o mar do poeta

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quinta-feira, abril 23

PHUKET - KRABI SUAS BELEZAS


COSTA OESTE DE PHUKET





CABO PROMTHEP





Esta deverá ser uma das muitas praias em Phuket mais conhecida dos portugueses, PATONG BEACH









PRAIA KARON - PHUKET









PRAIA AO PILEH






PRAIA KOH HONG - KRABI










PRAIA DE KATA NOI - PHUKET







PRAIA AO MAYA - KRABI










PRAIA SURIN

A LENDA DE SURIYOTHAI




Suriyothai (A Lenda de Suriyothai) Chatrichalerm Yukol (2001) Tailândia

Quem gosta de detalhados épicos históricos, tem aqui um filme á medida, pois certamente irá gostar muito de ["Suriyothai"].

Talvez uma das razões porque não há muito mais exemplos deste estilo de cinema na ásia, seja porque é um género bastante dispendioso, afinal estamos a falar de grandes super-produções ao melhor estilo blockbuster de Hollywood e fora dos EUA existem pouco estúdios que possam competir em termos de orçamento com os americanos.
Mas como quem não tem dinheiro de estúdio caça com … monarcas Tailandesas, ["Suriyothai"] não é apenas um filme inesperado por vir de um país que normalmente não associamos a obras cinematográficas relevantes, como ainda por cima deve ser o primeiro blockbuster do mundo a ter sido financiado por uma monarca, pois foi por causa da rainha da Tailândia que este filme foi feito.

["Suriyothai"] é essencialmente um filme de Estado. Foi uma obra encomendada pela monarquia Tailândesa para tentar despertar nas novas gerações o interesse pela história do seu país.
Em vez do governo investir em campanhas promocionais institucionais do estilo “se conduzir não beba”, sua magestade a raínha da Tailândia achou que seria muito mais útil aplicar o dinheiro no Cinema e produzir um filme que fosse suficientemente bom e acima de tudo apelativo junto do grande público como forma de transmitir a sua mensagem, tentando promover o orgulho no passado do seu país e óbviamente promover uma boa imagem da monarquia junto do povo Tailandês.
Como tal o Estado não se poupou a despezas e isso nota-se perfeitamente no ecran durante o filme todo, pois é de uma sumptuosidade e de um detalhe cénico absolutamente espantoso.

A raínha, não se limitando a encomendar e controlar a produção do filme, ainda se deu ao luxo de escolher não só o realizador como também a actriz principal.
Mais precisamente, escolheu a sua secretária particular.
Sim, leram bem.

O papel principal desta gigantesca produção asiática é desempenhado por uma jovem que até então nunca tinha representado na vida e que se viu subitamente o centro das atenções no meio da maior produção cinematográfica asiática de sempre.

Resta dizer que tanto a nova actriz como o realizador têm ligações directas á família real e portanto ["Suriyothai"] é provavelmente o maior filme familiar jamais produzido no mundo.

Isto das cunhas poderia ter sido desastroso, mas no entanto o filme é surpreendentemente bom o que nos leva a concluír que esta raínha não só tem olho para o cinema como ainda por cima parece reconhecer uma boa actriz quando a vê.

Este parágrafo pode conter *spoilers* mas não se preocupem muito com isso pois a força do filme nem sequer está própriamente no seu desfecho previsível mas sim no espectáculo visual que proporciona.

De qualquer forma como habitualmente não contarei muito da história para que a possam descobrir por vós próprios. E acreditem que vão ter muito para ver, pois detalhes de argumento é coisa que não falta nesta super-produção.

["Suriyothai"], conta a história verídica da raínha com o mesmo nome que por volta de 1548 quando o reino do Sião foi invadido pelos Birmaneses, se disfarçou de homem e foi combater no seu elefante junto com as suas tropas, tornando-se uma lenda porque morreu nessa batalha para salvar a vida do marido ao colocar-se entre ele e as tropas birmanesas quando este foi gravemente ferido ajudando a ganhar a batalha e mantendo a identidade do país.
Fim dos *spoilers*

Nota importante: Existem duas versões muito diferentes deste filme.

A versão original com 3 horas e 15 minutos (e que inicialmente tinha 5 horas), realizada e montada pelo seu criador original, Chatrichalerm Yukol e a versão “americana” conhecida como “Francis Ford Coppola presents - The Legend of Suriyothai”, que na verdade é uma nova montagem do mesmo filme com a intervenção do realizador de “Apocalypse Now”.

Coppola, não só cortou uma hora á versão original, como ainda incluiu um par de cenas gráficas novas, (mapas e desenhos), onde se explica em detalhe tudo o que envolve a história do filme de modo a situar as audiências ocidentais no contexto histórico e geográfico da época.

E claro, acima de tudo explicar aos americanos que existe um país no mundo onde não se fala gringo.

É esta segunda versão que foi lançada nos EUA e portanto o único dvd do filme que existe á venda no nosso país é precisamente a edição portuguesa desse ["Suriyothai"], mais reduzido.

E claro que só está editado em Portugal porque tem o nome de Coppola associado á obra.

No entanto temos uma muito boa edição onde nem falta um excelente comentário áudio partilhado pelo realizador Chatrichalerm Yukol e o próprio Coppola que discutem todo o processo de redução do filme e explicam em detalhe a razão de todas as escolhas que foram feitas durante a remontagem do original para criar a versão ocidental. Só por este comentário audio vale a pena adquirirem a versão curta do filme pois dá-nos uma visão muito interessante de como a montagem pode criar dois filmes bastante diferentes com o mesmo material.

Só por curiosidade, o realizador Chatrichalerm Yukol foi colega de Coppola na escola de cinema e daí a razão deste estar ligado agora e este projecto na sua versão ocidental.

Ainda não vi a versão original de ["Suriyothai"], mas já está encomendada e futuramente irei comentar aqui as diferenças entre as duas versões.

No entanto, esta versão ocidental por si só já é um filme extraordinário e que vale mesmo a pena ser visto, não só pelo seu visual absolutamente cuidado, mas por todo o conjunto da obra em geral.

Além disso, se gostam de batalhas épicas envolvendo milhares de figurantes, têm aqui um filme que não podem perder, pois até nesta versão reduzida já vão ter motivos de sobra para ficarem muito impressionados.

Tudo isto sem recurso a CGIs de plástico. Parece que a batalha foi mesmo filmada com a enorme quantidade de gente que poderão ver no vosso ecran o que ainda dá mais valor a esta impressionante produção asiática.

E segundo consta, Coppola até reduziu muito da batalha final nesta versão, pelo que se quiserem mesmo vê-la como esta foi filmada terão de comprar o filme original.

Mas nem só de batalhas épicas vive esta obra. Na verdade o filme não é própriamente um filme de acção Wuxia, por isso não esperem ver muitas cenas do estilo até á batalha final.

Nas mais de duas horas de duração que a versão ocidental de ["Suriyothai"] tem, pelo menos uns 110 minutos são passados num estilo biográfico, com uma narrativa de contornos históricos que agradará imenso a quem gosta de intrigas políticas, manobras de bastidores e traições ao melhor estilo de um drama Shakespeareano.

Mas não pensem que se irão aborrecer particularmente, embora o filme tenha umas quebras narrrativas estranhas, mas que naturalmente serão consequência da sua redução face á duração original.

["Suriyothai"], contêm suficientes pormenores, personagens e detalhes cénicos para manter o espectador ocupado a admirar quanto mais não seja, a beleza e o cuidado colocado em cada fotograma deste filme. Isto, obviamente se entrarmos no filme sabendo logo á partida que não vai ser um filme de aventuras ou de acção, mas sim um drama político e histórico que por acaso até tem uma sequência de batalha espectacularmente elaborada no final.

Contém bons personagens e excelentes actores com destaque para a inexperiente actriz que carrega nos ombros o papel principal e que na verdade se sai tão bem que ninguém diria que nunca tinha estado em frente a uma câmera de filmar antes de embarcar nisto.

Além disso é um filme muito realístico no que toca a sequências que podem impressionar o público mais sensível. Não tem problemas em entrar pelo gore e baldes de sangue nas cenas que pedem um tratamento desse género e contém uma cena verdadeiramente repugnante a propósito de uma epidemia da varíola quando a certa altura do filme este pormenor nos é mostrado o quanto podia ditar o destino político de um país.

Mas uma das coisas mais curiosas, especialmente para nós, é a constante presença de Portugueses neste filme Tailandês.

Exactamente, Portugueses num filme Tailandês, passado em 1548 no reino de Sião, antigo nome da Tailândia.

Há portugueses por todo o lado, discretamente introduzidos neste filme e raramente Portugal teve uma imagem tão positiva numa produção cinematográfica estrangeira como tem neste ["Suriyothai"].

Não há nenhum personagem Português no filme com papel de destaque, ou sequer algum diálogo, mas enquanto figuração todo o background está cheio de compatriotas nossos, retratados como comerciantes, médicos, exploradores, soldados, e até como voluntários que no final combatem do lado dos herois contra os invasores birmaneses.

Além disso a presença de Portugal no reino de Sião é referida um par de vezes nos próprios diálogos dos personagens principais e toda a nossa imagem é a mais positiva possível, o que me leva a concluir que pelo visto deixamos muito boa impressão na Tailândia. Tão boa, que a raínha actual permitiu que se incluissem aquelas referências no argumento.

Mas é muito estranho e ao mesmo tempo engraçado.

Estamos a ver um filme oriental, cheio de orientais, de repente passa um Português pelo cenário.

Pelo visto a produção conseguiu arranjar uns portugas para fazer figuração no filme, pois por incrível que pareça, aquelas pessoas se não são de verdade Portugueses, pelo menos parecem e já é bem mais do que podemos dizer da maneira como costumamos ser retratados em produções americanas onde nos confundem sempre com mexicanos.

Por tudo isto, ["Suriyothai"] é não só um excelente filme histórico como ainda por cima tem uma das melhores batalhas que poderão ver no cinema contemporaneo.
Pode ser um filme propaganda do sistema político Tailandês, mas como cinema é um dos melhores épicos que poderão encontrar á venda actualmente.

(Artigo extraído do site cinema asiatico wordpress)

À estreia deste filme na cidade de Bangkok esteve presente o apresentador de televisão, em Portugal, Carlos Cruz.





REINO DE AYUTTHAYA SUA FUNDAÇÃO



O REI NARESUAN






MAPA DE AYUTTHAYA QUE NA ALTURA QUANDO ATINGIU O SEU EXPONTE MÁXIMO A CIDADE, ERA CONSIDERADO UMA DAS MAIORES CIDADES DO MUNDO ULTRAPASSANDO DE LONGE A CIDADE DE PARIS.





RUÍNAS EM AYUTTHAYA CONSIDERADAS PATROMONIO MUNDIAL DA HUMANIDADE UNESCO

O povo thai, originário da China ocidental, chegou a Yunnan nos séculos I a.C e II a.Cs. No século III d.C, fundaram o reino de Nanchao, que perdurou até a conquista do Império Mongol em meados do século XIII. No fim do primeiro milênio da era cristã, os tais migraram em direção ao sul e se fixaram em diversas regiões que mais tarde constituiriam o Vietname, o Laos, Myanmar (antiga Birmânia) e a Tailândia. No século XIII, surgiram dois reinos tais, cujas capitais situavam-se no norte da atual Tailândia: o reino Sukhotai e o de Chiang Mai.

Nos finais do século XIII, o reino de Sukhotai expandiu-se pela planície central da Tailândia. Os tais já haviam assimilado vários elementos étnicos e culturais de outros povos habitantes da região, como a religião budista, que inspirava seu sistema de governo, ou a escrita derivada do sistema empregado pelos cambojanos que foi absorvido pelo novo Estado.

O império de Ayutthaya empregou novas técnicas de centralização do poder e herdou do Estado Khmer a visão do governante como um rei Em 1350, Rama Tibodi fundou um novo reino thai, nas planícies do curso inferior do Rio Chao Phraya, com capital em Ayutthya.

Em poucos decênios, o reino de Ayutthaya se expandiu consideravelmente, à custa do decadente império khmer do Cambodja e do reino de Sukhotai, divinizado. O reino desenvolveu um extenso aparato burocrático, e a sociedade se hierarquizou rigidamente.

As guerras foram frequentes e o território dominado a partir de Ayutthaya alcançou limites próximos ao da actual Tailândia. No entanto, as fronteiras com os Estados vizinhos, devido às contínuas guerras e aos planos separatistas das províncias distantes, modificaram-se constantemente. Em 1569, os birmaneses transformaram Ayutthaya num Estado dependente. Quinze anos mais tarde, a independência do Sião foi restabelecida pelo príncipe Naresuan, considerado desde então um herói nacional na Tailândia.

Pouco depois de tomar posse de Malaca, no início do século XVI, Portugal, entrou em contato com o império de Ayutthaya. Os comerciantes e missionários portugueses não exerceram, no entanto, grande influência sobre o país. O maior grupo de portugueses na Tailândia era formado por aventureiros que se puseram a serviço dos exércitos reais como mercenários e que foram responsáveis pela adoção de algumas técnicas militares ocidentais nas operações militares tailandesas.

No século XVII, comerciantes holandeses e britânicos começaram a fundar centros comerciais junto à capital e na península de Malaca. Mais tarde, chegaram os franceses, que se impuseram aos outros europeus. A chegada de uma expedição francesa composta de 600 homens armados, em 1687, despertou receios. No ano seguinte, um golpe dado por líderes tais anti-ocidentais levou à expulsão de todos os franceses. Teve início então uma etapa de relativo isolamento do Sião com relação ao Ocidente, uma política que durou 150 anos.

CONSTRUÇÕES NA AREIA - WAN LAI - PATTAYA























Nos dias 18 a 20 de Abril de 2009, aquando das festividades do Songkrang, Ano Novo Tailãndes, teve lugar numa das praias da Pattaya - Wan Lai - Chon Buri, um concurso de trabalhos na areia, aqui ficam algumas dessas belas imagens.

ARQUITECTURA SINO-PORTUGUESA - PHUKET


O povo tailandês não esquece a passagem dos portugueses pelo reino do Sião e ajuda que prestaram, bem como os edifícios de traça luso-chiensa que eles preveram.
Hoje, dia 23 de Abril de 2009 o Jornal Bangkok Post, de língua inglesa que se publica em Bangkok, dedicou duas páginas a este tema.

É pena que muito portugueses visitem Phuket, banham-se em suas cristalinas águas nas imensas praias que possue, porém não tomam um banho de cultura e desconhecem até, digo na sua grande maioria, que os portugueses tiveram uma presença e influência muito importante nesta cidade bem como na cidade de Penang na Malásia.

























A cidade velha de Phuket, Thalang Road, bem como em algumas praias são bem visíveis as marcas deixadas pelos portugueses de então, na sua arquitectura nos prédios que são hoje os últimos legados de Portugal no reino do Sião.




Sino-Portuguese Architecture

The architecture of the buildings around the old town area is usually described as Sino-Portuguese. That is a mixture of Chinese and European influences.

The buildings are mostly shop houses, three or four stories high. They have a ground floor shop where the family can run their business with living space behind and on the floors above. Many of the buildings are very narrow measuring only 5 meters wide but they can stretch up to 50 meters back. You can most clearly see the Chinese influence in the ornately decorated doors and windows while the European influence is behind the distinctive walkthrough archways.

The Chinese influence comes from the large number of Chinese migrants who came to work in Phuket's tin mining industry and from the strong trading relationship Phuket formed with Penang. At the time, the island of Penang in Malaysia was the major local trading port and the Chinese dominated its business community. If you go to Penang today, you can see some very similar architecture.

The Portuguese reference is misleading. The Portuguese were among the first western traders to have a presence in Thailand but they had left long before Phuket started to flourish. The European influence is mostly British Colonial style imported from Penang, which was a British colony at the time.

quarta-feira, abril 22

QUEM FOI PEDRO ALVARES CABRAL

Pedro Álvares Cabral



Pedro Álvares Cabral (Belmonte, 1467 ou 1468Santarém, 1520 ou 1526) foi um fidalgo e navegador português, comandante da segunda viagem marítima da Europa à Índia, viagem em que se descobriu o Brasil, a 22 de Abril de 1500.


Biografia

Juventude, títulos e estudos

Acredita-se que nasceu na Beira Baixa (Portugal), em 1467 ou 1468. Foi o terceiro filho de Fernão Cabral, governador da Beira e alcaide-mor de Belmonte, e de Isabel de Gouveia de Queirós. O seu nome original seria Pedro Álvares Gouveia, pois geralmente apenas o primogênito herdava o sobrenome paterno. Posteriormente, com a morte do irmão mais velho, teria passado a usar o nome Pedro Álvares Cabral, uma vez que, a 15 de fevereiro de 1500 — quando recebeu de D. Manuel I (1495-1521) a carta de nomeação para capitão-mor da armada que partiria para a Índia —, já usava o sobrenome paterno.

Neto de Fernão Álvares Cabral, que exercera as funções de guarda-mor do Infante D. Henrique, os seus biógrafos remontam o seu título de nobreza, a um terceiro avô, Álvaro Gil Cabral, alcaide-mor do Castelo da Guarda sob os reis D. Fernando (1367-1383) e D. João I (1385-1433), da dinastia de Avis, que teria recebido por mercê as alcaidarias dos castelos da Guarda e Belmonte, com transmissão à descendência. Esses domínios, lindeiros à Espanha, eram terras de pastorícia, origem dos símbolos das cabras passantes do escudo de armas da família Cabral.

Aos onze anos de idade, Pedro mudou-se para o Seixal (onde ainda hoje existe a Quinta do Cabral), vindo a estudar em Lisboa Literatura, História e Ciência (como, por exemplo, Cosmografia), além de artes militares. Na Corte de D. João II (1481-1495), onde entrou como moço fidalgo, aperfeiçoou-se em cosmografia e marinharia.

Com a subida ao trono de D. Manuel I (1495-1521) foi agraciado com o foro de fidalgo do Conselho do Rei, o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo e uma tença, pensão em dinheiro anual.

A Armada de 1500


Nau de Pedro Álvares Cabral no Livro das Armadas (Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa).

Em 1499, foi nomeado pelo soberano como capitão-mor da armada que se dirigiria à Índia após o retorno de Vasco da Gama. Teria então cerca de trinta e três anos de idade. A missão de Cabral era a de estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Samorim, reerguendo a imagem de Portugal após a apresentação do Gama, e instalando um entreposto comercial ou feitoria, retornando com o máximo de mercadorias.

A sua foi a mais bem equipada armada do século XV, integrada por dez naus e três caravelas, transportando de 1.200 a 1.500 homens, entre funcionários, soldados e religiosos. Era integrada por navegadores experientes, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, tendo partido de Lisboa a 9 de março de 1500, após missa solene na ermida do Restelo, à qual compareceu o Rei e toda a Corte.

O descobrimento do Brasil



Litografia de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil em 1500, em rótulo de cigarros do Brasil.

A 22 de abril, após quarenta e três dias de viagem, tendo-se afastado da costa africana, avistou o Monte Pascoal no litoral sul da Bahia. No dia seguinte, houve o contato inicial com os indígenas. A 24 de abril, seguiu ao longo do litoral para o norte em busca de abrigo, fundeando na atual baía de Santa Cruz Cabrália, nos arredores de Porto Seguro, onde permaneceu até 2 de maio.

Cabral tomou posse, em nome da Coroa portuguesa, da nova terra, a qual denominou de "Ilha de Vera Cruz", e enviou uma das embarcações menores com a notícia, inclusive a Carta de Pero Vaz de Caminha, de volta ao reino. Retomou então a rota de Vasco da Gama rumo às Índias. Ao cruzar o cabo da Boa Esperança, quatro de seus navios se perderam, entre os quais, ironicamente, o de Bartolomeu Dias, navegador que o descobrira em 1488.

Existe uma discussão entre os historiadores a respeito da intencionalidade ou não da chegada de Cabral ao território brasileiro, embora não existam evidências concretas a sustentar qualquer das hipóteses. Certo é, no entanto, que por esta data já se tinha, na Europa, o conhecimento da existência de terras a leste da linha do Tratado de Tordesilhas.



Réplica da caravela Anunciação de Pedro Álvares Cabral (Campinas, São Paulo, Brasil).

A Armada chegou a Calecute a 13 de setembro, após escalas no litoral leste africano. Cabral assinou o primeiro acordo comercial entre Portugal e um potentado na Índia. A feitoria portuguesa foi instalada mas teve efêmera duração: atacada pelos Muçulmanos em 16 de dezembro, nela pereceram cerca de trinta portugueses, entre os quais o seu escrivão, Pero Vaz de Caminha.

Após bombardear Calecute e apresar embarcações árabes, Cabral seguiu para Cochim e Cananor, onde carregou as naus com especiarias e produtos locais e retornou à Europa.

O retorno a Portugal

Cabral chegou a Lisboa a 31 de julho de 1501, sendo aclamado como herói, não obstante o facto de, das treze embarcações, terem regressado apenas quatro.

Convidado pelo soberano para comandar a nova expedição ao Oriente em 1502, Cabral desentendeu-se com o monarca acerca do comando da expedição: tendo recusado a missão, veio a ser substituído por Vasco da Gama. Em desgraça perante o soberano, não recebeu mais nenhuma missão oficial até ao fim da vida.

Em 1503 desposou D. Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque, deixando descendência. Em 1518 era cavaleiro do Conselho Real. Foi ainda senhor de Belmonte e alcaide-mor de Azurara.

O fim da vida


Igreja da Graça, Santarém: túmulo de Cabral.

Estátua de Pedro Álvares Cabral, Santarém.

Faleceu esquecido e foi sepultado na Igreja da Graça da cidade de Santarém, segundo alguns em 1520, ou, segundo outros, em 1526.

Cabral é lembrado pelos brasileiros como aquele que descobriu o Brasil, sendo homenageado anualmente, a 22 de abril. Foi-lhe erguido um monumento na cidade do Rio de Janeiro (obra de Rodolfo Bernardelli). A cidade de Belo Horizonte homenageou-o, dando-lhe o nome a uma das suas principais vias, a Avenida Álvares Cabral.

Em Portugal, foi-lhe erguido um monumento em Lisboa, na avenida que recebeu o seu nome. Do mesmo modo, a sua terra natal homenageou-o com uma estátua, assim como a cidade onde está sepultado, Santarém.

CHEGADA AO BRASIL - 509 ANOS



FAZ HOJE 509 ANOS QUE OS PORTUGUESES CHEGARAM AO BRASIL E COMO TAL NÃO PODIA DEIXAR PASSAR ESTA DATA SEM A RECORDAR.


HOJE É O MAIOR PAÍS DA AMÉRICA DO SUL E UMA POTÊNCIA MUNDIAL, PAÍS IRMÃO COM O QUAL OS PORTUGUESES MUITO TEM A APRENDER.

Introdução Em 22 de abril de 1500 chegava ao Brasil 13 caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. A primeira vista, eles acreditavam tratar-se de um grande monte, e chamaram-no de Monte Pascoal. No dia 26 de abril, foi celebrada a primeira missa no Brasil.

Após deixarem o local em direção à Índia, Cabral, na incerteza se a terra descoberta tratava-se de um continente ou de uma grande ilha, alterou o nome para Ilha de Vera Cruz. Após exploração realizada por outras expedições portuguesas, foi descoberto tratar-se realmente de um continente, e novamente o nome foi alterado. A nova terra passou a ser chamada de Terra de Santa Cruz. Somente depois da descoberta do pau-brasil, ocorrida no ano de 1511, nosso país passou a ser chamado pelo nome que conhecemos hoje: Brasil.

descobrimento do Brasil
Descobrimento do Brasil, Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo, 1887. Acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro

O descobrimento do Brasil ocorreu no período das grandes navegações, quando Portugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras. Poucos anos antes da descoberta do Brasil, em 1492, Cristóvão Colombo, navegando pela Espanha, chegou a América, fato que ampliou as expectativas dos exploradores. Diante do fato de ambos terem as mesmas ambições e com objetivo de evitar guerras pela posse das terras, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas, em 1494. De acordo com este acordo, Portugal ficou com as terras recém descobertas que estavam a leste da linha imaginária ( 200 milhas a oeste das ilhas de Cabo Verde), enquanto a Espanha ficou com as terras a oeste desta linha.

Mesmo com a descoberta das terras brasileiras, Portugal continuava empenhado no comércio com as Índias, pois as especiarias (cravo, canela, gengibre, pimenta, noz moscada, açafrão) que os portugueses encontravam lá eram de grande valia para sua comercialização na Europa. As especiarias comercializadas eram: cravo, pimenta, canela, noz moscada, gengibre, porcelanas orientais, seda, etc. Enquanto realizava este lucrativo comércio, Portugal realizava no Brasil o extrativismo do pau-brasil, explorando da Mata Atlântica toneladas da valiosa madeira, cuja tinta vermelha era comercializada na Europa. Neste caso foi utilizado o escambo, ou seja, os indígenas recebiam dos portugueses algumas bugigangas (apitos, espelhos e chocalhos) e davam em troca o trabalho no corte e carregamento das toras de madeira até as caravelas.

Foi somente a partir de 1530, com a expedição organizada por Martin Afonso de Souza, que a coroa portuguesa começou a interessar-se pela colonização da nova terra. Isso ocorreu, pois havia um grande receio dos portugueses em perderem as novas terras para invasores que haviam ficado de fora do tratado de Tordesilhas, como, por exemplo, franceses, holandeses e ingleses. Navegadores e piratas destes povos, estavam praticando a retirada ilegal de madeira de nossas matas. A colonização seria uma das formas de ocupar e proteger o território. Para tanto, os portugueses começaram a fazer experiências com o plantio da cana-de-açúcar, visando um promissor comércio desta mercadoria na Europa.


(Artigo extraído da SUA PESQUISA.COM)





Descoberta do Brasil




História do Brasil
Eleições
Regionais
Generalidades

O termo descoberta do Brasil se refere à chegada, em 22 de abril de 1500, da frota comandada por Pedro Álvares Cabral ao território onde hoje se encontra o Brasil. A palavra "descoberta" é usada nesse caso em uma perspectiva eurocêntrica, referindo-se estritamente à chegada de europeus e desconsiderando a presença dos vários povos indigenas, que viviam havia diversos séculos nas terras do atual Brasil.


A armada


Réplica da caravela Anunciação, na cidade de Campinas, Brasil

Confirmando o sucesso da viagem de Vasco da Gama no âmbito de encontrar um novo caminho para as Índias - visto que o Mediterrâneo se encontrava sob posse dos mouros, o Rei D. Manuel I se apressou em mandar aparelhar uma nova frota para as Índias, frota esta ainda maior que a primeira, sendo composta por treze embarcações e mais de mil homens. Pela primeira vez liderava uma frota um fidalgo, Pedro Álvares Cabral, filho de Fernão Cabral, alcaide-mor de Belmonte.

Estima-se que a armada levasse mantimentos para cerca dezoito meses. Pouco antes da partida, el-Rei mandou rezar uma missa, no Mosteiro de Belém, presidida pelo bispo de Ceuta, D. Diogo de Ortiz, em pessoa, onde benzeu uma bandeira com as armas do Reino e entregou-a em mãos a Cabral, despedindo-se o rei do fidalgo e dos restantes capitães.

Vasco da Gama teria tecido considerações e recomendações para a longa viagem que se chegava: a coordenação entre os navios era crucial para que não se perdessem uns dos outros. Recomendou então ao capitão-mor disparar os canhões duas vezes e esperar pela mesma resposta de todos os outros navios antes de mudar o curso ou velocidade (método de contagem ainda atualmente utilizado em campo de batalha terrestre), dentre outros códigos de comunicação semelhantes.

A viagem

Conforme relatam os cronistas da época, zarpou a grande frota de treze navios do Restelo a 9 de Março de 1500, com o objetivo formal de novamente tentar atar relações comerciais com os portos índicos de Calecute, Cananor e Sofala, uma vez que Vasco da Gama havia sido, na primeira tentativa, absolutamente desastroso, chegando a ser ridicularizado pelos governantes locais dadas as péssimas condições em que os portugueses se encontravam no desembarque. Neste mesmo aspecto diplomático, a viagem de Cabral também mostrou-se um grande fracasso, sendo que Portugal ainda demoraria mais algumas décadas até conseguir uma relação comercial com esses portos.

Pelo dia 14 do mesmo mês já encontravam-se nas Canárias e no dia 22 chegavam a Cabo Verde. No dia seguinte desapareceu misteriosamente o navio de Vasco de Ataíde.

No dia 22 de Abril, de modo que não se sabe com certeza se foi acidental ou já premeditado - embora as recentes pesquisas historiográficas demonstrem que os portugueses tinham, no mínimo, alguns fortes indícios de haver terra no outro lado do Atlântico (graças à carta da viagem de Vasco da Gama) -, avistou-se terra chã, com grandes arvoredos: ao monte. Ao grande monte, Cabral batizou de Monte Pascoal e à terra deu o nome de Ilha de Vera Cruz — posto que não se pensava ser uma terra muito extensa -; depois, descobririu-se ser um continente, denominaram-na Terra de Santa Cruz (hoje Porto Seguro, no Estado brasileiro da Bahia). Aproveitando os alísios, a esquadra bordejou a costa baiana em direção ao norte, à procura de uma enseada, achada afinal pouco antes do pôr-do-sol do dia 24 de abril, em local que viria a ser chamado Baía Cabrália. Ali permaneceram até 2 de maio, quando rumaram para as Índias, cumprindo finalmente seu objetivo formal de viagem, deixando dois degredados e dois grumetes que desertaram.

A chegada em Vera Cruz


Pedro Álvares Cabral, capitão-mor da expedição que descobriu o Brasil

No dia 24 de Abril Cabral recebeu os nativos no seu navio. Então, acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu o grupo de índios que reconheceram de imediato o ouro e a prata que se fazia surgir no navio — nomeadamente um fio de ouro de D. Pedro e um castiçal de prata — o que fez com que os portugueses inicialmente acreditassem que havia muito ouro naquela terra. Entretanto, Caminha, em sua carta, confessa que não sabia dizer se os índios diziam mesmo que ali havia ouro ou se o desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que eles não conseguiram entender diferentemente. Posteriormente, provou-se que a segunda alternativa era a verdadeira.

O encontro entre portugueses e índios também está documentado na carta escrita por Caminha. O choque cultural foi evidente. Os indígenas não reconheceram os animais que traziam os navegadores, à exceção de um papagaio que o capitão trazia consigo; ofereceram-lhes comida e vinho, os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes pelos objectos não reconhecidos - como umas contas de rosário, e a surpresa dos portugueses pelos objetos reconhecidos - os metais preciosos. Fez-se curioso e absurdo aos portugueses o fato de Cabral ter vestido-se com todas as vestimentas e adornos os quais tinha direito um capitão-mor frente aos índios e estes, por sua vez, terem passado por sua frente sem diferenciá-lo dos demais tripulantes.


Detalhe da A Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles (1861)

Índios tupinambás, gravura do século XVI

Os indígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem a Primeira Missa, rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, 26 de abril de 1500. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou para as Índias, seu objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com a carta de Caminha. No entanto, posteriormente, com a chegada de frotas lusitanas com o objetivo de permanecer no Brasil - e a tentativa de evangelizar os índios de fato -, os portugueses perceberam que a suposta facilidade na cristianização dos indígenas na verdade traduziu-se apenas pela curiosidade destes com os gestos e falas ritualísticos dos europeus, não havendo um real interesse na fé católica, o que forçou os missionários a repensarem seus métodos de conquista espiritual.

Os povos nativos

Quando da chegada ao Brasil pelos portugueses, o litoral baiano era ocupado por duas nações indígenas do grupo linguístico tupi: os tupinambás, que ocupavam a faixa compreendida entre Camamu e a foz do Rio São Francisco; e os tupiniquins, que se estendiam de Camamu até o limite com o atual Estado brasileiro do Espírito Santo. Mais para o interior, ocupando a faixa paralela àquela apropriada pelos tupiniquins, estavam os aimorés.

No início do processo de colonização do Brasil, os tupiniquins apoiaram os portugueses, enquanto seus rivais, tupinambás, apoiaram os franceses, que durante os séculos XVI e XVII realizaram diversas ofensivas contra a América Portuguesa. A presença dos europeus incendiou mais o ódio entre as duas tribos, ódio relatado por Hans Staden, viajante alemão, em seu seqüestro pelos tupinambás. Ambas as tribos possuíam cultura antropofágica com relação aos seus rivais, característica que durante séculos não fora compreendida pelos europeus, o que resultou na posterior caça àqueles que se recusassem a mudar esse hábito.

Polêmica


No ano 2000, comemorou-se o aniversário de 500 anos do Descobrimento do Brasil, o que provocou muita polêmica em redor da data. Para muitos, a comemoração implicaria que a história do Brasil completou o quinto centenário no ano 2000, uma perspectiva vista como eurocêntrica, pois parte do princípio de que apenas com a chegada da esquadra de Cabral teve início o processo histórico nas terras que hoje formam o Brasil, desconsiderando os povos nativos.


(Artigo extraído da enciclopédia livre)




VERA CRUZ

"Desembarque no Porto Seguro", óleo do pintor brasileiro Óscar Pereira da Silva.

Cabral descobre o Brasil e encanta-se com a inocência dos naturais. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

21 de Abril, 3ª feira. A Páscoa foi no domingo passado. Nas ondas surgem ervas compridas. Próxima já ficará a terra aventada por El-rei.

22 de Abril. De manhã surgem bandos de pássaros a voar para ocidente. Vasco da Gama também dera conta deles. A meio da tarde, muito ao longe, avistam terra: um monte redondo e alto, muito arvoredo na terra chã. Ao monte, o Capitão-mor chama Pascoal e à terra dá o nome de Vera Cruz. Anoitece e resolve ancorar a seis léguas da costa.

23 de Abril. Avançam até meia légua da terra, direitos à boca de um rio. Sete ou oito homens pela praia. Cabral manda Nicolau Coelho a terra. Quando vara o seu batel, já correm para ele cerca de vinte homens pardos. Todos nus, sem nada que cubra as suas vergonhas. Setas armadas, cordas tensas, chegam dispostos ao combate. Mas Nicolau Coelho, por gestos, faz sinal que pousem os arcos em terra e eles os pousam.

E o Capitão-mor pergunta-se: que gente é esta que, até por gestos, aceita a mansidão? Ingenuidade ou malícia? Ingenuidade será excessiva. Será malícia, certamente. É preciso ficar em guarda.

O quebra-mar é forte. Mal se podem entender marinheiros e nativos. Mas Nicolau dá-lhes ainda um barrete vermelho e um sombreiro preto e, por troca, recebe um colar de conchinhas e um sombreiro de penas de ave, com plumas vermelhas, talvez de papagaio. E com isto se torna à nau, porque é tarde e a maré está a puxar muito.

Ao anoitecer começa a ventar de sueste com muitos chuviscos e Cabral resolve mandar levantar ferro e rumar para norte, em busca de enseada onde se possam abrigar e então repara que na praia já correm e gesticulam cerca de sessenta a setenta homens. O que estarão eles a conspirar?

24 de Abril. Acham uma angra e antes do sol-posto lançam ferro e àquele lugar o Capitão-mor dá o nome de Porto Seguro. Depois faz muitas recomendações a Afonso Lopes, que nunca baixe a guarda, que não se deixe apanhar desprevenido e manda-o a terra num esquife. E o piloto, que é homem destro, com muita amizade e gentileza consegue recolher dois daqueles mancebos que em terra corriam e, com muito prazer e festa, a bordo são recolhidos.

Espantado continua o Capitão-mor. O mundo é guerra e perfídia. Como podem ser tão confiantes aqueles nativos? Alguma traição andam eles a tramar, a astúcia como escudo, a crueza como lança...

A feição deles é serem pardos, à maneira de avermelhados, de bons rostos e narizes bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura e estão acerca disso em tanta inocência como estão em mostrar o rosto. Trazem ambos os beiços furados e metidos por eles uns ossos brancos da grossura de um fuso de algodão. Os cabelos são corredios e andam tosquiados de tosquia alta. E um traz, de fonte a fonte, por detrás, uma cabeleira de penas de aves, que lhe cobre o toutiço e as orelhas. Sobem à nau e não fazem menção de cortesia nem sequer ao Capitão-mor. Mas um deles põe olho no colar de ouro que do pescoço traz pendurado ao peito e começa a acenar com a mão para terra e depois para o colar, como que a dizer que há ouro naquela terra. Mas isso o tomam os portugueses por assim o desejarem, mas se o nativo quer dizer que deseja levar o colar para terra, isso não o querem eles entender... Cabral mostra um papagaio que trouxe de África. Os nativos logo o tomam e apontam para a costa, como que a dizer que aquela será terra de papagaios. Os navegantes mostram depois um carneiro. Os nativos não fazem dele menção. Mostram-lhes uma galinha, ficam receosos e temem meter-lhe mão. A seguir, dão-lhes de comer pão, peixe cozido, mel, figos passados e vinho por uma taça. Não querem comer ou beber daquilo quase nada e alguma coisa, se a provam, logo a lançam fora. Dão-lhes água por uma botelha. Tomam dela o seu bocado, mas somente lavam as bocas e logo lançam fora. No convés, estiram-se então de costas, sem terem nenhuma maneira de cobrir suas vergonhas, as quais não são fanadas. O Capitão-mor manda deitar-lhes um manto por cima e eles consentem e descansam e adormecem.

Será possível que possa haver mundo diverso daquele que o Capitão-mor viveu e sabe? Sem guerras, nem perfídia, nem traições? Será possível a fraternidade entre os homens e a comunhão dos seus interesses? Existe ainda na Terra o Paraíso que Adão e Eva perderam por malícia da Serpente?


O PARAÍSO

Armada de Pedro Álvares Cabral (Livro das Armadas). Era composta por dez naus e três navios mais pequenos.

Ao sábado pela manhã o Capitão-mor manda Nicolau Coelho, Pero Vaz de Caminha e Bartolomeu Dias levar a terra os dois mancebos. E muitos homens os cercam e falam e gritam mas tudo sempre em jeito de amizade. Também algumas moças muito moças e gentis, com cabelos muito pretos e compridos a tombar pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e cerradinhas que delas vergonha não pode haver.

No domingo de Pascoela determina o Capitão-mor que Frei Henrique cante missa num ilhéu que há na entrada daquele porto, a qual é ouvida com devoção, Cabral empunhando a bandeira de Cristo que trouxera de Belém. E durante a missa muitos nativos se aproximam em suas canoas feitas de troncos escavados. Alguns juntam-se aos navegantes tocando trombetas e buzinas. Os restantes saltam e dançam o seu bocado.

Metem-se depois os navegantes terra adentro e junto a uma ribeira que é de muita água, encontram palmas não muito altas. Colhem e comem bons palmitos. Então Diogo Dias, que é homem gracioso e de prazer, leva consigo um gaiteiro e mete-se a dançar com todo aquele povo, homens e mulheres, tomando-os pelas mãos, com o que eles folgam e riem muito ao som da gaita.

Não há vestígio nem de guerra, nem de traição, nem de perfídia, nem sequer de receio. Já vacila o Capitão-mor na sua desconfiança.

Na 6ª. feira opina irem à cruz que chantaram encostada a uma árvore junto ao rio. Manda que todos se ajoelhem e beijem a cruz. Assim o fazem e, para uns doze nativos que mirando estão, acenam que assim façam. Eles ajoelham-se e assim o fazem.

Ao Capitão-mor já lhe parece aquela gente de tal inocência que, se fosse possível entendê-los e fazer-se entender, logo seriam cristãos. Não têm crença alguma, ao que parece. Os degredados que hão-de ali ficar, hão-de aprender a sua fala e não duvida o Capitão-mor que bem conversados logo sejam cristãos, porque esta gente é boa e muito simples. E Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, ao trazer cristãos àquela terra, Cabral crê que não foi sem causa.

Ainda nesta mesma 6ª. feira, dia primeiro de Maio, indo os navegantes pelo rio abaixo, os sacerdotes à frente, cantando em jeito de procissão, setenta ou oitenta daqueles nativos metem-se a ajudá-los a transportar e a chantar a cruz junto à embocadura. E quando, já na praia, Frei Henrique canta a missa, todos eles se ajoelham como os portugueses. E quando vem a pregação do Evangelho, levantam-se os portugueses e com eles levantam-se os nativos. E os cristãos erguem as mãos e os nativos erguem as suas. E quando Frei Henrique levanta a Deus, outra vez se ajoelham os navegantes e com eles os nativos. Já acha o Capitão-mor que a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior.

Esta terra será imensa, dela não se vê o fim. De ponta a ponta é toda praia chã, muito formosa. E os arvoredos, com muitas aves coloridas, correm para dentro a perder de vista. Alguns dos paus são de madeira avermelhada, cor de brasa. Os ares são muito bons e temperados. As fontes são infindas. Querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto, a principal semente, pensa Cabral, será a de salvar o seu povo que tão gentilmente ali vive em estado natural.

Manda Pero Vaz de Caminha escrever novas do achamento. Depois manda Gaspar de Lemos levar a carta a El-rei e ele parte, com a sua nau, rumo a Lisboa. Das 13 agora restam 11. Abalam de Vera Cruz a 2 de Maio. Em terra ficam dois degredados para aprender a fala do povo. Mais dois grumetes que, por vontade própria, faltaram ao embarque. Os rapazes são cativos das nativas, seus cabelos muito pretos e compridos a tombar pelas espáduas, suas vergonhas tão altas e cerradinhas que delas vergonha não pode haver...

Abalando do Paraíso, corroído de inocência, lá vai o Capitão-mor. Será maleita perigosa a diluir-lhe o ímpeto guerreiro, pois tem agora que enfrentar as guerras e perfídias do Inferno.


(Fonte - Vidas lusófonas)