Um grupo de homens armados e encapuzados assassinou nesta sexta-feira um líder indígena no Mato Grosso do Sul, no Brasil. Nísio Gomes era um índio guarani e na origem do ataque terá estado um conflito ligado à ocupação de terras.
A morte, confirmada pela Fundação Nacional do Índio brasileira (Funai), ocorreu entre as cidades de Amambai e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, já perto da fronteira com o Paraguai. A zona onde o líder indígena se encontrava foi atacada por cerca de 40 homens armados, que invadiram o acampamento de índios guarani-caiová.
Nísio Gomes tinha 59 anos e a Funai não excluiu a hipótese de haver outras vítimas do ataque. O corpo do líder indígena foi transportado numa camioneta e os atacantes levaram também outros dois membros da comunidade indígena. A organização de defesa dos índios está a investigar o que lhes aconteceu e o conselho de lideranças dos índios guarani, Aty Guassú, adiantou ao jornal Folha de São Paulo que no ataque morreram também uma mulher e uma criança de cinco anos.
“A comunidade do acampamento Tekoha Guaviry, no município de Amambai, foi atacada por 42 homens encapuzados e fortemente armados. O alvo principal foi o chefe, Nísio Gomes, executado com dois tiros de calibre 12”, adiantou a Funai em comunicado. Ao todo vivem naquela acampamento cerca de 60 índios e grande parte fugiu para a floresta após o ataque.
“Eles chegaram encapuzados, com roupas pretas, ordenaram-nos que nos deitássemos no chão. Tinham armas de calibre 12”, contou ao Conselho Indígena Missionário, ligado à Igreja Católica, um índio que testemunhou o ataque. “Vieram buscar o nosso chefe”.
Outras testemunhas, citadas pela organização Survival International, contaram que Nísio Gomes foi baleado no peito, nos braços e nas pernas.
O ataque estará relacionado com a disputa de terras entre os índios e os fazendeiros. Desde o início do mês que aquela comunidade indígena está a ocupar um território conhecido por Ochokue/Guaviry, uma das aldeias que a comunidade indígena reconhece como seu território tradicional e tenta recuperar mas que agora está ocupado por duas grandes explorações agrícolas. A Funai reconheceu aquela terra como território dos guaranis nos registos iniciados em 2008.
No Mato Grosso tem havido graves conflitos entre grupos indígenas e fazendeiros. Na passada quarta-feira, um autocarro com conselheiros do Aty Guassú que visitavam o acampamento de Guaviry foi retido durante várias horas por fazendeiros armados, segundo os índios.
“Parece que os fazendeiros não estarão satisfeitos até matarem todos os guaranis. Este nível de violência contínua era comum no passado e resultou na extinção de milhares de grupos e sociedades indígenas. É uma absoluta vergonha que o Governo brasileiro permita que esta violência continue nos dias actuais”, diz Stephen Corry, director da Survival International.
O assassínio de Nísio Gomes está a fazer recordar o de outro líder indígena, Marcos Veron, que foi assassinado por funcionários de um fazendeiro em 2003. A violência ligada à ocupação de terras ou actividades ilegais na floresta tem aumentado também na Amazónia, onde desde Maio já foram oito camponeses e activistas locais.
Povo Guarani - a palavra Guarani significa DEUS DO AMOR