o mar do poeta

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terça-feira, maio 5

DEUSA KUN IAM







KUN IAM

A misericódia em diferentes culturas



No budismo chinês, Kuan Yin, Guan Yin ou Guānyīn 觀音representa a compaixão ou misericórdia de todos os Buddhas e tem sua simbologia advinda do Bodhisattva Avalokiteshvara, em sânscrito Avalokiteśvara अवलोकितेश्वर, divindade do budismo indiano, que dá origem a várias representações asiáticas, e que chega à China com o budismo no ano de 67, sincretizando-se com divindades femininas locais.

Kuan Yin está associada às características femininas da maternidade e proteção, na China ligadas milenarmente de modo bastante forte à misericórdia.

Também no Japão a representação budista da misericórdia tem características femininas predominantes, sendo conhecida como Kannon Bosatsu観音菩薩.
No budismo tibetano recebe o nome Chenrezig, e, assim como Avalokiteśvara na Índia, tem características masculinas predominantes.


A dança da Deusa da Misericórdia



O coreógrafo chinês Zhang Jigang criou uma apresentação de dança para permitir ao público contemplar a "Kuan Yin de Mil Braços". O canal de televisão "China Central" apresentou este espetáculo ao vivo como comemoração do Ano Novo Chinês.

A dança foi apresentada por 21 dançarinas surdas integrantes da "Companhia de Arte Performática Chinesa de Deficientes Físicos." Posicionadas numa longa fila, as bailarinas conseguem dar aos espectadores a ilusão de que os movimentos de seus múltiplos braços e pernas pertencem à figura de uma única deusa.

Nu-Kua ou Kuan yin

Há cerca de seis ou sete mil anos havia um mito universal de que todos os seres eram provenientes do útero de uma Mãe Cósmica; tal mito da criação universal teve lugar durante uma fase informe do mundo, aonde nada podia ainda ser identificado. Inicialmente cultuada na Índia, como Kali, a Mãe Informe, recebeu depois o nome de Tiamat (Babilônia), Nu Kua (China), Temut (Egito), Têmis (Grécia pré-helênica) e Tehom (Síria e Canaã) --este último foi o termo usado mais tarde pelos escritores bíblicos para Abismo.

As mais antigas noções de criação se originavam da idéia básica do nascimento, que consistia na única origem possível das coisas e esta condição prévia do caos primordial foi extraída diretamente da teoria arcaica de que o útero cheio de sangue era capaz de criar magicamente a prole. Acreditava-se que a partir do sangue divino do útero e através de um movimento, dança ou ritmo cardíaco, que agitasse este sangue, surgissem os "frutos", a própria maternidade.

Essa é uma das razões pelas quais as danças das mulheres primitivas eram repletas em movimentos pélvicos e abdominais. Muitas tradições referiram o princípio do coração materno que detém todo o poder da criação. Este coração materno, "uma energia capaz de coagular o caos espumoso" organizou, separou e definou os elementos que compõem e produzem o cosmos; a esta energia organizadora os gregos deram o nome de Diakosmos, a Determinação da Deusa. Os egípcios, nos hieroglifos, chamaram este coração de ab e os hebreus foram os primeiros a chamar de pai (ainda que masculinizassem, a idéia fundamental de família e continuidade da vida não era patriarcal).

O coração e o sangue definem um elo imanente a todos os seres que dele nasceram e uma idéia de coração oculto do universo que pulsa e mantém o ritmo de ciclos das estações, dos nascimentos, mortes, destinos. Este é o significado que está no Livro dos Mortos ou das mutações. No mesmo sentido o livro chinês é denominado Livro das Mutações.

O nome chinês dado à Mãe Primordial e informe é Nu Kua, nome referido também entre os egípcios, gregos, mesopotâmicos e hindus. As referências a ela remontam há 2.500 a.C. e a imagem permanece venerada nas regiões setentrionais. Kuan Yin ou A Mulher é uma deusa dos casamentos e das mulheres em geral. O corpo original do I Ching chama-se (Oito Trigramas) e os sessenta e quatro hexagramas são denominados por kua, derivado linguísitico de Mãe Primordial ou Nu Kua.




MOSTEIRO DE SHAOLIN

O FAMOSO TEMPLO DE SHAOLIN
UM MONGE PRATICANDO KUNG FU

MOSTEIRO DE SHAOLIN






OS MONGES DANÇANDO NO ESPECTÁCULO APRESENTADO EM MACAU


O mosterio de Shaolin (chinês: 少林寺, pinyin: Shàolínsì; cantonês: Siulam; significa "O mosterio do bosque jovem e novo") é um budista, situado na provincia chinesa de Henan e famoso por sua relação com o budismo Chán (zen) e a suposta conexão com as artes marciais. É provavelmente, um dos mosteiros budistas mais conhecido no Ocidente.


Mitos


Existem numerosos estilos de Wushu, mas o mais importante em termos de organização, métodos de entretimento e moralidade foram abertos no mosteiro budista de Shaolin. Estas características fundamentais que se aprendem no Templo de Shaolin se convertem num símbolo de respeito e de dignidade.

Diz-se que Bodhidharma deu início a mais de 100 movimentos de artes marciais Shaolin, como antídoto para a letargia que se produzia nos monges em sua metidações.

Ao longo dos séculos se abriram escolas de artes marciais, mais requintadas. A primeira, a escola do norte, dá mais importância aos pés, e enquanto a outra no sul, se concentra no movimento das mãos.

O termo Kung Fu significa prática e habilidade, que se adquir com o tempo, e tem os seus principais expoentes no templo de Shaolin, na província de Honan, na parte norte da China central. No ano de 519 d.C., O Maestro Ta Mo, proveniente do estado de Liang, ensinou aos sacertodes a arte de defesa pessoal. O treinamento no templo era duro e foram adaptadas regras para assegurar que as praticas não seriam para usar de qualquer forma. Como tal foram criadas regras para todos os praticantes. A desobediência era era castigada com a expulsão do templo, a vida era dura para fortalecer o corpo e também o espírito, os graduados deviam deviam ajudar as pessoas, não podendo transgredir a lei, entre outras.

As artes marciais chinesas tem um passado muito rico, porém em muitos casos mal entendidas talvez por desconhecimento de suas verdadeiras raízes ou como consequência de uma visão errada da verdadeira evolução histórica das técnicas para assim poder atraír a atenção.




Practica Marcial



Existem numerosas referências que demonstram a existência da prática de artes marcias na China, antes da fundação do mosteiro Shaolin (495 d.C) entre elas estão: A História de Wei, "Wei Shou". A qual menciona que durante incursões realizadas pelo Imperador Wei do Norte no ano de 446 dC, nos mosteiros dos arredores de Changan (Xian), foram descobertas e confiscadas uma grande número de armas, o que indica que a pratica de artes marciais era algo comum na época.
“O Templo Shaolin foi construído em 495 d. C. pelo Imperador Xiao Wen, que o ofertou ao monge Chan, Ba Tuo de Tian Zhu, este monges diz-se que praticavam Jiao Li como entretimento, o que contardiz a crença popular que dizia que os monges da época não eram conhecedores das artes de luta e que não praticavam nenhuma actividade física até que Bodhidharma lhes ensinou. Jiao Li foi considerado como uma antecessor do que é hoje em dia se conhece por Shuai Jiao.

A conexão entre Bodhidharma e as artes marciais chinesas provêm da novela Viagens de Lao Tsan publicada em 1907. As circunstâncias que ajudaram a criar a fama do Templo Shaolin são entre outras: o monte Song, considerado como um dos cinco montes sagradas da China; a próximidade do Templo com a cidade de Luoyang a qual serviu como capital em várias dinastias chinesas; a ajuda de alguns membros do templo que tomaram parte no início da Dinastia Tang, Li Shimin (Imperador Taizong), e a participação das milícias durante a campanha na dinastia Ming contra os piratas chineses e japoneses da época. A inscrição que aparece em Estela de Shaolin, menciona a participação dde 13 monges ne campanha militar que deu início à Dinastia Tang.

Uma das razões da partcicipação dos monges na campanha militar na Dinastia Tang, fui um resentimento dos mesmo contra Wang Schichong que se havia apropriado de algumas de suas terras, mas havia igualmente uma razão política, os monges apoiaram e consideravam que não tinham possibilidades para ganhar a guerra, e neste caso Li Shimin, esta informação foi estudada e analizada pelo Professor Meir Shahar que estudou exaustivamente Shaolin Si bei, entre outras fontes.Esta decisão garantiu a prosperidade do templo nos séculos seguintes. Logo após a vitória de Li Shimin, o Templo vivia uma época de segurançae esplendor devido às suas actividades na campanha contra Wang, apesar da perseguição que lhes era feita por Li Shimin que chegou a encerrar alguns templos budistas, decretando até que todas as cerimónias religiosas deviam ser realizadas por monges Taoistas, a única excepção a estas lei foi o templo Shaolin.



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Monges do templo Shaolin unem kunfu à dança


Criado pelo famoso coreógrafo Sidi Larbi Cherkaoui, o espectáculo de dança contemporânea "Sutra" procura oferecer ao espectador um pouco de experiência espiritual que o artista viveu durante vários meses no Templo budista de Shaolin, na China.

Estas danças tiveram a participação de 17 monges budista do Templo de Shaolin, com idades comprendidas entre os 12 e os 26 anos. dos monges se realizaram em Macau nos dias 2 e 3 de Maio de 2009, no grande auditório do Centro Cultural de Macau, tendo tido um enorme sucesso.


















CHUNAMBEIRO - MACAU


A zona da Praia Grande, em Macau, onde o articulista reside.





O edifíco da Escola Ricci, podendo-se ver a casa do articulista, lado direito da foto.





Escola Ricci podendo-se ver nesta foto a casa do articulista, à esqueda.


A Escola Ricci ocupa um espaço que vai da Rua da Praia do Bom Parto, Praça de Lobo de Ávila, onde seride o articulista, Rua do Chunambeiro e ainda uma outra artéria nas traseiras.









Em 1625, Manuel Tavares Bocarro chegou a Macau, vindo de Goa, onde aprendera a arte com o pai, para reformular e dirigir a fundição. A fábrica ficou localizada numa zona designada por Chunambeiro, junto à Fortaleza do Bom Parto e no sopé da colina da Penha. O encontro das técnicas metalúrgicas ocidentais e orientais tornou famosa a oficina tendo produzido inúmeros canhões, sinos e estátuas.
Nas faldas da Guia construíam-se novas mansões em terrenos até então inexplorados.Os Senna Fernandes e os Nolasco. Estas famílias anteriormente habitantes do Chunambeiro, lá em baixo junto à Praia Grande, mudavam-se para cima deixando a Praia Grande aos ingleses e americanos. Silva Mendes e Vicente Jorge aderiam ao êxodo e construíam as suas casas também nas faldas da Guia. Depois de quatrocentos anos de vivência nas faldas do Monte e na Praia Grande, a Guia tornava-se o bairro novo dos ricos. Até mesmo Venceslau de Morais, capitão dos Portos fazia questão de reabitar nova casa nesses sítios (hoje chama-se, Calçada do Gaio).

Em Julho de 1623, D. Francisco de Mascarenhas tomava posse do governo de Macau e, segundo rezam testemunhos históricos, terá mandado instalar uma fundição de artilharia, próximo da Fortaleza do Bom Porto, no local ainda hoje conhecido por Chunambeiro.Esta fundição, especializada em peças de bronze e ferro, foi estabelecida por Pedro Dias Bocarro.
O seu apelido incluía-se, então, no leque das grandes dinastias de fundidores portugueses. Pedro Dias Bocarro, que deixara Goa, temporariamente, para dinamizar em Macau a arte da fundição, terá entregue, em 1625, os destinos da indústria ao filho Manuel Tavares Bocarro.Um dos primeiros canhões construídos na fundição do Chunambeiro foi uma peça de calibre 36 que, durante séculos, defendeu a Fortaleza do Monte.Este canhão ficou, mais tarde, conhecido pelo nome de “Peça do Mandarim”, já que consta que foi sentado nele que o mandarim de Macau Tso Tang tomou posse das suas funções.
O ritual passou, de resto, a ser seguido pelos seus sucessores.Nas instalações do Chunambeiro foram fundidas muitas peças de grande porte, algumas das quais com capacidade de disparar balas de pedra com 50 libras de peso, e todas designadas com os nomes de vários santos, que por muitos anos guardaram as fortalezas de Macau.Algumas das inúmeras peças que foram fundidas em Macau ainda hoje podem ser apreciadas em locais muito visitados à escala mundial. É o caso da Torre de Londres, onde figuram dois canhões que possuem gravadas as armas de Portugal e o brasão de armas de Macau, e do Museu de Woolwich, que tem na sua posse outros dois exemplares.





Zona do Chunambeiro antigamente, podendo-se ver a Escola Ricci






A zona do Chunambeiro actualmente e a Avenida da Praia Grande.
A designação Rua do Chunambeiro, situada a Sul da Praia Grande, tem origem na palavra "chunambo" - cal obtida a partir de conchas de mariscos utilizada outrora como material de construção. "Outrora, para vir da Barra à Praia Grande, era necessário atravessar a colina, pois a via marginal terminava no Chunambeiro".







segunda-feira, maio 4

ANANASEIRO























O ananaseiro (Ananas commosus L.) é uma Bromeliácea de origem americana que cedo chamou a atenção dos europeus pela excelência dos frutos e pelo aspecto destes.

Dentro do grande continente centro-sul americano, Cavalcante considera-o oriundo de Ibinapitanga e afirma que ainda hoje, no nordeste brasileiro, aparecem formas selvagens e se encontra no estado silvestre nas “capoeiras”ou vegetação aberta na Amazónia. Daqui teria irradiado, desde tempos muito antigos, para diversos territórios tropicais das Américas, onde estava já muito difundido quando Colombo o encontrou pela primeira vez, no dia 4 de Novembro de 1493, numa ilha das pequenas Antilhas a que deu o nome de Guadalupe, conforme o Diário de Colombo escrito por Pedro Martin D’Anghara.

A mesma planta e o mesmo fruto de “grande flavor e fragância” forma encontrados nos anos seguintes em vários territórios da América Central, na continuação dos contactos dos espanhois com a América.

Os portugueses também encontraram o ananás quando chegram ao Brasil.
Laufer diz que a primeira referência ao ananaseiro no Brasil é a da Pigaffeta, em 1519.

A primeira descrição conhecida da planta é feita por Fernandez de Oviedo y Valdez na célebre História de la India publicada em Sevilha em 1535, que inclui uma curiosa ilustração do fruto.

As características de aroma e sabor que o fruto exibia, a estima que as populações nativas lhe davam e as diversas utilizações em que o empregavam, nomeadamente como fruto seco, como fruto produtor de sumo para fermentar e como medicinal, devem ter dado ao ananás, desde logo, uma importância muito grande entre as novas plantas encontradas pelos europeus na América.

Não admira assim, que Pio Correia defenda a opinião de que, logo após o descobrimento da América, esta planta terá sido das primeiras a ser levada para a Europa, África e Ásia, onde se propagou tão rapidamente “como não há outro exemplo na história de qualquer outra planta frutífera.

A exaltação do ananás como “reis dos frutos”, como “presente dos deuses”, aparece desenvolvida por diversos autores, tendo em conta as razões expressas.

Duterte, ao chamar-lhe o “rei dos frutos”, considera-o “o mais belo fruto e o melhor de todos os que existem sobre a terra. É, sem dúvida, por essa razão que o Rei dos Reis lhe colocou uma coroa na cabeça, que é como uma marca essencial da sua realeza, pois que do Pai ele produz um jovem rei que lhe sucede em todas as admiráveis qualidades”.

Gandavo informa que “Hua fruita se dá nesta prouíncia do Brasil muito saborosa e mais pesada que quantas ha na terra. Cria se nua pranta humilde junto ao chão, a qual tem huas pencas como cardo, a fruita della nace como alcachofras e parece naturalmente pinhas e são do mesmo tamanho, chamão lhe Ananâzes e de pois de maduras tem hu cheiro muito excellente, colhem nos como sao de vez e com hua faca tirão-les aquella casca e fazem nos em talhadas e desta maneira se come. Excedem no gosto a quantas há no Reino, e fazem todos tanto por esta fruita que mandão pratar Roças delles como de cardais. A este nosso Reino trazem muitos deste ananázes em conserua”.


Piso também se impressionou com o nanás, considerando-o “uma espécie mui galante e causa louvar o autor da natureza é a que chamam ananás; seu fructo é a modo de pinha de Portugal; o gosto, o cheiro a modo de maracotão o mais fino , suas folhas são semelhantes a herva babosa (Alloes vera L.). A cabeça do fructo galanteou a natureza com um penacho, ou grinaldas de cores aprazíveis esta separada e entregue a terra é príncipio de outro ananás semelhante”, “Suas bondades servem para o gosto e medicina; come-se em fruita e faz-se conserva durável. Do succo d’este fructo misturado com água fazem os índios medicina”.

Frei Cristovão de Lisboa, pelos princípios do século XVII, referia-se ao ananás em termos igualmente elogiosos: - “O ananás he a milhor fruita desta terra quaando esta maduro e / xeira de muito longue e he amarelo como cera e tem hu olho em riba dele que em o botando no xão loguo apega e ce quome todo papelia”.

Sebastião da Rocha Pitta, em 1730, também se impressionou muito come ste fruto, dele dizendo que “Das naturais (frutas) cultas há infinitas, ( no Brasil) sendo primeira o ananaz, que, como o Rey de todas, a coroou a natureza com diadema das suas mesma folhas, as quais em circulo lhe cigem a cabeça e o rodeou de espinhos, que como archeiros o guardão”.

Muitas outras descrições, todas no mesmo sentido de exaltação do fruto do ananaseiro, podiam aqui ser referidas, mas estas consideramo-las suficientes para mostrar o interesse que o ananás deve ter merecido aos europeus quando chegaram à América.

A difusão do ananaseiro que os espanhóis conheceram na América central e os portugueses no Brasil, deve ter-se dado simultaneamente por estes dois povos peninsulares, utilizando os portugueses fundamentalmente a rota do Atlântico e Oceano Índico e os espanhóis as ligações que estabeleceram entre Acapulco e Manila. Para além da excelência dos frutos, que certamente foi factor de muita importância para justificar a difusão, nuito deve ter contribuído para o sucesso desta actividade o facto de o ananaseiro resistir muito bem a períodos de seca relativamente longos, o que seria de grande importância nas travessias marítimas demoradas.

Collins, refere a introdução do ananaseiro na Ilha de Santa Helena pelos portugueses em 1505 e, em 1549, é referido em Madagáscar, possívelmente utilizando a ilha como ponto de passagem entre o Brasil e a Índia. Outras introduções posteriores referidas no Oriente poderão ser obra dos espanhóis e dos portugueses.

Cristovão da Costa também considera o ananaseiro originário do Brasil e dái difundido pelas Índias ocidentais e orientais “nas quais ha delles agora em grande quantidade e por todas as mais partes dellas”e assinala-o como muito frequente na Índia, Malaca e ilhas da Oceânia em pleno século XVII. Rego refere uma transcrição importante, de cerca de 1552, segundo a qual “passado o inverno se fez D. Luis Fernandes de Vasconcelos a vela para India e dizem que levou do Brasil os primeiros ananazes”.

Não se conhecem contestações à afirmação de que foram os portugueses que introduziram o ananaseiro nas ilhas e costa ocidental da África, possivelmente logo nos princípios do século XVI, como defende Laufer. É também de referir que no Atlas de Fernão Vaz Dourado, de 1575, já aparecem frutos de ananás sobre o território africano, o que significa que seria aí uma fruta muito divulgada.

Porém, certos investigadores orientais e outros, têm vindo a colocar em causa não só a origem amaricana do ananaseiro, mas também, no caso de ser assim, terem sido os portugueses a levar a planta da América para os territórios asiáticos com os quais contactavam. Até ao momento, ainda não foram apresentadas provas indiscutíveis dos pontos de vista que vêm defendendo. Também Singh e Col consideram que o ananás foi trazido do Brasil e fixam mesmo a data de 1518.

Outro grupo de investigadores, aceitando muito embora uma origem americana, defende que o ananaseiro terá chegado à India muito antes dos portugueses, passando de ilha para ilha e de terra para terra, desde a América até à Ásia, e apoiando-se na Polinésia. Tal afirmação pelo menos como hipótese de trabalho, é perfeitamente possível e não é mais que a confirmação de pontos de vista comuns a migrações de outras plantas que teriam decorrido entre a Ásia e a América e vice-versa, muito embora ainda não se tenha encontrado uma explicação indiscutível.

Mesmo que fosse provado não ter sido introduzido o ananaseiro na Índia pelos portugueses, é indiscutível que seriam possivelmente portadores de melhores variedades e, sobretudo, de o cultivar e consumir, no que os investigadores estão geralmente de acordo.

É curioso reter a informação de que “a este nosso Reino trazem muitos destes ananazes em conserva “, o que demonstra a dificuldade, já conhecida no período a seguir aos Descobrimentos, de transportar os ananases frescos a grandes distâncias e, por isso. Faziam com ele “conserva durável”, que tanto veio a condicionar o desenvolvimento da cultura do ananaseiro e a orientação da sua produção.

Bem se confirma hoje que o fruto do ananaseiro tem condições de conservação difíceis que lhe foram atribuídas depois de atingir a maturação apropriada à expressão das suas reais qualidades de aroma, sabor e abundância de sumo.

Por isso, a fruta era fundamentalmente utilizada para consumo local e só era possível exporta-la, em tempos de navegação demoradas, quando o fruto era utilizado em indústrias caseiras que permitiam obter produtos estáveis.

Em periodos relativamente recentes, os mercados dos países situados a apreciável distância das regiões produtoras, avaliadas em dias de viagem, começaram a ser abastecidas com ananases frescos, quando os transportes se tornaram mais rápidos.

Há cerca de meio século, tinha-se como norma ser muito difícil colocar o ananás nos mercados das zonas temperadas, quando a demora do transporte fosse superior a 5 dias. Este conceito estava relacionado com os altos índices de qualidade que o mercado exigia a um produto considerado de alto nível.

Para superar essa dificuldade, alguns territórios mais próximos do mercado e com condições mínimas de cultura, decidiram orientar a sua actividade para a produção de ananás em fresco.

Encontram-se nessas condições a ilha de S. Miguel, nos Açores, onde a cultura do ananás foi introduzida em 1864. Executando essa actividade em estufa de vidro, conseguiu ultrapassar algumnas dificuldades do clima e produzir um fruto de alta qualidade, de colocação garantida nos mercados europeus. O excelente ananás “Azores”é bem conhecido. As altas cotações que conseguia, pagavam o artificialismo do meio em que a cultura é efectuada.

Outros países ou regiões, porque na altura com dificuldades de abastecer os mercados das zonas temperadas com ananás fresco, enverdaram pelo abastecimento de grandes unidades para a industrialização do ananás, que se tornou, em poucos anos, uma das maiores actividades de industrialização frutícola nos trópicos.

Com o tempo, os dados têm-se modificado um tanto.
Primeiro, veio o efeito do transporte aéreo, que permitiu colocar nos países europeus e norte-americanos os frutos em perfeitas condições e as cotações eram suficientes para suportar os encargos.

Com o tempo, o conceito do consumidor das zonas temperadas mudou muito e tem deixado de associar a alta qualidade à aparência do fruto: passou a aceitar com facilidade um produto que era possível fazer chegar por via marítima de alguns países tropicais com condições favoráveis para cultura ao ar livre e com custos de produção relativamente baixos.

Nesta condições, a oferta aumentou substancialmente e, como consequência, o preço baixou a tais níveis que, hoje, não se afasta muito do das tradicionais frutas das zonas temperadas, como é o caso da maçã, da pêra ou do pêssego.

Com este comportamento do mercado, aquelas regiões que haviam apostado na qualidade atravessam hoje situações difícies, por não estarem em condições de competir em preço com o ananás produzido nos trópicos e transportado por via marítima.

Em todo o caso, a industrialização, cujos núcleos principais se localizam no Hawai, África do Su, Vietname, Formosa, Tailândia e Filipinas, ainda hoje é o principal utilizador do ananás.

Em termos muito globais, a indústria transforma 60% da produção do ananás, o que é notável; cerca de 10% são exportados em fresco e os restantes 30% são consumidos nos países produtores.

A produção mundial situa-se em 9 652 mil toneladas (valores de 1990). Os grandes produtores mundiais são, actualmente, a Guiné e a África do Sul, em África, Os Estados Unidos (principalmente o Hawai), México e o Brasil, na América, a China, Indonésia, Tailândia, Malásia e Filipinas na Ásia.

A cultura do ananaseiro (abacaxi, como era chamado) teve um grande desenvolvimento em Angola a partir da década de cinquenta. Chegaram a constituir-se muitas empresas agrícolas quase exclusivamente baseadas na cultura do ananaseiro, devendo salientar-se os núcleos de da Quimbala-Caluto, cela, Balombo-Bocoio e Ganda-Cubal. A maior parte da produção era utilizada localmente para o fabrico do “vinho do ananás”, além do consumo interno que, na altura, era grande. Uma parte considerável da produção dos agricultores tecnicamente mais evoluídos era enviada para Lisboa, onde se chegaram a receber mais de 5 000 toneladas de ananás angolano.
(ARTIGO EXTRAÍDO DO LIVRO - A AVENTURA DAS PLANTAS e os Descobrimentos Portugueses - de José E. Mendes Ferrão


segunda-feira, abril 27

Encefalopatia espongiforme bovina - VACAS LOUCAS





A encefalopatia espongiforme bovina, vulgarmente conhecida como doença da vaca louca ou BSE (do acrônimo inglês bovine spongiform encephalopathy), é uma doença neurodegenerativa que afecta o gado doméstico bovino. A doença surgiu em meados dos anos 80 na Inglaterra e tem como característica o facto de ter como agente patogénico uma forma especial de proteína, chamada prião (Portugal) ou príon. É transmissível ao homem, causando uma doença semelhante, a nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, abreviadamente vCJD.


Histórico

Desde abril de 1985 alguns veterinários clínicos de campo dos países pertencentes ao Reino Unido começaram a relatar aos seus serviços de vigilância de saúde animal que alguns bovinos, na maior parte vacas com mais de 4 a 5 anos de idade estavam adoecendo de uma doença fatal que se apresentava com sinais associados a disfunções do Sistema Nervoso Central (abreviadamente SNC).

Eram os casos iniciais de uma epidemia que avançou muito rapidamente. Quando a doença foi descrita em novembro de 1986 pelos pesquisadores, ocorriam cerca de 8 casos por mês. Ao final de outubro de 1987, quando foi relatada na Veterinary Record, a revista da associação dos veterinários britânicos, a incidência já era de 70 casos por mês. No auge da epidemia, dezembro de 92 e janeiro de 93, mais de 3.500 casos ocorreram por mês. Em 2003, ocorreram 51 casos por mês. Durante 2004 ocorreram cerca de 20 casos por mês.

Os sinais nervosos eram desordens comportamentais causadas por alterações do estado mental (apreensão, nervosismo, agressividade), falta de coordenação dos membros durante a marcha e incapacidade de se levantar.

O animal afetado deixava de se alimentar e rapidamente perdia condição corporal. Em duas a três semanas é necessário que o animal seja sacrificado pois não respondem a nenhum tratamento. No início da epidemia a doença incidia apenas sobre animais adultos, a maior parte entre vacas entre 4 a 5 anos de idade, mas também ocorria em machos. Rebanhos bovinos leiteiros eram mais afetados que os rebanhos de corte. Todas as raças de bovinos eram afetadas.Em Portugal morreram milhões de bovinos

Histopatologia

Ao exame histopatológico, as lesões tomavam a forma de vacuolizações simétricas, não inflamatórias, nos neurônios e no tecido intersticial da substância cinzenta do cérebro e da medula. Os pesquisadores sabiam que estas lesões eram típicas do scrapie, da TME, da CJD e do kuru, as TSE já bem conhecidas.

Os pesquisadores deram à doença o nome de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) , uma tradução do nome inglês bovine spongiform encephalopathy, (BSE). Espongiforme, devido ao facto do cérebro doente conferir a forma de uma esponja.

Epidemiologia

Um estudo epidemiológico foi realizado para conhecer os fatores comuns a todos rebanhos afetados que pudessem ser imputados como causas da doença, para monitorar a incidência da doença dentro de cada rebanho e entre os rebanhos das diferentes regiões do Reino Unido, para coletar dados clínicos dos animais e para levantar hipóteses sobre sua cadeia de causas.

Foram obtidas informações desde sobre o pedigree dos animais até a utilização de insumos como medicamentos, hormônios, antibióticos, vermífugos, inseticidas organofosforados e piretróides, herbicidas e alimentos ingredientes usados na formulação de rações (entre outros).

Os pesquisadores também procuraram saber se havia ligação da EEB com a política de compras do proprietário (se o rebanho era "aberto" ou "fechado"), estágio da prenhez do animal, idade ao início dos sinais e estação do ano. Em função da semelhança com o scrapie, o estudo também procurou saber se havia contato direto ou indireto (uso de mesmas pastagens ou instalações) de bovinos com ovinos na propriedade.

Os pesquisadores concluiram que a EEB estava associada ao uso de apenas um produto: a farinha de carne e ossos (seja comprada para produzir rações na propriedade seja comprada como constituinte de rações prontas para uso adquiridas no comércio). Essa farinha, conhecida nos países de língua inglesa como MBM (de "Meat and Bone Meal"), resulta da "transformação" industrial dos corpos de animais alguns dos quais, por alguma razão, não podem ser destinados ao consumo humano. Tais animais são chamados eufemisticamente de "Animais Four-D". Os "D" são as letras iniciais das palavras inglesas "Disabled" (animais incapacitados, por alguma razão, para atividades básicos necessárias à sobrevivência e à produção, como se alimentar ou andar), "Diseased" (isto é, doentes), "Dying" (no próprio processo de morrer, isto é, em estado agônico) e "Dead"(já mortos na fazenda).

Animais "downer cows" (animais que por qualquer razão não conseguem se levantar) são animais "disabled" ou "diseased". A causa do problema pode ser uma simples fratura (coluna, quadril ou membro distal) ou uma doença metabólica não transmissível (hipocalcemia), mas também pode ser uma doença infecciosa.

Independentemente da causa do problema que os retirava da cadeia alimentar humana, os animais 4-D eram (e ainda parecem ser, em alguns países) utilizados para a fabricação de farinha de carne e ossos. Essa farinha era (e ainda parece ser...) usada para constituir rações para alimentar animais da mesma espécie que as usadas em sua produção. Tal decisão tecnológica resultou na transformação de bovinos de seres herbívoros em "seres carnívoros comedores de indivíduos da mesma espécie possivelmente contaminados com agentes de doenças". Esta era uma situação que apresentava muita semelhança à descrição pelo professor Gaydusek da cadeia de causa-efeito que produziu a epidemia de kuru entre nativos da Papua-Nova Guiné (no estudo que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1976).

O uso desse material permitiu o crescimento da epidemia porque os animais afetados pela doença eram reciclados para fazer mais farinha de carne e ossos. Isto é, os agentes da EEB (que hoje se reconhece ser a molécula de príon patogênico conhecido como PrPsc) dos primeiros animais doentes estavam sendo levados de volta para o rebanho sadio através da farinha de carne e ossos em que eram transformados. Em conseqüência, com a farinha de carne e ossos cada vez mais "enriquecida" em príon PrPsc, cada vez mais animais estavam adquirindo e morrendo de EEB. Cada vez mais a epidemia de EEB se alastrava, trazendo naquela época - e ainda hoje, para algumas pessoas - muitas preocupações em relação à saúde das pessoas e grandes perdas econômicas para a cadeia da carne mundial.

A acção do consumidor

A descoberta e a não-aceitação pelos consumidores de carne bovina de uma política tecnológica que transforma corpos de animais doentes, que devem ser incinerados ou enterrados - em alimento para animais que em seguida entram na cadeia alimentar humana são os principais motores da valorização das carnes naturais e orgânicas, provenientes de animais criados e engordados a pasto, que se vê atualmente no globo.

Os consumidores de todo o planeta estão dizendo que se recusam a comprar carnes de animais herbívoros transformados em carnívoros (ou pior, em canibais pois são obrigados a comer animais da mesma espécie), pois querem gado produzido em pastagens ou, no máximo, suplementados com cereais e oleaginosas, sem a presença de farinha de carne e ossos em sua alimentação. Os consumidores da carne brasileira não tiveram esse problema devido ao fato do rebanho local ser alimentado principalmente por gramíneas de pastagens.

Acção do governo britânico

O governo britânico tornou a doença de notificação obrigatória em junho de 1988 e proibiu o uso de proteína originada de tecidos de ruminantes na alimentação de ruminantes no mês seguinte (HMSO de julho de 1988). Esta proibição foi relativamente eficaz, pois a incidência da doença começou a declinar em 1993, quando a epidemia atingiu seu auge.

Estes cinco anos de demora foram necessários para que os animais infectados pelo príon apresentassem os sinais da doença (pois como sabemos, o período de incubação das encefalopatias espongiformes transmissíveis(TSE)é muito longo).

Números da epidemia de EEB

A seguinte tabela mostra o comportamento da epidemia de EEB no Reino Unido de seu início até 2004

Número de bovinos diagnosticados com EEB por ano no Reino Unido:

Até 1987 - 446

1988 - 2.514

1989 - 7.228

1990 - 14.407

1991 - 25.359

1992 - 37.280

1993 - 35.090

1994 - 24.438

1995 - 14.562

1996 - 8.149

1997 - 4.393

1998 - 3.225

1999 - 2.301

2000 - 1.443

2001 - 1.202

2002 - 1.144

2003 - 612

2004 - 242

Total - 184.035

No entanto, a análise destes números mostra também que a proibição colocada pela Ordem de Sua Majestade 1988 (HMSO 1988) não foi totalmente eficaz. Embora tenha ocorrido forte diminuição na incidência anual da doença a partir de 1993 (quando os animais nascidos em 1988, ano da proibição, atingiram a idade de 5 anos, idade média de início da EEB na época), a doença continuou a ocorrer não apenas nos animais mais velhos (e que tinham sido alimentados com ração adicionada de farinha de carne e ossos). Muitos animais nascidos após a implementação da HMSO 88 também estavam adquirindo a EEB.

Primeiro, ocorreu um problema de contaminação durante a produção das rações para as diferentes espécies animais, dentro das fábricas. As máquinas que produziam rações de suínos, aves, cães e gatos (e que, portanto, podiam processar legalmente a farinha de carne e ossos bovina para essas espécies) eram as mesmas que produziam a ração de gado bovino. A farinha de carne residual deixada nas esteiras das máquinas (moinhos e misturadores)durante o primeiro processo estava contaminando o segundo processo.

Em segundo lugar, carcaças de outros animais (suínos e equídeos) ainda podiam ser legalmente usadas na fabricação de farinha de carne e ossos para gado bovino. O fato é que a HMSO de 88 proibia apenas a utilização de proteína de ruminantes na fabricação de ração para ruminantes. Animais como suínos e eqüinos não são ruminantes e podiam, até então, ser usados na alimentação de ruminantes. O problema é que estes animais eram alimentados com ração fabricada com farinha de carne e ossos de bovinos, pois se sabia que o agente da EEB não causava a doença nestas espécies.

Ocorre que a farinha de carne e ossos de bovinos contaminada com prions bovinos estavam presentes nos intestinos dos eqüinos e suínos (quando estes eram usados para fabricar farinha de carne e ossos). Quantidades muito pequenas da proteína príon estavam sendo "passadas" para a ração dos bovinos e estavam causando novamente a transmissão de EEB para bovinos jovens.

Transmissão experimental

Foi demonstrado que apenas um grama de cérebro (em matéria úmida) de um animal com EEB administrado por via oral a outros bovinos era capaz de causar a doença dentro de períodos semelhantes ao da doença natural (após 5 anos de idade). Assim, nova ordem governamental proibiu a alimentação de ruminantes com qualquer proteína de mamíferos em abril de 1996 (HSMO 96).

Pesquisas atuais mostram que apenas 0,1 grama de cérebro (peso úmido) de um animal doente, inoculado por via oral, transmite a EEB para bovinos. Para evitar este risco, hoje é proibido o uso de farinha de carne e ossos de qualquer animal de fazenda, inclusive aves, na alimentação de ruminantes.

Para que uma epidemia se sustente, é necessário que cada caso atual transmita a doença para pelo menos um outro animal. A epidemia de EEB no Reino Unido vem declinando, ano após ano. Não havendo o aparecimento de novos fatores que transmitam o príon, a incidência da EEB deverá se extinguir paulatinamente. No entanto, o aparecimento de alguns casos de EEB em animais nascidos após a proibição de 1996 parece evidenciar que pode estar ocorrendo transmissão natural lateral e vertical (isto é, maternal), porém sem força suficiente para manter a epidemia. O seguinte gráfico mostra a proporção de casos em cada faixa etária ao início de sinais clínicos para dois períodos da epidemia (entre 1988-2002 e apenas 2002). Observa-se que a idade de início da EEB mudou das faixas de 4 a 5 e de 5 a 6 anos para 7 a 8 anos. Mas também observa-se alguns poucos casos nas faixas de 3 a 4 anos em 2002. É cedo para afirmar com segurança, mas estes casos podem indicar que a EEB pode se comportar como o scrapie dos ovinos em relação à transmissão vertical.

Impacto da EEB no mundo

Em função de, antes da epidemia de EEB, o Reino Unido ser um grande exportador de animais para reprodução e de farinha de carne e ossos, a EEB acabou atingindo sucessivamente outros países. Ocorreram mais de 5.068 casos (aproximadamente 2,75% do total mundial de casos) de EEB até dezembro de 2004 em diversos países no resto do mundo.

Embora haja poucos casos de EEB em outros países, o aparecimento de um único caso é catastrófico para as exportações do país. Epidemiologistas de diversas nações entendem que apenas um caso indica que toda a cadeia de produção do país é instável em relação ao risco dos príons da EEB alcançarem produtos bovinos como a carne.

A incidência em relação ao número de animais do rebanho acima de 24 meses dá uma idéia do risco de se importar um animal com BSE de um país. Em 1993, na França a incidência relativa foi de 12 e na Alemanha de 8,7 casos por milhão de bovinos acima de 24 meses. Em 2003 a incidência relativa da EEB na Grã-Bretanha foi de 130 casos por milhão de bovinos acima de 24 meses (contra 7.596 em 1992, no auge da epidemia).

A ligação da EEB com a nova variante da Doença Creutzfeldt-Jakob, vCJD

No Reino Unido, concomitantemente à evolução da epidemia de EEB, foram diagnosticadas TSE em outras espécies de animais, ao final da década de 80 e início da de 90. Gatos domésticos apresentaram a Encefalopatia Espongiforme Felina (FSE). Felinos (pumas e chitas) e ruminantes selvagens (élande, kudu, niala, órix, gazela, entre outras espécies de antílopes) mantidos em zoológicos britânicos, também apresentaram TSE. Os estudos mostraram que a ingestão de ração contendo farinha de carne e ossos era o fator comum ao surgimento dessas doenças. Diferentemente do scrapie, a EEB tinha quebrado a barreira inter-específica entre bovinos e muitas espécies animais diferentes; isto implicava que pudesse fazer o mesmo em relação à espécie humana.


Foi exatamente esta possibilidade que levou o governo britânico a proibir, já em novembro de 1989, o uso de alguns órgãos e vísceras específicas ("Specified Bovine Offals", abreviadamente SBO), para uso na alimentação humana. A utilização de cérebro, medula espinhal, intestinos, baço, gânglios linfáticos e globos oculares foi proibida na produção de embutidos e produtos para a alimentação humana ou como insumos na fabricação de medicamentos (como hormônios). Presumia-se que estes órgãos, como no caso do scrapie, contivessem grande quantidade do agente da EEB (mesmo reconhecendo-se que o scrapie não era uma zoonose).


Mesmo com esta proibição, em março de 1996, cerca de 8 anos após o início da epidemia em bovinos ter se iniciado, foi identificada uma nova forma de Doença de Creutzfeldt-Jakob, em seres humanos. Essa nova forma foi chamada de nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (abreviadamente vCJD).

Estudos de tipificação em raças endogâmicas de camundongos mostraram que os padrões de lesões cerebrais e de período de incubação eram semelhantes aos da EEB, sugerindo forte ligação causa-efeito entre a ingestão de produtos bovinos contaminados com o agente da BSE e o desenvolvimento da vCJD em pessoas.

Os pesquisadores estão divididos quanto ao número de casos futuros da epidemia de vCJD. Alguns cientistas, trabalhando com modelagem matemática, pensam que milhares de casos de vCJD (até 130 mil até o final da epidemia) ainda poderão ocorrer porque, pois as TSE têm caracteristicamente longos períodos de incubação e os seres humanos vida muito longa. Outros pesquisadores, também baseados em modelos matemáticos, pensam que não mais que 500 casos deverão ser registrados ao total. Felizmente, no momento, parece que os últimos estão corretos e, no final das contas, a epidemia de vCJD terá poucos casos.



(Fontes, Enciclopédia livre)




Não são só as vacas que andam doidas, os bois também, mas o mal está no Homem, já não sabemos o que devemos comer em segurança.

GRIPE AVIÁRIA















Gripe aviária




H5N1 (em amarelo) atacando as células MDCK (em verde)

Gripe aviária (gripe das aves em Portugal) é o nome dado à doença causada por uma variedade do vírus Influenza (H5N1) hospedado por aves, mas que pode infectar diversos mamíferos. Tendo sido identificada em Itália por volta de 1900, é, no entanto, conhecida por existir em grande parte do globo, concentrando-se hoje principalmente no sudeste asiático. Existem também casos recentes na Turquia, Romênia e Inglaterra (apenas aves foram infectadas nos três lugares).

O H5N1, vírus causador da gripe aviária, é um tipo de vírus Influenza, o responsável pela gripe comum. O Influenza pode ser dividido em três tipos: A, B e C. O tipo A subdivide-se ainda em vários subtipos, sendo os subtipos H1N1, H2N2 e H3N2, responsáveis por grandes epidemias e pandemias. O "H" significa "hemaglutinina", enquanto o "N" significa "neuraminidase", que sao duas glicoproteínas presentes no envelope viral, e usadas para sorotipa]gem (classificação de subtipos baseado em padrões de reconhecimento por anticorpos) de vírus da influenza tipo A. O tipo B também tem originado epidemias mais ou menos extensas e o tipo C está geralmente associado a casos esporádicos e surtos localizados. Exceto no nível molecular, a doença se parece muito pouco com a gripe que todos pegamos de vez em quando. O vírus pode tornar-se uma grande ameaça para os humanos se sofrer alguma mutação transformando-se em algo perigosamente desconhecido pelo nosso organismo e capaz de passar de uma pessoa para outra através de espirro, tosse ou contato físico.

Os vírus da influenza estão em constante evolução, assim como qualquer outro vírus ou organismo. Porem, devido a natureza de seu genoma segmentado (8 segmentos no caso de influenza A), alem da evolução através de mutações que normalmente se observa em outros vírus, o vírus da gripe também pode sofrer um tipo de recombinação ("reassortment", em inglês), em que novos vírus são produzidos com uma mistura de genes em seu interior provenientes de dois (ou mais) vírus diferentes. Isso possibilita que vírus bastante diferentes dos usuais sejam gerados repentinamente. Vírus gerados dessa forma causaram duas pandemias no século XX, a Gripe Asiática em 1957 e a Gripe de Hong Kong em 1968.

As pandemias, que ocorrem mais ou menos a cada geração, porém de formas imprevisíveis, podem se iniciar se uma das muitas variantes da influenza que circula entre pássaros passar a infectar também as pessoas. Feito isso, é possível trocar que ocorra troca de genes entre o vírus da gripe comum (altamente infectante) com o influenza (altamente perigoso). Se o vírus se replicar muito antes que o sistema imunológico consiga fabricar anticorpos para detê-lo, a epidemia pode se alastrar causando vários problemas de saúde pública, podendo mesmo ser altamente letal.

O subtipo H5N1 foi isolado pela primeira vez em estorninhos, em 1961, na África do Sul. Só se tinha conhecimento da ocorrência do vírus Influenzae A H5N1 em diferentes espécies de aves (daqui a designação de "gripe das aves"), incluindo galinhas, patos e gansos, sabendo-se ainda que a maior parte das galinhas infectadas morriam num curto espaço de tempo, e que patos e gansos eram os principais reservatórios do vírus. Em Maio de 1997, o vírus Influenzae AH5N1 foi isolado pela primeira vez em humanos, numa criança de Hong Kong. Em 2006 Foram comprovados na Alemanha a morte de gatos infectados pelo vírus.


Situação actual

O surto de 2005 de gripe aviária infectou pessoas no Vietnã, Tailândia, Indonésia e Camboja; e infectou aves em Laos, China, Turquia, Inglaterra (um papagaio importado do Suriname, possívelmente infectado durante a quarentena, na Inglaterra, onde o lote importado do Suriname foi posto em contacto com outras aves importadas, inclusive da Ásia), Alemanha (gansos e patos), Grécia e, mais recentemente, identificada em aves migratórias do Canadá.

Segundo W. Waut Gibbs e Christine Soares (Scientific American Brasil, dezembro de 2005. 64 p.) três agências internacionais coordenam o esforço global para rastrear o H5N1 e outras variantes, mas as investigações já demonstraram não ser lá tão eficientes. "Até mesmo os administradores dessas redes de vigilância admitem que elas ainda são lentas demais e têm muitos furos", comentam.

"A rapidez é essencial quando se trata de um vírus que vive no ar e tem ação rápida como o influenza. É provável que as autoridades não tenham a menor chance de barrar o avanço de uma pandemia nascente se não conseguirem contê-la em 30 dias."

Eles também afirmam que a próxima pandemia pode iniciar em qualquer lugar do globo, mas devido a vários motivos, é bem provável que inicie na Ásia. Além de preocupar os oficiais da saúde pública, a gripe aviária já trouxe alguns prejuízos à economia mundial, principalmente do Brasil, grande exportador de frango no cenário mundial.

Tratamento

Casos de gripe aviária em humanos são tratados com antivirais com ação contra o vírus da gripe, associados a terapia de suporte. Os antivirais atualmente disponíveis para o tratamento da influenza sao os derivados do adamantano, amantadina e rimantadina, que agem como inibidores de M2 (uma proteina do vírus da gripe que funciona como canal de protons, sendo fundamental para o ciclo viral), além do oseltamivir e seu derivado zanamivir, que agem como inibidores da neuraminidase, impedindo que os vírus recém-produzidos sejam liberados pela célula hospedeira, assim impedindo a infeção de novas células. Ambas classes de medicamento são efetivas; porém, vírus H5N1 resistentes a essas drogas já foram isolados de pacientes humanos. Em relação às aves, devido à alta patogenicidade do H5N1 em galinhas, sempre que é introduzido em criações tem consequências desastrosas, matando praticamente todas as aves em curto espaço de tempo (2 a 3 dias). Isso, somado ao risco de alastramento para outras criações e principalmente o risco para a saúde humana, faz com que todos os casos de gripe aviária em granjas sejam tratados com rigor, com medidas como abate de todas as aves domesticas na região, vacinação de criações em regiões vizinhas, etc.

Profilaxia e vacina

Há dois tipos de vacina que são fabricadas . Uma maneira é promover dissecação química do vírus e extrair algumas proteínas que atuam no processo de infecção, que estimularia o sistema imunológico humano a criar anticorpos específicos. Uma vez produzidos, tais anticorpos teriam suas informações gravadas em células de memória, capazes de ativar a produção de altas doses dele em caso de alguma infecção real.

Outra forma é usar formas enfraquecidas do vírus em vacinas inaláveis, mas esta parece perigosa demais por usar o vírus, e não proteínas dele, pois há uma pequena possibilidade de troca de genes com um vírus normal criando assim outra forma muito mais ameaçadora.

A título de medida preventiva, começou-se a produzir mais vacinas contra a doença, mas a escassez de informações sobre a possível forma como possa ocorrer uma pandemia compromete todo o sistema de defesa. Seria inviável ministrar vacinas em uma população inteira, pois a produção de vacinas é baixa, (cerca de 300 milhões de doses por ano) e caso uma pandemia ocorra em breve, as vacinas contra as variantes emergentes demorarão para chegar. Muitas variantes do vírus circulam ao mesmo tempo, e sofrem constantes alterações, e a cada ano são produzidas novas vacinas para os três tipos mais ameaçadores. Estocar vacinas é uma das atitudes mais seriamente pensadas por vários países, que também preparam uma lista de prioridade para ministrar essas vacinas em pessoas mais sucetíveis, os muito novos, os muito idosos e os de sistema imunológico debilitado. Mas os governos teriam que atualizar anualmente seus estoques, pois o produto também expira rapidamente.

Atualmente não existe vacina para as aves contra o vírus influenza H5N1. A maneira de controlar a doença é somente através do descarte dos animais infectados e próximos ao foco, num raio de 10 quilômetros. Esse descarte engloba desde as aves de criação em escala industrial até as produzidas de forma doméstica.

Casos e óbitos confirmados (humanos) de Influenza Aviária A (H5N1), a partir de dezembro de 2003

Até 10 de Outubro ocorreram 117 casos com 60 óbitos, numa letalidade de 51,28%. Os vírus da gripe aviária são vírus influenza do tipo A e seus hospedeiros naturais são pássaros selvagens, que normalmente não apresentam os sintomas da doença. Aves domésticas por sua vez podem vir a apresentar sintomas graves.

No momento a transmissão se dá das aves para as pessoas. O maior risco para a humanidade está na possibilidade do vírus sofrer alguma mutação genética que facilite sua transmissão entre seres humanos, pois, para tal, tecnicamente, não existirá uma vacina específica. Isto é, dados os fatos de que vacinas deste tipo não possuem longa vida e são custosas para serem produzidas, distribuídas e aplicadas em vastos grupos populacionais.




SARS




Vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave, SARS, aumentado em microscópio eletrônico

SARS (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome) ou Síndrome Respiratória Aguda Grave, é uma doença respiratória grave que afligiu o mundo no ano de 2003, cuja causa não foi ainda determinada (provavelmente causada por um coronavírus) mas se trata de uma grave pneumonia atípica.

Foi registrada primeiramente na província de Guangdong na República Popular da China em novembro de 2002, se espalhou sobretudo para partes do leste e sudeste da Ásia, bem como para Toronto no Canadá. A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu somente em 2003 um alerta global em relação a Síndrome Respiratória Aguda Grave.

Os principais sintomas apresentados são:

  • Febre Alta;
  • Tosse;
  • Dispnéia;
  • Dificuldade de Respiração;
  • Apresentando por vezes radiografias de tórax compatíveis com a pneumonia;

Muitas vezes confundida com a gripe aviária, embora não seja a mesma doença, é causada pelo coronavírus (CoV SARS) tendo diagnóstico a partir de sorologia e PCR.

Devido à sua rápida disseminação, fronteiras de todo o mundo passaram a exibir avisos sobre a doença, mobilizando seus órgãos de saúde para combatê-la pro-ativamente.

A doença teve repercussão internacional pois foi tema de um programa da BBC (inglês). A doença também foi tema do filme Plague City (2005), de David Wu. Com Karl Matchett e Ron White.