Nasceu em Coimbra a 7 de Setembro de 1867 tendo falecido em Macau a de 1 de Março de 1926.
Foi um poeta português, expoente máximo do Simbolismo.
Vida
Tirou o curso de Direito em Coimbra. Em 1894, transferiu-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau, deixando de leccionar por ter sido nomeado em 1900 conservador do registro predial em Macau e depois juiz de comarca. Entre 1894 e 1915 voltou a Portugal algumas vezes, para tratamento de saúde, tendo, numa delas sido apresentado a Fernando Pessoa que era, como Mário de Sá-Carneiro, grande apreciador da sua poesia.
Publicou poemas em várias revistas e jornais, mas seu único livro Clepsidra (1920), foi publicado sem a sua participação (pois se encontrava em Macau) por Ana de Castro Osório, a partir de autógrafos e recortes de jornais.
Graças a essa iniciativa, os versos de Pessanha se salvaram do esquecimento. Posteriormente, o filho de Ana de Castro Osório, João de Castro Osório, ampliou a Clepsidra original, acrescentando-lhe poemas que foram encontrados. Essas edições saíram em 1945, 1954 e 1969. Apesar da pequena dimensão da sua obra, é considerado um dos poetas mais importantes da língua portuguesa.
Camilo Pessanha morreu no 1 de Março de 1926 em Macau.
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Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
-Perdida voz que entre as mais se exila,
-Festões de som dissimulando a hora.
Na orgia ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim, desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tuda a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-ma?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora...
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Foi professor do liceu e do Instituto Comercial anexo.
Sendo nomeado Conservador da Comarca de Macau, por decreto de 16 de Fevreiro de 1899, e tendo tomado posse desse cargo em 23 de Junho de 1900, abandonou o professorado; foi também nomeado várias vezes juíz substituto.
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Apreciando-o como advogado, disse Dr. Luís Nolasco: - "Na advogacia, Pessanha foi um modelo de saber profissional, dedicação, honradez e lealdade para com os adversários".
Foram vastos os seus conhecimentos gerais, mas na cultura jurídica era um especialista, mormente em direito penal e processo criminal. Apaixonava-se pelas causas que defendia, e na defesa não distinguia entre ricos e pobres, da mesma maneira e com o mesmo afã dedicando-se às causas de uns ou de outros. Era já certo: questão defendida por Pessanha era uma questão ganha; tal a força de sua argumentação e perspicácia do seu engenho.
A admiração de Camilo Pessanha pela civilização chinesa remonta à sua juventude, muito antes de embarcar para Macau, ma linha, aliás, de outros conceituados escritores portugueses como Camões, Fernão Mendes Pinto, Eça de Qeiroz e António Feijó, ou estrangeiros como Victor hugo e o simbolista Baudelaire.
Com efeito, o seu primeiro poema, "Lúbrica", concebido aos 18 anos, é bem elucidativo deste facto:
"Como os ébrios chineses, delirantes,
Respiram a dormir o fumo quieto,
Que os seu longo cachimbo predilecto
No ambiente espalhava pouco antes".
Não admira, portanto, a sua opção por Macau, aparentemente na sequência do desgosto profundo que sofreu, quando Ana de Castro Osório não respondeu, favoravelmente, à sua declaração de amor.
Quando chegou ao Oriente, dedicou-se, de imediato, à aprendizagem da língua chinesa, confessando, em carta ao pai, já se sentir animado para escrever sobre a China".
Durante toda a sua estadia em Macau, contínuo a aprofundar o seu conhecimento do idioma sínico, como relata em carta inédita, dirigida a Carlos Amaro:
"Desde que deixei a Vara de Juíz, é decorar letras chinas. Bem desejaria publicar um dia meia dúzia de pequenas traduções; mas a empresa, a ser coisa como eu a tenho esboçado, é cheia de dificuldades".
Só em 1910, o seu génio como tradutor se deve ter revelado pela primeira vez, pois o domínio da língua chinesa escrita é extremamente difícil de adquirir e pressupõe uma longa, metódica e paciente capitalização. Data daquele ano a primeira tradução que efectuou, na sequência do rapto de 18 crianças perpetrado por Piratas na ilha de Coloane. Trata-se das três cartas por estes redigidas, exigindo um peado resgate. Em 1914, nas páginas do jornal macaense O Progresso, foram sucessivamente publicadas as "Oitos Elegias Chinesas", dedicadas aos seus amigos de longa data, Carlos Amaro, Wenceslau de Morais, António Pinto de Miranda Guedes e Albino Forjaz de Sampaio, respectivamente. De notar, a maneira bem pelicular como o poeta fruiu esta tarefa:
"(...) entrego hoje ao semanário umas poucas dúzias de pequenas composições chinesas com cuja decifração tenho entretido os ócios dos últimos seis anos de residência em Macau - os primeiros da velhice - tirando desse esforço (...) horas de um tão suave prazer espiritual que dele o não esperava tamanho."
Trata-se de elegias chinesas que remontam à disnatia Ming (1368-1644) e que foram reunidas pelo ministro Iong Fong Kong, homem forte do rei Chia Ching (1796-1821). O poeta compararas pela irrisória quantia de 2 patacas num prestamista em Macau.
O estudo que Camilo Pessanha elaborou para prefaciar o livro do médico Morais palha sobre a China, ao contrário do que pensam alguns críticos, não colide com a franca adesão e a empatia que sentia pela civilização chinesa. É verdade que o poeta foi contundente nesse seu escrito. É, porém, de ter consideração que visitara, pouco antes, Cantão e que a sua sensibilidade dorida, a sua formação humanista, a sua solidariedade social, o levaram a lavras, em páginas de grande apuro formal, um veemente libelo contra a tortura institucionalizada, o funcionamento dos tribunais à revelia dos Direitos Humanos mais inalenáveis, as execuções massivas e sumárias, a doença e a fome generalizadas.
Pese, embora, a sua emotividade, que talvez o tenha atraiçoado e conduzindo à generalização pouco avisada e precipitada, o depoimento de Camilo Pessanha é exclusivamente uma acusação contra o regime feudal - a república implantara-se apenas sete meses antes -, e não contra uma civilização que sempre considerou de "uma elevada moral"e com "instituições socias admiráveis".
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Mas Camilo Pessanha foi, sobretudo, um poeta. Além da "Clepsydra" editada por Ana de Castro Osório em 1920, pessanha publicou também no jornal O Macaense (1919-1920) a tradução, em versos portugueses, de várias elegias chinesas, seguidas de euroditas notas explicarivas das passagens mais obscuras.
( Artigo extraído do livro Vultos Marcantes em Macau - do Padre Manuel Teixeira)
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