que, depois de eu ter chegado a este porto, mandara muitas vezes pedir ao rei que fizesse rezão de si e mandasse entregar os portugueses que tinha cativos e tornar toda a fazenda que tinha tomado; e que ele com a sua desordenada aoberba nunca respondera a propósito, nem quisera sua amizade, nem fazer assento de paz com ele, favorecendo os mouros da Índia que ali tinham suas naos, contra o serviço d´el-rei de Portugal.
Lhe direis quem vendo eu sua falsa determinação, cometi a cidade e a entrei por força e venci o rei, que escapou ferido, e a sua gente e alifantes, e por não destruir a cidade, me tornei a embarcar e estive assi por espaço de quinze dias, esperando seu arrependimento, e que tendo o rei experimentado o esforço dos cavaleiros portugueses não deixara todavia de se determinar em guerra, sem querer que antre mim e ele houvesse concerto de paz e amizade.
Lhe direis que, por lhe reprimir esta sua contumácia, tornei outra vez a cometer a cidade e o desbaratei e matei muita gente e alguns capitães seus, e tomei seus alifantes e queimei seus paços, e que perdoei ao povo e mercadores por não se perder a cidade e trato da terra, e que lhe dou esta conta, porque sei certo que há-de folgar muito com a destruição deste rei pela guerra que com ele sempre teve.
Lhe direis que el-rei de Portugal, meu senhor, folgará muito de suas naos e gente tratarem em Malaca, e que esta era a principal rezão por que folguei de a ter tomado; e que tendo ele necessidades de suas armadas e gente pera conservação de seu estado, que eu como seu capitão-geral o servirei em tudo o que me mandar."
B.Albuquerque, Comentários, III, cap. XXXVI.Continua
José Martins