Fundação de São Paulo - óleo de Oscar Pereira da Silva (1867-1939). Padre Manoel da Nóbrega, que já havia estado no Planalto de Piratininga, visitou em fins de agosto de 1553 a aldeia de Tibiriçá, batizando solenemente 50 índios, fruto da ação missionária do Padre Leonardo Nunes. Foi um dos anos precursores da fundação de São Paulo. Em dezembro do mesmo ano chegou a São Vicente um grupo de jesuítas e entre eles o novíço José Anchieta, que se tornou o mestre do novo colégio da Companhia de Jesus, pois possuía formação humanística. A 25 de janeiro de 1554, com a celebração da Primeira Missa no campo de Piratininga pelo Padre Manoel de Paiva, superior do grupo religioso, foi solenente inaugurado o Colégio e com ele se iníciou a povoação que também recebeu o nome do grande Apóstolo dos Gentios, São Paulo. Nesse dia se celebra a sua conversão. São Paulo tornou-se vila em 1560 e cidade em 1711.
Através de meu Estimado Confrade e Ilustre Prof. João Paulo de Oliveira, tive o prazer de ser recebedor deste maravilhoso mimo, de São Paulo Antigo, cujas fotos, a seguir reproduzo.
Da rua José Bonifácio, perto do cruzamento com a rua Quintino Bocaiúva, o fotógrafo captou um cenário dominado por edifícios de três ou mais andares com fachadas ecléticas e, no piso térreo, muitas vitrines, historicamente recentes. As calçadas e os leitos das duas vias acolhem a movimentação de transeuntes engravatados e portadores de chapéus, como era usual.
A carroça puxada por um burro à esquerda e, no canto direito, um varredor de rua, com sua pá, escova e balde, revelam atividades de tempos bem diversos, e não deixam de compor um contraponto irônico para o letreiro central que anuncia orgulhoso, na empena de um edifício, o nome da loja "São paulo Progride".
Texto: Fraya Frehse
Vista da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no largo do Rosário antes da sua demolição (1904) e reconstrução do largo Paiçandu, a fim de que o Rosário se tornasse a atual praça António Prado. Do leito da rua 15 de Novembro, o fotógrafo ressalvou a igreja colonial, por séculos lugar de devoção de (ex-)escravos. Mas, em primeiro plano, o trecho final da rua, que à época acolhia os mais elegantes estabelecimentos comerciais da cidade. Na frente da igreja, guarda-sóis abrigam engraxates com caixotes e cadeiras; tal atividade chegou em São Paulo com a imigração italiana dos anos 1870 e logo se expandiu.
Texto: Fraya Frehse
Vista de um caramachão muito fotografado do parque da Cantareira, aberto em 1893 com locais para piqueniques e esportes numa reserva florestal da serra, criada para proteger a área de mananciais dos quais se servia a Companhia Cantareira de Águas e Esgotospara abastecer a cidade. Localizada num morrote, a estrutura de madeira abriga homens , mulheres e crianças em torno de uma mesa, ornada com uma toalha. Naquela época era hábito, sobretudo entre as famílias de imigrantes atraídos a São Paulo, visitar os recém-criados parques, principalmente nos domingos e feriados.
Texto: Fraya Frehse
Vista do largo de São Bento em direção ao viaduto e à igreja de Santa Ifigênia a partir de um sobrado da rua Florêncio de Abreu. Na metade superior da cena se destacam, da esquerda para a direita, a sede da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o viaduto (1913), a igreja Santa Ifigênia (1906-1922) e o Mosteiro de São Bento (1910-1914) . É na metade inferior que se nota melhor a escala humana, com transeuntes em meio a automóveis. Outros signos do moderno - relógios, lampiões e postes - ornam o largo, recém-reformado em prol da circulação. Em conjunto, tais signos indicam o vigor com que o cotidiano se fazia presente no dia-a-dia do centro, naquela época.
Texto: Fraya Frehse
Vista da esquina da rua Direita a partir do leito da rua de São Bento. Na época, o local era conhecido como "Quatro Cantos", único cruzamento em ângulo reto do centro paulistano. O fotógrafo flagrou a movimentação na frente do sobrado colonial que abrigava, no piso térreo, uma fábrica de luvas de pelica e o ateliê do fotógrafo Michelle Rizzo, e, no primeiro andar, um dos vários dentistas da cidade. À esquerda em primeiro plano, uma passante fugaz, personagem então recente nas ruas paulistanas. Já o centro inferior da imagem destaca dois garotos que, descalços, evidenciam pobreza numa sociadade em que, historicamente, sapatos foram apanágio de senhores e interditados a escravos.
Texto: Fraya Frehse
Vista do horizonte nordeste do centro a partir do largo do Carmo, atual praça Clóvis Bevilácqua. Em primeiro plano, a ladeira do Carmo, atual avenida Rangel Pestana, saída historicamente crucial para o Rio de Janeiro. À beira da ladeira, as construções coloniais acolhem platibandas e ornamentos do moderno republicano. A composição destaca o Palácio das Indústrias, inaugurado em 1924 no parque Dom Pedro II, criado na Várzea do Carmo. Concebido para abrigar exposições, o edifício, assim como as chaminés no horizonte, torna-se ícone dos ritmos que então movimentavam o perfil da cidade, delimitada pelo horizonte sinuoso da Serra da Cantareira.
Texto: Fraya Frehse
Flagrante de um bonde da Empresa de Bondes de Sant'Anna, última linha a tração animal da cidade, cujos carros circularam até 1907. Eles ligavam a atual Ponte das Bandeiras ao Alto de Santana, bairro de forte presença italiana e germânica. Postado possivelmente na lateral da ria Voluntários da Pátria, o fotógrafo captou, afora passageiros e o cocheiro, crinaças e um rapaz nos estribos do bonde. Descalços os meninos, sem gravata o rapaz, seus trajes indicam penúria, em ruas cuja civilidade era convencionada por paletós e gravatas, chapéus e sapatos engraxados.
Texto: Fraya Frehse
Vista da Várzea do Carmo em direção à serra da Cantareira, tirada da margem direita do rio Tamanduateí próxima das ruas Figueira e da Santa Rosa. A composição destaca um uso antigo do rio: a lavagem de roupas. No centro da cena, lavadeiras debruçam-se sobre o mrio ainda não retificado. Ao fundo, à direita e à esquerda, vultos agachados sobre roupas e lençóis. Essa prática fazia da várzea um quintal comunitário de varais, apesar da crescente repressão do poder público. Na linha do horizonte, silhuetas de árvores e chaminés na direção da Luz e do Bom Retiro contribuem para atestar a diversidade de tempos históricos que caracterizava a São Paulo dessa época.
Texto:Fraya Frehse
Vista do largo e da Igreja da Sé, demolida em 1912 para a construção da atual praça da Sé. A partir de um sobrado diante do largo, o fotógrafo destacou a momumentalidade do templo que, no entanto, ostentava uma só torre, documento da singeleza econômica paulistana em 1745, quando foi construído. A aparência colonial do largo, cujos sobrados são talvez dessa época, constrata com a circulação de veículos por ali: um moderno bonde elétrico e uma tradicional carroça de transporte de mercadorias. No local estacionavam, desde 1865, "carros de aluguel".
Texto:Fraya Frehse
Vista do cruzamento das ruas Direita e 15 de Novembro, vislumbrando-se, do lado direito, o largo da Sé e a Igreja de São Paulo, único templo de duas torres da cidade até sua demolição, em 1911. Postado num sobrado da rua Direita, o fotógrafo captou o casario colonial com seus pisos térreos ocupados, entre outros, por um café e uma carutaria. Fixou ainda a diversidade de tempos históricos expressa na coexistência entre uma carroça, um bonde de burros - inovação de 1872 subtituída por bondes elétricos em 1900 - e "carros de aluguel" que, estacionavam na frente da igreja, foram introduzidos em São Paulo em 1865.
Texto:Fraya Frehse
Vista do cruzamento da rua de São Bento com a ladeira de São João a partir da praça Antonio Prado.Em primeiro plano, policiais, possivelmente da Guarda Cívica, ficam o fotógrafo ao lado de rapazes e meninos (um deles vendedor de jornais) no leito da via riscada por trilhos de bonde. A movimentação masculina é maior na entrada do então popular Café Brandão. Este ocupava, desde o final do século XIX, um sobrado que, antes, abrigara hotéis. Um pouco depois da tomada fotográfica, o edifício foi demolido por seu novo proprietário, Giuseppe Martinelli, que ali iniciou em 1924 a construção do Edifício Martinelli. Inaugurado em 1930, o edifício quatro anos depois chegou aos seus atuais 30 andares acompanhado de bordão "o mais alto da América do Sul".
Texto:Fraya Frehse
Vista do cruzamento das ruas 15 de Novembro e Direita a partir do largo da Sé. No centro da imagem, de uma das mais movimentadas esquinas da cidade, a recente Casa Tietê, que veio substituir o sobrado de propriedade do Barão de Tietê. Em seu piso térreo o novo edifício abrigou a nova sede da Casa Lebre, loja de ferragens em 1858, de departamentos, em 1910. Homens e mulheres ocupam as calçadas e leitos das vias no lado inferior da cena, enquanto pela Rua Direita um bonde se dirige à "Barra Funda". Olham para câmera um vendedor de jornais, no centro inferior da composição, e, no canto direito, um guarda de capacete redondo, talvez da Guarda Cívica. São tipos urbanos próprios da modernidade que a virada do século XX trouxe a São Paulo.
Text: Fraya Frehse
Vista do vale do Anhangabaú pouco antes da inauguração do Teatro Municipal. Postado num dos sobrados que ladeavam o Viaduto do Chá, o fotógrafo enfocou os fundos do casario do Conde Prates, herdeiro da chácara (do Barão de Itapetininga) que ocupou o vale até ser arruada, em 1876. Viveiros em primeiro plano revelam a permanência do passado colonial e rural da cidade. Na metade superior da cena, encontram-se manifestações modernas da propriedade cafeeira:afora o Municipal, o Teatro São José à esquerda, o viaduto pontilhado por transeuntes, por postes de luz e bondes elétricos. O Viaduto do Chá era, à época, uma importante via de expansão urbana para oeste, além do local privilegiado por suicidas.
Texto:Fraya Frehse
Vista do atual Pátio do Colégio num início de tarde, destacando-se, da esquerda para a direita, o então Palácio do Governo, o torreão que substituiu a Igreja do Colégio demolida em 1896, e os edifícios do Tesouro e da Secretaria da Agricultura. Em primeiro plano, um jovem sentado no banco do então Jardim do Palácio. Com trajes "de domingo" - chapéu tipo Panamá, paletó e gravata, calças curtas, sapatos com meias esticadas -, ele contempla provavelmente o coreto. Este costumava sedir concertos por ocasião das festas cívicas da então nascente República. No Jardim se ajuntavam diariamente desempregados, que os jornais da época costumavam tratar por "vagabundos" ou "vadios".
Texto:Fraya Frehse
Vista a jusante possivelmente do rio Tamanduateí durante a sua enchente e do Tietê em 1906. Postes e fios elétricos remetem ao perímetro central, já alcançado pelos serviços da Light, possivelmente o trecho entre a Luz e o Pari. Recém-retificadas, as várzeas ali já estavam arruadas. À direita da ponte fotografada, a farda dos guardas revela a proximidade do Quartel Militar da Luz. Diante do conjuto de casas, aparentemente operárias, à esquerda, a muitidão mira a jusante. O passado se insinua na enchente; o presente, na cheia em meio a faces estrangeiras e à eletricidade, ao casario e à ponte, onde antes só havia várzea.
Texto:Fraya Frehse
Vista do vale do Anhangabaú a partir do Grand Hotel de la Rôtisserie Sportsman, na esquina entre as ruas Líbero Badaró e Direita. A imagem enfoca, da esquerda para a direita, a fachada do hotel, o Teatro São José, o Viaduto do Chá, o Teatro Municipal aos fundos do recém-ajardinado Parque do Anhangabaú, a torre da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, reerguida no Largo do Paiçandu, e a lateral de um dos palacetes do Conde Prates. Em primeiro plano, a rua agitada por bondes elétricos , um raro automóvel e por transeuntes - homens e mulheres perto do hotel. A herança do passado colonial e rural persiste no casario no vale à esquerda do fotógrafo, aos pés do Teatro São José.
Texto:Fraya Frehse
Vista da atual rua General Carneiro a partir de um sobrado do largo do Tesouro. Numa manhã fria, uma carroça desce a ladeira rumo ao Brás prestes a cruzar com um bonde elétrico. Para os jornais da época, essa via era um local privilegiado de colisões e atropelamentos. Historicamente um mponto de ajuntamento de quitandeiras, o largo chegou ao século XX abrigando cafés, lojas e transeuntes - em sua maioria homens, em meio a algumas mulheres -, que iam e vinham do primeiro mercado central da cidade (1867), aos pés da ladeira. Quase no centro da cena, um guarda-chuva protege um vendedor ambulante do sol.
Texto:Fraya Frehse
Vista do largo de São Francisco, com a Academia de Direito ao fundo, na metade esquewrda da imagem, e à direita, os frontispícios das igrejas colonais de São Francisco e da Ordem Terceira de São Francisco. Postado, perto da rua da Princesa (atual rua Benjamim Constant), o fotógrafo captou o largo ainda não calçado, mas já percorrido por um dos modernos bondes a tração animal, cuja primeira linha começou a operar na cidade em 1872. À sombra da árvore que faceia a Academia, criada em 1828, ajuntam-se homens de sobrecasaca e cartola, trajes comuns entyre vos estudantes de Direito, tipos humanos facilmente discerníveis na inda fortemente rural São Paulo dos anos 1870.
Texto:Fraya Frehse
Vista da então chamada "Praça do Mercado", primeiro local estabelecido pelo poder político para o comércio centralizado de alimentos, em 1867. Dos fundos do Palácio do Governo (no atual Pa'tio do Colégio), o fotógrafo constrastou as arcadas e os usos do edifício com a descampada Várzea do Carmo. Frequentado pelos roceiros que ali comerciavam víveres das chácaras e roças do núcleo urbano e imediações, o Mercado - depois, "Caioira", "Municipal" ou "Velho", demolido e reerguido (1907), até ser substituído pelo Mercado da Cantareira (1933) - ficava numa saída que conduzia ao subúrbio, ao casario disperso do Pari, no fundo da cena, e ao moderno Gasômetro (1870), que triuxe a luz e gás e novos ritmos à cidade.
Texto: Fraya Frehse
Vista da praça Antonio Prado a partir do alto da avenida São João. Nessa tarde, a praça delimitada por árvores abriga, à esquerda do fotógrafo, alguns dos poucos automóveis da cidade e em meio aos traseuntes. Estes passam diante do edifício cosntruído no local da antiga igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e que, então, sediava a companhia Light e o jornal O Estado de S. Paulo. Em primeiro plano, uma carrocinha de mão, historicamente recente. Ladeavam a praça vitrines requintadas e fachadas ecléticas como a do prádio do empresário João Brícola, no centro ao fundo, com seu piso térreo tomado por uma charutaria e o primeiro andar, pelo jornal Correio Paulistano. Agitação de cidade moderna.
Texto: Fraya Frehse
Vista da rua 15 de Novembro em direção à praça Antonio Prado. Movimentação - perdominamente masculina - na esquina da rua da Quitanda, com automóveis estacioandos em frente à filial paulistana da loja inglesa de departamentos Mappin & Webb, especializada em artigos de luxo e inaugurada ali em 1913. Em 1919, mudou-se para a esquina das ruas Direita e Quitanda e, em 1939, para a praça Ramos de Azevedo, onde funcinou até fechar, em 1999. Na metade superior da cena, destaca-se uma das luminárias de rua da companhia Light & Power. Entre tantos equipamentos urbanos modernos, vislumbra-se uma carroça.
Texto: Fraya Frehse
Postado na margem direita do ainda não retificado rio Tamaduateí, frente à face leste da colina do núcleo urbano, o fotógrafo captou dois usos populares de então: banhos e a lavagem de carros e animais. A metade superior da cena documenta os traços coloniais das casas, da torre da Igreja de Nossa Senhora do Carmo e dos fundos do Palácio do Governo (no atual Pátio do Colégio). Já a frente do Mercado, no baixo da colina, traz novidades urbanas como um quiosque, onde se vendiam bebidas, frutas, flores e jornais. À sua esquerda, o mictório é outro equipamento desses tempos em que o poder público passava a promover fortemente a circulação nas ruas.
Texto: Fraya Frehse
Ficamos assim, desta forma, e graças aos bons préstimos do Ilustre Professor João Paulo de Oliveira, que teve a amabilidade de ofertar ao articulista, esta rica coleção de postais antigos da cidade de São Paulo, dando-nos a conhecer a bela cidade de S. Paulo de outros tempos.